Capítulo 7 – Ponto Zero

O hovercar fez uma leve curva para sair da Rua de La Fédération para a Avenue de Suffren, seguindo por esta até tomar o Boulevard Pasteur, continuando a seguir por diversas outras ruas parisienses. O hovercar flutuava a seguros trinta centímetros do solo, mantendo uma velocidade de cruzeiro de cinqüenta quilômetros por hora, a exata mesma velocidade que os poucos outros hovercars passando por aquelas grandes avenidas estavam mantendo.

A maioria das cidades terrestres de médio e grande porte contavam com sistemas de hovercar públicos, que serviam como complemento aos sistemas de teleporte, airtram e demais serviços viários. Nos centros das grandes cidades, eles eram geralmente utilizados para deslocamentos de apenas alguns quilômetros com destinos específicos ao usuário, o que fazia com que hovercars não fossem uma presença tão constante assim na paisagem urbana. Ao menos, não eram na mesma medida que seus equivalentes antepassados, os automóveis, que outrora entupiam as ruas das cidades terrestres.

Os hovercars tinham uma utilidade maior nos deslocamentos das cidades para as áreas rurais adjacentes e vice-versa, onde o sistema de airtram, embora sempre presente com unidades aéreas, não era tão numeroso. Pouquíssimos cidadãos da Terra também se davam ao trabalho de assumir a responsabilidade pela manutenção de uma unidade exclusiva para seu uso, uma vez que poucos tinham esta necessidade. Apenas aqueles que faziam um grande uso constante se davam ao trabalho, e a maioria era de organizações econômicas, para funções específicas às suas áreas de atuação, e também pequenos fazendeiros e proprietários rurais, que os utilizavam para deslocamentos dentro de suas regiões e propriedades, utilizando-se de hovercars específicos para estas finalidades. Sem dúvida era uma mentalidade bastante diversa daquela de cerca de trezentos anos antes, quando a posse de uma determinada unidade automotiva era fator de grande importância na vida dos habitantes da Terra.

Nos dias atuais, esta grande maioria de habitantes podiam utilizar hovercars de uma maneira bastante casual. Para tal, tudo o que se precisa fazer é uma requisição por voz para a central de controle do sistema, e o hovercar que está disponível no local mais próximo da pessoa é automaticamente encaminhado para recebê-la. Uma vez nele, o sistema de pilotagem automático, controlado de uma central do sistema de transporte da cidade, se encarrega de guiar o hovercar até o destino requisitado pelo passageiro, onde depois de o desembarcar, o hovercar irá sinalizar para a central que está livre para outra viagem. Em linhas gerais, trata-se de um sistema muito semelhante aos antigos táxis urbanos de muitos anos antes.

O hovercar em si trata-se de um equipamento bastante confortável. Há muitos modelos diferentes, e cada sistema de transporte usa aquele que mais lhe convém, de acordo com características urbanas de onde será usado, perfil dos passageiros, etc. Mas de modo geral, trata-se de unidade que possui espaço para seis pessoas, tendo um console LCARS central que serve de terminal de computador de uso geral, o que permitia à pessoa acessar desde os seus dados pessoais até qualquer outro serviço público terrestre.

Contudo, aquele hovercar que agora deslizava pelo centro de Paris não era um hovercar convencional. Aquela unidade em particular não pertencia ao sistema de transporte público de Paris, mas estava designada para uso exclusivo do Gabinete da Presidência da Federação. E, naquele momento, estava transportando o próprio ocupante do cargo, o Presidente Inyo, acompanhado por Jorge Cespedes e também pelo Almirante Galbraith. O grupo se dirigia no momento para o Daystrom Institute, onde seria o local para o jantar anual dos Embaixadores de potências não-membros da Federação, como os Impérios Klingon e Romulano, o Gorn, a Aliança Ferengi, e muitas outras civilizações dos quadrantes Alfa e Beta. Como de costume, era tradicional o Presidente da UFP não só estar presente como fazer um discurso relacionado à política externa da Federação. O discurso deste ano certamente iria deliberar bastante sobre a situação do pós-guerra e também fornecer aos Embaixadores a posição atual da Federação na atual crise Cardassiana.

- Nós refizemos a seção introdutória e alguns parágrafos do discurso, para darmos maior ênfase sobre estes recentes acontecimentos em Chin'Toka. - Cespedes disse, entregando o padd para o Presidente. Inyo leu rapidamente as revisões de seus assessores no texto e entrou com o seu código de autenticação, aprovando o texto. Isto fez com que aquela versão do discurso fosse liberada para o holoprompter, instalado juntamente com o palanque presidencial no salão de jantar, onde o Presidente iria discursar.

- Ótimo, - disse Inyo. - Eu estou certo de que nosso público não irá deixar passar a oportunidade de nos apertar por informação e principalmente, ações.

- Letknat sem dúvida vai aproveitar isto para resmungar mais uma vez sobre o "excesso" de interferência do qual seríamos responsáveis em Cardássia Prime, e como isto estaria "influenciando" estas crises na União, - Galbraith comentou, fazendo alguma ênfase em excesso e influência, para sublinhar o que ele acreditava ser a opinião do Embaixador Cardassiano.

