Capítulo 3 – Terraformando Relações

<Você faz isto de propósito, não é?>

Eduardo Parker pensou esta sua questão, que foi imediatamente captada pela sua esposa, Cristina Stel, bem ali ao seu lado. O casal estava no momento atravessando o grande salão de jantar no átrio do Museu de Arte Holográfica de Cabul, o qual sediava no momento o "Banquete do Almirante" do qual participavam os dois ali, bem como vários outros dignitários da política e sociedade terrestres.

<Ora, Imzadi, uma garota tem que se divertir, não?> foi a resposta de Cristina. Como o seu marido não era um telepata, Cristina se encarregava de manter um leve link mental entre os dois, de forma que ambos podiam "falar" mentalmente um com o outro.

<Quantos você já pegou hoje, querida? Três?>

<Quatro... teve também o Comissário de Agricultura da Austrália.> Cristina e Eduardo comentavam a respeito de uma velha mania daquela Betazóide ali. Em ocasiões como esta, Cristina tinha o costume de se vestir com longos vestidos extremamente sensuais; não eram poucos, portanto, os homens que se encontravam repentinamente dando mais atenção às belas características de seu corpo do que à conversa em si com Cristina. Ainda que isto não fosse nada que qualquer um não pudesse perceber, Cristina se divertia exatamente com aquilo que apenas um telepata poderia perceber, que era quando um sujeito sabia que ela era uma Betazóide, e portanto tentava ao máximo não transparecer que pudesse estar tendo qualquer pensamento mais picante sobre ela. Em nenhum momento, contudo, Cristina lia diretamente a mente destas pessoas; seria uma inconveniente invasão de privacidade em questões íntimas, e não era isto que Cristina desejava. Não, apenas a sensação emotiva das reações à sua bela e sedutora aparência eram o que bastava para tanto saciar o humor como massagear o ego daquela Betazóide. Além do mais, era uma boa maneira de se manter uma certa vantagem emocional em um diálogo.

- Vamos até ali, Imzadi. - Cristina disse em voz alta, pois não gostava de usar demais o elo mental com seu marido, pois apesar de ser bastante prático, seria de certa forma impolido ficar completamente calada perto de seu marido o tempo todo, dando a entender que ambos estariam, de fato, falando mentalmente.

O casal encontrou o Senador Julio Montaner, o representante da União Européia na Assembléia-Geral da Terra. Montaner estava acompanhado de uma Telariana que era nitidamente bem mais nova do que ele, embora a moça em questão também não fosse nenhuma criança. O senador era notório pela rotatividade de suas companhias femininas, desde que o casamento com sua segunda esposa havia terminado no ano anterior.

- Stel, você parece não ter limite máximo definido para estar maravilhosa, - Montaner disse sorrindo quando viu o casal.

- Ora, Júlio, eu sempre quero estar no meu melhor quando você está presente, - a sua colega respondeu, sorrindo. Ela sentiu Montaner ter sua breve e rápida resposta hormonal à sua aparência, mas não era nada fora do normal para alguém que sempre se encontrava com ela em inúmeras outras ocasiões. – Você já conhece o meu marido, Eduardo Parker?

- Estou honrado, Dr. Parker, - Montaner estendeu a sua mão. – O seu trabalho no Smithsonian sem dúvida faz a sua reputação ser merecida.

- Cristina também tem o senhor em alta estima, Senador. – Eduardo respondeu. Montaner realmente era um dos senadores que faziam parte de vários comitês formados por iniciativa de Cristina. Montaner apresentou então a sua companhia para o casal Parker-Stel.

- Esta é Vitória Garcia, - ele disse. – Tenho poucas dúvidas de que também em breve será a nova Prefeita de Barcelona. – a jovem mulher que acompanhava o senador mostrou-se então ser mais do que apenas a companhia feminina de Montaner. Uma das alumni da Academia da Frota, Garcia havia passado por vários cargos públicos em Madri desde que dera baixa da Frota Estelar.

- É um prazer finalmente conhecê-los, Senadora Stel, Dr. Parker, - ela disse, também apertando a mão de ambos. – O apoio da Assembléia-Geral aos grupos comunitários na Europa tem sido de grande ajuda.

- Vocês sempre podem contar com o nosso apoio para tudo aquilo que estiver ao nosso alcance, não há dúvida. – A conversa continuou por mais alguns minutos, quando o grupo ganhou a companhia também do juiz Cristopher Lohn, da Suprema Corte Federativa. Depois de alguns instantes, um homem vestindo um uniforme de gala da Frota Estelar se aproximou do grupo.

- Ora, se não é o nosso anfitrião em pessoa, eu digo! – Montaner anunciou a presença do Almirante John Westmore, o comandante-em-chefe das forças federativas no setor 001, ou CINCEARTH. Uma série de cumprimentos seguiu-se, e a conversa prosseguiu.

- Não posso deixar de citar que a senhora tem estado em grande evidência, Senadora Stel. – Westmore disse. Cristina evidentemente podia perceber que o Almirante também fazia com isto uma piada à atual vestimenta dela, mas não era realmente apenas a isto que ele se referia.

- Ora, Almirante... o anúncio de minha candidatura não é realmente um tópico para toda a agitação que tem havido. – Cristina modestamente comentou.

- O consenso tem sido de que você deverá realmente temperar a disputa, Stel. – Garcia comentou.

- Verdade, - Montaner concordou com sua companhia. – Está mais do que na hora de alguém fazer Duke suar para manter o traseiro dele naquela cadeira no Conselho.

