FORA
UMA NOITE
insone para a Bajoriana uma vez que seu paciente enfrentava o período
crítico para sua condição, quase não pregara o olho.
A febre do militar atingia nível absurdamente alto para
aquela constituição não acostumada a isso.
O tom de seu rosto mudara do quase translúcido para o
cinza escuro, suava profusamente em delírio febril. Gotas de suor
brotavam instantaneamente na fronte irregular do Cardassiano,
obrigando Anarys a se valer de um pano úmido para combater a
febre.
Não fosse esse cuidado, o estranho já teria sucumbido
horas atrás.
Neeska
ministrou-lhe medicamentos no decorrer da madrugada na tentativa
de retroceder o quadro clínico desfavorável, toda vez que se
fazia necessário. Observou-o murmurar em delírio, palavras
desconexas em kardasi,
que até mesmo para o seu parco vocabulário na língua alienígena,
eram suficientes para deduzir o quanto ele estava em agonia.
Por
vezes o militar gritava e agitava os braços tentando deter algo
ou alguém com olhos esbugalhados fitando o nada, obrigando a médica
a se utilizar de toda a sua experiência para mantê-lo debaixo
dos cobertores térmicos. E, apesar de muito debilitado, o oficial
ainda detinha uma força descomunal.
Foi
somente nas primeiras horas da manhã que finalmente o tulgryn
conseguira encontrar sono tranqüilo.
Completamente extenuada, a médica aproveitou para dormir
um pouco, já que não havia nada que pudesse fazer lá fora com
aquele tempo.
Arranjou-se como pôde no espaço exíguo do abrigo
enrolando-se em um pedaço de lona e pela primeira vez em quase
dezoito horas relaxou.
Entretanto não por muito tempo...
Anarys
tremia de frio e por mais que as rochas aquecidas gerassem calor não
eram suficientes para aplacar os calafrios que percorriam seu
corpo exausto.
Esfregava as mãos uma na outra, soprava nelas sem
resultado, necessitava desesperadamente de uma fonte extra de
calor.
Foi então que seus olhos esbarraram com a figura tranqüila
do Cardassiano embrulhado em dois cobertores térmicos e a idéia
assaltou-lhe a mente, mas imediatamente meneou a cabeça
descartando a hipótese.
Contudo, reconsiderou seriamente o fato de que precisava do
corpo febril do estranho para manter-se aquecida.
Tudo o que tinha que fazer era esquecer quem ele era e o
que representava.
Resolveu-se.
Deitou-se junto ao estranho e timidamente aproximou-se até
seu corpo gelado tocar o dele. O contato com aquela pele fina
recoberta de escamas triangulares e estrias incomuns não fora tão
desagradável assim. Além disso, o estranho tinha um aspecto
peculiar que denotava asseio, unhas bem cuidadas, cabelos cortados
à moda militar, o que contrastava com a maioria dos Cardassianos
que tivera a oportunidade de tratar.
Concluiu que ele deveria pertencer a uma casta superior
dentro da sociedade Cardassiana. Neeska teve de admitir admirada
que a idéia não fora tão repulsiva como antecipara, cingiu
aquele corpo febril e instantaneamente adormeceu de puro cansaço.
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