Se ao fim do jogo as coisas boas chegam a um fim,
sempre importante é lembrar o que você deixa para trás.
Timothy Duke pensava nisto enquanto ficava sentado
em sua cadeira no Plenário Principal do Conselho da Federação.
O grande salão estava vazio no momento, pois a sessão do dia já
havia terminado um par de horas antes. Contudo, ele havia decidido
voltar ali para aproveitar a imensidão do recinto e o vazio do
momento para refletir um pouco.
Ele ficava girando levemente para a esquerda e
para a direita a confortável cadeira, enquanto observava o
palanque principal, com a mesa principal do Conselho, logo abaixo
de um grande brasão da Federação, e à frente dos dois grupos
de cadeiras dos embaixadores dos planetas-membros, cada grupo com
cerca de 75 assentos, separados por um corredor central. A sua
cadeira de representante da Terra ficava à frente do grupo da
direita de quem vinha pelo corredor na direção da mesa do
Conselho, logo ao lado da do embaixador Vulcano e os demais
sistemas fundadores, Alfa Centauri, Andor e Tellar. Havia ainda a
área com os assentos das delegações observadoras, ocupadas
normalmente pelos embaixadores de várias espécies não-membros
da UFP. E, mais acima, estava o balcão com os assentos reservados
para o público e a imprensa.
Sem dúvida era um recinto tão belo quanto
imponente. Desde sua inauguração, o local havia passado
basicamente por modificações cosméticas e atualizações
tecnológicas, e assim não era muito diferente daquele no qual
ele entrara pela primeira vez em sua vida, várias décadas antes,
e algum tempo mais tarde já como Embaixador da Terra.
Mas e quanto à sociedade a que pertencia este
recinto? Ah, esta havia passado por muitas mudanças, disto ele
não tinha a menor dúvida. Da mesma maneira, ele havia mudado.
Isto é o que o levava a pensar em coisas boas e ruins, em
começos e finais. Talvez também fosse o fato de haver uma
eleição à frente, para dali a cerca de quatro meses, na data
estelar 54600.0. E será uma eleição que iria ser travada entre
eleitores aliviados e alegres de serem a parte vencedora no
pós-guerra, mas também eleitores mais cínicos e endurecidos por
todas estas últimas crises enfrentadas pela Federação.
Ainda que este próximo pleito não incluísse o
de Presidente da Federação, estas seriam eleições importantes,
com 38 dos 150 planetas-membros escolhendo seus Embaixadores no
Conselho da Federação, o mais importante dos cargos em disputa,
além de diversos cargos locais particulares a cada membro. E a
Terra era um destes membros aonde haveria eleições. Portanto, a
cadeira onde ele estava sentado neste momento será a que estará
em disputa neste planeta. De fato, ele se encontra como membro do
Conselho de uma Federação realmente diferente daquela de quinze
anos antes, quando ele começou sua carreira de diplomata e membro
do governo Federativo, após vários cargos políticos regionais
na Terra e no governo regional da Lua.
Não que ele não se sinta confiante em sua
possibilidade de reeleição, de modo algum. Contando com o apoio
do Presidente Inyo e seu gabinete, e com os bons índices de
popularidade que tem mantido, deve ser uma eleição tranqüila.
Tem havido muitas críticas recentemente de diversos setores de
oposição, mas nada que assuste. Embora ele deva concordar que
estes não têm sido tempos fáceis para a Federação
ultimamente. Realmente não é tarefa simples governar uma
sociedade democrática com quase um trilhão de habitantes de
dezenas de espécies diferentes, espalhados por 150 sistemas
membros. Sempre há crises para se enfrentar, sejam de natureza
científica, econômica, política ou social, e ultimamente um bom
número delas ocorreu.
Como as tensões com a União Cardassiana nas
últimas duas décadas, por exemplo. Depois de anos de
escaramuças com esta espécie, uma frágil paz foi estabelecida
ao se demarcar uma Zona Desmilitarizada entre a fronteira da
Federação e Cardássia. A fronteira foi redesenhada, e alguns
sistemas trocaram de lado. Não foi uma decisão fácil, e ele
ainda pode lembrar dos inúmeros compromissos políticos que teve
que negociar para que o Conselho aprovasse o tratado. Afinal de
contas, havia algumas particularidades de direito interplanetário
em jogo. Foi particularmente difícil para eles convencerem os
representantes dos sistemas próximos à fronteira Cardassiana,
mas no final o grupo dele e Inyo conseguiram uma margem pequena,
mas segura. O tratado foi aprovado pelo Conselho e foi ratificado
pelos Cardassianos. Com isto, todos esperavam que estes arranjos
de umas poucas colônias fossem um preço pequeno a se pagar por
uma duradoura paz.
