Análise
completa Em 08 de Setembro
de 1966 ia ao ar pela primeira vez na NBC “The Man Trap”, o sexto episódio
produzido para a Série Clássica. Quase trinta e oito anos depois deste
acontecimento, concluímos este trabalho de revisitar episódio por episódio a primeira
temporada da série original de Jornada nas Estrelas. É inegável para qualquer
um que a primeira encarnação da franquia alcançou um status inigualável, tanto
dentro quanto fora desta. Mas que importância tem a primeira temporada neste processo
? Após assistir de forma crítica cada episódio deste primeiro ano, resta
dizer, parafraseando Luiz Castanheira que a primeira temporada da Série Clássica
é surpreendentemente boa. Uma prova disto (como se fossem preciso provas disto)
é ter faturado dois prêmios Hugo, o Oscar da ficção científica, um por “The
Menagerie” e outro por “The City on The Edge of Forever”.
Mas como tudo no mundo são números, podemos recorrer a eles para manter tal afirmação.
Para não parecer tendencioso, podemos abandonar (por enquanto) a classificação
do guia de episódios do Trek Brasilis e usar outras fontes de avaliação,
como o S.O.S. de Joe Reiss, que é um fórum absolutamente democrático na sua forma
de avaliação, ou o ST:Hypertext, mantido por Jamahl 'Jammer' Epsicokhan, para
chegar a mesma conclusão de que o primeiro ano da Série Clássica foi um
sucesso, se não de público na época de seu lançamento, pelo menos em qualidade,
e é claro que foi esta qualidade que garantiu a longevidade da série durante todos
estes anos. Somente isto (qualidade) explica como tal produção pôde ser
capaz atrair um menino de poucos anos de idade, fazendo-o tornar-se fã da Série
Clássica por motivos que só uma criança sabe explicar. Quase cerca trinta
anos depois, este mesmo menino, agora um pouco mais velho e bem mais crítico consegue
assistir a todos os vinte nove episódios da primeira temporada e ainda manter-se
fiel a Kirk, Spock, McCoy e companhia. Esta é a experiência do autor, mas com
certeza uma experiência de milhares de outros fãs que cresceram convivendo com
a Série Clássica, que como um bom vinho, continua proporcionando prazer.
O prazer agora é novo, mas ainda assim é continua sendo agradável assistir às
aventuras da NCC-1701. Ainda levando em consideração o SOS, dos 29 episódios
da primeira temporada, 23 têm uma avaliação entre 7 e 9,6 em uma escala de 10,
sendo que destes, 8 episódios tem média acima de 8.2. Então, se mais de dois terços
da primeira temporada é considerada acima da média, por um site de votação popular,
marca fantástica para qualquer serie de TV e mesmo dentro do universo ficcional
de Jornada nas Estrelas, não há como não enxergar o quão importante é esta
primeira temporada para Jornada. Nenhuma das outras séries da franquia
teve um saldo tão positivo em sua primeira seção. Temos aqui uma galeria
de episódios que misturam temas sérios com bom humor, aventura, através de bons
roteiros, cujos temas perderam a atualidade, mas ainda podem ser apreciados sob
a perspectiva da diversão. É claro que existiram equívocos, mas algo absolutamente
esperado em uma produção de TV revolucionária na sua época, e que precisava driblar
problemas de orçamento a todo o momento. A própria televisão mudou muito desde
então e nossa apreciação do que ela nos apresentou ontem e nos apresenta hoje,
bem como as exigências do publico, mudaram, obviamente. De qualquer forma não
há como esperar em nenhuma atividade o máximo de rendimento em todas as ocasiões.
Mas pequemos equívocos não podem ser de forma alguma usados como argumento
contra esta temporada que nos deu entre outras coisas, dois prêmios Hugo, além
de Romulanos e Klingons, Edith Keller, Khan, a Zona Neutra, Trelane. Elementos
que ficariam para sempre na “mitologia” da franquia mais famosa da galáxia.
No terreno dos personagens, o primeiro ano estabeleceu o que viria a ser
o epicentro da Série Clássica: James T. Kirk / William Shatner
: Forte caráter, heroísmo e a liderança. Tais atributos definiriam o perfil do
jovem capitão da Enterprise, que foi delineado de forma clara nesta temporada,
principalmente em episódios como “The Balance of Terror”, “The Naked
Time”, “Where no Man has gone Before”, entre outros. William Shatner
que sempre foi muito questionado não teve grandes escorregões, e conseguiu dominar
bem a ponte da Enterprise no primeiro ano de sua missão. Spock / Leonard
Nimoy.: Spock foi o personagem mais bem trabalhado na temporada, tendo o fato
de sua origem meio humana, meio Vulcana ter criado uma tendência nesta direção.
Leonard Nimoy teve sempre destaque, mas alguns episódios são mais significativos
para seu personagem, como “The Balance of Terror”, “Galileo Seven”
e “The Menagerie I e II”. McCoy / Deforest Kelley: O bom doutor,
apesar de não ter tido tantas oportunidades quanto seus pares acabou aparecendo
bem para os fãs devido a seu perfil totalmente passional. Grandes momentos em
que se fez contra ponto a Spock, marca registrada da série. Pena para Kelley que
o episódio em que teve maior destaque tenha sido o fraco “The Man Trap”.