- Claro, pois ele precisa manter as aparências, - Cespedes respondeu, com um tom desdenhoso em relação as intenções do Embaixador Cardassiano. – Afinal de contas, fica feio ele simplesmente assumir que Cardássia precisa sim de todo o apoio que pudermos dar a eles. E caso ele ainda não saiba, ficou bem claro que os Aliados iriam, sim, meter o bedelho, e por direito, nos assuntos Cardassianos ainda por algum tempo, até que Lang tenha azeitado tudo para a eleição de um novo Conselho Detapa.

- Eu tenho falado com Lang constantemente e sinto que ela está genuinamente empenhada em fazer estas reformas funcionarem, - o Presidente disse. – Mas é certo que seja de se esperar que muitos Cardassianos em geral sejam reticentes quanto a estas reformas, especialmente as alas conservadoras.

- De qualquer forma, Senhor Presidente, - Cespedes voltou a falar. - Eu não acredito que ele vá ter muita gente concordando com qualquer coisa que ele possa dizer, exceto o Embaixador Breen, talvez. Eles ainda estão com a derrota atravessada na garganta, e qualquer chance de nos contrariar não é passada em branco.

- O Embaixador Ferengi, Homb, pode ser um que também o faça, - Galbraith disse. - Ele recentemente deu a entender em uma entrevista que províncias Cardassianas com maior autonomia poderiam se tornar grandes parceiros comerciais por si mesmas. Esta declaração foi bem recebida por vários políticos da Terra, incluindo...

A expressão de Galbraith chamou a atenção de Inyo, que no momento estava olhando pela ampla janela do hovercar oficial, enquanto este se aproximava de seu destino. O Presidente percebeu a quem o Almirante estava implicando em sua pausa.

- Stel, - ele apenas disse.

- Ela não dá um tempo, não? - Cespedes apenas comentou, enquanto o hovercar terminava de estacionar na frente do edifício de conferências do Daystrom Institute, onde a recepção estava sendo preparada para a chegada do Presidente.

 

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A viagem até ali havia sido bastante agradável, tanto quando viagens deste tipo podiam ser, pensou a Secretária Oryza Zgouridy, enquanto se ajeitava melhor em sua espaçosa poltrona no runabout Volga. No momento, a nave se encontrava em órbita de Trill, aguardando a chegada de outros três passageiros, altos funcionários do governo local, que estavam indo até Bajor para contatar o Conselho de Ministros e aumentar os laços comerciais entre estes dois membros da Federação.

Oryza não estava particularmente preocupada que aquela escala fosse demorar muito, pois isto não iria fazer grande diferença em uma viagem que em sua totalidade levaria alguns dias, de qualquer modo. Eles já haviam mesmo partido da Terra até com algum atraso, depois que uma mudança de última hora na tripulação do runabout teve que ser feita, com outros três oficiais da Frota assumindo aquela missão de transporte da sua delegação da Secretaria de Educação até Bajor. Houve também uma dúvida sobre se alguns outros diplomatas de outros departamentos da Federação também iriam usar aquele transporte para ir até Bajor, mas isto não atrasou em nada o cronograma, pois todos que iriam se valer daquela viagem se apresentaram pontualmente na Doca Espacial. Como a viagem até ali já havia levado quase dois dias, Oryza tinha tido a oportunidade de conhecer a todos.

A maioria dos demais passageiros era de origem Bajoriana, mas não todos. Havia dois humanos, funcionários da Câmara de Comércio da Terra, e um Boliano, funcionário do Instituto Daystrom, que iria providenciar os preparativos para aquela instituição receber pesquisadores Bajorianos; Oryza conversou bastante a respeito deste projeto com ele. Os demais eram seis representantes do Conselho de Ministros Bajorianos, que estavam voltando para Bajor depois de diversas reuniões e encontros com funcionários do Conselho da Federação, e dois oficiais da agora extinta Milícia Bajoriana, uma vez que esta organização fora incorporada à Frota Estelar. Ambos, portanto, já ostentavam os seus uniformes da Frota Estelar e suas patentes, ambos Capitães, que estavam indo a Bajor selecionar o primeiro grupo de oficiais Bajorianos que iriam receber cursos e treinamentos na Academia da Frota para oficiais de membros recém-ingressados à Federação. Estes oficiais reciclados pela Academia então passariam a ser os responsáveis pela adaptação de toda a Milícia Bajoriana nos diversos setores da Frota.

No momento, todo o grupo estava espalhado pela área principal de passageiros do runabout, incluindo o próprio pessoal que acompanhava a Secretária de Educação. Andréia Mtryev estava trabalhando em alguns documentos em um terminal LCARS e se desviou um pouco da concentração para ajeitar sua cauda de modo a ficar mais confortável na poltrona. Outros dois assessores seus, também funcionários da Secretaria de Educação, estavam conversando em um par de poltronas mais à frente.

Oryza estava admirando pela janela os vastos oceanos de cor roxa no hemisfério norte de Trill quando um zunido soou pelo local; isto a deixou satisfeita, pois era indício de que os passageiros extras estavam sendo embarcados por teleporte, e não haveria necessidade de se docar na Base Estelar de Trill; parecia que iria ser mais até mais rápido do que ela imaginava. Após isto, o runabout então saiu da órbita baixa de Trill a meio-impulso, seguindo para o limite exterior do sistema solar daquele membro da Federação. Em cerca de quatro minutos, a nave iria sinalizar para o posto de controle de tráfego local da Frota que estava deixando o sistema Trill e iria retomar seu curso para Bajor em dobra cinco.