Mas foi o que aconteceu? Bem sabia ele que não.
Na realidade, isto veio a criar um problema adicional. Muitos
colonos da Federação se recusaram a serem realocados de suas
colônias que repentinamente passaram a estar do lado Cardassiano
da ZDM. Acreditando que a Federação os abandonara, muitos deles
se juntaram em um grupo chamado Maquis, para defenderem a si
mesmos de agressões Cardassianas. Civis, ex-oficiais da Frota
Estelar e até mesmo mercenários e todo tipo de escória que se
pode encontrar nas fronteiras acabou se juntando às diversas
células Maquis. Vários deles estavam lutando pelo direito de
viver em paz em suas terras, enquanto outros procuravam uma boa
oportunidade de lucro ou mesmo uma boa briga.
As operações das células Maquis logo começaram
uma guerrilha contra a presença Cardassiana naquela região, e o
movimento Maquis tornou-se rapidamente uma ameaça tanto para os
Cardassianos como para nossa própria sociedade. Diversas células
de operações passaram a agir com tanta truculência e insanidade
quanto os agressores Cardassianos que eles enfrentavam. Todo este
conflito viria a se prolongar até o momento em que Cardássia se
juntou ao Dominion, e então os Maquis remanescentes foram
derrotados ou se voltaram para a Federação, para se render
pacificamente. Em vista do tratado com Cardássia ter ruído por
completo, um grupo de embaixadores propôs uma anistia irrestrita
a todos os ex-maquis, mas ele, tendo o apoio do Comando da Frota,
conseguiu revisar este projeto para uma anistia individualizada e
gradativa, para que eventuais crimes e excessos de maquis
individuais não recebessem o mesmo benefício da anistia para
quem de fato a merecia. O Conselho acabou votando por uma versão
mista de ambas as propostas, e pouco a pouco os ex-maquis foram
sendo recebidos de volta na sociedade. Afinal de contas, pensava o
Embaixador, as suas razões ideológicas nunca foram realmente
muito profundas. Mesmo os maquis mais apaixonados por suas
supostas causas não acreditavam nelas de longa data – eles
apenas passaram a pensar daquela forma depois que as políticas
federativas, que tanto lhes serviram bem, pararam de servir. Só
então eles bolaram algum verniz ideológico para tentar
justificar seus atos.
E sim, claro... o Dominion. Talvez um dos mais
duros adversários que a Federação enfrentou nos últimos
tempos. Graças ao buraco de verme Bajoriano, que deu acesso a uma
área do outro lado da galáxia, no quadrante Gama, a Federação
conheceu esta organização. Trata-se de um vasto império
controlado por uma espécie de seres transmorfos, conhecido como
os Fundadores. Eles controlam o Dominion com mão-de-ferro,
valendo-se para isto de uma outra espécie, os Vortas, que servem
como seus lugar-tenentes na administração do Dominion. Vortas
são geneticamente construídos para ter devoção e lealdades
divinas aos Fundadores, da mesma maneira que os Jem'Hadars, a
espécie que é o braço militar do Dominion. Jem'Hadar são
humanóides criados geneticamente com o único e solene propósito
de servir como soldados. Eles não precisam dormir, não precisam
se alimentar, não têm nenhum tipo de diversão ou qualquer outra
atividade que não a de ser os melhores e mais sanguinários
soldados possíveis, equipados como uma impressionante tecnologia
militar. A única coisa de que precisam é uma droga que consomem,
cujo fornecimento é mantido sob controle dos Vortas e Fundadores,
para manter os soldados Jem'Hadar sob rígido controle. Além
destas espécies, o Dominion também é composto por inúmeras
espécies do quadrante Gama, que são mantidas sob o julgo dos
Fundadores desde que o Dominion foi fundado, cerca de 10 mil anos
terrestres atrás.
