MANCHETE
DO EPISÓDIO
Roteiro faz emergir qualidade em
história forte de viagem no tempo
Episódio
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Sinopse:
Data Estelar: 3113.2.
Enquanto
rumava em direção a Terra, a USS. Enterprise é pega pela atração
gravitacional de um buraco negro, e no processo para se libertar
acaba sendo jogada de volta no tempo, na segunda metade do século
vinte, na atmosfera terrestre, as vésperas do primeiro pouso do
homem na lua.
Ainda
parcialmente incapacitada devido às avarias causadas no esforço
para se libertar a nave é captada por uma estação de radar de uma
base aérea americana que envia um avião para investigar o estranho
contato.
O
avião, pilotado pelo capitão John Christopher, estabelece contato
visual com a nave enquanto esta ainda luta para retornar a altitude
de órbita padrão. Christopher recebe ordens de impedir a fuga do
que os militares identificaram como um OVNI, atirando nele se necessário.
Kirk,
que monitorava a comunicação entre a aeronave e sua base, é
alertado por Spock que, devido às avarias, talvez a nave estelar não
suporte um impacto de um disparo (de um míssil com ogiva nuclear)
do caça. Ele então ordena a Scott que prenda o avião com o raio
trator, mas este não suporta o esforço e começa a se desfazer,
obrigando Kirk a trazer Christopher a bordo via o tele-transporte.
Após
se materializar, Christopher fica a principio desorientado, enquanto
Kirk tenta explicar o que aconteceu ao confuso piloto da força aérea.
Depois da experiência do tele-transporte, Christopher vai ficando
cada vez mais confuso primeiro com a explicação de Kirk para o
fato de a Enterprise estar ali, e também ao se deparar entre outras
coisas com mulheres tripulantes circulando a bordo, e principalmente
com a visão de Spock, um alienígena.
Quando
começa a sentir-se um pouco mais aliviado, Christopher é informado
por Kirk que não poderá ser enviado de volta a Terra, pois teria
adquirido conhecimento demais sobre o futuro e se este conhecimento
se tornasse publico o próprio futuro poderia ser alterado.
Christopher protesta alegando que seu desaparecimento também
poderia mudar algo no futuro, mas Spock reage dizendo que suas
pesquisas históricas não revelaram nenhuma contribuição
importante de John Christopher para a historia.
Enquanto
a tripulação da Enterprise pensa em seus próprios problemas, ou
seja, retornar a seu tempo, Spock encontra uma falha em sua pesquisa
inicial a qual não havia considerado possíveis contribuições de
descendentes de John Christopher. Durante nova pesquisa ele descobre
que um filho, ainda não nascido de Christopher, o Coronel Sean
Jeffrey Christopher, será responsável pela primeira sonda a alcançar
Saturno. Kirk descobre nesta hora que Christopher está tentando
escapar e o impede pouco antes deste obrigar o operador de
transporte, Sr Kyle, a transportá-lo de volta a Terra.
Na
enfermaria, após se recuperar do soco que havia levado de Kirk,
Christopher acorda e é informado das descobertas de Spock, que também
diz a Kirk que eles serão obrigados a devolver o capitão a Terra,
pois caso contrário seu filho não nasceria e o futuro poderia ser
alterado.
Kirk
e Spock elaboram um plano que tem como intenção recuperar fotos
que foram tiradas por Christopher usando câmeras em seu avião, e
que haviam sido encontradas entre os destroços do aparelho. Kirk e
Sulu vão até a base, e enquanto estão pegando os rolos de fita do
velho computador, são apanhados por um sargento da segurança da
instalação que acidentalmente é levado a bordo da Enterprise,
complicando ainda mais a situação de Kirk e Cia.
Ainda
na base, uma outra equipe de segurança encontra Kirk, que inicia
uma luta que fornece o tempo necessário para Sulu retornar a nave
com as fitas, entretanto o capitão da Enterprise fica preso, e é
interrogado pelo pessoal da base.
Sem
alternativas Spock desce a base, junto com Sulu, levando também o
capitão John Christopher numa tentativa de resgatar Kirk. A ação
é bem sucedida, mas quando deviam voltar a bordo, Christopher se
recusa a retornar ameaçando o grupo com uma arma que ela havia
tomado as escondidas de um segurança da base. Spock, que
desconfiava que Christopher tentaria algo, e havia se retirado do
local pouco antes, retorna e o surpreende, mais uma vez o impedindo
de realizar sua intenção de escapar da custódia de Kirk e cia.
