Capítulo 7 – Ponto
Zero
O hovercar fez uma
leve curva para sair da Rua de La Fédération para a Avenue de
Suffren, seguindo por esta até tomar o Boulevard Pasteur,
continuando a seguir por diversas outras ruas parisienses. O
hovercar flutuava a seguros trinta centímetros do solo, mantendo
uma velocidade de cruzeiro de cinqüenta quilômetros por hora, a
exata mesma velocidade que os poucos outros hovercars passando por
aquelas grandes avenidas estavam mantendo.
A maioria das cidades
terrestres de médio e grande porte contavam com sistemas de
hovercar públicos, que serviam como complemento aos sistemas de
teleporte, airtram e demais serviços viários. Nos centros das
grandes cidades, eles eram geralmente utilizados para
deslocamentos de apenas alguns quilômetros com destinos
específicos ao usuário, o que fazia com que hovercars não
fossem uma presença tão constante assim na paisagem urbana. Ao
menos, não eram na mesma medida que seus equivalentes
antepassados, os automóveis, que outrora entupiam as ruas das
cidades terrestres.
Os hovercars tinham
uma utilidade maior nos deslocamentos das cidades para as áreas
rurais adjacentes e vice-versa, onde o sistema de airtram, embora
sempre presente com unidades aéreas, não era tão numeroso.
Pouquíssimos cidadãos da Terra também se davam ao trabalho de
assumir a responsabilidade pela manutenção de uma unidade
exclusiva para seu uso, uma vez que poucos tinham esta
necessidade. Apenas aqueles que faziam um grande uso constante se
davam ao trabalho, e a maioria era de organizações econômicas,
para funções específicas às suas áreas de atuação, e
também pequenos fazendeiros e proprietários rurais, que os
utilizavam para deslocamentos dentro de suas regiões e
propriedades, utilizando-se de hovercars específicos para estas
finalidades. Sem dúvida era uma mentalidade bastante diversa
daquela de cerca de trezentos anos antes, quando a posse de uma
determinada unidade automotiva era fator de grande importância na
vida dos habitantes da Terra.
Nos dias atuais, esta
grande maioria de habitantes podiam utilizar hovercars de uma
maneira bastante casual. Para tal, tudo o que se precisa fazer é
uma requisição por voz para a central de controle do sistema, e
o hovercar que está disponível no local mais próximo da pessoa
é automaticamente encaminhado para recebê-la. Uma vez nele, o
sistema de pilotagem automático, controlado de uma central do
sistema de transporte da cidade, se encarrega de guiar o hovercar
até o destino requisitado pelo passageiro, onde depois de o
desembarcar, o hovercar irá sinalizar para a central que está
livre para outra viagem. Em linhas gerais, trata-se de um sistema
muito semelhante aos antigos táxis urbanos de muitos anos antes.
O hovercar em si
trata-se de um equipamento bastante confortável. Há muitos
modelos diferentes, e cada sistema de transporte usa aquele que
mais lhe convém, de acordo com características urbanas de onde
será usado, perfil dos passageiros, etc. Mas de modo geral,
trata-se de unidade que possui espaço para seis pessoas, tendo um
console LCARS central que serve de terminal de computador de uso
geral, o que permitia à pessoa acessar desde os seus dados
pessoais até qualquer outro serviço público terrestre.
Contudo, aquele
hovercar que agora deslizava pelo centro de Paris não era um
hovercar convencional. Aquela unidade em particular não pertencia
ao sistema de transporte público de Paris, mas estava designada
para uso exclusivo do Gabinete da Presidência da Federação. E,
naquele momento, estava transportando o próprio ocupante do
cargo, o Presidente Inyo, acompanhado por Jorge Cespedes e também
pelo Almirante Galbraith. O grupo se dirigia no momento para o
Daystrom Institute, onde seria o local para o jantar anual dos
Embaixadores de potências não-membros da Federação, como os
Impérios Klingon e Romulano, o Gorn, a Aliança Ferengi, e muitas
outras civilizações dos quadrantes Alfa e Beta. Como de costume,
era tradicional o Presidente da UFP não só estar presente como
fazer um discurso relacionado à política externa da Federação.
O discurso deste ano certamente iria deliberar bastante sobre a
situação do pós-guerra e também fornecer aos Embaixadores a
posição atual da Federação na atual crise Cardassiana.
- Nós refizemos a
seção introdutória e alguns parágrafos do discurso, para
darmos maior ênfase sobre estes recentes acontecimentos em
Chin'Toka. - Cespedes disse, entregando o padd para o Presidente.
Inyo leu rapidamente as revisões de seus assessores no texto e
entrou com o seu código de autenticação, aprovando o texto.
Isto fez com que aquela versão do discurso fosse liberada para o
holoprompter, instalado juntamente com o palanque presidencial no
salão de jantar, onde o Presidente iria discursar.
- Ótimo, - disse
Inyo. - Eu estou certo de que nosso público não irá deixar
passar a oportunidade de nos apertar por informação e
principalmente, ações.
- Letknat sem dúvida
vai aproveitar isto para resmungar mais uma vez sobre o
"excesso" de interferência do qual seríamos
responsáveis em Cardássia Prime, e como isto estaria
"influenciando" estas crises na União, - Galbraith
comentou, fazendo alguma ênfase em excesso e influência, para
sublinhar o que ele acreditava ser a opinião do Embaixador
Cardassiano.
- Claro, pois ele
precisa manter as aparências, - Cespedes respondeu, com um tom
desdenhoso em relação as intenções do Embaixador Cardassiano.