A tripulação da Deep Space Nine, a estação
espacial que está instalada na entrada do buraco de verme, foi
quem realizou o Primeiro Contato. O Dominion considerava as
várias naves vindas do quadrante Alfa através do buraco de verme
como uma violação de seu território, e isto obviamente
colaborou para que aquele fosse um primeiro contato sem dúvida
alguma nada agradável, pois logo se seguiram conflitos com os
Jem'Hadars, e mesmo a USS Odissey foi destruída no
primeiro encontro formal... uma nave da classe Galaxy, nada
menos. Mais de mil vidas perdidas.
Seguiu-se então um período de guerra fria entre
os vários poderes do quadrante Alfa e Beta e o Dominion, que se
tornou muito interessado em expandir sua influência também para
esta parte da galáxia. Isto obviamente tinha muito a ver com a
maneira com que os Fundadores viam quaisquer outras espécies de
vida "sólidas", não-transmorfas: todos seres
inferiores, que não merecem respeito ou confiança. Apesar disto,
a tripulação da DS9 podia contar com Odo, um transmorfo que fora
encontrado cerca de 30 anos atrás no sistema Bajoriano, e que
desde aquela época viveu entre sólidos, fossem eles os
Bajorianos ou os Cardassianos, que ocupavam Bajor. Odo conseguiu
com o tempo o respeito de ambas as partes em seu trabalho de chefe
de segurança da então Terok Nor, como era conhecida a
estação espacial durante a ocupação Cardassiana, e mais tarde
continuou com o mesmo cargo na agora DS9 sob administração
Federativa.
O surgimento da ameaça Dominion sem dúvida
alguma mexeu com a balança de poder neste quadrante desde então.
Um clima de paranóia e desconfiança se alastrou, com o temor de
que Fundadores podiam tomar o lugar de líderes políticos e
militares de qualquer espécie. O clima de desconfiança foi tão
grande que gerou problemas internos até mesmo na Federação,
quando o Almirante Leyton tentou militarizar o controle sob a
capital da Federação, após a presença de um Fundador ter sido
detectada na Terra. Ele mesmo, bem como seus colegas diplomatas,
políticos e outros altos oficiais da Federação, teve que passar
por testes de sangue para provar sua identidade. O Conselho foi
inundado de protestos dos mais diversos setores da Federação,
sobretudo de organizações locais da Terra e da Assembléia
Geral, que acusavam o Conselho da Federação de estar tomando as
rédeas da crise sem sequer consultar os governadores locais e
seus representantes na Assembléia Geral. Sendo o representante do
planeta no legislativo da Federação, coube a Duke ser o elo de
ligação entre o governo federativo e as lideranças regionais.
Ele ainda se lembra das inúmeras reuniões e encontros que teve
com diversos presidentes e governadores, para garantir que todas
aquelas medidas eram para garantir a segurança do planeta.
Mas uma infiltração de alto nível por parte de
um Fundador de fato não tardou a acontecer. Desconfiado de que o
governo Cardassiano estava sob controle Dominion através de
Fundadores infiltrados, o Império Klingon invadiu a União
Cardassiana. Rapidamente a Federação condenou a invasão, e isto
acabou resultando no rompimento do Acordo de Khitomer, e nos vimos
novamente em guerra contra os Klingons. Isso era exatamente o tipo
de coisa que os Fundadores queriam. Uma espécie do quadrante Alfa
lutando contra a outra, até que com o tempo todos se destruíssem
mutuamente, e o Dominion pudesse fazer seu movimento. Dividir para
conquistar. Óbvio, mas eficiente.
Mas, ao contrário do que os Klingons pensavam,
não eram os Cardassianos que estavam sofrendo influência
Dominion, mas sim os próprios Klingons. Um Fundador havia tomado
o lugar do General Martok, e este Fundador acabou conseguindo
convencer o Chanceler Gowron a invadir Cardássia, usando o
pretexto de eliminar a "infiltração Dominion", quando
obviamente o que o falso Martok queria era que uma guerra com a
Federação tivesse início. Toda esta trama só foi finalmente
descoberta quando um grupo de oficiais da Frota Estelar,
acompanhado por Odo, conseguiu se infiltrar em Qo'noS e
desmascarar o falso Martok.
Mas o pior ainda estava por vir. Gul Dukat manteve
conversações secretas com os Fundadores, e na data estelar
50564.2 Cardássia juntou-se ao Dominion. Uma gigantesca frota
Dominion veio através do buraco de verme Bajoriano e rumou para
Cardássia, onde Gul Dukat se autodeclarou o líder de toda a
União Cardassiana.