Mas algo lhe chamou a atenção.

Subitamente, o Runabout fez duas bruscas curvas, fortes o bastante para os amortecedores de inércia não conseguirem compensar totalmente os movimentos, e com isto várias pessoas tiveram que se segurar onde estavam. Ao final da segunda sacudida, as luzes de alerta se acenderam por toda a nave - que, sendo uma nave da Frota, tinha a política de anunciar bem claramente quando uma emergência estava ocorrendo.

Na cabine principal, o piloto do Runabout, Tenente-Comandante Stevens, manipulava freneticamente os controles enquanto seus dois auxiliares, os Alferes Helen e Crane, trabalhavam nos controles do motor de impulso para lhe dar potência de manobra.

- Controle de Tráfego, aqui é o Volga, - a Alferes Helen dizia no intercom. - Temos um objeto se aproximando em alta velocidade de impulso contra a nossa nave, repito, objeto se aproximando em alta velocidade de impulso, manobras evasivas não estão... - ela interrompeu sua mensagem para ajudar o Alferes Crane em procurar ativar os escudos em configuração de colisão. Entrementes, Stevens continuava a pilotar a nave de maneira pouco ortodoxa, mas os seus melhores esforços não estavam sendo suficientes para os desviarem do objeto que se aproximava, o qual os sensores da nave estranhamente não conseguiam definir a natureza.

- Volga, aqui é o Controle de Tráfego, - soou pelo sistema de intercom da cabine, - Estamos tentando estabelecer a natureza da emergência, e contatando naves...

Mas não havia muito tempo para mais nada. Naquele exato instante o objeto estava bastante próximo para que tanto os passageiros como os três tripulantes conseguissem finalmente notar do que afinal se tratava, mas não realmente a tempo de conseguirem fazer algo a respeito.

 

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- Ai, lá vou eu de novo queimar o plasma da meia-noite... - a Tenente Judy Levy disse, depois de dar um leve tapa no ombro da sua superior e sentar-se na cadeira à frente de seu console LCARS. A Comandante Mae Palmer virou a cadeira em que estava sentado na direção dela.

- Para quem acabou de chegar de uma bonita manhã em Sydney, você reclama demais, Judy. - ela apenas comentou sorrindo, enquanto girava lentamente a cadeira, à frente de seu próprio console LCARS, ao lado de Levy. Ambas estavam no momento no Centro de Controle de Tráfego Espacial, localizado em um anexo do prédio do Comando da Frota Estelar, em São Francisco. Aquela instalação era o local central de monitoramento do tráfego de naves pelo espaço da Federação, recebendo e repassando as informações das centenas de Centros Regionais através do território dos membros da Federação.

Desta forma, o CCTE servia de hub principal para a troca destas informações por toda a Federação, e para realizar esta tarefa o local funcionava 24 horas por dia, ininterruptamente, contando com três turnos completos de pessoal da Frota. A Comandante Palmer era a oficial em comando do turno Alpha, responsáveis por tripular o centro da meia-noite às 0800, horário do Pacífico, e os turnos Beta e Gama faziam o monitoramento dos períodos seguintes de oito horas. Cerca de trinta estações LCARS estavam instaladas em círculo em volta de uma série de enormes projetores holográficos, que mantinham uma representação 3D translúcida do espaço da Federação, intercalando com várias outras imagens, que serviam para ilustrar diversos itens diferentes na representação holográfica, como posição e rota de naves, tráfego ao redor de bases estelares e planetas, posição de corpos celestes, acompanhamento de anomalias espaciais, mapeamento de novas áreas exploradas, e diversos outros aspectos de controle de tráfego, astronomia e cartografia espacial. Cada um dos consoles no local era responsável pelos detalhes destas dezenas de tarefas em particular, contando com uma dupla de oficiais para o trabalho. O console do comandante do turno era responsável pela centralização e processamento das informações, bem como a coordenação do tráfego destas informações para todos os órgãos da Frota e da Federação que tinham necessidade de dados que o CCTE gerava.

- Sabe, eu poderia fazer... - e nisto Palmer interrompeu a sua frase, no que virou o olhar na direção da projeção holográfica central. Subitamente, o computador fechou e ampliou uma parte da projeção no sistema Trill, indicando uma determinada coordenada à margem do sistema, enquanto os dizeres EMERGÊNCIA PRIORIDADE UM piscavam na conhecida fonte LCARS.

Acompanhando este movimento da projeção, as luzes do Centro de Controle adquiriram um tom levemente avermelhado, enquanto outros monitores LCARS começavam a mostrar informações, processando os dados que estavam chegando do Controle de Tráfego Trill.

- Reportem! - Palmer disse com firmeza, enquanto ela mesma e Levy acessavam seus consoles pessoais.

- O Centro em Trill informa que o runabout Volga foi destruído em uma colisão, - Levy foi a primeira a responder, enquanto acessava os primeiros dados recebidos pelo CCTE.

- A natureza do objeto responsável é ainda desconhecida, - desta vez foi o Alferes Damon, em um dos consoles de ciências, a acrescentar a informação.

Um outro Alferes próximo a Levy acessou alguns comandos e uma listagem apareceu ao lado da projeção. - O Volga levava a Secretária Zgouridy, entre outras autoridades, - o seu tom de voz era neutro, embora todos ali já percebessem que, além de um acidente espacial, teriam que considerar conseqüências políticas ao seu trabalho.