– Afinal de contas, fica feio ele simplesmente assumir que
Cardássia precisa sim de todo o apoio que pudermos dar a eles. E
caso ele ainda não saiba, ficou bem claro que os Aliados iriam,
sim, meter o bedelho, e por direito, nos assuntos Cardassianos
ainda por algum tempo, até que Lang tenha azeitado tudo para a
eleição de um novo Conselho Detapa.
- Eu tenho falado com
Lang constantemente e sinto que ela está genuinamente empenhada
em fazer estas reformas funcionarem, - o Presidente disse. – Mas
é certo que seja de se esperar que muitos Cardassianos em geral
sejam reticentes quanto a estas reformas, especialmente as alas
conservadoras.
- De qualquer forma,
Senhor Presidente, - Cespedes voltou a falar. - Eu não acredito
que ele vá ter muita gente concordando com qualquer coisa que ele
possa dizer, exceto o Embaixador Breen, talvez. Eles ainda estão
com a derrota atravessada na garganta, e qualquer chance de nos
contrariar não é passada em branco.
- O Embaixador
Ferengi, Homb, pode ser um que também o faça, - Galbraith disse.
- Ele recentemente deu a entender em uma entrevista que
províncias Cardassianas com maior autonomia poderiam se tornar
grandes parceiros comerciais por si mesmas. Esta declaração foi
bem recebida por vários políticos da Terra, incluindo...
A expressão de
Galbraith chamou a atenção de Inyo, que no momento estava
olhando pela ampla janela do hovercar oficial, enquanto este se
aproximava de seu destino. O Presidente percebeu a quem o
Almirante estava implicando em sua pausa.
- Stel, - ele apenas
disse.
- Ela não dá um
tempo, não? - Cespedes apenas comentou, enquanto o hovercar
terminava de estacionar na frente do edifício de conferências do
Daystrom Institute, onde a recepção estava sendo preparada para
a chegada do Presidente.
# # # #
A viagem até ali
havia sido bastante agradável, tanto quando viagens deste tipo
podiam ser, pensou a Secretária Oryza Zgouridy, enquanto se
ajeitava melhor em sua espaçosa poltrona no runabout Volga. No
momento, a nave se encontrava em órbita de Trill, aguardando a
chegada de outros três passageiros, altos funcionários do
governo local, que estavam indo até Bajor para contatar o
Conselho de Ministros e aumentar os laços comerciais entre estes
dois membros da Federação.
Oryza não estava
particularmente preocupada que aquela escala fosse demorar muito,
pois isto não iria fazer grande diferença em uma viagem que em
sua totalidade levaria alguns dias, de qualquer modo. Eles já
haviam mesmo partido da Terra até com algum atraso, depois que
uma mudança de última hora na tripulação do runabout teve que
ser feita, com outros três oficiais da Frota assumindo aquela
missão de transporte da sua delegação da Secretaria de
Educação até Bajor. Houve também uma dúvida sobre se alguns
outros diplomatas de outros departamentos da Federação também
iriam usar aquele transporte para ir até Bajor, mas isto não
atrasou em nada o cronograma, pois todos que iriam se valer
daquela viagem se apresentaram pontualmente na Doca Espacial. Como
a viagem até ali já havia levado quase dois dias, Oryza tinha
tido a oportunidade de conhecer a todos.
A maioria dos demais
passageiros era de origem Bajoriana, mas não todos. Havia dois
humanos, funcionários da Câmara de Comércio da Terra, e um
Boliano, funcionário do Instituto Daystrom, que iria providenciar
os preparativos para aquela instituição receber pesquisadores
Bajorianos; Oryza conversou bastante a respeito deste projeto com
ele. Os demais eram seis representantes do Conselho de Ministros
Bajorianos, que estavam voltando para Bajor depois de diversas
reuniões e encontros com funcionários do Conselho da
Federação, e dois oficiais da agora extinta Milícia Bajoriana,
uma vez que esta organização fora incorporada à Frota Estelar.
Ambos, portanto, já ostentavam os seus uniformes da Frota Estelar
e suas patentes, ambos Capitães, que estavam indo a Bajor
selecionar o primeiro grupo de oficiais Bajorianos que iriam
receber cursos e treinamentos na Academia da Frota para oficiais
de membros recém-ingressados à Federação. Estes oficiais
reciclados pela Academia então passariam a ser os responsáveis
pela adaptação de toda a Milícia Bajoriana nos diversos setores
da Frota.
No momento, todo o
grupo estava espalhado pela área principal de passageiros do
runabout, incluindo o próprio pessoal que acompanhava a
Secretária de Educação. Andréia Mtryev estava trabalhando em
alguns documentos em um terminal LCARS e se desviou um pouco da
concentração para ajeitar sua cauda de modo a ficar mais
confortável na poltrona. Outros dois assessores seus, também
funcionários da Secretaria de Educação, estavam conversando em
um par de poltronas mais à frente.
Oryza estava admirando
pela janela os vastos oceanos de cor roxa no hemisfério norte de
Trill quando um zunido soou pelo local; isto a deixou satisfeita,
pois era indício de que os passageiros extras estavam sendo
embarcados por teleporte, e não haveria necessidade de se docar
na Base Estelar de Trill; parecia que iria ser mais até mais
rápido do que ela imaginava. Após isto, o runabout então saiu
da órbita baixa de Trill a meio-impulso, seguindo para o limite
exterior do sistema solar daquele membro da Federação. Em cerca
de quatro minutos, a nave iria sinalizar para o posto de controle
de tráfego local da Frota que estava deixando o sistema Trill e
iria retomar seu curso para Bajor em dobra cinco.