Estes fatos encorajaram os Klingons a terminar de
vez a insana escaramuça deles conosco, que estava sendo mantida
em um cessar-fogo desde que o falso Martok e seu plano foram
descobertos. Pois, com os reforços Jem'Hadars, os Cardassianos
conseguiram expulsar todas as forças Klingons de seus
territórios em menos de uma semana, e a frota Klingon em retirada
teve que se reagrupar em DS9 para lamber as feridas. O comandante
da estação, Capitão Sisko, então conseguiu convencer o
Chanceler Gowron a restabelecer o Acordo de Khitomer, e nós aqui
no Conselho ratificamos imediatamente. Mais uma vez, o Império
Klingon e a Federação de Planetas Unidos tornaram-se aliados.
E então pouco tempo depois a guerra começou. As
forças Dominion mantiveram uma pressão fortíssima no início, e
sofremos pesadíssimas perdas, que fizeram com que a batalha de
Wolf 359 empalidecesse em comparação. Vários territórios da
Federação caíram nas mãos Dominion, e até mesmo vários
planetas-membros como Betazed foram ocupados. Isto provocou uma
onda de refugiados incalculável, e o Departamento do Interior
viu-se com a tarefa de ter que alimentar e abrigar milhões de
cidadãos federativos, fugidos dos setores ocupados.
Localizar planetas, classe M ou não, que pudessem
receber todas estas pessoas não era o principal problema; o
principal problema era criar condições habitáveis nestes
planetas, não apenas para um grupo de colonos, mas sim para
milhares de pessoas de uma vez. A logística que isto demandava
era imensurável, e seria um projeto extremamente difícil mesmo
em tempo de paz; a Federação estar em guerra somente aumentava
um problema já grave. Não foram poucas as noites que ele passou
no Conselho, trabalhando para ajudar a gerenciar todo este
esforço no front interno.
Além de vários planetas caírem nas mãos do
Dominion, eles também conseguiram talvez o mais importante ponto
estratégico da guerra, a Deep Space Nine, e conseguiram mantê-la
sob seu controle por vários meses. Felizmente, a tripulação da
Frota, antes de evacuar a estação, colocou um poderoso campo
minado na entrada do buraco de verme, impedindo que o Dominion
pudesse conseguir mais reforços do quadrante Gama. Eles
conseguiram desativar o campo minado apenas alguns momentos antes
da retomada de DS9, mas isto não lhes serviu de nada, pois o
Capitão Sisko conseguiu convencer as entidades alienígenas que
vivem no buraco de verme a não permitir que nenhuma nave Dominion
o cruzasse. Com isto, a frota Dominion que estava vindo para o
quadrante Alfa foi simplesmente "apagada da existência"
pelos Profetas, que é como os Bajorianos se referem a estas
entidades do buraco de verme. Certamente o papel de figura
religiosa que Sisko representava para os Bajorianos acabou sendo
de suprema importância. Duke não admirava em particular toda
esta devoção religiosa dos Bajorianos aos alienígenas do buraco
de verme, mas neste caso ele admitia que havia vantagens
inegáveis para a Federação de considerar os Profetas ao menos
como "aliados" no conflito.
Uma vez retomada DS9, conseguimos bons momentos em
tomarmos a iniciativa dos combates, como quando atacamos
importantes instalações militares do Dominion e ocupamos o
sistema Cardassiano de Chin'toka. Ainda assim, foi importante
também que o Império Romulano se juntasse a nós, pois ainda que
eles estivessem se mantendo neutros no conflito, tinham com o
irritante comportamento de permitir que naves Dominion cruzassem
seu território para nos atacar. Realmente foi algo incrível, se
pensarmos um pouco. Pela primeira vez, a Federação, os Klingons
e os Romulanos eram aliados em uma guerra. Os fatos que levaram os
Romulanos a tomar esta iniciativa são ainda incertos e
inconclusivos. Sobre esta questão em particular, Duke sempre
preferiu seguir o conselho de alguns de seus
"informantes", de que era melhor que alguns segredos
permanecessem desconhecidos.
