O CORAÇÃO DA doutora estalava no peito e a respiração ofegante, conseqüência da adrenalina correndo em seu sistema circulatório, trazia ondas de suor intenso apesar do frio quase glacial.  Finalmente o horricat decidiu-se pelo ataque frontal e preparou-se, firmando-se nas patas traseiras, presas projetadas num sorriso horrendo.  Anarys fez mira e esperou o momento certo para o disparo.

A descarga fora curta e eficaz. O felino jazia morto abatido em pleno salto aos seus pés. Ainda assustada observava a criatura sem vida.  Saiu de seu transe quando ouviu uma nova descarga de feiser explodir às suas costas, seguida do baque abafado de alguma coisa caindo ao solo e Dukat berrando a todo pulmão.

- ANARYS, CORRA!

Suas pernas conseguiram ser mais rápidas que a mente, como um autômato a Bajoriana não fez outra coisa senão obedecer, apenas procurava visualizar o caminho naquele nevoeiro espesso e rezar para que chegasse em segurança ao abrigo.  Nunca a trilha de volta parecera tão longa. Finalmente enxergou aliviada Dukat acenar na sua direção freneticamente, sorriu satisfeita, jamais imaginou que fosse ficar contente em vê-lo.  Estava a salvo, alguns metros mais e o pesadelo terminaria.

“Por que continua acenar feito um louco?” - pensava intrigada, juntando a euforia à aparente segurança.

De repente viu o Cardassiano pôr-se de pé na beirada da cratera jogando para o lado o cobertor, apontando o feiser na sua direção, e então compreendeu tardiamente que a má sorte ainda a acompanhava...

Um horricat saltou do alto de uma rocha por sobre as costas dela derrubando-a e, com o peso do corpo distribuído em suas patas, o felino forçou os ombros da vítima contra o solo, imobilizando-a.

Anarys fechou os olhos, experimentando o sabor da terra ocre encharcada e fria trazendo à mente o mórbido costume de tais criaturas. Tentou levantar-se e alcançar o feiser caído próximo a ela, mas um urro medonho a fez desistir de imediato. Esperou pelo pior.

Com um movimento rápido o animal penetrou com precisão suas garras no ombro da médica, que gemeu ao sentir as afiadas ‘lâminas’ transporem sua pele. Uma vez equilibrada por sobre a vítima a criatura abriu sua bocarra expondo as presas descomunais e, disposta a liquidar o assunto, buscou pescoço de sua caça impotente quando o impacto mortal de uma descarga certeira selou sua sorte.

- Levante-se!... Vamos! – ordenou aos berros Dukat, ainda de pé examinando com a mira da arma as cercanias em busca de outro possível felino.

Sentindo-se zonza, levantou ainda agarrada à caixa de rações, mas não sem antes alcançar o feiser, e pôs-se a correr de forma trôpega até atingir a borda da cratera, atirando-se dentro dela num mergulho nada calculado, levando inclusive o Cardassiano junto para o fundo.

 

 

Sobreviventes do Preconceito

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