Mas algo lhe chamou a
atenção.
Subitamente, o
Runabout fez duas bruscas curvas, fortes o bastante para os
amortecedores de inércia não conseguirem compensar totalmente os
movimentos, e com isto várias pessoas tiveram que se segurar onde
estavam. Ao final da segunda sacudida, as luzes de alerta se
acenderam por toda a nave - que, sendo uma nave da Frota, tinha a
política de anunciar bem claramente quando uma emergência estava
ocorrendo.
Na cabine principal, o
piloto do Runabout, Tenente-Comandante Stevens, manipulava
freneticamente os controles enquanto seus dois auxiliares, os
Alferes Helen e Crane, trabalhavam nos controles do motor de
impulso para lhe dar potência de manobra.
- Controle de
Tráfego, aqui é o Volga, - a Alferes Helen dizia no
intercom. - Temos um objeto se aproximando em alta velocidade de
impulso contra a nossa nave, repito, objeto se aproximando em alta
velocidade de impulso, manobras evasivas não estão... - ela
interrompeu sua mensagem para ajudar o Alferes Crane em procurar
ativar os escudos em configuração de colisão. Entrementes,
Stevens continuava a pilotar a nave de maneira pouco ortodoxa, mas
os seus melhores esforços não estavam sendo suficientes para os
desviarem do objeto que se aproximava, o qual os sensores da nave
estranhamente não conseguiam definir a natureza.
- Volga, aqui é o
Controle de Tráfego, - soou pelo sistema de intercom da
cabine, - Estamos tentando estabelecer a natureza da
emergência, e contatando naves...
Mas não havia muito
tempo para mais nada. Naquele exato instante o objeto estava
bastante próximo para que tanto os passageiros como os três
tripulantes conseguissem finalmente notar do que afinal se
tratava, mas não realmente a tempo de conseguirem fazer algo a
respeito.
# # # #
- Ai, lá vou eu de
novo queimar o plasma da meia-noite... - a Tenente Judy Levy
disse, depois de dar um leve tapa no ombro da sua superior e
sentar-se na cadeira à frente de seu console LCARS. A Comandante
Mae Palmer virou a cadeira em que estava sentado na direção
dela.
- Para quem acabou de
chegar de uma bonita manhã em Sydney, você reclama demais, Judy.
- ela apenas comentou sorrindo, enquanto girava lentamente a
cadeira, à frente de seu próprio console LCARS, ao lado de Levy.
Ambas estavam no momento no Centro de Controle de Tráfego
Espacial, localizado em um anexo do prédio do Comando da Frota
Estelar, em São Francisco. Aquela instalação era o local
central de monitoramento do tráfego de naves pelo espaço da
Federação, recebendo e repassando as informações das centenas
de Centros Regionais através do território dos membros da
Federação.
Desta forma, o CCTE
servia de hub principal para a troca destas informações por toda
a Federação, e para realizar esta tarefa o local funcionava 24
horas por dia, ininterruptamente, contando com três turnos
completos de pessoal da Frota. A Comandante Palmer era a oficial
em comando do turno Alpha, responsáveis por tripular o centro da
meia-noite às 0800, horário do Pacífico, e os turnos Beta e
Gama faziam o monitoramento dos períodos seguintes de oito horas.
Cerca de trinta estações LCARS estavam instaladas em círculo em
volta de uma série de enormes projetores holográficos, que
mantinham uma representação 3D translúcida do espaço da
Federação, intercalando com várias outras imagens, que serviam
para ilustrar diversos itens diferentes na representação
holográfica, como posição e rota de naves, tráfego ao redor de
bases estelares e planetas, posição de corpos celestes,
acompanhamento de anomalias espaciais, mapeamento de novas áreas
exploradas, e diversos outros aspectos de controle de tráfego,
astronomia e cartografia espacial. Cada um dos consoles no local
era responsável pelos detalhes destas dezenas de tarefas em
particular, contando com uma dupla de oficiais para o trabalho. O
console do comandante do turno era responsável pela
centralização e processamento das informações, bem como a
coordenação do tráfego destas informações para todos os
órgãos da Frota e da Federação que tinham necessidade de dados
que o CCTE gerava.
- Sabe, eu poderia
fazer... - e nisto Palmer interrompeu a sua frase, no que virou o
olhar na direção da projeção holográfica central.
Subitamente, o computador fechou e ampliou uma parte da projeção
no sistema Trill, indicando uma determinada coordenada à margem
do sistema, enquanto os dizeres EMERGÊNCIA PRIORIDADE UM piscavam
na conhecida fonte LCARS.
Acompanhando este
movimento da projeção, as luzes do Centro de Controle adquiriram
um tom levemente avermelhado, enquanto outros monitores LCARS
começavam a mostrar informações, processando os dados que
estavam chegando do Controle de Tráfego Trill.
- Reportem! - Palmer
disse com firmeza, enquanto ela mesma e Levy acessavam seus
consoles pessoais.
- O Centro em Trill
informa que o runabout Volga foi destruído em uma
colisão, - Levy foi a primeira a responder, enquanto acessava os
primeiros dados recebidos pelo CCTE.
- A natureza do objeto
responsável é ainda desconhecida, - desta vez foi o Alferes
Damon, em um dos consoles de ciências, a acrescentar a
informação.
Um outro Alferes
próximo a Levy acessou alguns comandos e uma listagem apareceu ao
lado da projeção. - O Volga levava a Secretária
Zgouridy, entre outras autoridades, - o seu tom de voz era neutro,
embora todos ali já percebessem que, além de um acidente
espacial, teriam que considerar conseqüências políticas ao seu
trabalho.