Mas o Dominion também estava conseguindo aliados
eles próprios. Em um movimento inesperado, ainda que não de todo
surpreendente, os Breens se juntaram à causa Dominion. Não muito
se conhece sobre esta espécie, e mesmo que as suas forças não
fossem particularmente impressionantes, eles possuíam armamento
que era devastador contra nossas naves e as dos Romulanos. Isso
assegurou ao Dominion várias vitórias, além de ter sido o
catalisador de um dos momentos mais dramáticos da guerra. Duke
ainda podia lembrar de acordar no meio da noite e presenciar o
inimaginável: um ataque à própria capital da Federação, a
Terra. A Frota Estelar conseguiu dizimar as forças Breens que
realizaram este ataque, mas o efeito moral de algo assim sempre é
pesado.
Contudo, as naves Klingons tinham uma
particularidade qualquer que as tornava imunes às armas Breens, e
a mesma adaptação pôde ser feita nas naves da Frota Estelar e
dos Romulanos depois que uma nave Jem´Hadar com armamento Breen
foi capturada e estudada pelo corpo de engenharia da Deep Space
Nine. Esta nave Jem´Hadar foi conseguida graças ao esforço de
agentes Bajorianos e federativos em colaboração com elementos de
um movimento de resistência Cardassiano, que começou a se opor
ao Dominion. Esse movimento de resistência era liderado por Gul
Damar, que antes era o CinC (comandante-em-chefe) das forças
Cardassianas no Dominion.
O ponto decisivo da guerra veio quando o Dominion
se viu forçado a fazer uma retirada de todas as suas forças para
dentro do território Cardassiano. Eles planejavam montar uma
forte defesa ali e ganhar tempo para se rearmar por mais alguns
anos e planejar uma nova ofensiva. Mas este plano considerava que
as Forças Aliadas ficariam de braços cruzados, aguardando um
eventual contra-ataque Dominion, que seria devastador.
Bem, as Forças Aliadas não iriam colaborar com
os planos Dominion. Todos concordavam que aquela era a chance que
estavam esperando para pôr um fim à guerra, e uma ofensiva final
contra Cardássia foi preparada. Vários colegas seus no Conselho
protestaram contra a iniciativa da Frota Estelar de ter decidido
este movimento final da guerra por si própria, mas ele havia
argumentado a favor da Frota afirmando que naquele momento, timing
era tudo. Uma oportunidade como aquela de encerrar de uma vez por
todas a guerra podia não mais surgir. Centenas e centenas de
naves foram juntas em uma maciça frota, que lançou um ataque
final às forças Dominion em Cardássia. Para os dois lados, era
o tudo ou nada.
A batalha foi feroz e custosa. Nossas forças
lutavam bem contra os Jem'Hadars, Breens e Cardassianos, e tiveram
ao longo da batalha a providencial ajuda do povo de Cardássia
Prime, que se rebelou contra o Dominion e jogou o planeta no caos.
A sangrenta reação das forças do Dominion, de começar a
exterminar toda a população, fez com que a frota Cardassiana
passasse para o lado dos aliados e atacasse as naves do Dominion e
dos Breens. O peso da balança ficou a nosso favor e, depois que o
Comando Central Cardassiano foi invadido por agentes dos aliados e
a Fundadora em comando foi capturada, a batalha estava vencida.
Odo conseguiu persuadir a Fundadora a se entregar, e a rendição
incondicional das Forças Dominion no quadrante Alfa foi assinada
na Deep Space Nine algum tempo depois. A rendição também deixou
a União Cardassiana literalmente de joelhos, e certamente não
mais uma ameaça para a Federação ou mesmo Bajor, ao menos por
um bom tempo. Eles estavam pagando o preço de anos de sua
política arrogante e expansionista, cujo ápice fora quando Gul
Dukat fez Cardássia se juntar ao Dominion.
Mas agora toda esta guerra estava terminada. O
Dominion foi expulso completamente de nosso quadrante, e a União
Cardassiana estava agora ocupada pelas Forças Aliadas, e
reconstruindo um governo civil. Chega a ser quase irônico.
Cardássia se encontra atualmente em uma situação pior do que a
em que deixou Bajor. Este fato se agrava mais ainda se levarmos em
conta que o Estado Bajoriano é composto de apenas um sistema
planetário, enquanto Cardássia é um vasto império. Contudo, se
o novo governo de transição da União Cardassiana não conseguir
se firmar e realizar uma administração de reconstrução, a
coisa pode desandar rapidamente para uma guerra civil e o
destroçamento da União Cardassiana.
