Capítulo 2 – Primeiro Movimento

Scott caminhava pensativamente pelo quarto de seu loft no centro da cidade enquanto digitava alguns comandos em um padd que segurava. Sua namorada ainda estava deitada, embora fosse evidente que, pelo jeito que se mexia, ela já havia despertado. Scott foi até a janela e puxou a cortina, revelando a vista que dava para a Avenida Ipiranga, cerca de três andares abaixo, e com as árvores da Praça da República logo do outro lado. A claridade da manhã deixou o quarto bem mais iluminado, o que ele esperava que terminasse de encorajar a garota a se levantar.

- Hummm... – Denise gemeu de sono enquanto olhava na direção da janela, mantendo seus olhos cerrados devido a toda a claridade que entrava. Mas lentamente ela definiu a figura de seu namorado na frente da janela, vestido com uma bermuda e camiseta, e ainda digitando no padd. Ela sentou-se no meio da cama, encostada nos travesseiros e com os lençóis apenas cobrindo-a da cintura para baixo.

- Tem café pronto, se você quiser. – ele disse. Denise olhou para a unidade replicadora do quarto e viu apenas dois donuts e um pão francês. Isso só podia significar que ele havia feito café manualmente, pois ele nunca gostou das variações replicadas. Isso significava também que a cafeteira estava na cozinha, e sua disposição de ir até lá ainda estava sufocada por sua sonolência. A garota se espreguiçou, voltando a ficar deitada novamente, agarrada a um travesseiro, enquanto olhava para Scott.

- Você não vai na redação hoje não, né?

- Só se eu estivesse maluco... – ele respondeu, sorrindo. - Eu já avisei lá que vou descansar por alguns dias antes. Só vou terminar de transmitir este mais novo artigo desta série que eu estou fazendo sobre o movimento maquis.

- Um monte de gente que eu conheço elogiou, Scott. Mas a Senadora Stel gostou mais dos que você fez a respeito da libertação de Betazed. – ela comentou, apoiando sua cabeça com a mão, o ombro afundado no travesseiro. - Bem, mas era de se esperar. Ela perdeu uma porção de conhecidos lá.

- Eu posso imaginar. Mas ela chegou a viver lá alguma vez? Ela é daqui da Terra, não? - Scott perguntou, mas Denise já acenava com a cabeça positivamente, indicando que ele estava certo.

- Sim, ela nasceu em Niterói. Os avós dela foram dos primeiros Betazóides a virem para a Terra depois do primeiro contato deles com a Federação. A colônia Betazóide no Rio de Janeiro é grande, e mesmo os pais da senadora são Betazóides nascidos aqui, também.

- Hum, então ela é terráquea até mesmo de segunda geração... - Scott comentou. - Mas eles têm parentes lá, ainda?

- Ah, não, eles têm sim... a família da senadora é da Décima-Quarta Casa de Betazed, e vários deles têm cargos importantes em uma província, eu não tô lembrada do nome agora. – Denise vivia se recriminando por estes seus lapsos de memória sobre estas informações triviais sobre a Senadora. Sendo a assessora principal de imprensa de Stel, ela acreditava que sempre precisava ter na ponta da língua os dados biográficos de sua chefe, tanto quanto tinha toda as demais informações mais importantes. - A própria senadora morou por vários anos lá, como estudante.

- Eu espero que agora com a eleição, ela não fique ocupada demais para não me dar uma oportunidade para uma entrevista uma hora destas, quem sabe. – Scott especulou a respeito.

- Nããã, claro que não. – Cristina respondeu. O assunto morreu depois que ambos ficaram alguns segundos em silêncio. Scott deitou-se ao lado dela e ficou brincando com alguns fios de cabelo de Denise, até chegar em suas orelhas e ficar mexendo com o dedo a parte pontuda do órgão; ele sabia que a garota tinha um pouco de cócegas ali.

- Ai, pára com isso... – ela levou a sua própria mão até a orelha. Scott apenas sorriu.

- Você sabia que quase toda a vez que eu te apresento para alguém você deixa a pessoa sem entender nada? – Denise inclina a cabeça um pouco em um gesto indicando que não entendeu bem o que ele quis dizer com aquilo. – Quero dizer, você já vai chegando com essas orelhas pontudas suas e cumprimenta as pessoas com um beijo, e desanda a tagarelar, a dar risada... e sempre perguntam para mim, "Ei, essa sua namorada aí foi expulsa de Vulcano ou o quê?", he, he...

Denise move a cabeça da esquerda para a direita em curtos e rápidos movimentos enquanto desdenhosamente mostrava um pouco a língua. – Fique o senhor sabendo que minha parte humana sempre esteve em bons termos com minha parte Romulana, viu?

- Sim, mas você tem que concordar que fisicamente você parece mais com uma Vulcana... acho que os genes humanos do seu pai suavizaram em você a testa gozada dos Romulanos.

- É, eu sei... eu daria uma perfeita espiã para o Império Romulano, já pensou? – Denise disse, enquanto dava uma rápida e marota piscadela.

