A
Enterprise chega ao planeta M-113 para entregar suprimentos para o
Dr. Robert Crater e sua esposa, Nancy, com quem o Dr. Leonard McCoy
esteve uma vez romanticamente envolvido. Os Crater já estavam em
M-113 durante cinco anos, conduzindo uma pesquisa arqueológica nas
ruínas do planeta. Acreditava-se que eles eram os únicos
habitantes do planeta.
Crater diz a Kirk que a única coisa que eles precisam é de
tabletes de sal. Além disso, tudo que desejam é serem deixados a sós.
Kirk discorda, insistindo em que eles devem precisar de outros
suprimentos e precisam ao menos permitir que McCoy os examine.
Enquanto se dá essa discussão, Darnell, um dos membros do grupo de
descida, encontra uma jovem mulher e a segue.
Quando Kirk sai a procura do tripulante, encontra-o morto, e em seu
corpo há estranhas marcas circulares. O capitão ordena que os
Craters sejam levados para a Enterprise. Na nave, McCoy demonstra
sua surpresa ao comentar como Nancy tinha mudado pouco desde o último
encontro dos dois, vários anos atrás. A volta de Nancy desenterrou
alguns sentimentos no bom doutor que esconderam qualquer suspeita
que ele normalmente teria.
No entanto, a mulher que McCoy vê como Nancy Crater é um ser
metamorfo, o último sobrevivente de M-113, e pode literalmente
aparecer como um ser diferente para cada pessoa que encontra.
Invadindo as mentes das pessoas e extraindo suas memórias, a
criatura pode conduzir suas potenciais vítimas a um falso senso de
segurança antes de matá-las.
O problema enfrentado pela criatura é a necessidade por cloreto de
sódio - sal. Sem ele, ela irá perecer. Em seu planeta natal, o sal
está acabando. O resto de sua raça morreu por conta desta excassez,
e esta última sobrevivente havia estabelecido uma relação simbiótica
com o professor Crater. O pesquisador fornecia o sal necessário a
sua sobrevivência e em troca a criatura se transformaria em
Nancy... algo que vinha acontecendo desde o assassinato de sua
esposa pela criatura, para absorção de seu sal.
Acidentalmente levada para a Enterprise, a criatura começa a matar
tripulantes. Enquanto é caçado por Kirk e seus comandados, o ser
mata Robert Crater e transforma-se novamente em Nancy, quase matando
McCoy. Kirk e Spock, que descobriram a estratégia da criatura,
correm para os aposentos do doutor e convencem-no de que aquela não
é a verdadeira Nancy. Em meio ao sofrimento, McCoy decide por matar
a criatura, salvando a si próprio e a tripulação.
"The Man Trap" é
um episódio que evita grandes discussões filosóficas. Na verdade,
fica muito clara a preferência do autor
pela ação, em detrimento da reflexão.
Ainda assim, a história acaba tocando em
alguns temas interessantes. Apesar de não parecer à primeira
vista, "The Man Trap" é uma história
carregada de cargas ideológicas, expressas metaforicamente em dois
pontos da história.
A relação simbiótica estabelecida entre o
professor Crater e a criatura de M113 expõe de forma bastante clara
um conflito de "princípios" versus "conveniência".
Apesar
do cientista saber que a criatura tem comportamentos altamente
reprováveis, ele a protege, fugindo de seus princípios com o
intuito não de proteger a criatura, mas sim de proteger o próprio
"paraíso" que ela proporciona ao fingir ser sua esposa. A
motivação de Crater não é a preservação da criatura; é
meramente sua conveniência.
O segundo conflito estabelecido no episódio
é entre a "razão" versus "amor", e é
protagonizado pelo Dr. McCoy e a sua dificuldade de perceber a
verdade, ofuscado pela paixão antiga
que nutria por Nancy Crater.
Nos dois casos, o desfecho desses conflitos
deixa transparecer
a "mensagem" submersa em uma história aparentemente sem
conteúdo.
Os "princípios" vencem a
"conveniência", já que o professor
Crater acaba sendo morto, curiosamente, para proteger a própria
conveniência da criatura, que estava sendo ameaçada pelo
conhecimento de Crater para identificá-la.
Analogamente, a "razão" supera o
"amor" e McCoy acaba percebendo (com uma demonstração
contundente proporcionada por Spock, ninguém menos do que o símbolo
maior da lógica e
da razão existente na mitologia de Jornada nas Estrelas) que a
suposta Nancy na verdade é a criatura e termina por matá-la com um
disparo de feiser.
Um ponto fraco deste episódio que acaba
manchando a imagem que temos de Jornada nas Estrelas
é o desenvolvimento do roteiro no que diz respeito à criatura.
À
primeira vista, falta compreensão para a tripulação da Enterprise.
A criatura é tratada como um monstro do começo ao fim; Kirk e seus
comandados não param um segundo para
pensar que a criatura é inteligente e que portanto segue padrões
de comportamento que visam a um propósito.
No entanto, se olharmos para a maneira como a
criatura se comporta ao longo do episódio, vemos que não há um
despropósito tão grande em encará-la desta maneira.
No prólogo, ainda havia sal no estoque dos
Crater e ainda assim
a criatura optou por matar um tripulante e sugar o sal de seu
corpo sem nenhuma motivação para o assassinato que não fosse o
sadismo.
Logo, o grande problema não é a suposta
cegueira da tripulação
à natureza do comportamento da criatura, mas sim a forma maniqueísta
pela qual essa criatura foi concebida pelos autores, sendo escrita
para ser simplesmente "o inimigo", o mal a ser combatido.
Esse formato de concepção do inimigo
"alienígena" tem muita relação com o espírito dos anos
50 e 60, que ficaram marcados por histórias de ficção científica
em que os alíenigenas são vistos apenas como o mal personificado.
Essa visão do inimigo não faz jus à tradição
de Jornada nas Estrelas, como se comprovaria mais
tarde em episódios como "Balance
of Terror" ou "Spectre of the Gun".
De qualquer maneira, falta sim ao pessoal da
Enterprise um
pouco mais de boa vontade para tentar um contato pacífico com
a criatura ou ainda para evitar a sua morte, tentando apenas capturá-la.
Em termos de desenvolvimento dos personagens,
quem saiu ganhando mais em "The Man Trap"
foi a tenente Uhura. O diálogo que ela tem com o sr. Spock na ponte
e o relacionamento dela com a criatura (que se disfarça como o
homem dos sonhos dela) ajudam a traçar parte do perfil psicológico
da oficial de Comunicações.
Em compensação, a ordenança Rand mais uma
vez cumpre o mero papel de "garçonete" da nave, levando
comida para Sulu no laboratório de botânica da Enterprise.
O personagem que tinha maior potencial para
evolução neste episódio era sem dúvida Leonard McCoy, em função
de seu relacionamento prévio com Nancy Crater. Infelizmente, pela
qualidade do argumento, ficou só no potencial. Mesmo assim, vê-se
o caráter humanista e sonhador de McCoy nos momentos em que
interagiu com a falsa Nancy.