Não havia se passado sequer um par de minutos desde a chegada da mensagem, mas todo o staff do CCTE já estava freneticamente trabalhando em cima das informações coletadas até o momento. Aparentemente, um Runabout da Federação acabara de ser destruído em uma colisão com um objeto não-identificado enquanto deixava o sistema solar Trill. A telemetria e os dados que a Base Estelar local estava obtendo estavam sendo redirecionados ali para o CCTE, mas as informações eram ainda muito cruas para eles bolarem qualquer hipótese.

- Muito bem, eu quero especificações do Volga, a lista de passageiros completa e um relatório de todo o tráfego no sistema Trill, pronto, - a Comandante disse, e vários de seus subordinados deram continuidade às tarefas que eles já antecipavam que ela iria requisitar. Era importante que as equipes do CCTE tivessem um entrosamento bem azeitado, para que o gerenciamento de emergências como esta ocorresse da maneira mais eficiente possível.

Palmer voltou sua atenção para a projeção holográfica das coordenadas informadas pelo pessoal em Trill. - Computador, ETA das naves que estão se encaminhando para o local do acidente? - Os relatos que chegavam do Centro em Trill informavam que a Base Espacial local despachara equipes de resgate para a última posição conhecida do Volga.

- Três shuttles irão alcançar o ponto zero em três minutos e dezessete segundos, - Palmer ouviu o computador reportar. Isto poderia cuidar de eventuais sobreviventes, mas eles irão precisar de apoio. - Computador, há alguma nave da Frota em trânsito no setor de Trill ou nas proximidades? – ela sabia que uma nave nas proximidades iria conseguir alcançar o local bem antes que alguma das naves que estivessem atracadas na Base em Trill, uma vez que estas ainda levariam alguns minutos antes de zarparem.

- A USS Vermont está a zero ponto sete parsec de distância de Trill.

- Ela é classe Nova, - Levy comentou, observando os dados sobre a nave serem listados ao lado da representação holográfica dela na projeção. - Toda a estrutura científica que ela dispõe pode nos servir bem de laboratório forense para as investigações.

- Concordo. Damon, entre em contato com o Controle em Trill e informe que a Vermont irá se desviar para o local do acidente. Levy, contate o Capitão da Vermont e instrua-o a ir para o ponto zero na melhor dobra que puder desenvolver. – Em quanto tempo podemos ter pessoal nosso no local e prepararmos a remoção dos destroços para análise? – foi a sua questão seguinte.

- Vai ser complicado, - Levy respondeu, sem olhar para ela, ainda muito ocupada analisando as opções disponíveis para o problema que se apresentava, a necessidade de mão-de-obra especializada para o trabalho de investigação. – Podemos usar uma equipe do Instituto de Tecnologia de Trill, eles têm capacidade técnica para o trabalho, então isto não deve ser problema... mas o transporte adequado dos destroços sim. A Vermont não vai ser grande o bastante para esta tarefa.

- Precisamos de uma nave maior... uma Nebula seria ótima, principalmente pelos espaços modulares que elas dispõem acima da seção de engenharia. – a Comandante Palmer disse, enquanto a sua subordinada já providenciava a localização de uma destas naves no setores próximos.

- A USS T'Kumbra está a quatro horas do local em dobra nove, - ela finalmente disse.

Palmer sorriu ao ver os dados sobre a T'Kumbra. – Ótimo, a maioria da tripulação é de Vulcanos, - ela apontou com o dedo para os dados sobre a tripulação. – Todo aquele detalhismo deles vem bem a calhar para pegar o quebra-cabeça em que a nave acidentada vai estar... eles podem até mesmo começar a remontagem na própria nave deles.

Neste momento, a atenção de todos ali foi desviada para um dos painéis principais ao largo da projeção holográfica principal – as primeiras imagens do local do acidente estavam sendo transmitidas pelas naves auxiliares que se aproximavam do ponto zero. O sol do sistema Trill já era bem fraco naquela posição, então não havia muita iluminação natural, mas tanto os sensores dos shuttles como os computadores estavam compensando pela escuridão, e a imagem era bem nítida. Um campo de destroços se espalhava por uma vasta área, bem mais do que se podia esperar, pensou Palmer. Todos pareciam ser destroços artificiais.

- Estranho... parece coisa demais para um runabout. – Levy declarou em voz alta uma especulação que vários ali no CCTE estavam fazendo para si mesmos.

- Aquele destroço... veja, flutuando acima daquilo que parece a nacele de bombordo... eu não sei o que é, mas não é equipamento da Frota, isto é certo. – Damon acrescentou.

Com as imagens, as tripulações dos shuttles informavam que não haviam sinais de sobreviventes em parte alguma, e muito poucas leituras de matéria orgânica de qualquer espécie. Mesmo para uma colisão forte como aquela parecia ter sido, alguma coisa sempre podia ser captada, e o pessoal no local estava concentrando seus esforços nestas questões.

- Computador, - Palmer disse. – Feche e amplie na coordenada... N17, - ela ordenou, assim que verificou em que posição da imagem se encontrava o objeto. A imagem ficou pixelada por menos de um segundo, e voltou novamente a ganhar definição assim que terminou de centralizar e ampliar o objeto em questão. Uma série de longos dutos e canos, conectados no que parecia ser uma unidade de força. A coisa toda tinha bons danos, mas era largamente semelhante a um disruptor.