- Quem teria que pensar nisto não sou eu, mas a Frota Estelar! – ele respondeu. – Vai que é verdade, nunca se sabe... – ele respondeu, enquanto a sua namorava voltava a enfiar a cabeça debaixo das cobertas.

- E agora vai lá buscar o café para mim, - Denise disse, com a voz dela sendo abafada por um travesseiro, - senão eu mando a Tal'Shiar te enquadrar e aí você vai ver o que é bom!

- Sim, "Centuriã"...! – Scott respondeu, sem conseguir evitar dar risada enquanto saía do quarto para ir até a cozinha de sua casa.

 

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Combinando uma arquitetura típica do final do século 22 juntamente com o tradicional estilo parisiense, o grupo de edifícios entre o Boulevard de Grenelle e a Rue de La Fédération era o local de um dos principais centros administrativos da Federação, incluindo o Archer Hall, a sede do poder executivo com o Gabinete da Presidência. E neste momento, pelo setor principal, dois homens estavam se aproximando do gabinete. Os corredores daquele setor eram bastante movimentados, com funcionários indo e vindo tanto em suas rotineiras tarefas, como manter a burocracia administrativa do governo federativo, quanto em outras não tão rotineiras, que não raro eram problemas dos mais diversos tipos, algo bastante comum para o grupo que trabalhava ali.

Gregory Dalton e Jorge Cespedes, dois dos principais homens de ligação do Presidente com o Conselho da Federação e as diversas Secretarias e Departamentos Administrativos, chegaram até a porta principal do gabinete, e encontraram Jalira Drivok, a secretária pessoal de Inyo, enquanto ela trabalhava para encaminhar alguns decretos do dia para o pessoal encarregado.

- Bom dia, Drivok... como está o tempo em Helsinque? – Dalton perguntou, se referindo à cidade onde ela morava.

- Frio, como sempre... mas nada que seja fora do comum. – ela respondeu, sorrindo. Eles retribuíram o gesto, mas certamente não com intenções de um eventual flerte junto. Drivok era da mesma espécie do Presidente, uma Grazeriana, o que não a tornava especialmente atraente para nenhum deles dois humanos. – Ele está com alguém? – Cespedes perguntou, apontando na direção da porta. Drivok balançou negativamente a cabeça, e acenou para eles continuarem. Ambos rapidamente passaram pelo curto corredor da ante-sala até a porta principal.

Ao entrar na sala, logo depararam com a ampla janela, dando vista para a Torre Eiffel, em primeiro plano. Próximo à janela estão colocados alguns sofás e cadeiras, ao redor de uma pequena mesa. Obras de arte de diversas culturas da Federação, e de diferentes períodos, estavam por todo o ambiente, mas a decoração geral do recinto tinha como inspiração o século 17 terrestre. À direita de quem entra é onde está a mesa principal de trabalho, também um móvel antigo, cujo estilo contrastava com o moderno terminal LCARS instalado em cima, bem como outros objetos de decoração e uso pessoal do Presidente. Na parede atrás da cadeira, fica suspenso o brasão de armas da Presidência da UFP, e na cadeira propriamente dita se encontrava o atual ocupante da posição, o Presidente Jaresh Inyo. No momento, ele terminava de ler um relatório em um padd, e ficou pensando em silêncio durante alguns segundos antes de dizer qualquer coisa para seus dois assessores, que ocuparam as duas cadeiras à frente da mesa de Inyo.

- Eu acabei de falar com a Almirante Sitak. Vocês estão sabendo que a comitiva Bajoriana requisitou mais outra nave para a viagem até aqui? – Dalton trocou um olhar com Cespedes, e resolveu falar primeiro.

- Esta é uma das coisas que pretendíamos discutir com o senhor. Aparentemente, não vai haver espaço suficiente na USS Magellan para todo o pessoal que eles pretendem trazer. – Dalton disse, enquanto ele e Cespedes sentavam-se nas cadeiras à frente da mesa. Inyo espalmou as mãos e as balançou rapidamente.

- Sitak me disse que a Magellan é uma nave da classe Galaxy. Eles irão se juntar à Federação ou emigrarem para cá, eu me questiono? – ambos os assessores do Presidente sorriram, ainda que Inyo não estivesse muito propenso a considerar a questão por seu lado humorístico.

- Bem, nos poderíamos providenciar para que alguns oficiais da Magellan façam a viagem na Defiant. - Cespedes sugeriu. A Defiant iria ser a nave de escolta da Magellan na viagem que estava trazendo os representantes bajorianos para a Cerimônia de Ingresso na Federação. – Isto pode nos dar mais algumas cabines para uso diplomático na Magellan.

- Não, podem deixar, - Inyo disse, descartando a possibilidade. – A Almirante sugeriu usarmos a Budapest, que é uma das naves atualmente estacionadas na Deep Space Nine, de qualquer modo. A última coisa que precisamos neste momento é de um incidente devido a uma frivolidade destas. – ele fez uma pausa antes de continuar – Bem, espero que vocês não estejam aqui apenas trazidos por problemas.

- Não senhor, - Dalton disse, entregando um padd para o Presidente. – Aqui tem o relatório final do Departamento de Abastecimento sobre os recentes problemas em Pentara IV.