Não havia se passado
sequer um par de minutos desde a chegada da mensagem, mas todo o
staff do CCTE já estava freneticamente trabalhando em cima das
informações coletadas até o momento. Aparentemente, um Runabout
da Federação acabara de ser destruído em uma colisão com um
objeto não-identificado enquanto deixava o sistema solar Trill. A
telemetria e os dados que a Base Estelar local estava obtendo
estavam sendo redirecionados ali para o CCTE, mas as informações
eram ainda muito cruas para eles bolarem qualquer hipótese.
- Muito bem, eu quero
especificações do Volga, a lista de passageiros completa
e um relatório de todo o tráfego no sistema Trill, pronto, - a
Comandante disse, e vários de seus subordinados deram
continuidade às tarefas que eles já antecipavam que ela iria
requisitar. Era importante que as equipes do CCTE tivessem um
entrosamento bem azeitado, para que o gerenciamento de
emergências como esta ocorresse da maneira mais eficiente
possível.
Palmer voltou sua
atenção para a projeção holográfica das coordenadas
informadas pelo pessoal em Trill. - Computador, ETA das naves que
estão se encaminhando para o local do acidente? - Os relatos que
chegavam do Centro em Trill informavam que a Base Espacial local
despachara equipes de resgate para a última posição conhecida
do Volga.
- Três shuttles
irão alcançar o ponto zero em três minutos e dezessete segundos,
- Palmer ouviu o computador reportar. Isto poderia cuidar de
eventuais sobreviventes, mas eles irão precisar de apoio. -
Computador, há alguma nave da Frota em trânsito no setor de
Trill ou nas proximidades? – ela sabia que uma nave nas
proximidades iria conseguir alcançar o local bem antes que alguma
das naves que estivessem atracadas na Base em Trill, uma vez que
estas ainda levariam alguns minutos antes de zarparem.
- A USS Vermont
está a zero ponto sete parsec de distância de Trill.
- Ela é classe Nova,
- Levy comentou, observando os dados sobre a nave serem listados
ao lado da representação holográfica dela na projeção. - Toda
a estrutura científica que ela dispõe pode nos servir bem de
laboratório forense para as investigações.
- Concordo. Damon,
entre em contato com o Controle em Trill e informe que a Vermont
irá se desviar para o local do acidente. Levy, contate o Capitão
da Vermont e instrua-o a ir para o ponto zero na melhor
dobra que puder desenvolver. – Em quanto tempo podemos ter
pessoal nosso no local e prepararmos a remoção dos destroços
para análise? – foi a sua questão seguinte.
- Vai ser complicado,
- Levy respondeu, sem olhar para ela, ainda muito ocupada
analisando as opções disponíveis para o problema que se
apresentava, a necessidade de mão-de-obra especializada para o
trabalho de investigação. – Podemos usar uma equipe do
Instituto de Tecnologia de Trill, eles têm capacidade técnica
para o trabalho, então isto não deve ser problema... mas o
transporte adequado dos destroços sim. A Vermont não vai
ser grande o bastante para esta tarefa.
- Precisamos de uma
nave maior... uma Nebula seria ótima, principalmente pelos
espaços modulares que elas dispõem acima da seção de
engenharia. – a Comandante Palmer disse, enquanto a sua
subordinada já providenciava a localização de uma destas naves
no setores próximos.
- A USS T'Kumbra
está a quatro horas do local em dobra nove, - ela finalmente
disse.
Palmer sorriu ao ver
os dados sobre a T'Kumbra. – Ótimo, a maioria da
tripulação é de Vulcanos, - ela apontou com o dedo para os
dados sobre a tripulação. – Todo aquele detalhismo deles vem
bem a calhar para pegar o quebra-cabeça em que a nave acidentada
vai estar... eles podem até mesmo começar a remontagem na
própria nave deles.
Neste momento, a
atenção de todos ali foi desviada para um dos painéis
principais ao largo da projeção holográfica principal – as
primeiras imagens do local do acidente estavam sendo transmitidas
pelas naves auxiliares que se aproximavam do ponto zero. O sol do
sistema Trill já era bem fraco naquela posição, então não
havia muita iluminação natural, mas tanto os sensores dos
shuttles como os computadores estavam compensando pela escuridão,
e a imagem era bem nítida. Um campo de destroços se espalhava
por uma vasta área, bem mais do que se podia esperar, pensou
Palmer. Todos pareciam ser destroços artificiais.
- Estranho... parece
coisa demais para um runabout. – Levy declarou em voz alta uma
especulação que vários ali no CCTE estavam fazendo para si
mesmos.
- Aquele destroço...
veja, flutuando acima daquilo que parece a nacele de bombordo...
eu não sei o que é, mas não é equipamento da Frota, isto é
certo. – Damon acrescentou.
Com as imagens, as
tripulações dos shuttles informavam que não haviam sinais de
sobreviventes em parte alguma, e muito poucas leituras de matéria
orgânica de qualquer espécie. Mesmo para uma colisão forte como
aquela parecia ter sido, alguma coisa sempre podia ser captada, e
o pessoal no local estava concentrando seus esforços nestas
questões.
- Computador, - Palmer
disse. – Feche e amplie na coordenada... N17, - ela ordenou,
assim que verificou em que posição da imagem se encontrava o
objeto. A imagem ficou pixelada por menos de um segundo, e voltou
novamente a ganhar definição assim que terminou de centralizar e
ampliar o objeto em questão. Uma série de longos dutos e canos,
conectados no que parecia ser uma unidade de força. A coisa toda
tinha bons danos, mas era largamente semelhante a um disruptor.