Palmer sentou-se no seu console e dedilhou alguns comandos no painel, para acessar alguns bancos de dados específicos. - Computador, extrapole a natureza dos destroços que não combinam com os esperados de um runabout da classe Yellowstone. – O beep característico de ordem recebida foi seguido durante vários segundos de silêncio, até que finalmente a familiar voz deu o resultado de sua análise.

- Existem 98,6 por cento de probabilidade de os destroços pertencerem a uma ave-de-rapina Klingon classe D-32, - foi a resposta, confirmando aquilo que estava se tornando cada vez mais claro: uma nave Klingon colidira com o Volga.

 

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- Vocês estão certos disso?

O Contra-Almirante Ailton Sergov, o Coridiano que era o Comandante em Chefe do CCTE, andava apressadamente pelos corredores secundários do complexo do Comando da Frota Estelar, enquanto recebia um briefing preliminar daquilo que o seu pessoal do CCTE e as equipes de campo já haviam descoberto sobre a colisão. Quando deixavam o sistema de Trill, o Runabout foi abalroado por uma ave-de-rapina Klingon que saía de dobra para tomar a rota para a Base Estelar em Trill.

- O Controle de Tráfego em Trill confirma que estavam esperando a IKS Azetbur, em uma escala de sua viagem para Qo'noS, após exercícios conjuntos com a nossa Força Tarefa 47 nos territórios ocupados, - o Tenente acompanhando Sergov explicou. – Ainda estamos esperando uma confirmação por parte dos Klingons, mas segundo o comandante da FT47 a informação procede.

- Mas como algo assim pode ser possível? Mesmo que ambas as naves estivessem totalmente descontroladas, as chances de uma colisão destas ao acaso seriam absurdamente remotas.

- O pessoal da Palmer e as tripulações nossas no local já têm uma teoria preliminar, - e com isto entregou um padd para o Almirante, contendo relatórios sobre as análises iniciais. - Aparentemente, houve uma espécie de inversão de polaridade no núcleo do reator da ave-de-rapina, enquanto eles estavam saindo de dobra para entrar no sistema Trill. – Sergov continuou em silêncio, esperando o seu subalterno continuar a ele mesmo mastigar todo o tecnobabble envolvido. – Isto, aliado a uma falha no sistema de contenção do reator, fez com que o núcleo deles fosse atraído pelo objeto equivalente mais próximo que havia, no caso o Volga...

- Que se preparava para entrar em dobra, logo estava emitindo uma assinatura de dobra alta naquele instante, - o Almirante emendou, devolvendo o padd para o Tenente enquanto ambos chegavam na sala de reuniões onde uma reunião preliminar do Comando da Frota estava para começar. Haviam transcorrido somente algumas poucas horas do alerta inicial no CCTE, mas as notícias já corriam rápido, e boletins extraordinários estavam pipocavam por todos os sistemas membros da UFP.

- Paris e São Francisco estão empolvorosas, Sergov, - Galbraith disse, quando o seu colega entrou na sala de reuniões, com vários outros Almirantes presentes. – Precisamos ter algo para eles o mais rápido possível. – O Chairman do Comando da Frota estava se referindo às reações que diversos setores do governo federativo estavam tendo à notícia, portanto um cenário claro do que estava acontecendo era essencial para se evitar que um surto de boatos tomasse conta das reações e das implicações políticas que daquele acidente poderiam resultar, considerando que uma proeminente membro do gabinete de Inyo estava morta.

- Muito bem, então, - Sergov disse, assumindo sua poltrona. – Eu vou adiantar o que já temos, mas advirto que preciso voltar para o CCTE o mais rápido possível, para dar continuidade às investigações. – E com isto, o Comando da Frota já estava nos negócios, embora todos ali soubessem que isto poderia ser apenas o começo de algo maior.

 

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Enquanto o Tenente-Comandante Vtriev verificava em seu padd o progresso dos trabalhos de recuperação dos destroços das naves destruídas, trabalho sendo realizado no módulo de serviço da USS T`Kumbra, dezenas de tripulantes estavam ocupados na organização destes destroços no que acabava tendo a aparência de "visões explodidas" do Runabout e da ave-de-rapina, sendo uma verdadeira montagem de quebra-cabeças gigante. O módulo de serviço de uma Nebula é uma área grande, e aquele trabalho em particular necessitava uma área ampla o bastante para acomodar naves ainda maiores do que as que aquelas duas haviam sido, uma vez que esta remontagem não reconectava os fragmentos uns nos outros, mas os organizava na mesma posição relativa que ocuparam, ao mesmo tempo em que permitiam que pessoas pudessem observar por entre eles para as investigações. Desta forma, a maioria dos fragmentos não se encontrava espalhada pelo amplo deck, mas sim flutuando acima dele, seguros por fortes campos de força para que ficassem próximos à posição que ocupavam antes das naves se despedaçarem. Então, ao mesmo tempo em que você conseguia visualizar aquilo que pareciam ser as naves, você também podia enxergar por entre os destroços. Era um arranjo bastante incomum, mas se tratando da remontagem das peças em uma investigação de acidente, era algo necessário.