- Os depósitos e silos em New Seattle foram todos expandidos e reformulados, - Cespedes acrescentou. – Agora eles dispõem de completa capacidade para servirem de entreposto também para os sistemas adjacentes.

- Ah, excelente. – Inyo deu uma rápida lida no padd. – Estava mais do que na hora de Mak conseguir resolver isto. – ele se referia a Makil Rgon, o Rigeliano que era o seu Secretário de Abastecimento. – Fazermos em Pentara um centro de distribuição pode diminuir bem o tempo que as demais colônias levam para serem reabastecidas. – Inyo acessou os bancos de dados com informações a respeito de outros assuntos pendentes, e continuou a despachar com seus dois assessores, debatendo as maneiras mais adequadas para se administrar cada um deles. Apesar de toda a pompa sempre associada ao cargo de Chefe de Estado, este nunca estava livre de ter sempre uma certa dose de trabalho administrativo, certamente.

A Presidência da Federação trata-se de uma extensão da Presidência do Conselho da Federação, ou seja, o chefe do Legislativo também é o chefe do Executivo. Embora este arranjo aparentemente acumule poderes demais sobre uma única pessoa, este realmente não é o caso, pois o sistema governamental federativo baseia-se em uma versão avançada do antigo sistema parlamentarista terrestre. O Conselho da Federação enquanto instituição é que realmente dirige os destinos da Federação como um todo, cabendo ao Presidente a tarefa de liderança, e não de puro controle absoluto. Ao Presidente também cabem as tarefas de coordenação do gabinete de secretários e diretores dos vários departamentos do governo.

A razão de a Presidência não ser automaticamente do "líder da maioria" no Conselho é que tal conceito é inexistente no sistema federativo. Organizações da categoria de "partidos políticos" são bastante regionalizadas na Federação, com cada sistema-membro tendo suas próprias formalidades políticas locais. Em alguns membros, não existe nenhum tipo de agremiações políticas de qualquer espécie, enquanto outros têm estruturas partidárias bastante complexas, e alguns ainda possuem sistemas baseado em casas familiares, câmaras de notáveis, sindicatos profissionais e muitos outros estilos. Todos estes diferentes sistemas políticos internos de cada membro têm apenas em comum algumas regras de conduta internas da Federação, e o reconhecimento por parte dos outros membros de que se tratam de sistemas democráticos, uma vez que isto é requisito básico para admissão na Federação.

Desta maneira, não há partidos políticos gerais para a Federação, não havendo portanto agremiações formais de Embaixadores no Conselho. A liderança do Conselho da Federação é decidida em uma eleição-geral entre os cidadãos, a única que engloba a Federação como um todo. Os candidatos são necessariamente Embaixadores do Conselho, sendo que para alguém poder alcançar o cargo de "Presidente da Federação", este deve primeiro se eleger Embaixador de seu planeta-membro no Conselho. Uma vez lá, esta pessoa agora pode ter a oportunidade de se apresentar como candidato ao cargo de Presidente, e então concorrer na eleição-geral. Desta forma, não é possível chegar-se ao cargo mais alto da Federação sem um duplo escrutínio do povo.

Inyo se elegera Embaixador Grazeliano em 2363, e cinco anos depois ele foi eleito Presidente. Não realmente por ambição de conquista pessoal, mas sim para corresponder a todo o apoio que lhe foi dado por seus compatriotas Grazelianos, e por diversas outras espécies e setores da Federação, que aprenderam a admirar o trabalho de Inyo, e a respeitá-lo como um estadista eficiente. Como todo Grazeliano, Inyo sempre fora um homem sereno e pacífico, e era conhecido por um perfil mais diplomático do que efetivamente o de um político administrativo. Mas, nos últimos tempos, liderar a Federação de Planetas Unidos tem demonstrado ser uma tarefa dantesca, e todas as crises que a Federação enfrentou na última década sem dúvida alguma tiveram seu preço no pacato Grazeliano. Os problemas e crises certamente colaboraram para que o seu refinamento diplomático começasse a conviver também com um certo cinismo, o qual ele aprendera a usar para literalmente sobreviver ao peso das responsabilidades de ser o ocupante daquele gabinete ali na Terra.

Sendo membro fundador da Federação e a sua capital, o planeta Terra tem grande importância na organização. Sua estrutura política em particular ainda guarda muitas características originais da época em que o planeta organizou o seu primeiro sistema de governo global, em torno das Novas Nações Unidas, e portanto, a câmara mais alta do governo local ainda se tratava da Assembléia Geral, localizada na cidade de Nova Iorque. Seus membros são os estados-nações terrestres originais, com as divisões políticas que existiam durante o século 21, mais as novas representações que foram surgindo, como as colônias da Lua, Marte, da lua de Júpiter Europa, e dos demais grupos de colônias menores pelo setor 001, o sistema solar da Terra. Cada membro tem direito a um Senador na Assembléia, e localmente, estes membros também possuem seus Presidentes, Governadores e Administradores para o gerenciamento de suas comunidades, sejam estes membros pequenos como Costa Rica, Cingapura ou Nova Zelândia, até os grandes, como China, União Européia, Marte, e outros.