De
volta a Enterprise e com todas as provas fotográficas resgatadas,
Spock e Scott apresentam seu plano para retornar ao futuro, que prevê
uma corrida em direção ao Sol seguida de uma súbita tentativa de
escapar da atração gravitacional da estrela causando uma repetição
(ao contrario) do efeito que lançou e nave no passado. Durante o
retorno no tempo os dois passageiros indesejados seriam devolvidos e
no processo, suas memórias das experiências relativas à presença
da Enterprise seriam apagadas. Kirk segue o plano que funciona de
acordo com o previsto, Christopher e o sargento da base são
devolvidos aos seus devidos lugares e todas as lembranças da presença
da Enterprise desaparecem, e a nave retorna a seu tempo sem maiores
problemas.
Comentários:
O
obvio necessário a dizer sobre “Tomorrow Is Yesterday”
é que este é um clássico em Jornada nas Estrelas. Ele
inaugura a longa cumplicidade da franquia com o mote das viagens
temporais e questões afins. Alguns irão dizer que a primeira
viagem no tempo da Enterprise aconteceu na verdade no final de “The
Naked Time” (da mesma D.C. Fontana), mas naquele episódio a
pequena viagem de três dias da Enterprise no final do episódio não
teve nenhuma importância para o contexto da história. Sendo
simplesmente um gancho gratuito para uma continuação abortada
muito tarde no processo de produção da série (e deixando uma
marca absolutamente bizarra no segmento).
Já
no presente episódio o “efeito rebote” (que seria mais bem
traduzido pela dublagem como “efeito estilingue”) que inicia
toda a celeuma ao jogar a USS Enterprise no ano de 1967 - de acordo
com a sua data de exibição - está repleto de drama, aventura e
diversão, a começar pela própria profecia anunciada no episódio,
pois o citado primeiro passeio do homem na lua aconteceria quase
dois anos depois da exibição deste em 20 de julho de 1969.
Já
a abertura do episódio, que utiliza imagens externas de
interceptadores “F104 Starfighter” preparando-se para decolar ou
em vôo, e logo a seguir a visão de uma Enterprise contra as
nuvens, dão a indicação de que algo diferente acontecera neste
segmento, pelo menos diferente em relação às edições anteriores
da Série Clássica. Estas imagens de arquivo deste caça da
série “Century” são importantes por que conseguem emprestar
mais credibilidade ao segmento do que o visual da Enterprise se
arrastando para sair atmosfera, - coisa complicada pelo que
conhecemos dos sistemas de propulsão da nave -. Por questão de
justiça deve-se descontar a dificuldade técnica para realizar tal
seqüência na época.
De
qualquer forma a situação de crise é instalada, uma crise real,
pois a analise de Spock quanto à vulnerabilidade da Enterprise após
ser jogada ao passado é correta e a ação de Kirk totalmente
justificada se pensarmos que a Enterprise havia saído de uma situação
muito perigosa momentos antes e que ele tinha pouco tempo para
pensar na decisão a tomar.
Ele
decide trazer Christopher a bordo, o que nos apresenta a principal
conseqüência da viagem não planejada da Enterprise, que é
colocar um homem do século vinte dentro da Enterprise, e com isto
realizando indiretamente o desejo de muitos fãs que com certeza
sempre sonharam em ter a oportunidade de Christopher. E ele se sai
muito bem, confuso a principio, mas logo se adaptando com alguma
facilidade a sua situação no mínimo pitoresca. Christopher longe
de ficar maravilhado por estar a bordo, faz o que todo ser humano
normal tentaria fazer, ou seja, fugir. Esta firmeza de propósito do
personagem interpretado por Roger Perry é fundamental para
propiciar diversas situações engraçadas, o que alias parece desde
o inicio seu principal objetivo. Não há aqui nenhuma intenção de
discutir teses sobre viagens temporais e seus paradoxos de forma
“séria” e por não se levar a sério este episódio é diversão
garantida.
Embora
a curta caminhada de Christopher da sala de transporte até a ponte
da Enterprise não pareça ter relevância suficiente para alterar o
futuro da humanidade, esta motivação serve como combustível para
os eventos que se desencadeariam em seguida. A partir daí uma série
de situações são desenvolvidas com base em elementos amplamente
conhecidos em Jornada, como a presença de mulheres a bordo,
integrando a tripulação, num período
em que elas ainda não eram aceitas no serviço militar, ou a
presença de uma tripulação bem miscigenada, o que é mais notado
quando Christopher encontra Spock, apesar das presenças de Sulu e
Uhura na ponte. O episódio também mexe com a neurose em relação
à vida extraterrestre e aos fenômenos de OVNIs e acrescenta a
mitologia da série à informação de existência - em um
determinado momento – de 12 naves da classe Constitution em serviço
na Frota Estelar. Um deleite para os fãs que gostam de garimpar e
contabilizar este tipo de informação.