Já este trabalho da investigação propriamente dita estava sendo realizado tanto por um grupo da própria T`Kumbra como da outra nave da Frota que havia sido requisitada para a tarefa, a USS Vermont. Este pessoal retirava algumas peças daquele local para análise mais cuidadosa nos laboratórios científicos das duas naves, o que também precisava do acompanhamento de Vtriev, uma vez que eles tinham que manter uma organização incrível de milhares de pequenos pedaços de nave, para que nada se perdesse.

Vtriev caminhava no momento por entre aquilo que fora a engenharia da Azetbur, agora reconstituída de tal forma que era como se aquela parte da nave houvesse sido fatiada em seções de aproximadamente um par de metros de largura. Havia alguns tripulantes trabalhando no local, e uma pessoa se juntou ao grupo reunido ali.

- Senhor Vtriev, - disse o Capitão Solok, comandante da USS T'Kumbra. – Requisitara minha presença?

- Sim senhor, - respondeu Vtriev, que era o Engenheiro-Chefe de Solok na T'Kumbra. – Devo informá-lo de que os trabalhos de recuperação dos destroços da Volga estão 99,279 por cento finalizados, enquanto os trabalhos na Azetbur se encontram ainda a 96,121 por cento, - disse o Vulcano para o seu Capitão, também Vulcano.

– E esta discrepância entre estas suas projeções de progresso se daria devido a que razão? – Vtriev não respondeu de imediato. Ele caminhou alguns metros pelo deck até uma posição que possibilitava observar alguns módulos internos da engenharia da ave-de-rapina. – Como a colisão pela qual ambas as naves passaram não provocou nenhum tipo de explosão que resultasse na desintegração de seções inteiras de seus decks, isto nos possibilitou recuperarmos todos os principais sistemas das naves em sua totalidade, - explicou o Tenente-Comandante. – Com exceção de um... o dispositivo de camuflagem da Azetbur.

Solok observou o local onde normalmente estaria instalado o dispositivo na ave-de-rapina. Havia um vazio considerável, que indicava que o conjunto completo estava faltando, e não apenas alguns fragmentos ou peças isoladas. O Capitão passou os olhos rapidamente pelo padd com o progresso dos trabalhos, e confirmou o que o seu engenheiro lhe mostrava. - O que mais falta para trazermos a bordo que ainda está no espaço? – ele perguntou.

- Os times de recuperação dos destroços reportam que restam apenas 1,3 metros cúbicos de destroços ainda a serem recuperados, na sua maioria de fragmentos menores do que um centímetro de comprimento em suas mais longas partes, - Vtriev respondeu. – A sala de transporte dois irá recuperar este material, uma vez que os trabalhos de recuperação das peças maiores terminou.

- De qualquer modo, - Solok disse, - Não se trata de volume suficiente para se equiparar ao de um dispositivo de camuflagem Klingon.

- Correto, Capitão. E as análises mostram também que apenas 29% destes microfragmentos restantes são da Azetbur. O material a bordo de naves Klingons tende a se fragmentar menos do que as nossas, pois um número maior de componentes é fabricado em material mais resistente, além da ausência de itens frágeis menos essenciais, que normalmente naves da Federação costumam levar.

- Tratando-se de construção de naves puramente de combate, é uma política lógica. – Comentou Solok. – Mas estes fatos acrescentam uma nova incógnita às nossas investigações.

- Iremos fazer mais análises na ave-de-rapina, mas uma observação meramente lógica seria a de que a Azetbur não estava com o dispositivo de camuflagem quando colidiu com o Volga.

- Concordo. – Solok disse, enquanto tocava na sua combadge para contatar a ponte. – R'lev, contate a Comandante Palmer no CCTE e informe-a de que irei falar com ela em alguns instantes.

 

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- É ruim como estão falando?

Gregory Dalton entrou rapidamente no gabinete do Presidente Inyo, e o encontrou já reunido com um grupo de pessoas. Além do Presidente, estavam também Jorge Cespedes e o Embaixador Natec, de Bolias, membro do Comitê de Ocupação, o grupo de embaixadores do Conselho da Federação que tratavam sobre os assuntos referentes aos territórios Cardassianos temporariamente sob controle dos aliados. Além dele, dois principais membros do gabinete do Presidente também estavam presentes, a Secretária Trajina, de Exploração Espacial, e também o Secretário Tiago Kirov, da pasta de Colonização.

- Pior, - respondeu Cespedes, enquanto ele e os demais repassavam algumas das informações que chegavam do Centro de Comunicações da Frota. A notícia na noite anterior de que um runabout com um membro do gabinete de Inyo havia se acidentado com uma nave Klingon, e sob circunstâncias ainda misteriosas, já havia sido ruim o bastante. Agora, a isto se juntava a informação de que uma rebelião começara no sistema Cardassiano de Chin'Toka. Uma rebelião armada. E uma rebelião de secessão.

Um grande grupo de Cardassianos quigolianos, denominado "Empok", iniciou combates contra as guarnições militares Cardassianas no sistema, e rapidamente várias das principais instalações estratégicas do sistema foram tomadas. Contudo, a situação ainda está longe de se estabilizar. Bolsões de resistência se encontram espalhados por diversos pontos do planeta principal e de um par de luas do sistema, mas sem o apoio de naves de alta capacidade, como os Empok conseguiram para eles mesmos, isto poderá não continuar por muito tempo. Com ordens do Conselho Detapa, o Comando Central despachou naves Cardassianas para Chin'Toka, bem como uma força tarefa dos aliados, composta por nove naves Klingons, duas Romulanas e quatro da Federação, mas por ora, esta Frota estava com instruções de apenas circundar o sistema, enquanto as naves Cardassianas é que deveriam fazer o primeiro avanço para procurarem controlar a situação. Os relatos também indicavam que o Empok se mostrava admiravelmente bem treinado e armado, inclusive com muito equipamento Jem'Hadar.