Palmer sentou-se no
seu console e dedilhou alguns comandos no painel, para acessar
alguns bancos de dados específicos. - Computador, extrapole a
natureza dos destroços que não combinam com os esperados de um
runabout da classe Yellowstone. – O beep característico
de ordem recebida foi seguido durante vários segundos de
silêncio, até que finalmente a familiar voz deu o resultado de
sua análise.
- Existem 98,6 por
cento de probabilidade de os destroços pertencerem a uma
ave-de-rapina Klingon classe D-32, - foi a resposta,
confirmando aquilo que estava se tornando cada vez mais claro: uma
nave Klingon colidira com o Volga.
# # # #
- Vocês estão certos
disso?
O Contra-Almirante
Ailton Sergov, o Coridiano que era o Comandante em Chefe do
CCTE, andava apressadamente pelos corredores secundários do
complexo do Comando da Frota Estelar, enquanto recebia um briefing
preliminar daquilo que o seu pessoal do CCTE e as equipes de campo
já haviam descoberto sobre a colisão. Quando deixavam o sistema
de Trill, o Runabout foi abalroado por uma ave-de-rapina Klingon
que saía de dobra para tomar a rota para a Base Estelar em Trill.
- O Controle de
Tráfego em Trill confirma que estavam esperando a IKS Azetbur,
em uma escala de sua viagem para Qo'noS, após exercícios
conjuntos com a nossa Força Tarefa 47 nos territórios ocupados,
- o Tenente acompanhando Sergov explicou. – Ainda estamos
esperando uma confirmação por parte dos Klingons, mas segundo o
comandante da FT47 a informação procede.
- Mas como algo assim
pode ser possível? Mesmo que ambas as naves estivessem totalmente
descontroladas, as chances de uma colisão destas ao acaso seriam
absurdamente remotas.
- O pessoal da Palmer
e as tripulações nossas no local já têm uma teoria preliminar,
- e com isto entregou um padd para o Almirante, contendo
relatórios sobre as análises iniciais. - Aparentemente, houve
uma espécie de inversão de polaridade no núcleo do reator da
ave-de-rapina, enquanto eles estavam saindo de dobra para entrar
no sistema Trill. – Sergov continuou em silêncio, esperando o
seu subalterno continuar a ele mesmo mastigar todo o tecnobabble
envolvido. – Isto, aliado a uma falha no sistema de contenção
do reator, fez com que o núcleo deles fosse atraído pelo objeto
equivalente mais próximo que havia, no caso o Volga...
- Que se preparava
para entrar em dobra, logo estava emitindo uma assinatura de dobra
alta naquele instante, - o Almirante emendou, devolvendo o padd
para o Tenente enquanto ambos chegavam na sala de reuniões onde
uma reunião preliminar do Comando da Frota estava para começar.
Haviam transcorrido somente algumas poucas horas do alerta inicial
no CCTE, mas as notícias já corriam rápido, e boletins
extraordinários estavam pipocavam por todos os sistemas membros
da UFP.
- Paris e São
Francisco estão empolvorosas, Sergov, - Galbraith disse, quando o
seu colega entrou na sala de reuniões, com vários outros
Almirantes presentes. – Precisamos ter algo para eles o mais
rápido possível. – O Chairman do Comando da Frota estava se
referindo às reações que diversos setores do governo federativo
estavam tendo à notícia, portanto um cenário claro do que
estava acontecendo era essencial para se evitar que um surto de
boatos tomasse conta das reações e das implicações políticas
que daquele acidente poderiam resultar, considerando que uma
proeminente membro do gabinete de Inyo estava morta.
- Muito bem, então, -
Sergov disse, assumindo sua poltrona. – Eu vou adiantar o que
já temos, mas advirto que preciso voltar para o CCTE o mais
rápido possível, para dar continuidade às investigações. –
E com isto, o Comando da Frota já estava nos negócios, embora
todos ali soubessem que isto poderia ser apenas o começo de algo
maior.
# # # #
Enquanto o
Tenente-Comandante Vtriev verificava em seu padd o progresso dos
trabalhos de recuperação dos destroços das naves destruídas,
trabalho sendo realizado no módulo de serviço da USS T`Kumbra,
dezenas de tripulantes estavam ocupados na organização destes
destroços no que acabava tendo a aparência de "visões
explodidas" do Runabout e da ave-de-rapina, sendo uma
verdadeira montagem de quebra-cabeças gigante. O módulo de
serviço de uma Nebula é uma área grande, e aquele
trabalho em particular necessitava uma área ampla o bastante para
acomodar naves ainda maiores do que as que aquelas duas haviam
sido, uma vez que esta remontagem não reconectava os fragmentos
uns nos outros, mas os organizava na mesma posição relativa que
ocuparam, ao mesmo tempo em que permitiam que pessoas pudessem
observar por entre eles para as investigações. Desta forma, a
maioria dos fragmentos não se encontrava espalhada pelo amplo
deck, mas sim flutuando acima dele, seguros por fortes campos de
força para que ficassem próximos à posição que ocupavam antes
das naves se despedaçarem. Então, ao mesmo tempo em que você
conseguia visualizar aquilo que pareciam ser as naves, você
também podia enxergar por entre os destroços. Era um arranjo
bastante incomum, mas se tratando da remontagem das peças em uma
investigação de acidente, era algo necessário.