Na questão de organização partidária, a Terra é um dos membros da Federação que mantém alguma estrutura formal de partidos políticos. Contudo, as atuais agremiações possuem diferenças fundamentais de suas antigas contrapartes de trezentos ou quatrocentos anos antes. Não mais eram monolíticas organizações burocráticas, e as suas estruturas administrativas internas eram bastante enxutas. Da mesma forma, as tendências ideológicas que conduzem estes partidos são bastante diferentes da antiga maneira bidimensional que existiu por séculos na Terra, baseada no conceito de esquerda-e-direita, ou liberais-e-conservadores. Durante o século 20, por exemplo, era comum que, se uma pessoa se identificasse como um "conservador", ela tivesse a tendência de se alinhar automaticamente com os ideais conservadores em praticamente todos os assuntos e temas que havia, como lemmings seguindo por um curso instintivo, mesmo que algumas vezes este curso fosse em uma direção contrária ao que a pessoa podia considerar como o preferível.

Se comparado a este antigo modelo bidimensional, o tipo de posicionamento ideológico atual seria como uma estrutura em terceira dimensão. O cidadão terrestre tem atualmente um posicionamento muito mais crítico e pessoal em relação às questões de sua sociedade, e analisa caso a caso qualquer tema antes de estabelecer uma posição a respeito. Alianças e rivalidades entre políticos terrestres variam de tema para tema, de idéia para idéia, e nunca são baseadas em um "pacote ideológico" fechado. Um determinado partido pode ser um fiel aliado de um outro partido em um dado assunto, mas ambos podem ser forte rivais em outro assunto.

Na verdade, o termo "partido político" chega quase a ser inadequado, uma vez que estas organizações extrapolam as funções tradicionais de um partido. Elas também atuam como "thinker tanks", seja para ajudar diretamente em programas sociais das comunidades, como para fornecer apoio aos seus membros, mas sem a necessidade de um comprometimento ideológico ou de apoio irrestrito a qualquer causa. Além do mais, não existe realmente nenhuma necessidade de filiação a um determinado partido para que alguém possa concorrer para algum cargo eletivo, e estas pessoas que assim escolhem podem agir como independentes.

No total, existem onze partidos na Terra, mas apenas quatro deles têm forte peso real na política e sociedade terrestres. No momento, o partido com maior influência era sem dúvida o Federativo, com o qual a maioria dos representantes na Assembléia Geral se identificava, bem como diversos governos locais importantes. O atual Embaixador da Terra no Conselho da Federação, Timothy Duke, também é um Federativo, e o próprio Presidente Inyo e muitos do seu gabinete se alinham com os Federativos, embora Inyo e a maioria deles não sejam membros formais.

O Partido Humanista é o mais antigo dos quatro, e data da época imediatamente após a fundação da Federação. Apesar do nome, seus ideais englobam todas as espécies inteligentes, humanóides ou não, e por boa parte do século 23 fora o partido com maior influência na Terra, mas perdeu gradativamente esta posição para os Federativos, durante o século 24. Mas ainda mantém em suas fileiras várias eminências pardas do quadro político terrestre e federativo, além da simpatia de importantes diplomatas de outros mundos da Federação, como Lwaxana Troi, a representante de Betazed no Conselho, Zritk Pvalev, o Embaixador Andoriano, e ainda o Embaixador Spock. De certa forma é o mais tradicionalista dos quatro, e seus membros se consideram os mais alinhados com os mais puros ideais da Terra e da Federação de Planetas Unidos.

Os Comunitários têm um estilo bastante distinto das outras três principais agremiações políticas da Terra. Este partido destaca-se principalmente na administração e gerenciamento de pequenas comunidades como cidades em geral, províncias estaduais e colônias pequenas no Setor 001 fora da Terra, como em Vênus e nas colônias além do cinturão de asteróides. Não é surpresa, portanto, que um grande número de prefeitos e conselheiros municipais sejam comunitários, uma vez que este grupo é o mais atuante em questões relacionadas a administrações municipais. Ainda assim, há vários comunitários em altos cargos nos escalões mais altos do governo da Terra, como vários juízes da Suprema Corte, tanto da Terra como a Geral da Federação.

Já o Partido Progressista é no momento o grupo que mais cresce no cenário político da Terra, e tem se destacado bastante nos últimos tempos; Cristina Stel, a Senadora pelo Brasil na Assembléia Geral é uma progressista. Não é raro se encontrar um progressista em meio a discussões polêmicas sobre algum tema, mas suas posições sempre são defendidas com base em discussões bem articuladas e ponderadas. O partido é também o grupo com a maior porcentagem de não-humanos em suas fileiras, com mais de 60% deles sendo seus eleitores. Isto faz dos progressistas a agremiação mais cosmopolitana da capital da Federação, que por si só já se trata de um dos membros mais cosmopolitanos de toda a Federação, uma vez que cerca de 30 por cento da população do planeta é composta por espécies que não a humana.

Inyo entregou o último padd no qual entrara com o seu código de autenticação para Cespedes, e girou a cadeira para o lado, levantando-se para ir se servir de uma xícara de chá no balcão ao lado da janela.