- Como estão reagindo os habitantes das cidades de Chin'Toka? – Trajina perguntou, e Cespedes se adiantou para responder.

- O apoio popular tem variado, mas em geral os membros do Empok não estão sendo hostilizados, mesmo por Cardassianos de outras etnias.

- Isto pode indicar um sentimento mais nacionalista do que meramente racial, - Inyo especulou sobre a informação. – Trovez está como líder deste grupo, não?

- E certamente ele não parou por aí, - Natec disse. – Trovez aparentemente não perdeu tempo, e já se autodenominou Legate Trovez, líder daquilo que ele denominou Aliança Quigoliana.

Trajina observou algumas informações sobre aquela região do espaço. – O sistema de Chin'Toka é bastante próximo do que fora um dia a Zona Desmilitarizada, - a Secretária disse. – Temos alguma informação se eles estão recebendo apoio das demais colônias e províncias adjacentes?

- Ainda não, mas este quadro pode mudar caso o levante de Trovez tenha sucesso, - Cespedes respondeu. – O efeito dominó pode criar uma séria ruptura na União Cardassiana, seja com sistemas se juntando à tal de "Aliança Quigoliana", ou seja por sistemas declararem independência por si mesmos.

- De qualquer modo, isto já é uma crise gravíssima... talvez sem paralelo desde as Guerras de Unificação Cardassianas, séculos atrás. – Dalton se referia à série de conflitos que viriam a ser o catalisador do surgimento da União Cardassiana como uma vasta nação interestelar.

- Concordo, - disse o Presidente da UFP, pensando por mais alguns instantes. – E me digam, quais seriam as possibilidades de isto estar relacionado com o recente incidente do runabout? – Inyo perguntou, imaginando, como os demais ali, que o que parecia ser uma mera coincidência poderia de fato não ser.

- Eu estive em contato com o Alto Conselho Klingon alguns minutos atrás, - Natec disse. – Eles iniciaram a própria investigação deles sobre o que aconteceu com a ave-de-rapina, mas me adiantaram que também acreditam fortemente em algum envolvimento quigoliano no incidente, embora eles ainda não tenham nenhuma hipótese séria para corroborar esta desconfiança. – neste ponto, Dalton repassou algumas informações adicionais sobre as investigações do acidente em Trill, enquanto a reunião continuava. Em vários dos monitores no local estavam reportagens das principais organizações jornalísticas da Federação, enquanto em alguns outros passavam dados específicos ao governo da Federação e à Frota Estelar, referentes a esta questão, como relatórios de inteligência, informações sobre Chin'Toka, sobre os principais envolvidos e sobre os grupos de interesse distintos etc. Um dos monitores trazia relatórios atualizados pelo Comando da Frota, os quais Cespedes e Trajina consultavam de tempos em tempos.

- Galbraith está realizando neste momento com o Comando da Frota mais outra reunião especial, para estudar quais podem ser os cenários que a Frota Estelar tenha que vir a enfrentar. – Trajina informou ao grupo. – Eles já estavam reunidos devido ao acidente com Oryza, então não foi demorado para eles entrarem em uma nova reunião deliberativa. – A Secretária habilmente mantinha uma postura sóbria sobre o incidente. Ela havia sido pega de surpresa pela notícia do acidente como todos ali haviam sido, mas isto a afetava também em nível pessoal, uma vez que ela e Oryza eram bastante próximas, tanto profissionalmente como por uma amizade de muitos anos. Mas ela também era uma profissional e uma membro do Gabinete do governo da Federação, então ela procurava manter os seus sentimentos sob controle, pois havia a hora de se trabalhar no caso e havia a hora de se lamentar pelo caso, e aquele momento se encaixava na primeira categoria.

- Uma coisa é certa... se ambas as coisas estiverem realmente relacionadas, então estaremos mais envolvidos do que seria aconselhável... para nossas diretrizes. – Natec apenas disse, enquanto a reunião continuava.

 

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A Comandante Palmer estava acostumada a reuniões de alto-escalão, mas aquela se mostrava particularmente tensa. No CCTE, ela estava no momento reunida com o Almirante Sergov, o seu oficial comandante, e outros três oficiais seniores do Comando da Frota, os Almirantes Galbraith, Necheyev, e Triev. O grupo estava reunido para colocar em prática os procedimentos necessários em uma situação de emergência como aquela, que não era mais apenas sobre a investigação de um acidente. Era sobre a resposta a um ataque.

Depois de se analisar informação atrás de informação, as investigações cada vez mais apontavam para uma hipótese principal: a ave-de-rapina colidiu com o runabout propositadamente. Aquele fora um ataque premeditado, no qual uma terceira nave, usando o dispositivo de camuflagem da Azetbur, acompanhara a ave-de-rapina se chocar contra o runabout, com um procedimento feito para simular um acidente. A posição desta terceira nave também foi conveniente para teleportarem os ocupantes do Volga, os tomarem como reféns, uma vez que ficou determinado que não havia absolutamente nenhum indício de matéria orgânica no local do acidente ou nos destroços, o que mostrava claramente que as naves estavam vazias quando colidiram.