- O Embaixador tem se mostrado muito ativo e competente, Montaner. – Westmore disse. – Logo, sua longevidade no cargo não é injustificável. E as suas relações com a Frota Estelar sempre foram excelentes, posso assegurar...

- Talvez excelentes demais, Almirante? – Cristina disse em um tom estrategicamente mais delicado. Westmore franziu a sobrancelha, enquanto Cristina continuou. – Afinal de contas, a influência que a Frota Estelar exerce no governo federativo é consideravelmente alta, não concordam?

O silêncio no grupo durou menos que quatro segundos, mas Eduardo sentiu como se fosse uma eternidade, uma vez que ele, ainda ligado no seu elo mental com Cristina, podia ter uma percepção diferente da situação. Através de sua esposa, podia sentir nitidamente as diferentes respostas emocionais daquelas pessoas ali, tão bem quanto podia ler suas linguagens corporais. O senador da UE e sua pupila ficaram animados, enquanto Westmore parecia ativar uma espécie de alerta amarelo interno, e o juiz Lohn mostrava-se especialmente interessado em uma maior discussão do tema. A falta de comentários era preenchida apenas pelo som da música clássica que tocava no recinto, com o murmúrio constante das demais conversas de fundo, até que Montaner se adiantou.

- Uma observação tão precisa quanto polêmica, Stel... o que o Almirante pensa? – ele se virou na direção de Westmore.

- Como qualquer organização da Federação, a Frota Estelar também deve exercer o seu papel na nossa sociedade, não há dúvidas, - Westmore usava de alguns comentários genéricos enquanto procurava escolher melhor as palavras. – Não acredito que a participação da Frota seja de modo algum inadequada, ou mesmo exagerada.

- Devemos nos lembrar também que a Frota muitas vezes é o único órgão da Federação em determinadas regiões, - Lohn comentou. – Logo, é natural que ela assuma outros papéis que não apenas os seus tradicionais de defesa e exploração.

- Sim, eu concordo, Meritíssimo, - Cristina retrucou. – Não nego que a Frota deve estar presente nas colônias e fronteiras, mas devemos admitir que esta influência se estende também mesmo em setores mais centrais da Federação. O senhor mesmo Almirante... como comandante do setor 001, muito da administração da Terra passa pelo seu gabinete.

- A Senadora sabe que a Frota teve que assumir diversas novas tarefas com as recentes ameaças, em especial a Guerra Dominion e as incursões Borgs... o meu comando sempre visa prover o máximo de suporte e proteção ao setor do Sol. – Cristina sentiu que o CINCEARTH parecia querer evitar um determinado ponto, mas ela não iria se fazer de rogada em ao menos dar um leve beliscãozinho nisto.

- E seu desempenho nesta tarefa tem sido impecável, Almirante... ao contrário do seu antecessor, sem dúvida alguma. – Não havia necessidade nenhuma ali de lembrar as razões pelas quais o Almirante Leyton havia sido exonerado do posto de CINCEARTH, alguns anos antes. A tentativa de Leyton de militarizar o controle sobre a Capital da Federação havia sido um perfeito e claro exemplo de como a Frota Estelar muitas vezes não se incomodava de transpor certos limites. Por mais justificável que fosse a necessidade de neutralizar a então ameaça de infiltração de um Fundador, Leyton certamente havia transposto estes limites. E todos ali sabiam disto.

- No que você acredita que a Frota Estelar poderia estar extrapolando a sua influência, Stel? – Garcia perguntou, fazendo Cristina adquirir uma expressão mais pensativa.

- Bem, eu não diria extrapolando... mas... por exemplo, o Sistema de Comunicações Subespaciais da Federação. – Cristina citou. – A Frota Estelar detém o controle total sobre a rede de comunicações subespaciais...

- As necessidades operacionais de manter este sistema são titânicas, Stel. – Westmore justificou, interrompendo-a. – Apenas a Frota tem os meios para poder realizar a manutenção e o desenvolvimento do sistema, para não citar os fatores de segurança e defesa.

- Sim, mas isto não significa que a Frota deveria ter o controle total sobre a administração propriamente dita do sistema de comunicações, Almirante. – a Betazóide retrucou. – Uma agência da Federação poderia tranqüilamente gerenciar o sistema, com o apoio logístico da Frota. Mesmo agências regionais de comunicações poderiam ter participação ativa nisto.

- É uma idéia interessante, Cristina, - Montaner comentou. – Confio que consta no seu plano de metas para a campanha?

- Claro, não como uma proposta específica, mas está na lista de assuntos a serem discutidos, na eventualidade de a fortuna me sorrir em julho. – ela respondeu.

- As chances de os eleitores do setor 001 lhe fazerem isto não são nada modestas, Stel. – o juiz comentou animadamente. – Acompanhar a sua campanha certamente irá se mostrar uma atividade tão enriquecedora quando excitante. – Neste ponto, a atenção de Westmore foi chamada por um de seus ordenanças.

- Senhoras, Cavalheiros, - Westmore gesticulou na direção da mesa de jantar. – Acredito que está na hora de nossa refeição. – diversos comentários irônicos se seguiram a este anúncio, e o grupo se pôs a acompanhar os demais convidados na direção da mesa. Lohn acelerou o seu passo um pouco para se juntar a Garcia e Montaner.

- Essa Betazóide tem um bocado de brios para cutucar Westmore deste jeito, hein? – ele comentou, em um tom baixo.

