MANCHETE
DO EPISÓDIO
Primeiro piloto foi apontado como "muito
cerebral" para o público da rede NBC
Próximo
episódio
Sinopse:
Data Estelar: desconhecida.
Dez anos antes de James T. Kirk assumir o comando da USS Enterprise, o
capitão Christopher Pike e sua tripulação recebem um pedido de
socorro do planeta Talos IV e se teleportam para investigar. Localizando
a fonte do sinal, o grupo de descida descobre sobreviventes de um
acidente de uma nave de pesquisa, a SS Columbia.
Entre os sobreviventes está uma bonita mulher, Vina. Pike acaba ficando
distraído pela beleza da sobrevivente e em razão disso é capturado
pelos Talosianos que vivem no subsolo. O sinal de socorro e os
sobrevivente, excetuando-se Vina, eram ilusões criadas pelos Talosianos
para atrair a Enterprise e Pike para o planeta.
Os
Talosianos eram
uma espécie forte, mas após décadas de vidas dedicadas a ilusões,
eles se atrofiaram fisicamente e precisavam de seres mais fortes para
reconstruir e repopular seu planeta destruído. Em Pike, com Vina, os Talosianos
esperavam ter finalmente encontrado um ser que servisse a seus objetivos
de procriação para uma raça mais saudável e mais poderosa.
Os alienígenas usam seu poder de ilusão para instigar o interesse de
Pike em Vina, apresentando-a em vários disfarces: uma princesa de Rigel
em perigo, uma escrava Órion e uma amável companheira. Quando Pike
resiste, os Talosianos trazem a Número Um, primeiro-oficial da
Enterprise,
e a ordenança do capitão para que ele pudesse escolher entre uma das fêmeas
disponíveis.
O capitão, não desistindo de combater os Talosianos, descobre que emoções
primitivas humanas neutralizam a habilidade Talosiana de ler mentes, e
eventualmente escapa para a superfície do planeta, junto com as três
mulheres.
Os Talosianos ainda voltam a encontrar Pike e os três prisioneiros
antes que eles possam se teleportar, mas o capitão se recusa a
negociar, ameaçando matar a si mesmo e aos outros para não se submeter
às exigências Talosianas. Temerosos de perder sua única fonte de
repopulação, os talosianos estudam os registros da USS Enterprise e
descobrem que a espécie humana é muito independente para servir
aos objetivos
deles.
Sem
outra escolha, os Talosianos libertam os humanos. Após a Número Um e a
ordenança Colt subirem a bordo, Pike pede a Vina que deixe o planeta
com ele. Apesar de sua crescente afeição pelo capitão, Vina não pode
deixar Talos IV. Os alienígenas revelam que uma expedição realmente
se acidentou no planeta e que Vina, a única sobrevivente, estava muito
machucada e desfigurada. Com a ajuda das ilusões dos Talosianos, no
entanto, ela
ainda parecia ser bela e sentia-se saudável.
Os Talosianos aceitam continuar fornecendo a Vina sua ilusória aparência
de beleza e saúde e permitem que Pike saia do planeta. Percebendo que
seria o melhor para Vina, Pike volta à Enterprise. Os Talosianos, em um
ato de boa fé, enviam uma imagem de Vina para a tela da nave. Ela não
apenas recuperou sua beleza, mas também ganhou outra ilusão - a de que
Christopher Pike ficaria
com ela no planeta.
Comentários:
"The Cage" é um caso atípico de piloto para uma série
de televisão. Apresenta apenas um personagem que continuaria na série
ao longo de seus três anos: Spock.
Também tem em comum com o resto da série (embora com significativas
alterações) o veículo de transporte: a nave estelar USS Enterprise.
É difícil, portanto, incorporar esse episódio como sendo parte
integrante da série original. O único fator que permite que "The
Cage" seja incorporado à saga de Jornada nas Estrelas é
o aproveitamento de seu conteúdo no único episódio de duas partes de
toda a série, "The Menagerie".
Mesmo com as diferenças entre o piloto e o restante da série, podemos
perceber alguns traços compartilhados por eles, principalmente no que
diz respeito aos assuntos abordados.
"The Cage" discute principalmente a
dificuldade do ser humano se adaptar ao cativeiro. Um dos maiores
valores compartilhados pela humanidade é o de direito à liberdade. "The
Cage" nos mostra que não é possível para o homem que o
aprisionamento seja agradável, por mais que tentemos torná-lo confortável.
Se
a princípio, essa idéia não nos parece das mais sólidas,
analisando-a a partir da perspectiva do "castigo", punição
aplicada às crianças quando desobedientes, percebemos o quanto o
conceito é verdadeiro. Uma criança pode passar várias horas dentro do
seu quarto, brincando, divertindo-se, adorando estar naquele ambiente.
No entanto, quando é ordenada que fique em seu quarto, como um castigo
por um mau comportamento, não há nada que a faça feliz, mesmo estando
em um local capaz de entretê-la. O "castigo" não é ficar no
quarto, a verdadeira punição é o efeito psicológico de estar preso.
