NEESKA ENCONTROU o que procurava, verificando satisfeita que os felinos não conseguiram abrir a caixa, apesar de suas presas enormes e garras afiadas. Deu meia volta na franca intenção de retornar ao abrigo quando um rugido chegou aos seus ouvidos, trazendo junto um arrepio que percorreu sua espinha.

- Profetas Sagrados! – sussurrou mordendo os lábios apavorada enquanto virava-se lentamente para o local de onde viera o som.

Não foi preciso procurar muito. Lá estava a criatura, ainda não a vira, mas desanimou-se ao notar que estava a favor do vento e que seria questão de segundos para ser descoberta.  Lembrou-se petrificada de que tais felinos possuíam o mórbido costume de brincar com sua ‘refeição’ momentos antes de trucidá-la.  O líder da matilha, geralmente o de maior envergadura, encarregava-se de derrubar a caça imobilizando-a para em seguida rasgar músculos e tendões com suas enormes garras, cuidando para que tais ferimentos não levassem sua presa à morte imediata e, com um urro poderoso, sinalizava para o resto da matilha, que imediatamente atendia ao chamado, circundando a vítima ainda viva. E a brincadeira seguida do festim começa.

Imaginar aquilo foi muito pior que verter um caldeirão inteiro de sopa Cardassiana!

Tentando dominar seus instintos que ansiavam por detonar um berro e correr, Anarys permaneceu estática observando a fera de pelagem rajada revirando um destroço com ar faminto.  Como se farejasse seu medo, o animal parou de fuçar o que parecia ser parte de um traje militar com o que restara do seu dono infeliz dentro, agora equivalente em ossos. Ao que parece o gelo não fora obstáculo suficiente para que encontrasse a cova em que enterrara o resto da tripulação, e com um movimento ágil a fenomenal criatura virou-se na direção da médica rosnando alto, tendo seu eco reverberado por todo o perímetro, trazendo outros urros em resposta não muito longe dali.

Neeska retesou-se procurando recobrar o controle.  Cada fibra de seu corpo aguardando o momento de ser acionada.  Lentamente, sem deixar de acompanhar o movimento do animal, alcançou o feiser em seu cinto e destravou-o conforme Dukat a ensinara.  O horricat de pelagem vermelho-clara com listras arroxeadas aproximou-se cautelosamente avaliando sua vítima, talvez indeciso quanto à melhor forma de atacá-la ou, quem sabe, apenas dando esta impressão, já que por vezes caçava em bando.

 

 

Sobreviventes do Preconceito

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