Alguns
destes elementos foram ou serão mostrados em outros episódios da Série
Clássica, mas nesta edição eles ganham destaque devido à
estrutura do episódio que é ambientado no século vinte e tendo um
militar “convencional”, no caso Christopher, visitando a nave.
O
episódio é extremamente bem humorado, mas sem expor ninguém ao
ridículo. Aos poucos uma série de situações vão se colocando
diante de nossos heróis, onde as interações entre Kirk, Spock e
McCoy –com desempenhos muito competentes de Shatner, Nimoy e
Kelley – estão absolutamente sintonizadas com o perfil de cada
personagem e produzem momentos do melhor bom humor já realizado na Série
Clássica, construindo um episódio leve e absolutamente agradável
de assistir. Talvez seja este o maior mérito do segmento, pois uma
vez que era óbvio que a tripulação da nave encontraria uma solução
para seus problemas o roteiro escolhe se concentrar nas situações
inusitadas que podem acontecer, e o faz com maestria. O momento em
Spock admite a sua falha durante a pesquisa sobre Christopher é,
como disse McCoy, um momento histórico, pelo menos na Série Clássica.
Mais
do que nas equações de Spock e Scott, o efeito do tempo é sentido
através de uma piada que perdeu a graça, no caso o comentário de
Kirk e Sulu sobre a obsolescência dos computadores da base, o que
antes era uma troça e hoje um fato. Definitivamente uma mensagem
sobre o tempo que os roteiristas jamais pensaram em contar, mas que
com a chegada do seriado aos dias atuais fica evidente. Assim como
bons vinhos, boas idéias tendem a se refinar ainda mais com o
tempo.
Um
dado curioso é que o problema no computador da nave é relatado no
livro “Web of the Romulans” que no Brasil chamou-se “A Teia
dos Romulanos” e foi publicado pela editora Aleph. Neste texto, a
personalidade feminina do computador faz com que este se apaixone
pelo capitão causando problemas ainda maiores do que os vistos em “Tomorrow
is Yesterday”.
Na
relação de problemas podemos creditar alguns deslizes de
diferentes graus de importância, começando pelo fato de
Christopher ficar sem vigilância a bordo da Enterprise, mesmo
deixando claro que tentaria fazer o máximo para escapar e relatar o
que lhe tinha acontecido, o que obviamente o obrigaria a deixar a
nave, o que é claro ele acaba tentando fazer por duas vezes. Mesmo
assim, bastaria ao tripulante Kyle a quem nosso bravo capitão do
passado ameaça com um feiser, transportar Christopher para qualquer
lugar da nave como, por exemplo, uma cela de segurança, o que
tornaria desnecessário o direto no queixo que ele recebeu de Kirk
que voltaria a repetir sua solução “estilo Stalone” ainda
neste episódio, dando uma deixa para uma tirada de Spock, que bem
poderia ser uma sátira aos diversos “combates corpo a corpo”
que viríamos na Série Clássica: “Não acha isto
doloroso, capitão!?”.
Outra
coisa difícil de explicar, embora comum ao longo da Série Clássica,
é por que arriscar o capitão numa missão dessas quando qualquer
candango de plantão poderia fazê-lo e ainda, e por que não usar
umas roupas locais ao invés dos uniformes da Frota, o que
aumentaria as chances de sucesso na incursão da equipe de terra.
Aliás, parece óbvio que o interrogatório de Kirk inspirou o
interrogatório de Chekov (a bordo do porta-aviões Enterprise) em Jornada
Nas Estrelas IV: A Volta Para Casa.
(Destaque
também para mais uma participação de Sulu, hora como piloto, hora
auxiliando Kirk enquanto este busca as fotos tiradas por Christopher
em terra.)
Mas
as falhas mais graves são encontradas durante o processo de elaboração
e execução da solução final do episódio, que chega a galope e
atropela a até então excelente condução do segmento. É necessária
uma dose maciça de “suspensão de descrença” para engolir a
concepção e a execução da teoria que permitiu o lançamento da
Enterprise no passado, e posteriormente seu retorno a sua própria
época, (hipótese que não discutiremos aqui por já ter sido feito
em outras ocasiões), um conceito reutilizado no já citado filme Jornada
Nas Estrelas IV: A Volta Para Casa (grandemente influenciado
pelo presente segmento), mas isto por si só não ajuda a explicar o
exercício de imaginação feito para conceber o retorno da nave ao
momento em que ela chegou ao passado. Não há como explicar por que
o capitão Christopher e o sargento que também veio a bordo tiveram
suas memórias sobre o acidente esquecidas e a tripulação da
Enterprise não sofreu o mesmo efeito, sem falar que a ordem de
descida de ambos parece invertida, sem falar que o processo todo é
confuso, “entortado” para encaixar as necessidades do roteiro.