Já este trabalho da
investigação propriamente dita estava sendo realizado tanto por
um grupo da própria T`Kumbra como da outra nave da Frota
que havia sido requisitada para a tarefa, a USS Vermont.
Este pessoal retirava algumas peças daquele local para análise
mais cuidadosa nos laboratórios científicos das duas naves, o
que também precisava do acompanhamento de Vtriev, uma vez que
eles tinham que manter uma organização incrível de milhares de
pequenos pedaços de nave, para que nada se perdesse.
Vtriev caminhava no
momento por entre aquilo que fora a engenharia da Azetbur,
agora reconstituída de tal forma que era como se aquela parte da
nave houvesse sido fatiada em seções de aproximadamente um par
de metros de largura. Havia alguns tripulantes trabalhando no
local, e uma pessoa se juntou ao grupo reunido ali.
- Senhor Vtriev, -
disse o Capitão Solok, comandante da USS T'Kumbra. –
Requisitara minha presença?
- Sim senhor, -
respondeu Vtriev, que era o Engenheiro-Chefe de Solok na T'Kumbra.
– Devo informá-lo de que os trabalhos de recuperação dos
destroços da Volga estão 99,279 por cento finalizados,
enquanto os trabalhos na Azetbur se encontram ainda a
96,121 por cento, - disse o Vulcano para o seu Capitão, também
Vulcano.
– E esta
discrepância entre estas suas projeções de progresso se daria
devido a que razão? – Vtriev não respondeu de imediato. Ele
caminhou alguns metros pelo deck até uma posição que
possibilitava observar alguns módulos internos da engenharia da
ave-de-rapina. – Como a colisão pela qual ambas as naves
passaram não provocou nenhum tipo de explosão que resultasse na
desintegração de seções inteiras de seus decks, isto nos
possibilitou recuperarmos todos os principais sistemas das naves
em sua totalidade, - explicou o Tenente-Comandante. – Com
exceção de um... o dispositivo de camuflagem da Azetbur.
Solok observou o local
onde normalmente estaria instalado o dispositivo na ave-de-rapina.
Havia um vazio considerável, que indicava que o conjunto completo
estava faltando, e não apenas alguns fragmentos ou peças
isoladas. O Capitão passou os olhos rapidamente pelo padd com o
progresso dos trabalhos, e confirmou o que o seu engenheiro lhe
mostrava. - O que mais falta para trazermos a bordo que ainda
está no espaço? – ele perguntou.
- Os times de
recuperação dos destroços reportam que restam apenas 1,3 metros
cúbicos de destroços ainda a serem recuperados, na sua maioria
de fragmentos menores do que um centímetro de comprimento em suas
mais longas partes, - Vtriev respondeu. – A sala de transporte
dois irá recuperar este material, uma vez que os trabalhos de
recuperação das peças maiores terminou.
- De qualquer modo, -
Solok disse, - Não se trata de volume suficiente para se
equiparar ao de um dispositivo de camuflagem Klingon.
- Correto, Capitão. E
as análises mostram também que apenas 29% destes microfragmentos
restantes são da Azetbur. O material a bordo de naves
Klingons tende a se fragmentar menos do que as nossas, pois um
número maior de componentes é fabricado em material mais
resistente, além da ausência de itens frágeis menos essenciais,
que normalmente naves da Federação costumam levar.
- Tratando-se de
construção de naves puramente de combate, é uma política
lógica. – Comentou Solok. – Mas estes fatos acrescentam uma
nova incógnita às nossas investigações.
- Iremos fazer mais
análises na ave-de-rapina, mas uma observação meramente lógica
seria a de que a Azetbur não estava com o dispositivo de
camuflagem quando colidiu com o Volga.
- Concordo. – Solok
disse, enquanto tocava na sua combadge para contatar a ponte. –
R'lev, contate a Comandante Palmer no CCTE e informe-a de que irei
falar com ela em alguns instantes.
# # # #
- É ruim como estão
falando?
Gregory Dalton entrou
rapidamente no gabinete do Presidente Inyo, e o encontrou já
reunido com um grupo de pessoas. Além do Presidente, estavam
também Jorge Cespedes e o Embaixador Natec, de Bolias, membro do
Comitê de Ocupação, o grupo de embaixadores do Conselho da
Federação que tratavam sobre os assuntos referentes aos
territórios Cardassianos temporariamente sob controle dos
aliados. Além dele, dois principais membros do gabinete do
Presidente também estavam presentes, a Secretária Trajina, de
Exploração Espacial, e também o Secretário Tiago Kirov, da
pasta de Colonização.
- Pior, - respondeu
Cespedes, enquanto ele e os demais repassavam algumas das
informações que chegavam do Centro de Comunicações da Frota. A
notícia na noite anterior de que um runabout com um membro do
gabinete de Inyo havia se acidentado com uma nave Klingon, e sob
circunstâncias ainda misteriosas, já havia sido ruim o bastante.
Agora, a isto se juntava a informação de que uma rebelião
começara no sistema Cardassiano de Chin'Toka. Uma rebelião
armada. E uma rebelião de secessão.