- A propósito, Duke já oficializou a formação do comitê da cerimônia de aceitação do Embaixador Bajoriano no Conselho? - Inyo comentou, enquanto adoçava o chá com algumas ervas grazelianas.

Cespedes fez uma rápida anotação em um dos padds antes de responder. – O comitê será basicamente composto pelos mesmos embaixadores da última vez. – Inyo tomou um leve gole do chá e colocou a elegante xícara em sua mesa.

- Hum. Com a eleição se aproximando, não é surpresa ele ter feito questão de ser o chairman da admissão de Bajor na Federação. Façam o seguinte, - Inyo sentou-se. – Contatem-no e marquem uma reunião para amanhã de tarde. Assim poderemos começar a discussão sobre como será a implantação das políticas nacionais da Federação em Bajor, além de podermos usar o ensejo para discutir com ele alguns pontos de sua campanha.

- Ao menos ele não poderá reclamar que o Archer Hall não dá a ele a atenção que merece, - Dalton comentou, enquanto ele e Cespedes se levantavam para saírem.

- Como se vocês não o conhecessem, - Inyo comentou, enquanto seus assessores pediram licença, sorrindo.

 

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- Você não gostou, então?

Zhaav acabava de chegar na mesa de reuniões do gabinete do Senador brasileiro, acompanhada de sua amiga humana-Romulana. Ela sentou-se no seu lugar de sempre, enquanto Denise ficou apenas apoiada na mesa, ao lado de Zhaav.

- Ah, eu não. – Denise respondeu para sua amiga, fazendo uma careta. – o Scott adorou, claro. Só vocês mesmo para terem gostado. - Zhaav franziu uma sobrancelha, e lembrou-se de que realmente o estilo da montagem teatral que havia sugerido para Denise ir assistir com o namorado não combinava muito mesmo com ela. Denise continuou. – E tem o fato de que eu também detesto usar o tradutor universal para letra de música, e enche o saco ter que ficar toda hora vendo o padd da programação do evento... você e o Scott ao menos sabem bem Klingon, então é bem mais fácil. – Denise havia ido com Scott assistir a uma ópera Klingon que Zhaav havia sugerido, Gre'thor Swov, com uma montagem em cartaz no Teatro Wang, em Boston.

- Eu também não entendo muito não, Denise, - Zhaav lembrou-lhe de que não era totalmente fluente no idioma. – Mas de fato o estilo dos versos de Keedera é bastante sofisticado. – as duas garotas trocaram mais alguns detalhes do enredo da ópera até que Zhaav repentinamente interrompeu a conversa.

- Espere... a senadora está chegando, vamos nos aprontar. – ambas as garotas sentaram-se, enquanto Cristina chegou no local, acompanhada de David, Tolia e outros dois membros de sua equipe, um Vulcano, Vortik, e um humano, Marcos Diller.

- Quando é que eu vou conseguir mascarar a minha aproximação destas antenas suas, hein, Zhaav? – Cristina perguntou sorrindo, enquanto todos se sentavam. A fisiologia Andoriana de Zhaav lhe permitia identificar uma série de aromas, sons e até mesmo campos eletromagnéticos com as suas antenas. Depois do grupo trocar mais algumas amenidades, Tolia ordenou ao computador erguer o escudo acústico em volta da mesa. Um campo de força de baixa emissão cercou o local, o isolando acusticamente para que as conversas ali não incomodassem o restante das pessoas no gabinete, e vice-versa. Além, claro, de fornecer maior privacidade para discussões de assuntos mais delicados, e também de filtrar possíveis dispositivos transmissores não-autorizados. Ainda que se tratasse de um escudo de força, não era necessário desligá-lo para se entrar ou sair, pois o ajuste permitia a passagem de matéria densa.

- Muito bem, pessoal, - Cristina começou. – A formalização da candidatura para o Conselho será no começo da próxima semana, como já havíamos debatido antes. Isto nos deixa agora com outros dois pontos principais para resolvermos. Um é o plano principal de metas. E o outro é qual vai ser a nossa estratégia básica da campanha, e o que devemos esperar de oposição.

- E precisamos sair daqui com ambos definidos, ao menos nas questões principais, - David acrescentou. – Senão estaremos ficando para trás no cronograma, e os demais candidatos já estão certamente se movendo.

- Assim sendo, acredito ser lógico começarmos pela estratégia de campanha, - Vortik disse. – Poderemos dedicar desta forma mais tempo e esforço para fazermos o Plano de Metas, e ao mesmo tempo ajustarmos quaisquer itens necessários na estratégia que venha a ser necessário.

- Concordo, - Cristina decidiu começar então pela estratégia. – Vamos primeiro repassar a turma que vai disputar essa justa conosco. David? – todos ali voltaram sua atenção ao monitor principal em uma das cabeceiras da mesa, enquanto David se posicionou em pé ao lado. Uma imagem do palanque do Conselho apareceu, com alguns Embaixadores na mesa principal, mas com o representante da Terra no centro da imagem.