E talvez haja uma chance também para o Dominion
até mesmo mudar todo o seu conceito, com o retorno de Odo para o
planeta dos Fundadores, no quadrante Gama. Ele teve um papel
fundamental no decorrer de toda a guerra e conseguiu a rendição
final da Fundadora. O julgamento dela e de outros criminosos de
guerra ainda está em andamento, mas é bastante provável que ela
teria sido muito menos colaborativa nisto se Odo não tivesse
agido. Isso para não dizer que a vitória final teria sido ainda
mais custosa.
Bem, mas tudo isso no final das contas sempre
foram questões diplomáticas e políticas, é claro. Muitas
raças com diferentes agendas, mas no final são sociedades
humanóides com características gerais semelhantes às nossas
próprias. A Federação sempre encontrou também outros tipos de
problemas que são consideravelmente diferentes, mas também muito
importantes. Catástrofes ambientais, anomalias espaciais,
encontro com formas de vidas inteligentes bastante diferentes das
do tipo humanóide, problemas no contínuo tempo-espaço... a
lista é longa. E havia também civilizações com as quais não
se podia ter relacionamentos convencionais, como os poderosos
seres do contínuo Q e a coletividade Borg.
Ah, sim, o Borg. Desde que esta cibernética
espécie foi apresentada para a tripulação da Enterprise
por um dos membros do Q, os Borgs têm sido uma constante pedra no
sapato de nossa civilização. A sua sociedade funciona como uma
colônia de insetos, com bilhões de indivíduos ligados uns aos
outros em uma consciência coletiva, cuja intenção principal é
assimilar outras espécies à sua própria, na busca de uma
perfeição utópica que jamais alcançarão, é claro. Pois, de
nosso ponto de vista, não há nada de perfeito em relação aos
Borgs. Uma pessoa é assimilada na sua coletividade ao custo de
sua individualidade e direitos serem completamente esmagados, e
você apenas se tornar uma pequena parte de um todo. Não se pode
negociar com eles; não se pode confiar neles; não se pode dar as
costas a eles. Eles são quase como uma força da natureza, mas
uma que insiste em se virar especificamente contra sociedades
avançadas.
Em duas ocasiões diferentes os Borgs tentaram
assimilar a Federação, com ataques à Terra. Nas duas ocasiões,
conseguimos sobrepujar os ataques, com a intervenção da mesma
tripulação da Enterprise que os enfrentou pela primeira
vez. Mas, se os relatos daquela nave da Federação perdida no
quadrante Delta são precisos, fico até feliz que os Borgs tenham
mandado apenas um cubo de cada vez quando fizeram seus ataques...
pois toda a Coletividade Borg parece ter recursos inimagináveis,
e praticamente todos voltados para a expansão de seus domínios.
Realmente eles ainda devem trazer muitos desafios à Federação.
Há sempre diversas outras espécies com quem
temos que lidar, mas não são desafios que nossas equipes de
diplomatas e a Frota Estelar não possam dar conta. Os Tholianos
andavam quietos, da mesma maneira que os Gorns e outras espécies
menos poderosas... certamente todos ficaram no aguardo de a Guerra
Dominion terminar, e verem qual seria o novo quadro político do
quadrante.
Duke se levantou da cadeira, e atravessou parte do
hall principal para finalmente parar à beira de uma seqüência
de janelas, com a vista da baía de São Francisco, na capital da
Federação. Não podemos esquecer nunca que todo tipo de
impérios, alianças, coletividades e uniões nos cerca por todos
os lados, o único grupo de povos desta região conhecida da
galáxia a viver de fato em uma verdadeira democracia. Isto tem
que ser mantido e preservado, ele pensou. Temos conseguido fazer
isto por mais de duzentos anos, e precisamos estar fortes para
agüentarmos muito mais.
A atenção dele foi desviada momentaneamente por
um beep, indicando que o padd que segurava displicentemente por
este tempo todo finalmente recebeu a informação que havia
pedido. Duke ergueu o pequeno dispositivo, lendo a mensagem na
pequena tela.
DEVEMOS CONSIDERAR "ALTAMENTE
PROVÁVEL" A CANDIDATURA DE STEL.
Ele desviou novamente o olhar para a janela,
observando por mais algum tempo o movimento de pessoas ali nas
instalações do Conselho, bem como os eventuais shuttles que
passavam aqui e ali pela área. Aquilo iria dificultar as coisas
pelos próximos meses, mas ele já enfrentara momentos difíceis
antes, como aqueles sobre os quais acabou de relembrar.
Sim, seriam difíceis, mas da mesma maneira
interessantes.
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