Um grande grupo de
Cardassianos quigolianos, denominado "Empok", iniciou
combates contra as guarnições militares Cardassianas no sistema,
e rapidamente várias das principais instalações estratégicas
do sistema foram tomadas. Contudo, a situação ainda está longe
de se estabilizar. Bolsões de resistência se encontram
espalhados por diversos pontos do planeta principal e de um par de
luas do sistema, mas sem o apoio de naves de alta capacidade, como
os Empok conseguiram para eles mesmos, isto poderá não continuar
por muito tempo. Com ordens do Conselho Detapa, o Comando Central
despachou naves Cardassianas para Chin'Toka, bem como uma força
tarefa dos aliados, composta por nove naves Klingons, duas
Romulanas e quatro da Federação, mas por ora, esta Frota estava
com instruções de apenas circundar o sistema, enquanto as naves
Cardassianas é que deveriam fazer o primeiro avanço para
procurarem controlar a situação. Os relatos também indicavam
que o Empok se mostrava admiravelmente bem treinado e armado,
inclusive com muito equipamento Jem'Hadar.
- Como estão reagindo
os habitantes das cidades de Chin'Toka? – Trajina perguntou, e
Cespedes se adiantou para responder.
- O apoio popular tem
variado, mas em geral os membros do Empok não estão sendo
hostilizados, mesmo por Cardassianos de outras etnias.
- Isto pode indicar um
sentimento mais nacionalista do que meramente racial, - Inyo
especulou sobre a informação. – Trovez está como líder deste
grupo, não?
- E certamente ele
não parou por aí, - Natec disse. – Trovez aparentemente não
perdeu tempo, e já se autodenominou Legate Trovez, líder daquilo
que ele denominou Aliança Quigoliana.
Trajina observou
algumas informações sobre aquela região do espaço. – O
sistema de Chin'Toka é bastante próximo do que fora um dia a
Zona Desmilitarizada, - a Secretária disse. – Temos alguma
informação se eles estão recebendo apoio das demais colônias e
províncias adjacentes?
- Ainda não, mas este
quadro pode mudar caso o levante de Trovez tenha sucesso, -
Cespedes respondeu. – O efeito dominó pode criar uma séria
ruptura na União Cardassiana, seja com sistemas se juntando à
tal de "Aliança Quigoliana", ou seja por sistemas
declararem independência por si mesmos.
- De qualquer modo,
isto já é uma crise gravíssima... talvez sem paralelo desde as
Guerras de Unificação Cardassianas, séculos atrás. – Dalton
se referia à série de conflitos que viriam a ser o catalisador
do surgimento da União Cardassiana como uma vasta nação
interestelar.
- Concordo, - disse o
Presidente da UFP, pensando por mais alguns instantes. – E me
digam, quais seriam as possibilidades de isto estar relacionado
com o recente incidente do runabout? – Inyo perguntou,
imaginando, como os demais ali, que o que parecia ser uma mera
coincidência poderia de fato não ser.
- Eu estive em contato
com o Alto Conselho Klingon alguns minutos atrás, - Natec disse.
– Eles iniciaram a própria investigação deles sobre o que
aconteceu com a ave-de-rapina, mas me adiantaram que também
acreditam fortemente em algum envolvimento quigoliano no
incidente, embora eles ainda não tenham nenhuma hipótese séria
para corroborar esta desconfiança. – neste ponto, Dalton
repassou algumas informações adicionais sobre as investigações
do acidente em Trill, enquanto a reunião continuava. Em vários
dos monitores no local estavam reportagens das principais
organizações jornalísticas da Federação, enquanto em alguns
outros passavam dados específicos ao governo da Federação e à
Frota Estelar, referentes a esta questão, como relatórios de
inteligência, informações sobre Chin'Toka, sobre os principais
envolvidos e sobre os grupos de interesse distintos etc. Um dos
monitores trazia relatórios atualizados pelo Comando da Frota, os
quais Cespedes e Trajina consultavam de tempos em tempos.
- Galbraith está
realizando neste momento com o Comando da Frota mais outra
reunião especial, para estudar quais podem ser os cenários que a
Frota Estelar tenha que vir a enfrentar. – Trajina informou ao
grupo. – Eles já estavam reunidos devido ao acidente com Oryza,
então não foi demorado para eles entrarem em uma nova reunião
deliberativa. – A Secretária habilmente mantinha uma postura
sóbria sobre o incidente. Ela havia sido pega de surpresa pela
notícia do acidente como todos ali haviam sido, mas isto a
afetava também em nível pessoal, uma vez que ela e Oryza eram
bastante próximas, tanto profissionalmente como por uma amizade
de muitos anos. Mas ela também era uma profissional e uma membro
do Gabinete do governo da Federação, então ela procurava manter
os seus sentimentos sob controle, pois havia a hora de se
trabalhar no caso e havia a hora de se lamentar pelo caso, e
aquele momento se encaixava na primeira categoria.
- Uma coisa é
certa... se ambas as coisas estiverem realmente relacionadas,
então estaremos mais envolvidos do que seria aconselhável...
para nossas diretrizes. – Natec apenas disse, enquanto a
reunião continuava.
# # # #
A Comandante Palmer
estava acostumada a reuniões de alto-escalão, mas aquela se
mostrava particularmente tensa. No CCTE, ela estava no momento
reunida com o Almirante Sergov, o seu oficial comandante, e outros
três oficiais seniores do Comando da Frota, os Almirantes
Galbraith, Necheyev, e Triev. O grupo estava reunido para colocar
em prática os procedimentos necessários em uma situação de
emergência como aquela, que não era mais apenas sobre a
investigação de um acidente. Era sobre a resposta a um ataque.
Depois de se analisar
informação atrás de informação, as investigações cada vez
mais apontavam para uma hipótese principal: a ave-de-rapina
colidiu com o runabout propositadamente. Aquele fora um ataque
premeditado, no qual uma terceira nave, usando o dispositivo de
camuflagem da Azetbur, acompanhara a ave-de-rapina se
chocar contra o runabout, com um procedimento feito para simular
um acidente. A posição desta terceira nave também foi
conveniente para teleportarem os ocupantes do Volga, os
tomarem como reféns, uma vez que ficou determinado que não havia
absolutamente nenhum indício de matéria orgânica no local do
acidente ou nos destroços, o que mostrava claramente que as naves
estavam vazias quando colidiram.