- Você ainda não viu nada, juiz, - Montaner apenas respondeu enquanto caminhavam atrás do casal Parker-Stel e do Almirante. – Cristina conseguiria até mesmo pegar um Vorta de calças curtas. – ele terminou, assegurando ao juiz que a habilidade de Cristina de ser imprevisível iria ser ainda mais visível pelas próximas semanas... bem mais, Montaner pensou consigo mesmo.

 

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Logo após o computador fornecer uma identificação positiva de ambos, o Presidente Inyo e Jorge Cespedes entram no Centro de Comando e Controle do Archer Hall, localizado no sexto nível de subsolo do complexo. O local era basicamente uma sala de reuniões altamente equipada, para o Presidente poder se reunir com o Comando da Frota em situações de emergência. Um grande painel central, em uma das paredes, ficava à frente da mesa principal, e era tão grande quanto os painéis principais de pontes de naves da classe Galaxy. A mesa possuía lugares para cerca de vinte pessoas, todas com consoles LCARS individuais, além de diversos outros sistemas de apoio estarem instalados pelo restante da sala, que possuía até mesmo seus próprios sistemas de teleporte e holodeck; em suma, todo o equipamento necessário para a sala servir bem seus ocupantes ao gerenciarem alguma crise ou emergência. Não era surpresa, portanto, que aquele recinto tenha tido uma utilização considerável durante a guerra.

Neste momento, o local estava com a presença de vários Almirantes da Frota, do Secretário de Colonização Tiago Kirov, e de alguns outros oficiais do governo. Estas pessoas iriam acompanhar o Presidente receber uma comunicação de grande importância, a fim de iniciar debates sobre um crescente problema nas fronteiras. Inyo e Cespedes tomaram seus lugares, e depois de um rápido briefing por parte do Almirante Triev, foi decidido responderem o chamado de alta prioridade que havia sido recebido.

- Pode ativar o comlink, Almirante. – Inyo autorizou, e Triev ativou o sinal de comunicação após entrar com seu código de segurança em seu console. Depois de alguns instantes, a imagem de uma outra sala surgiu na tela, onde três Cardassianos ocupavam uma mesa acompanhados por um oficial da Frota Estelar e dois oficiais Klingons. Inyo se dirigiu à mulher cardassiana no centro da imagem.

- Conselheira Lang, - o Presidente disse, se referindo à nova chefe de estado da União Cardassiana. Natima Lang começara a sua carreira como correspondente para o Serviço de Informação, a agência de notícias oficial da União, tendo passado algum tempo em Terok Nor. Tempos depois, ela se tornou professora universitária em Ética Política, e sempre esteve ideologicamente ligada aos movimentos dissidentes Cardassianos. Isto fez com que o Comando Central a considerasse politicamente perigosa, e Lang e mais alguns estudantes seus tiveram que partir para o exílio para não serem presos, uma vez que eles todos já eram ativos membros do Movimento Underground Cardassiano.

Logo depois do fim da Guerra Dominion, a necessidade de se restabelecer um governo provisório foi grandemente dificultada pelo fato de uma grande parte da intelectualidade cardassiana ter sido perseguida e morta durante o conflito, tais como políticos, economistas, sociólogos, cientistas, artistas, etc. Felizmente, Natima Lang fora uma das poucas que conseguiram sobreviver à Guerra, e os poderes aliados pediram-na para liderar um governo civil de transição. Lang foi relutante, devido ao estado lastimável da moral em que se encontrava sua pátria, mas ela eventualmente aceitou, por isto também ser uma oportunidade para um recomeço para Cardássia, recomeço no qual ela poderia ajudar. Desta forma, o Conselho Detapa, o órgão de poder civil mais alto de Cardássia, foi novamente reconstituído, e desta vez com mecanismos legais que lhe asseguravam real poder e controle sobre o Comando Central e o Bureau de Inteligência, que substituiu a Ordem Obsidiana. Era a intenção de Lang não mais permitir que estes dois poderes controlassem Cardássia com mão de ferro.

Mas, com Cardássia em condições muito precárias desde o fim da guerra, o novo governo precisava de todo o apoio que pudesse ter para manter a reconstrução em andamento, bem como todas as reformas políticas, sociais e econômicas que Cardássia tanto precisava. E isto não estava se mostrando nada fácil.

E exatamente por isto o Presidente da UFP estava tendo uma reunião com a Conselheira Lang. Os poderes aliados e o governo Cardassiano precisavam encontrar uma solução o quanto antes para os diversos distúrbios que estavam acontecendo pela União Cardassiana, especialmente no sistema Cardassiano de Chin'toka. Se isto não acontecer, toda Cardássia pode se esfacelar em conflitos regionais sangrentos, o que mexeria com a estabilidade de toda aquela parte dos quadrantes Alfa e Beta.

 

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Mike contatou Scott logo de manhã. Aparentemente ele tinha uma sugestão para Scott conseguir o que tanto precisava, mas teriam que falar pessoalmente. Mike pediu para eles se encontrarem para comerem juntos – e graças ao fuso horário do planeta, o que estaria vindo para São Paulo de São Francisco iria almoçar, e o que já estava na cidade iria ter o café-da-manhã. Algo assim não era incomum de acontecer, ainda que geralmente os habitantes do planeta vivessem e trabalhassem em zonas de fuso horários próximas uma das outras. Não era algo mandatário, claro, mas era uma recomendação para se manter o organismo bem regulado, evitando estar todo o tempo em um local à noite ou ao dia.