Os cronômetros da Enterprise girando ao contrario e a péssima
execução do “efeito” da nave se libertando da atração do Sol
onde se vê nitidamente as linhas que prendem o modelo da Enterprise
e a imagem de Sulu batendo no console igual a um alucinado não
ajudam a digerir estes defeitos. Outro dado no mínimo curioso, é
que um procedimento tão complicado não seja controlado pelo
computador da nave. Observando o tempo que Spock levou na segunda
“inversão” para avisar Kirk e o tempo que este levou discutindo
com Scott sobre os efeitos desta ação sobre a nave, é de espantar
que eles não tenham ido parar lá pelo século XXX.
Mesmo
assim, se levarmos em conta ser este um episódio pioneiro, tanto na
idéia quanto na execução, e todas as dificuldades já citadas
para levar a cabo a empreitada, o resultado final é positivo,
fazendo com que “Tomorrow Is Yesterday” tenha um lugar de
destaque na memória afetiva dos fãs da Franquia.
Citações:
Christopher
- “Must have taken quite a lot to build a ship like this”.
Kirk - “There are only 12 like it in the fleet.”
Christopher
- “I never have believed in little green men.”
Spock - “Neither have I.”
Christopher
- “Then my disappearance would change something, too.”
Spock - “I have run a check on all historical tapes. They show no
record of any relevant contribution by John Christopher.”
Christopher
- “I see physical training is required in your service, too.”
Spock - “Crude methods, but effective.”
Spock
- “I made an error in my computations.”
McCoy - “Oh? This could be an historic occasion.”
Kirk
- “If I remember my history, these things were being dismissed as
weather balloons, sundogs, explainable things-- at least publicly.”
Spock - “Captain, our tractor beam caught and crushed an Air Force
plane. It'll be impossible to explain this as anything other than a
genuine U.F.O. Possibly alien... definitely destructive.
McCoy
- “Shouldn't you be working on your time warp calculations, Mr.
Spock?”
Spock - “I am.”
Kirk
- “The truth is, I'm a little green man from Alpha Centauri, a
beautiful place. You ought to see it."
Coronel.: “I am going to lock you up for 200 years.”
Kirk - “That ought to be Just about right.”
Spock
- “Don't you find that painful, Captain?”
Kirk - “Yes, I do.”
Spock
- “My computations indicate that if we fly toward the sun, seek
out its magnetic attraction, then pull away at full power, the
whiplash will propel us into another time warp."
Christopher - Slingshot effects are fine for you people. How do you
propose to return the Sergeant and me?”
Spock - “Logically, as we move faster and faster toward the sun,
we'll begin to move backward in time. We'll actually go back beyond
yesterday, beyond the
point when we first appeared in the sky.”
Christopher
-”I never thought I'd make it into space. I was in line to be
chosen for the space program... but I didn't qualify.”
Kirk - “Take a good look around, Captain. You made it here ahead
of all of them.”
Comando
da Frota Estelar - “Enterprise, this is Starfleet Control. Come
in, please.”
Kirk
- “Starfleet Control, repeating message.The Enterprise is home.
Kirk out.”
Trivia:
Um
Lockheed F104 Starfighter reconstruído por um particular bateu o
recorde de velocidade a baixa altitude.
Durante
ao episódio vemos a designação da base aérea como “498th”.
Esta descrição corresponde na verdade a uma unidade medica, a 498a
Companhia Médica, baseada na Georgia. Suas principais aeronaves
eram helicópteros UH60.
Durante
a 2a Guerra Mundial o segundo tenente Gene
Roddenberry voou 89 missões no pacifico Sul integrando a tripulação
de bombardeiros B17.
Ficha
técnica:
Escrito por D.
C. Fontana
Direção de Michael
O'Herlihy
Exibido em 26/01/1967
Produção: 21
Elenco:
William Shatner
como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu
Elenco convidado:
Roger Perry como
Capitão John Christopher
Ed Peck como Coronel Fellini
Hal Lynch como sargento da segurança da base aérea
Majel Barrett como voz do computador
John
Wiston como chefe de transporte Kyle
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