- Este é claro não precisa de apresentações, - David disse, passando pela frente do monitor. – Timothy Duke, o atual ocupante do cargo, concorrendo ao terceiro mandato, um dos Embaixadores de confiança do Archer Hall, yada, yada, yada, - Tolia e Vortik revisaram algumas informações em seus padds, enquanto David repassou alguns pontos mais detalhadamente. Um humano natural das colônias na Lua da Terra, Timothy Duke teve diversos cargos públicos regionais, incluindo o de Prefeito de New Berlim. Por volta de 2360, Duke ingressou no primeiro gabinete formado por Inyo, durante o seu primeiro mandato na Presidência da UFP. Duke participou primeiro como parte da equipe de Inyo no Archer Hall, e depois no cargo de Secretário do Exterior. Inyo adquiriu grande confiança em Duke, e desejava que ele assumisse também uma posição no Conselho. Com este apoio, Duke se elegeu Embaixador da Terra em 2370, e desde então tem ajudado o Archer Hall a compor diferentes bases de apoio no Conselho para a aprovação dos diversos projetos do governo federativo.

- Alguém precisa lembrar a Duke que ele é o Embaixador da Terra no Conselho, - Cristina disse, rolando seus olhos. – E não o Embaixador do Archer Hall. Vários colegas meus... e eu também, ora, achamos que Duke nos desdenha demais, e até mesmo aos Governadores locais. Ele mal aparece na Assembléia Geral, como vocês sabem...

- Podemos usar isto a nosso favor, certamente, - Vortik sugeriu. – O fato de que ele aparentemente prefere interagir bem mais com o Archer Hall do que diretamente com a comunidade que ele representa no Conselho não é algo consideravelmente elogiável. – David ordenou o computador avançar para outra ficha de dados, e a tela mostrou a imagem de um Andoriano de meia-idade, na escadaria de um edifício público, cercado por algumas outras pessoas.

- Outro que já confirmou sua candidatura é Writek Zirot, - David anunciou, enquanto Cristina colocou a sua mão no rosto em um gesto de lamentação.

- Argh, - ela disse. – Eu não suporto esse homem. Ele é um dos Comissários do Departamento Sanitário Terrestre. Ele sempre aparece toda a vez na Assembléia Geral com um pepino para resolver, o qual ele sempre diz que é nossa culpa. E sobre cada detalhe burocrático... Zirot é crica demais.

- Mas ele é crica ou é exigente? – Zhaav perguntou. Era um traço típico de Andorianos terem um gênio forte e uma certa teimosia.

- Não, ele é crica mesmo, Zhaav. Faz cada coisa que você não acredita. – a Betazóide confirmou.

- Ele vai concorrer pelos Comunitários? – Tolia perguntou. – Não é típico deles tentar cargos no governo federativo.

- Algumas lideranças do partido têm argumentado que eles precisam de pessoas em esferas mais altas para poderem ter modos de delegar mais recursos às pequenas comunidades, - Diller disse. - Zirot concordou em concorrer para um cargo em uma esfera mais alta exatamente por este motivo.

- A preocupação com as comunidades locais é algo que não difere em nada do que nós também pensamos, - Vortik adicionou. – Seria razoável considerarmos uma eventual aliança com os Comunitários, se o cenário ficar desfavorável à campanha de Zirot. – Cristina fez uma careta a esta possibilidade, mas isto tinha mais humor do que necessariamente repulsa.

- Fica anotada a possibilidade, - David disse, e passou para o candidato seguinte.

- Concorrendo independentemente, Willian Duarte e Ronaldo Triev não devem oferecer muitos problemas para nós. Duarte é ainda muito pouco conhecido, e a sua experiência em cargos públicos é limitada, pois a maior parte de sua carreira fora como engenheiro da Frota Estelar e mais tarde como Diretor da Comissão de Normas e Padrões Técnicos da Federação. Ele provavelmente está nesta para fazer nome. Já o Primeiro-Magistrado de Cuba, Ronaldo Triev, é uma figura de peso, e tem uma boa reputação, tanto nos meios acadêmicos como na opinião pública em geral, mas sem uma forte base de apoio ele vai apenas correr por fora.

- Mas só espero que não acabe ganhando um monte de votos de segunda e terceira seqüências e nos atropele na reta final, - Cristina brincou. David terminou com a revisão de mais alguns dados gerais sobre a situação atual dos candidatos no processo inicial da campanha.

- Quem está com as previsões de porcentagens? – Denise perguntou, enquanto revirava uma série de padds perto de si, enquanto Diller se levantava em direção à tela principal.

- Nós já vamos ver isto, Denise. Ainda falta algum ajuste fino nas projeções de algumas áreas, mas já vão dar para termos uma boa idéia com os números que temos. Marcos? – David disse, retomando o seu lugar.

- Em relação a intenções gerais de votos por regiões, Duke certamente deve conseguir boas margens na Lua, bem como a União Européia, mas eu não acredito que ele tenha grandes chances na África Unida e nas Américas, principalmente na do Norte, - Marcos Diller acionou alguns comandos em seu padd, e uma tabela surgiu na tela principal. – Vamos precisar então de um bom trabalho na Lua e na Europa, para termos pelo menos o maior número possível de votos na segunda seqüência. – Enquanto Diller entrava com mais alguns dados no computador, a tabela mudava as previsões de votos na tela para refletir os diferentes cenários que estavam sendo calculados.