Em meados do século 22, o Museu de Arte de São Paulo recebeu o direito sobre uma série de estruturas abaixo de seu prédio principal, na região da antiga Avenida Nove de Julho. Do Parque Pinheiros até o túnel Nove de Julho, a avenida fora completamente ocupada por novos prédios, pequenos conjuntos residenciais no estilo townhouse do século 21, conjuntos comerciais, escolas, hospitais, e uma série de outras atividades. Do outro lado do túnel até o centro da cidade, a avenida foi preservada na forma de um boulevard, e os diversos prédios restaurados compunham agora uma área de ótima estrutura residencial, com excelentes apartamentos.

Mas os túneis propriamente ditos, e um antigo estacionamento abaixo da Praça Alexandre de Gusmão, foram entregues ao MASP. Ambos os túneis foram transformados em espaços para exposições temporárias do MASP, enquanto a enorme área subterrânea, que outrora fora o estacionamento para automóveis, foi convertida para abrigar mais peças do acervo fixo do Museu, bem como um centro de artes e uma academia de pintura, além de cafés, lojas e restaurantes, que se interconectavam com outros espaços subterrâneos próximos, e a uma estação do metrô.

E era em um destes restaurantes que Scott e Mike se encontraram, o Orb da Colheita, conhecido por sua ótima cozinha Bajoriana. Ambos chegaram praticamente juntos, e se instalaram em uma mesa com vista para a saída norte do túnel. Mike pediu um par de hasperats, uma espécie de burrito, e para beber, uma variação replicada de vinho tulaberry, pois ele estava de serviço no momento. Scott pediu raktajino e alguns croissants recheados com creme de moba. Conversaram algumas amenidades enquanto aguardaram os pratos chegarem, como por exemplo o gosto de Mike por comidas apimentadas, como era o burrito que ele havia pedido. Após isto, eles começaram a conversar sobre o problema de Scott.

- Como você deve saber, os familiares da tripulação têm direito a uma correspondência mensal com a nave. – Mike começou.

- Sim, eu sei.

- Lembra daquela garota que nós conhecemos alguns anos atrás, quando fizemos aquele curso de comunicações intraespécies aliens, em Andor? Aquela que tinha cabelo loiro bem comprido?

Scott pensou por alguns instantes, e a imagem da garota lhe veio a mente. – Sim, eu lembro dela. Mônica, não é? – Mike confirmou, balançando a cabeça afirmativamente enquanto cortou um pedaço do hasperat. – Mas faz um bom tempo que eu não falo com ela.

- Exatamente, - ele respondeu assim que terminou de engolir. – Acontece que Mônica é nada mais nada menos do que prima de uma das tripulantes da Voyager. – Scott fez um olhar genuinamente surpreso. Mike entregou para ele um padd, onde aparecia uma listagem do manifesto da tripulação da nave, com o nome Alexandria Munro destacado. Scott pressionou um comando, e uma outra listagem apareceu, desta vez de parentes e amigos daquela tripulante que estavam mantendo correspondência com ela, e o nome de Mônica Soares Munro estava destacado desta vez. Mike continuou assim que Scott desviou o olhar de volta do padd. Mas já era bastante evidente aquilo que ele iria sugerir.

- Talvez, se você falasse com ela e explicasse o que precisa, ela deixe você mandar o seu material em uma de suas cartas. A Frota Estelar não tem objeção nenhuma ao teor do conteúdo das cartas pessoais que vão para a Voyager, contanto que estas passem por um exame para ver se não há mensagens ocultas ou qualquer outro tipo de sinal junto com o código principal da mensagem. – Scott continuava em silêncio, pensando. - Quando eu falei com você, eu lembrei de uns tempos atrás ter visto uma "Munro" na lista dos tripulantes. Eu não tinha a menor idéia se poderia ser parente da Mônica ou não, mas eu resolvi ir verificar isto depois de ter conversado com você. E de fato era, por incrível que pareça. – ele balançou a cabeça, indicando que também ficara tão surpreso quanto Scott ao descobrir a relação.

- Não daria para você entrar em contato com ela? – Scott finalmente disse. Mike terminou um gole do vinho e limpou a sua boca rapidamente com o guardanapo.

- Mas pronto Scott, além de dar, você quer que arreganhe também? – ele respondeu, largamente abrindo seus braços. - Uai, vai você falar com ela, pô, você a conhece também!

- Tudo bem, mas é você quem conhecia ela melhor. E você é quem é oficial do Projeto Pathfinder. Talvez, se você falar com ela, haja uma chance melhor que ela aceite. Vai parecer que eu quero me aproveitar dela se eu chegar assim, sem mais nem menos, com um pedido destes.

- Não deixa de ser uma certa verdade... – Mike ganhou um sorrisinho desdenhoso de seu colega pelo comentário, ainda que Scott não se sentisse ofendido. - Não, eu nem posso me envolver demais nisso, Scott. Se o Almirante Paris fica sabendo que eu estou te ajudando com isto, ele me dá uma comida de rabo que eu não quero nem pensar. Aliás, se você for citar fontes na sua matéria, diga que chegou até ela por sei lá que meio, mas menos por mim. É até bom mesmo que você tenha conhecido ela também, assim não dá muita bandeira.

