SETENTA
E DUAS HORAS haviam se passado desde que a médica resgatara o
oficial Cardassiano dos destroços e o tempo ainda não dava sinal
de melhora.
A Garganta Ratasha era trajeto obrigatório através das
Montanhas Dahkur, que conduzia à Cordilheira das Serpentes, na
província Lonar.
O local em questão era bem conhecido entre os Bajorianos
por sua instabilidade climática.
Na verdade eram bem poucos os que se aventuravam em seus
caminhos, principalmente no período das grandes K’ran.
A
jovem médica procurava na medida do possível aproveitar os
breves momentos em que o tempo permitia, assim como seu paciente
ainda prostrado pela febre, para vasculhar a região na tentativa
de encontrar uma forma de abreviar sua permanência naquele charco
gelado.
Mas
a má sorte parecia ainda acompanhá-la.
O
Honttaz, um dos muitos afluentes do rio Glyrhond, o maior em
extensão e volume de toda Bajor, em alguns trechos já havia
vazado, chegando a encobrir parte da parca vegetação local.
Se a chuva voltasse a cair forte como na última noite, o
abrigo não resistiria a uma inundação.
Neeska
avaliava mentalmente a situação:
Suas
chances de sair dali com sucesso através do rio eram mínimas,
como atestara pessoalmente.
A área pela qual conseguira averiguar nas cercanias, com
dificuldade, estava alagada ou bloqueada pela neve dos três últimos
dias.
Sem meios de comunicação, e para piorar o quadro, tinha
um oficial Cardassiano como paciente involuntário seriamente
ferido.
Estava literalmente presa naquele lugar à mercê do tempo
e foi com uma ponta de medo que vislumbrou pela primeira vez que
se encontrava com sérios problemas.
De
volta aos destroços com o auxílio de uma pá e algumas pedras,
Neeska procurou reforçar a vala comum que fizera como última
morada para o resto da tripulação.
Tal cuidado não tinha cunho religioso, simplesmente
preocupava-se em não atrair animais famintos, já tinha problemas
além da conta.
Lamentou-se por não ser capaz de retirar o corpo do piloto
das ferragens na manhã do primeiro dia, restando-lhe apenas
ocultar o infeliz o melhor que pôde com uma lona.
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