Mas aquelas informações, por valiosas que fossem, ainda assim não esclareciam várias questões, e ainda por cima criavam novas. Qual teria sido a razão primária para alguém atacar um runabout da Frota? Que ligações isto poderia ter com o recente levante em Chin'Toka? Como teriam conseguido capturar e derrotar a tripulação da Azetbur, assumindo-se que isto é o que teria acontecido? E, em relação ao ataque propriamente dito, nada explicava o fato de que, embora a tripulação tivesse ativado os escudos, a colisão dilacerou a nave de uma vez só. Uma colisão com outra nave é um baque forte, mas não seria suficiente para provocar o estrago que provocou de uma vez só. E mesmo que a colisão tenha também sido utilizada para se derrubar os escudos e com isto se teleportar os passageiros no exato instante antes das naves se destruírem, isto teria que ter sido feito enquanto a terceira nave usava o dispositivo de camuflagem da Azetbur para se manter oculta. Mas como teriam conseguido, se a própria nave original não era desenvolvida para tal procedimento?

Apesar destas questões, algumas outras estavam se esclarecendo, como por exemplo a razão para esta operação ter sido realizada assim. Isto estava bem claro; ao maquilarem o ataque na forma de um acidente, o grupo responsável conseguiu valiosas horas, certamente usadas para se garantir uma fuga segura do espaço da Federação. Mesmo utilizando um dispositivo de camuflagem, uma busca e perseguição incessante seria um risco a mais, e certamente este objetivo será atingido, se já for realmente tarde demais para as naves da Frota rastrearem o atacante.

Desta forma, aquilo que o Almirante Galbraith providenciou assim que a reunião começou realmente era extremamente prioritário. Um alerta PRIORIDADE UM foi declarado pelo Comando da Frota, atualizando-se o status do incidente em Trill de "acidente" para "ataque". Em seguida, um setor anexo à sala de controle principal do CCTE foi ativado, para servir de centro de comando e controle para aqueles oficiais se encarregarem das operações. Uma parte do painel holográfico foi reconfigurada para mostrar a região entre Trill e os principais setores Cardassianos ao longo da fronteira.

- Temos cerca de 94 naves na região em posição para cobrir todo o território entre o setor de Trill e a fronteira Cardassiana, - disse Galbraith, enquanto Palmer trabalhava nos controles para destacar as posições das naves. – Cerca de 40 delas estão em missões individuais, e as demais pertencem à Sétima Frota e à Força-Tarefa 47. Podemos remanejar várias destas para se posicionarem de modo a termos a otimização máxima na buscas desta nave atacante.

- E devemos nos assegurar de que os Capitães instruam suas tripulações a dar prioridade máxima às técnicas de detecção de camuflagem, - Triev sugeriu.

- Eles estão com coisa de... 30 horas de vantagem, que se passaram entre a colisão e o nosso alerta, - Sergov afirmou, consultando o horário atual, coisa de pouco mais de um dia depois do primeiro alerta. - Os atacantes não devem estar viajando na velocidade máxima que eventualmente possam manter, pois isto, combinado ao fato de que estão usando um dispositivo de camuflagem adaptado, poderia tornar o trabalho de nossas tripulações mais fácil, e eles provavelmente sabem disto.

- Então eles tiveram em seu favor estas 30 horas, e nós temos a nosso favor a limitação na velocidade possível dos atacantes. – Galbraith concluiu o raciocínio de Sergov. - Vamos fazer bom uso disto. – Os oficiais ali continuaram debatendo sobre a melhor maneira de se distribuir as naves, levando-se em conta as suas capacidades, velocidades, posições em que se encontravam atualmente, e diversos outros fatores. Ao mesmo tempo, as equipes do CCTE iam se encarregando de contatar as naves para retransmitir as ordens, e rapidamente dezenas de naves da Federação já começavam o trabalho de vasculhar milhares de anos-luz cúbicos de espaço em busca de uma nave camuflada de configuração ainda largamente desconhecida.

- Neste exato instante, há uma força combinada rumando para Chin'Toka, - Necheyev disse – Com quatro unidades nossas. Eu sugiro movermos estas naves para o flanco esquerdo deste grupo, de modo que elas se posicionem melhor entre o sistema Chin'Toka e a fronteira, para melhorarmos a cobertura neste ponto.

- Sim, - Galbraith concordou. – E desta forma, elas ainda estarão em posição de apoiar estas naves Klingons e Cardassianas. Muito bem. – Com isto, a Comandante Palmer providenciou para que dois oficiais de sua equipe se encarregassem de transmitir as ordens para as naves em questão.

- Isto cobre tudo por enquanto, - Triev disse, fazendo um gesto na direção da projeção holográfica principal, enquanto todo o reposicionamento planejado e as missões de busca-e-captura se colocavam em andamento – Mas vamos precisar agora pensarmos nos procedimentos a serem realizados uma vez que descobrirmos esta tal nave e seu destino.

- Sobre isto, - disse Necheyev – Eu e Sariff já estamos rascunhando algo. – a Almirante respondeu.

 

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Earth, D.C.

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Epílogo