Scott olhou para o lado por alguns instantes. Seria melhor se alguém do Projeto Pathfinder pudesse ser citado diretamente na matéria, mas Mike tinha razão; não havia o porquê comprometer a... discrição de uma de suas fontes. Depois de terminarem o almoço e pagarem, Scott e Mike saíram caminhando pela Avenida Paulista, que no momento estava com um bom movimento de pessoas, vários de fora da Terra. Nas ocasiões em que um sistema estava para se tornar membro da Federação, como era o caso de Bajor, não era raro as principais cidades do planeta receberem um fluxo de visitantes ainda maior do que o de costume. A conversa se estendeu sobre mais alguns detalhes casuais a respeito da amiga de ambos, Mônica. Ela atualmente mora na cidade de Petrolina, onde trabalha como Diretora de Recursos Humanóides em uma unidade da Yoyodyne Propulsion Systems. Ela também vive há cerca de cinco anos com sua namorada, uma Trill sem-simbionte chamada Vadrina, e duas filhas. A conversa foi interrompida quando a combadge de Mike soou, indicando uma mensagem chegando, mas ambos continuaram a caminhar enquanto Mike respondia o chamado.

- Prossiga.

- Mike, aqui é Valtak. A reunião com o Comandante Hatkins vai ter que ser adiantada para daqui a meia-hora. Quando é que você pode estar aqui de volta no CTS? - Mike olhou para o teto do Conjunto Nacional. O imenso mostrador LCARS no topo, ao lado do logotipo do Banco de Bolias, mostrava 12:47.

- Muito bem. Avise eles que vou estar de volta aí em uns vinte minutos. Mike desligando. – a sua atenção voltou para Scott. - Você vai para a redação agora?

- Não, eu tenho que ir até o Archer Hall. Eu estou coordenando o grupo que vai fazer a cobertura para o Inquirer da formalização de Bajor na Federação, e tenho alguns pontos para acertar lá na Assessoria de Imprensa da Presidência. - Mas eu vou com você até os teletransportes aqui perto, na Estação Consolação. – Scott indicou o caminho para seu amigo, e ambos seguiram para tomar o teletransporte, Mike para São Francisco, e Scott para Paris.

 

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Não muito longe dali, no bairro do Pacaembu, Kátia Parker estava no momento na cozinha da casa de sua família, comendo uma maçã enquanto lia um padd com algum material para a aula de sociologia extrahumanóide que iria ter no dia seguinte. Ela deu um suspiro mais forte quanto pesados passos se aproximaram do recinto, desviando sua concentração.

- Ê, cacete, para que a pressa? Você tem que toda a vez descer estas escadas que nem um targ, tem? – Kátia disse, quando o seu irmão saiu correndo das escadas e entrou na cozinha, vestindo uma camisa de time de futebol. Ele foi até o replicador, instalado na bancada ao lado do fogão, e fez uma de suas pré-seleções, uma porção de oskoid em molho rosé.

- Eu vou me encontrar com os caras e nós vamos ao Mineirão, - Ricardo comentou, enquanto trazia a comida para a mesa, e ocupava o seu lugar de costume, na frente de sua irmã, e logo em seguida serviu-se de um pouco do suco de uma jarra próxima a Kátia. – É a semifinal do Torneio Novas Nações Unidas. - O time de Ricardo, o São Remo, conseguira a última vaga para as semifinais, a ser disputada contra o Manchester United; a outra vaga para a final seria decidida em uma partida entre a Juventus e o New England Revolution.

- Ah, vocês chegaram na semifinal, é? – Kátia sorriu, com seu tom de voz nitidamente intencionando brincar com seu irmão. – Só levaram ferro essa temporada inteira...

- É, bem melhor que a merda do seu time, que nem conseguiu se classificar. – Ricardo respondeu, ainda mastigando algumas folhas de oskoid. - Trouxeram aquelas duas jogadoras lá de Deneva, falaram que iam fazer e acontecer, e não adiantou nada... assim mesmo vocês quebraram a testa.

- Para quem foi campeão da Federação do ano passado, esses torneiozinhos ridículos aí não interessam. – Kátia respondeu. Ela gostava de brincar com o seu irmão apenas para sentir ele ficar invocado. Sendo mais novo do que Kátia, Ricardo ainda não conseguia contrabalançar as habilidades empáticas que a sua irmã ali já possuía.

Mas Ricardo não estava particularmente irritado com ela, ainda que ela estivesse mais uma vez lembrando-o que o Atlanta Beat havia sido Campeão da UFP vencendo exatamente o São Remo. O jogo havia sido bastante disputado, tanto dentro como fora de campo, pois esta final teve um recorde de público, já que havia mais de 20 anos que dois times da Terra não disputavam a final do campeonato federativo um contra o outro.

Outrora o esporte mais popular da Terra, o futebol tinha agora que dividir a preferência do público com diversas outras modalidades, como velocity, hoverball, basquete e racqueteball, fosse em competições de categorias profissionais, ou fosse em número de praticantes amadores –- a própria Kátia, por exemplo, fazia parte do time de hoverball de Yale. Durante o século 21 a modalidade gradativamente perdeu interesse do público, mas, ao contrário do beisebol, o futebol se tornou novamente popular do século 22 em diante, quando começou a ser praticado regularmente mesmo em diversas colônias e outros mundos. Como qualquer outro estilo esportivo atual, as categorias do futebol não mais usam gênero sexual como definição de categorias, mas sim em peso e porte; por exemplo, uma Klingon de quase dois metros de altura pode muito bem atuar contra homens de diversas outras espécies sem o menor problema. Logo, os times são bastante mistos, compostos de humanóides de diversas espécies, tanto machos quanto fêmeas.

Repentinamente um sinal sonoro chamou a atenção dos dois na cozinha; uma mensagem estava chegando.

- Alô? – Kátia disse em voz alta, indicando para o computador atender logo a mensagem.