Além disso, outro aspecto abordado por "The Cage",
mais interessante, é o de que devemos tirar proveito de nossos supostos
defeitos, nossas fraquezas. Transformá-las em virtudes, em vantagens. O
Capitão Pike faz isso ao usar o que existe de mais primitivo nos seres
humanos, as emoções básicas, raiva, ódio, para resistir ao controle
mental imposto pelos Talosianos.
Será que esse conceito é válido, quando transposto da ficção científica
para a realidade? Alimento para a mente...
O episódio ainda toca em dois conceitos: o perigo de uma guerra nuclear
- exibido através do destino dos Talosianos - e ainda, que as aparências
podem enganar, pois se no início somos levados a encarar os alienígenas
como malévolos, ao fim da história, percebemos que não é bem assim.
De qualquer forma, em seu conceito primordial, Jornada nas
Estrelas já se mostrava uma série promissora, que colheria
milhões de fãs no mundo todo, não simplesmente para entretê-los mas
para provocá-los a refletir sobre o mundo e a condição humana. Não
é à toa que os executivos da NBC consideraram o primeiro piloto de Jornada
"muito cerebral"...
Analisando o enredo, podemos perceber uma história bem amarrada, com
começo, meio e fim, com boa fluidez, não vai aos trancos, apresenta-se
cadenciada. Talvez o ritmo seja um pouco mais lento do que o ideal.
Falta um ponto de clímax, um momento em que o telespectador pára e
pensa: e agora? Mas pelos propósitos da narrativa, pelas questões
levantadas, e pelo grau de verossimilhança, o enredo pode ser
considerado bom.
Vendo sob a perspectiva dos personagens, a construção da história é
irretocável. Vemos uma força nos personagens, uma personalidade
definida, e mais do que isso, um senso de propósito. Desde já temos o
vulcano Spock (embora ainda estivesse em processo de amadurecimento, nem
fazendo sombra ao grande Spock dos episódios subseqüentes), a Número
Um (segundo oficial na cadeia de comando, uma mulher, em 1964? Bravo!),
o Dr. Phillip Boyce, já se mostrando um proto-McCoy, e a nobreza de
intenções e a determinação do capitão Christopher Pike, personagem
brilhantemente interpretado por Jeffrey Hunter.
Além
dos personagens regulares, temos a estonteante Vina, e os
inacreditavelmente alienígenas Talosianos. São por personagens como
esses que os trekkers se perguntam: como teria sido a série se seguisse
os padrões de "The Cage"?
Todos os aspectos de produção podem ser elogiados, desde o roteiro e a
direção, até os efeitos especiais (extremamente convincentes, levando
em conta as possibilidades tecnológicas e orçamentárias da época),
passando pela cenografia criada para o planeta (reaproveitada em "Where
No Man Has Gone Before") e para a recriação da
batalha de Rigel VII (reutilizada em "Requiem for
Methuselah") e por detalhes sutis como as veias pulsantes
das enormes cabeças dos Talosianos (na verdade, veias infláveis, com
uma pequena bombinha de ar pressionada pela atriz que interpretava o
papel). A escolha de mulheres baixas e com traços faciais estranhos,
somada ao excelente trabalho de maquiagem e a dublagem dos alienígenas
com vozes masculinas ajudam muito a convencer o telespectador de que se
tratam, realmente, de alienígenas.
Por fim, vale fazer uma nota sobre a capacidade de se encaixar esta história
de forma coerente na cronologia de Jornada nas Estrelas.
Por se tratar de um piloto, ainda mais no caso atípico de "The
Cage", até que foi possível encaixar o conteúdo do episódio
no restante da série. No entanto, alguns aspectos são inconciliáveis,
como os procedimentos e a terminologia de locomoção, no que se refere
ao motor de dobra.
Citações:
Pike - "Do you want me to try my
theory out on your head?"
("Você quer que eu teste minha teoria na sua cabeça?")
Trivia:
Nesse piloto as armas não são "feisers", mas sim lasers. A
terminologia foi trocada por recomendação do consultor de ciência da
série, para evitar que termos de coisas existentes fossem usados
imprecisamente. A mesma coisa aconteceu mais tarde com os cristais de lítio,
que viraram cristais de dilítio.
Spock aparece mancando em uma cena em Talos IV. A explicação é um
suposto envolvimento do personagem em um conflito anterior ao episódio,
fato mencionado no roteiro, mas editado da versão final.
Ficha
técnica:
Escrito por Gene Roddenberry
Direção de Robert Butler
Produzido em 1964 (não foi ao ar)
Produção: 01
Elenco:
Jeffrey Hunter como Pike
Majel Barrett como Número Um
John Hoyt como Boyce
Peter Duryea como Tyler
Laurel Goodwin como Colt
Leonard Nimoy como Spock
Elenco convidado:
Susan Oliver como Vina
Meg Wyllie como Guardião
Malachi Throne como voz do Guardião
Próximo
episódio
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