Os personagens de Nichelle Nichols, George Takei e James Doohan não tiveram
quase nenhum destaque, tendo apenas o último algumas participações de alguma importância
relativa, nada mais. Já no terreno dos convidados especiais, estivemos
bem servidos. Destaque para os convidados Gary Lockwood como Gary Mitchell, Roger
C. Carmel como Harry Mudd (muitos o odeiam, mas é impossível não lembrar dele),
Mark Lenard (comandante Romulano), Elisha Cook como Samuel T. Cogley, William
Campbell (Trelane), Roger Perry como Capitão John Christopher, Ricardo Montalban
como Khan, John Colicos como Kor e Joan Collins como Edith Keeler. Episódio
por episódio, uma rápida passagem no que deu certo e no que não funcionou tão
bem assim, começando pelas más noticias: Partindo do guia de episódios do TB,
seriam os seguintes os episódios abaixo da linha de pobreza. “Mudd's
Women” Apesar de ter uma proposta interessante nenhum dos temas propostos
consegue alcançar alguma profundidade, coisa difícil de se fazer em 45 minutos
com temas tão afastados do conceito tradicional de ficção cientifica na época,
como prostituição, tráfico de escravas brancas e principalmente o uso de drogas.
Mesmo assim, este episódio apresenta Harry Mudd. Mérito para alguns, maldição
para outros, o fato é que este se tornou uma das figuras mais carismáticas de
Jornada nas Estrelas. “The Man Trap” “Um ponto
fraco deste episódio que acaba manchando a imagem que temos de Jornada nas
Estrelas é o desenvolvimento do roteiro no que diz respeito à criatura. À
primeira vista, falta compreensão para a tripulação da Enterprise. A criatura
é tratada como um monstro do começo ao fim; Kirk e seus comandados não param um
segundo para pensar que a criatura é inteligente e que portanto segue padrões
de comportamento que visam a um propósito. No entanto, se olharmos para a
maneira como a criatura se comporta ao longo do episódio, vemos que não há um
despropósito tão grande em encará-la desta maneira” Salvador Nogueira
“The Alternative Factor ” O grande legado de “The
Alternative Factor” é inaugurar oficialmente o tecno-babble em Jornada
nas Estrelas. É impressionante como vários dos termos utilizados aqui estariam
doravante presentes por diversas vezes e repetidos à exaustão nas outras edições
da franquia. Coisas como matéria e antimatéria, universos paralelos, fendas subespaciais,
viagens temporais, todas envoltas em explicações longas, superficiais e inconsistentes.
Embora muitos dos princípios abordados em “The Alternative Factor” sejam
objetos de estudo de gente séria, é necessário bom senso e conhecimento de causa
para colocar as coisas em termos que o espectador possa entender e se divertir
entre um saco de pipoca e outro. O segmento exagera nessa aposta, e resultado
acaba sendo confuso e cansativo. “The Return of the Archons”
Episódio que se perde em diversos pequenos problemas de uma trama pobre,
que não chama a atenção. Uma série de situações forçadas e um final pouco crível.
E isto acaba com as más
noticias. Passemos agora às excelentes noticias: Nada menos que sete episódios
do primeiro ano se tornaram clássicos absolutos da franquia. São eles:
“The City on the Edge of Forever” Marca registrada da Série
Clássica. Uma mensagem de fé na humanidade nas entrelinhas de uma fantástica
viagem no tempo. “Balance of Terror” Episódio de
estréia dos Romulanos, um sensacional jogo de gato e rato entre a Entreprise e
uma nave Romulana. Grande atuação do saudoso Mark Lenard. “The Menagerie
(I) e (II)” Uma boa idéia para aproveitar o material de “The Cage”
que resultou em magnífico episódio, que eternizou Christopher Pike no coração
do fã da série. “Space Seed” Khan Noonian Singh. Este
nome diz tudo. “The Devil in the Dark” Mistério e contato
com uma nova forma de vida dão os contornos deste episódio, um excelente resumo
de como as coisas funcionam na Série Clássica. “Errand of Mercy”
John Colicos, admirável, lançando para o sempre o Império Klingon nos anais
da franquia numa parábola pela não-violência. “Where No Man Has Gone
Before” Segundo piloto da Série Clássica, este segmento tem
ação, emoção, aventura, sem perder das qualidades do piloto original. Grande participação
de Gary Lockwood. Nesta relação de episódios inesquecíveis
poderíamos acrescentar outros, talvez um pouco mais discutíveis, cada um por suas
razões, mas que encontram grande número de fãs: “The Naked Time”, “The
Corbomite Maneuver”, “The Conscience of the King”, “Shore Leave”,
“The Galileo Seven”, “ The Squire of Gothos”, “Arena”, “Tomorrow
Is Yesterday”, “Court Martial”, “A Taste of Armageddon”,
“This Side of Paradise”, “Operation – Annihilate”, “The Enemy
Within”. Mas pode-se dizer que tais segmentos tiveram cada um sua importância
dentro da série. Cada um destes episódios tem em maior ou menor grau motivos para
serem lembrados, e se não são unanimidade para todos os fãs na galeria dos episódios
top da série, possuem qualidades para no mínimo serem classificados como
uma boa diversão. Restam ainda, num patamar um pouco mais baixo, mas
ainda com algumas virtudes “Charlie X” , “What are Little Girls Made
Of?”, “Dagger of the Mind” e mesmo “Miri” . Estes episódios
são de uma maneira geral considerados abaixo da linha média deste primeiro ano,
mas ainda assim têm seus atrativos. Em resumo, de qualquer forma que
se olhe para o primeiro ano da Série Clássica, seja por um ângulo matemático,
de representatividade ou sentimental, a conclusão é a mesma : a temporada é excelente,
cumprindo seu papel de forma soberba e competente.
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