- Kátia, é a mamãe, - a voz de Cristina soou pela cozinha. – Eu preciso que você me faça um favor. Vá até o escritório e pegue uma pasta verde, que deve ter dois padds dentro. Eu preciso que você me fedexeie para mim, o mais rápido possível.

- Onde você está, mãe? – Ricardo perguntou, enquanto a sua irmã se levantou para ir buscar a pasta.

- Estou em uma reunião aqui em Lisboa, filho, - a senadora respondeu. - E eu esqueci essa droga desta pasta aí.

- Você não pode simplesmente copiar os arquivos do computador do Itamaraty? – Ricardo perguntou, enquanto acessava o terminal de replicação da cozinha.

- Não, são originais criptografados, têm que ser os dos padds. – Ricardo acessou uma template no replicador, e rapidamente surgiu na bandeja do aparelho uma pequena plaqueta, mais ou menos do tamanho de uma combadge, só que mais fina. Nisto, a sua irmã chegou de volta na cozinha trazendo a pasta.

- É uma que tem o logo da Comissão de Operações Planetárias?

- Essa mesma, Kátia. Pode mandar para cá.

Kátia colocou a pasta em cima da bancada da cozinha, perto de onde Ricardo estava, ao lado do replicador. Ricardo então pegou a plaqueta que havia replicado, que se tratava na realidade de um transponder, e o fixou na pasta; uma de suas superfícies era levemente adesiva. Uma rápida seqüência de comandos foi entrada em um painel LCARS, para inserir no transponder o nome do destinatário e o sinal indicando a sua atual localização. Ricardo ativou o comando final, e depois de um par de segundos um feixe de teletransporte absorveu toda a pasta, e ela rapidamente desapareceu.

- Ah, já chegou aqui para mim, garotos, obrigada. – Cristina avisou seus filhos que recebeu bem a pasta. - Avisem o seu pai que eu devo chegar em casa mais tarde hoje. Não sei que hora esta reunião aqui vai terminar, e eu ainda tenho alguns assuntos da eleição para tratar.

- Certo, mãe, a gente avisa ele. – os dois garotos se despediram de sua mãe, e o canal de comunicação foi encerrado. A pasta fora teleportada para o local onde a senadora se encontrava, seguindo o sinal da própria combadge de Cristina. Aquele sistema de entrega de encomendas, baseado em uma rede de teletransportes para matéria inerte, baseados em pequenos satélites ao redor do planeta, era mantido pela Federation Express para todas as encomendas que tivessem como destino algum local na própria Terra ou em órbita dela; o procedimento todo era bastante rápido e geralmente custava menos do que dois créditos, dependendo do volume e material transportado. Já as encomendas extraplanetárias eram obviamente primeiro teletransportadas para centros de distribuição, onde eram então fisicamente levadas por naves até os planetas de seus destinos, e uma vez lá, entravam no sistema de teletransporte destes locais.

 

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Cristina respirou aliviada quando finalmente terminou de retirar a roupa de proteção que havia usado durante uma parte do tour pelas instalações do Departamento de Operações Planetárias da Terra. Embora em nenhum destes momentos ela ou o seu grupo estivessem realmente expostos diretamente a qualquer ambiente perigoso, o uso de roupas de proteção era mandatário nos setores mais críticos dos núcleos de controle energético daquelas instalações centrais do DOP.

A vestimenta era prática, e rapidamente ela e Zhaav já estavam prontas. As duas mulheres recolocaram as roupas de proteção nos suportes apropriados no vestiário feminino, e juntamente com outras duas funcionárias do DOP e uma jornalista do L´Observatore Rommano, saíram para encontrar o restante do grupo aguardando na porta do vestiário masculino, Vortik e Marcos entre eles, os quais haviam vindo com elas para a reunião com os principais diretores do DOP. Depois desta reunião, havia sido o tour pelas instalações do qual eles estavam voltando no momento. Todos então se dirigiram de volta aos setores administrativos, para a cafeteria, onde poderiam comer alguma coisa; afinal de contas, a reunião havia sido particularmente longa, tendo tratado de várias questões importantes sobre a distribuição de recursos energéticos do planeta. O Departamento de Operações Planetárias tinha laços bastante estreitos com a Assembléia Geral, uma vez que sua colaboração era vital para se manter uma boa administração da capital da Federação.

- Então, Senadora, - Augusto Gritok, o Chefe de Operações Principal do DOP disse, colocando sua bandeja na mesa da cafeteria que todo o grupo estava compartilhando. – A senhora realmente acha então que a Frota Estelar poderia aprender tanto assim conosco? – o seu tom era nitidamente descontraído, e um tanto zombador, mas ainda assim genuinamente satisfeito pelos elogios que Cristina havia feito por todo o curso do dia.

- Sem dúvida, - Cristina respondeu, assim que recolocou a caneca de café na bandeja, depois de um gole. – Quero dizer, vocês aqui não poupam esforços para manter a segurança do seu pessoal. Nunca nenhum tipo de zelo deve ser considerado zelo em excesso.

- Bem, nós estamos sempre procurando novos procedimentos para fazermos o trabalho aqui ser tão eficiente quanto seguro, realmente. – confirmou a Rigeliana que era assistente de Gritok, Virgínia Dantas.

- As roupas que acabamos de usar, por exemplo. – Cristina continuou. – Embora não fossem imprescindíveis, lá estávamos nós, apropriadamente equipados para qualquer eventualidade... se algo de errado ocorresse, não seria necessário termos que correr para nos prepararmos.

- Se algo de errado ocorresse, claro. – Zhaav comentou.

