A
TARDE IA ALTA
quando a doutora desligou o bioscanner satisfeita com as últimas
leituras obtidas de seu paciente involuntário.
O risco de morte existia. Entretanto, contava com a forte
constituição Cardassiana.
A
extração da haste metálica se deu sem maiores complicações.
A tarefa fora facilitada graças ao fato de ter encontrado
o estojo de primeiros-socorros que para a surpresa dela estava
repleto de medicamentos, materiais e instrumentos além do
normalmente necessário, inclusive o tão precioso anestésico. Se havia uma coisa que seus opressores faziam bem era estarem
preparados para enfrentar qualquer situação não prevista.
Maior
trabalho tivera ao transportar o oficial para o abrigo que
improvisara dentro da carcaça metálica.
O Cardassiano era muito mais pesado do que aparentava,
removê-lo foi o mesmo que carregar um saco enorme de sementes
Andorianas molhado. Levou
algum tempo para que o acomodasse satisfatoriamente.
Extenuada
pelo esforço extra, sentou-se à entrada do abrigo contemplando o
inimigo. Metera-se em
uma bela encrenca e só esperava conseguir sair dela sem maiores
conseqüências.
Tornou
a mirar o céu carregado e agradeceu aos Profetas por ter
encontrado um ‘teto’ para passarem a noite, que não tardaria
em chegar. Calculou que ainda teria uma duas horas de claridade opaca e
decidiu fazer uma vistoria mais cautelosa nos destroços lá em
cima. Qualquer coisa
que ajudasse ambos a enfrentar as próximas horas com o mínimo de
conforto seria bem-vinda.
A
busca mostrara-se frutífera, conseguira arrebanhar rações
militares, água, lanternas, facas, canecas, um par de cobertores
térmicos em bom estado, pá, algumas lonas, sendo uma delas
grande o bastante para improvisar uma porta para o abrigo e, o
item que julgou principal: um feiser.
Iria precisar dele para acender uma fogueira, aquecer
rochas para irradiar calor, já que a temperatura caíra
drasticamente e as chances de nevar eram grandes, e,
principalmente, para defender-se do inimigo se assim fosse necessário.
De
volta ao abrigo, aproveitou para retirar o resto do uniforme
molhado do militar, o que se mostrou ser tarefa difícil, uma vez
que o paciente desacordado não cooperava muito nos movimentos. Ao fazê-lo foi forçada a admitir que o estranho tinha um
corpo perfeito e agradável aos olhos.
A textura alienígena de sua pele, as escamas desenhadas de
forma harmônica por todo o corpo a hipnotizavam.
Só não imaginava o porquê de tal sensação.
Não era a primeira vez que tratava de um Cardassiano em
trajes sumários. Na verdade, normalmente tal visão lhe trazia
repulsa. Talvez devido àquele ar de superioridade que freqüentemente
os cercava e que faziam questão de externar. Mas naquele caso em
particular, vendo-o ali deitado à sua mercê, inconsciente e
estranhamente vulnerável...
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