O sistema federativo eleitoral é baseado em um sistema de votos seqüenciais, ou em outras palavras, um "segundo turno instantâneo". Este estilo eleitoral surgiu no início do século 21 na Terra, tendo sido usado pela primeira vez em larga escala em uma das primeiras eleições para prefeito de Londres.

O sistema atual prevê que, no dia da votação, o eleitor deve acessar por qualquer terminal LCARS o sistema eleitoral, e passar pelo processo de identificação. Isto feito, ele então entra com o seu voto principal. Logo em seguida, na chamada segunda seqüência, o eleitor marca o candidato que ele preferiria que ganhasse a eleição, fora o candidato favorito dele. E em seguida, na terceira seqüência, o eleitor marca o candidato que tem a sua preferência em seguida deste.

Na apuração, os votos são computados de acordo com o seu peso. Os votos de primeira seqüência valem três vezes o seu número, os de segunda seqüência valem duas vezes, e os de terceira valem uma vez o voto. Apesar de não serem raros os casos em que o candidato que ganha em primeira seqüência não ganha a eleição, este sistema tem se mostrado eficiente por sempre dar a vitória ao candidato em torno do qual há um maior consenso público.

Marcos parou por alguns instantes de descrever as projeções e refez alguns cálculos sobre algumas áreas em particular. A Ásia estava lhe dando mais trabalho do que ele pensara inicialmente.

- Agora, a Ásia realmente é uma incógnita. – Ele finalmente disse, continuando a relatar os números. - O Sudeste Asiático está com bastante indecisos na primeira seqüência. O Japão deve dar bons votos para Duke, mas nós temos uma boa base de apoio na Índia.

- Não sei, não, - disse Zhaav. – Depois de a Assembléia Geral ter cancelado os recursos para upgrade no sistema de controle meteorológico do subcontinente indiano... a senhora não estava neste comitê? – perguntou a Andoriana.

- Sim, mas eu não era a Chairman. Além do mais, os recursos não foram cancelados, - A senadora fez uma expressão contrariada. - Eles foram realocados para outras áreas devido à Guerra Dominion, e ainda estão sendo revistos, assim como um monte de outras coisas. – Marcos continuou a rever as previsões.

- Apesar de a senhora não ser bem conhecida em Marte, a última pesquisa mostrou um crescimento surpreendente, especialmente em Utopia Planitia, então acho que temos uma boa margem de manobra ainda para conseguirmos por lá. Mas a China será uma disputa difícil... o quadro está bastante empatado, pelo que parece... e a comunidade Vulcana na China é bastante influente. Segundo consta, eles vão votar em peso em Duke, e sempre são forte influência sobre outros eleitores.

- Vulcanos sempre votam em grupo em um particular candidato, - Vortik confirmou. – Desta forma, este apoio sempre é correspondido pelo candidato, e portanto é algo...

- É lóooogico... – todos ali disseram juntos, com alguns abrindo os braços em gestos irônicos de compreensão.

- Bem, Vortik, eu só espero que você então não siga a tendência da sua colônia, - Cristina disse. Vortik acenou com a cabeça para a sua chefe.

- A senadora pode contar com minha lealdade. – ele responde, no seu tom neutro de sempre, o que lhe valeu um sorriso. - Mas se pudermos conseguir um bom número de votos Vulcanos na segunda seqüência, isto será de grande auxílio. Vulcanos espalham mais as suas segundas e terceiras preferências por um número maior de candidatos.

- Se o Embaixador Spock estivesse na Terra, o apoio dele poderia fazer uma diferença enorme, - Denise comentou. – Uma boa parte do nosso grupo e os Humanistas o têm em grande consideração. Mas o paradeiro dele em Romulus ainda é motivo de bastante controvérsia, e o Archer Hall tenta sempre manter panos quentes no assunto.

- Falando neles, os Humanistas não vão lançar ninguém? – Tolia perguntou.

- Não, não desta vez, - Marcos confirmou. – Eles optaram por esperar uma melhor definição do quadro político após a guerra. Mas estão abertos a alianças. Eu tenho informação boa de que os Federativos estão pensando em propor uma a eles.

- Rá! Os Humanistas não vão aceitar nem debaixo de pau. – Zhaav afirmou, espalmando a mesa. – Acho que nós é quem deveríamos tentar alguma coisa com eles.

- Eu acho que podemos conseguir algo sim, - disse a Senadora. – Alguns dos senadores mais próximos a mim na Assembléia Geral são Humanistas, vou falar com eles. Além disto, há também a Embaixadora Troi, ela é uma velha amiga da família. Troi é uma forte simpatizante dos Humanistas, e tem boa influência com eles... na verdade, nós já não tínhamos algo marcado com ela, Denise? – Cristina se virou para sua assessora.