- Sim, Zhaav, claro. – ela concordou com a andoriana. – Mas na Frota, eles parecem partir do perigoso pressuposto de que nada vai dar errado, então muitas vezes o pessoal deles não está preparado no momento para os imprevistos que acontecem.

- E pelo perfil operacional da Frota, isto pode acontecer com uma demasiada freqüência. – Virgínia acrescentou.

- Pode não, acontece. – a Betazóide disse. – Quantas vezes não ouvimos falar de terríveis ocorrências com um grupo avançado da Frota? – ela perguntou retoricamente, enquanto todos ali a escutavam com atenção, incluindo Patrícia Rogero, a jornalista do L´Observatore Rommano, e Dimitri Kritez, um colega seu do Correio da Manhã, de Lisboa, que haviam acompanhado o tour. – E como na maioria das vezes estes grupos avançados estão? Com o uniforme convencional de serviço, que não é nada sofisticado, convenhamos.

Cristina gesticulou de tal maneira que demonstrava estar pensando em algo mais específico para dizer. – Não sei, uma anomalia qualquer surge, uma destas aí que eles vivem descobrindo. E então? Pumba. Os tripulantes se encontram subpreparados e subequipados.

- Realmente a Senadora parece ter uma visão bastante pragmática de como este tipo de procedimento deve ser feito. – Gritok disse.

- Naaah, - ela sorriu. – É apenas uma questão de bom senso, Dr. Gritok. – o Chefe de Operações ali sorriu de volta sem dizer nada. Desde que ele a conhecera, ficou claro para Gritok que Cristina não se comportava nada como uma típica candidata a algum cargo público. Não que seu comportamento fosse inadequado a isto, longe disto. Este era apenas diferente, de uma forma positiva, pois ela era nitidamente mais espontânea e mais aberta do que políticos normalmente são. Se comportar desta forma em uma arena política sem dúvida requer muita habilidade e jogo de cintura para evitar problemas, e aquela mulher parecia estar muito segura de que pode levar a cabo isto.

- Eu concordo com isto, senhora Senadora. A Frota Estelar parece sempre estar certa de que tem o controle de tudo, mesmo sobre as coisas as quais não estão diretamente sob sua influência... ou sequer sob sua alçada. – Dantas afirmou, o que fez com que Patrícia e Dimitri ficassem ainda mais atentos à conversa se desenrolando, pois parecia que um bom debate estava se desenvolvendo ali. Ambos continuaram a fitar diretamente o grupo, mantendo suas holocâmeras em seus chapéus ativadas o tempo todo, da mesma forma que haviam feito durante o tour. Já a reunião inicial havia sido a portas fechadas. E a presença das holocâmeras ali era conhecimento de todos, especialmente Cristina; afinal de contas, ela tinha também uma campanha para movimentar.

- Sabe, é até engraçado, - Cristina disse. – Eu estive estes dias com o Almirante Westmore, e chegamos a conversar brevemente a respeito disto. – a senadora seguia claramente pela linha de raciocínio que Virgínia esperava que ela fosse, pois é o que Cristina havia sentido dela e de seus outros anfitriões ali.

- Todos nós aqui sabemos bem como a Frota interveio descaradamente fora de sua alçada na Crise do Fundador. – Ela esperou os diversos "sim, claro, claro" cessarem para continuar. – Afinal de contas, fez parte dos planos de Leyton uma intervenção não-autorizada exatamente aqui no DOP.

Cristina novamente fazia menção ao plano do ex-Almirante Leyton durante a Crise do Fundador. Como parte de seu plano para conseguir o controle sob a capital da Federação, Leyton intencionara aumentar o pânico antidominion que imperava na ocasião, para que uma intervenção da Frota na Terra ficasse cada vez mais necessária. Um dos elementos deste plano fora o recrutamento secretamente de um grupo de cadetes da Frota Estelar, os quais foram enviados para se infiltrar no controle central do DOP ali mesmo em Lisboa, e com isto desativar todos os sistemas de distribuição de energia pelo planeta, incluindo as instalações orbitais, mergulhando toda a Terra em um apagão que durou vários minutos. Durante este tempo, um dos planetas mais avançados do quadrante se viu reduzido a geradores de emergência e sem nenhum dos seus sistemas defensivos operacionais. O incidente foi rapidamente atribuído aos fundadores então infiltrados na Terra, mas como se soube posteriormente, os responsáveis por este incidente em particular o haviam feito a mando pessoal de Leyton, em sua cruzada antidominion para assim tomar para si as rédeas sobre a Terra e a Federação, nada menos.

- A Crise do Fundador serviu para mostrar que se deve manter um controle claro sobre a Frota, pois ela não pode pensar que pode passar por cima de qualquer outra instituição da Federação como bem entende. Há o Conselho da Federação, a Assembléia-Geral aqui na Terra, vocês aqui no Departamento de Operações Planetárias, e em todos os outros departamentos.

- Com certeza, Senadora. – Virgínia era a que parecia mais interessada naquelas questões. Não era de se admirar, Cristina pensou. Ela podia sentir um certo remorso ainda presente em Virgínia, e pelo que parecia, este tinha se originado exatamente devido a Crise do Fundador; havia sido durante o plantão dela que o Esquadrão Vermelho de Cadetes da Academia invadiu o DOP a mando de Leyton. Não fora apenas o DOP e o povo da Terra que foram violados daquela maneira naquela noite; Virgínia sentia que havia sido pessoalmente violada, também. O seu orgulho profissional, construído em cima de uma ficha de serviço perfeita, havia sido fortemente ferido.