Mas aquelas
informações, por valiosas que fossem, ainda assim não
esclareciam várias questões, e ainda por cima criavam novas.
Qual teria sido a razão primária para alguém atacar um runabout
da Frota? Que ligações isto poderia ter com o recente levante em
Chin'Toka? Como teriam conseguido capturar e derrotar a
tripulação da Azetbur, assumindo-se que isto é o que
teria acontecido? E, em relação ao ataque propriamente dito,
nada explicava o fato de que, embora a tripulação tivesse
ativado os escudos, a colisão dilacerou a nave de uma vez só.
Uma colisão com outra nave é um baque forte, mas não seria
suficiente para provocar o estrago que provocou de uma vez só. E
mesmo que a colisão tenha também sido utilizada para se derrubar
os escudos e com isto se teleportar os passageiros no exato
instante antes das naves se destruírem, isto teria que ter sido
feito enquanto a terceira nave usava o dispositivo de camuflagem
da Azetbur para se manter oculta. Mas como teriam
conseguido, se a própria nave original não era desenvolvida para
tal procedimento?
Apesar destas
questões, algumas outras estavam se esclarecendo, como por
exemplo a razão para esta operação ter sido realizada assim.
Isto estava bem claro; ao maquilarem o ataque na forma de um
acidente, o grupo responsável conseguiu valiosas horas,
certamente usadas para se garantir uma fuga segura do espaço da
Federação. Mesmo utilizando um dispositivo de camuflagem, uma
busca e perseguição incessante seria um risco a mais, e
certamente este objetivo será atingido, se já for realmente
tarde demais para as naves da Frota rastrearem o atacante.
Desta forma, aquilo
que o Almirante Galbraith providenciou assim que a reunião
começou realmente era extremamente prioritário. Um alerta
PRIORIDADE UM foi declarado pelo Comando da Frota, atualizando-se
o status do incidente em Trill de "acidente" para
"ataque". Em seguida, um setor anexo à sala de controle
principal do CCTE foi ativado, para servir de centro de comando e
controle para aqueles oficiais se encarregarem das operações.
Uma parte do painel holográfico foi reconfigurada para mostrar a
região entre Trill e os principais setores Cardassianos ao longo
da fronteira.
- Temos cerca de 94
naves na região em posição para cobrir todo o território entre
o setor de Trill e a fronteira Cardassiana, - disse Galbraith,
enquanto Palmer trabalhava nos controles para destacar as
posições das naves. – Cerca de 40 delas estão em missões
individuais, e as demais pertencem à Sétima Frota e à
Força-Tarefa 47. Podemos remanejar várias destas para se
posicionarem de modo a termos a otimização máxima na buscas
desta nave atacante.
- E devemos nos
assegurar de que os Capitães instruam suas tripulações a dar
prioridade máxima às técnicas de detecção de camuflagem, -
Triev sugeriu.
- Eles estão com
coisa de... 30 horas de vantagem, que se passaram entre a colisão
e o nosso alerta, - Sergov afirmou, consultando o horário atual,
coisa de pouco mais de um dia depois do primeiro alerta. - Os
atacantes não devem estar viajando na velocidade máxima que
eventualmente possam manter, pois isto, combinado ao fato de que
estão usando um dispositivo de camuflagem adaptado, poderia
tornar o trabalho de nossas tripulações mais fácil, e eles
provavelmente sabem disto.
- Então eles tiveram
em seu favor estas 30 horas, e nós temos a nosso favor a
limitação na velocidade possível dos atacantes. – Galbraith
concluiu o raciocínio de Sergov. - Vamos fazer bom uso disto. –
Os oficiais ali continuaram debatendo sobre a melhor maneira de se
distribuir as naves, levando-se em conta as suas capacidades,
velocidades, posições em que se encontravam atualmente, e
diversos outros fatores. Ao mesmo tempo, as equipes do CCTE iam se
encarregando de contatar as naves para retransmitir as ordens, e
rapidamente dezenas de naves da Federação já começavam o
trabalho de vasculhar milhares de anos-luz cúbicos de espaço em
busca de uma nave camuflada de configuração ainda largamente
desconhecida.
- Neste exato
instante, há uma força combinada rumando para Chin'Toka, -
Necheyev disse – Com quatro unidades nossas. Eu sugiro movermos
estas naves para o flanco esquerdo deste grupo, de modo que elas
se posicionem melhor entre o sistema Chin'Toka e a fronteira, para
melhorarmos a cobertura neste ponto.
- Sim, - Galbraith
concordou. – E desta forma, elas ainda estarão em posição de
apoiar estas naves Klingons e Cardassianas. Muito bem. – Com
isto, a Comandante Palmer providenciou para que dois oficiais de
sua equipe se encarregassem de transmitir as ordens para as naves
em questão.
- Isto cobre tudo por
enquanto, - Triev disse, fazendo um gesto na direção da
projeção holográfica principal, enquanto todo o
reposicionamento planejado e as missões de busca-e-captura se
colocavam em andamento – Mas vamos precisar agora pensarmos nos
procedimentos a serem realizados uma vez que descobrirmos esta tal
nave e seu destino.
- Sobre isto, - disse
Necheyev – Eu e Sariff já estamos rascunhando algo. – a
Almirante respondeu.
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