O grupo continuou debatendo mais sobre alguns outros pontos da campanha, quando finalmente deram por terminada as atividades do dia no que também terminaram suas refeições ali na cafeteria do DOP. O grupo de administradores do DOP declarou para a Senadora que ela podia contar com o apoio deles todos, fosse no trabalho dela na Assembléia-Geral, ou, com sorte, no Conselho da Federação. Cristina agradeceu, e todos se despediram, com o grupo da Senadora voltando para Brasília, e os jornalistas voltando para suas redações em suas respectivas cidades. Havia um bom material ali para ser divulgado, todos eles concordavam.

 

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A longa série de aplausos ainda estava em andamento enquanto Timothy Duke descia do palanque central do Conselho da Federação, e seguia ao longo da mesa principal. A sua apresentação perante o Conselho sobre o progresso do plano de recuperação das colônias no pós-guerra havia tido tanto sucesso quanto havia sido longo, e ele precisava de uma pausa. Duke saiu para a área atrás do plenário principal, e enquanto continuava a andar, foi recebido por um de seus secretários, Márcio Terawaki.

- Mais longo do que eu pensava, chefe. – ele disse, enquanto ambos continuavam a andar apressadamente pelos corredores da seção administrativa do Conselho.

- Da próxima vez, me lembre de não abrir espaço para perguntas, Márcio. – Duke respondeu. Em um rápido movimento ele pegou dois padds oferecidos por uma de suas assistentes que passou por eles pelo corredor, e continuou a andar enquanto passava os olhos pelos dados de um dos padds.

- Você se lembrou de reagendar a reunião em Quito sobre o orçamento para amanhã de tarde? – ele perguntou, antes de finalmente encontrar este item em particular no padd.

- Sim chefe, mas talvez tenhamos que reagendar de novo, - Terawaki respondeu. – O material com as projeções finais das necessidades orçamentárias para a região na fronteira Cardassiana ainda não está totalmente pronto, mas nosso pessoal está em cima disto sem parar.

- E a razão desse atraso seria...

- O fato de que o Embaixador Rigeliano não abre mão de jeito nenhum sobre podermos realocar alguns recursos da região dele para as áreas mais afetadas. – Duke deu um resmungo mais forte, e entregou os padds para Terawaki.

- Ah... mas o Triel é foda mesmo... eu queria ver se a Guerra tivesse sido na região de Rigel, se ele não estaria era enchendo o nosso saco para mandarmos metade do orçamento da Federação para lá. Eu vou falar com ele e me assegurar que ele veja as coisas também do nosso jeito. – Duke e Terawaki chegam agora em uma das salas de conferência internas do Conselho, e o secretário do Embaixador ativou uma dos monitores. – Há algo que eu quero te mostrar, chefe, - um vídeo de três minutos segue-se, feito durante a reunião de Cristina com o pessoal do Departamento de Operações Planetárias. Duke assistiu em silêncio às várias declarações de Cristina e ao resumo das atividades do dia feito pelo Chefe de Operações do DOP.

- Uma versão com mais detalhes deve estar disponível para distribuição dentro de uma meia hora, nos principais centros de notícias da Federação, - Terawaki disse, - Mas eu consegui baixar esta versão em primeira mão.

- Eu tenho que admitir que até que ela citou bons pontos sobre a política de defesa da Frota pelo setor 001, mas quer apostar quanto que o Comando da Frota não vai ouvir nada além das críticas em si dela à maneira pela qual a Frota faz este controle da defesa e administração do Sistema Solar e da Terra? – Duke finalmente disse, quando terminou de assistir por uma segunda vez às imagens.

- Isso sem falar que ela já deu um cutucão em Westmore alguns dias atrás, - Terawaki adicionou. – Mas ela até que realmente tem razão no que diz respeito à presença da Frota ter que ser mais constante nos setores mais externos do sistema solar.

- Ela reclama da falta de presença da Frota no espaço do sistema, e reclama do excesso de presença da frota no espaço dos gabinetes civis da Terra, - Duke sorriu, pela suposta incoerência das críticas da Betazóide.

- Se eu te conheço, chefe...

Duke sentou-se em um dos consoles LCARS da sala de conferência e ativou suas interfaces pessoais. – Você então já vai ter marcado uma coletiva. – Duke completou o raciocínio de seu secretário.

O Embaixador Terrestre pensou por alguns segundos antes de acessar seus arquivos. Dos cinco principais candidatos ao cargo, ele era sem dúvida o mais diretamente ligado ao governo e à Frota Estelar, então seria lógico que Duke acabasse sendo procurado para comentar sobre as declarações de sua rival. Mas qualquer que fosse esta sua reação, Duke desejava que isto não deixasse a entender que ele pensara demais sobre o tema; não, isto teria que ser tratado como se fosse um assunto menor, sobre algo que se poderia esperar de uma candidata que não oferecia grande preocupação ao Embaixador. Ainda que eles já estivessem com tudo na ponta da língua para quando a oportunidade surgisse, a coletiva após o encerramento da sessão do dia ali no Conselho seria bastante apropriada.

- Não será abertamente sobre isto, claro... mas não se pode perder uma boa oportunidade. - Terawaki acrescentou, justificando sua decisão de ter-se adiantado nos procedimentos, como Duke mesmo havia pensado ser adequado.

- Sem dúvida. E só intenciono comentar sobre uma destas duas linhas de queixas de Cristina, de qualquer forma. É tudo o que precisamos. – o Embaixador disse, enquanto fazia algumas anotações para si mesmo no seu sistema pessoal de arquivos.

 

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Earth, D.C.

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Epílogo