- Bem, a eleição não é um dos assuntos que vocês tinham combinado de discutir, mas a oportunidade vai ser boa, - Denise confirmou. - Eu já entrei em contato com a representação Betazóide, e Troi ainda está no momento em Betazed, mas ela vai estar presente no Conselho na cerimônia de ingresso de Bajor. Eles me disseram que Troi confirmou que deseja se encontrar com a senhora, então isto não será problema.

- Ela mais viaja do que vem em reuniões do Conselho, - Cristina comentou. – Eu só espero que se ganharmos, não sobre para eu ter que ocupar também a cadeira de Betazed enquanto Troi viaja, - a senadora brincou a respeito de sua conterrânea, o que provocou alguns risos.

O grupo continuou o debate sobre as análises eleitorais e as estratégias de campanha por mais um par de horas, e seguiram noite adentro planejando o Plano de Metas, que se trataria do alicerce principal da campanha da Betazóide para o Conselho. Quando Cristina finalmente formalizou o encerramento da reunião, com o padd do Plano de Metas e a estratégia de campanha prontos e codificados ali em cima da mesa, vários deles ali se espreguiçaram, enquanto outros terminavam as suas últimas canecas de café das várias que já estavam espalhadas na mesa, com todo o restante do material de trabalho.

- Uff... – Marcos gemeu. – Se eu ficar sentado só mais um pouco, vou deixar de ser uma forma de vida humanóide...

- Você é muito mole, Marcos, – Zhaav brincou com seu colega, dando um leve tapinha nas costas do humano, enquanto ele flexionava os ombros. Os demais arrumavam seus materiais e terminavam algumas anotações. Tolia serviu-se do restante de café em uma das garrafas.

- Bem, e agora... – a Boliana perguntou enquanto terminava o seu café.

- Agora... bem, agora a diversão começa. – Cristina disse, a sua mão esquerda segurando seu queixo, enquanto seu cotovelo se apoiava no braço da cadeira. A sua mão direita não estava desocupada, girando displicentemente o padd na mesa em torno de seu próprio eixo.

 

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- Você acha que consegue? – a híbrida humana-Ktariana sentada na frente de Scott perguntou. Após ter usado um bom tempo da manhã para se atualizar das novidades e cumprimentar seus colegas, Scott estava reunido com sua Editora-Chefe, Amanda Jrovit, no edifício-sede do Philadelphia Inquirer, o jornal em que trabalhava.

- Bem... muitos tentaram, todos falharam... – ele finalmente disse, em um lento tom para um toque irônico. – Mas falando sério, se você mesmo me disse agora há pouco que informações sobre este assunto têm sido algo com fontes bastante restritas, eu não posso garantir nada, você sabe. Mas não custa tentar... isso nos daria um ótimo material para esta série de artigos sobre os maquis.

Amanda concordou com seu repórter. Ela aprendera a confiar no senso de realismo de Scott, e nas suas opiniões. Esta era mais uma das razões que haviam feito com que ela tivesse vindo para o Inquirer acompanhada de Scott em sua equipe, depois de ele ter passado um tempo na SNF, a agências de notícias da Federação. Ambos discutiram mais alguns detalhes da pauta em que Scott iria trabalhar, além de outros assuntos de política extraplanetária, um dos campos em que Scott tinha especialidade.

Após a reunião, Scott se reinstalou em sua mesa, em uma parte da redação principal próxima a um ampla janela com vista para o norte da cidade. Scott começou a trabalhar em um rascunho inicial de seu próximo artigo, e depois de algum tempo redigindo a parte introdutória e alguns parágrafos de desenvolvimento, ele girou sua cadeira, e olhou para o lado, pensativo. Scott observou a vista da ampla janela bem ao lado de sua mesa, mostrando a Benjamin Franklin Boulevard e o Museu de Arte em primeiro plano. A ensolarada manhã refletia belamente na neve que caíra na noite anterior, e Scott ficou admirando esta paisagem enquanto pensava em como poderia continuar com o texto.

Sendo um dos especialistas em política Cardassiana da redação, e tendo passado os últimos meses estudando mais a fundo as questões da crise da Zona Desmilitarizada de alguns anos antes, ele conhecia bem a maioria das boas fontes de informações sobre o movimento maquis. Mas como ele havia dito para Amanda, em relação a este capítulo em particular, só haveria uma única opção de pesquisa, e ele esperava poder conseguir algo dela, coisa razoavelmente difícil de se fazer.

Scott entrou com alguns comandos no seu console LCARS e depois de alguns segundos a imagem de uma jovem oficial da Frota Estelar surgiu na tela, meio de lado, enquanto entregava alguns objetos para uma pessoa próxima.

- CTS, no que posso ajudá-lo? – a Alferes disse, identificando-se como uma operadora do Controle de Transmissores Subespaciais, instalado no Centro de Comunicações da Frota, em São Francisco.

- Oi, o meu nome é Scott Ross. Eu tenho um amigo trabalhando no Projeto Pathfinder, Tenente Michael Dennis, eu poderia falar com ele?

- Oh, um momentinho, que ele acabou de chegar... Tenente? – A Alferes se inclinou um pouco, para chamar alguém que estava fora do campo de visão do monitor. – Ele está indo para a sala dele, e já vai te atender. – a imagem mudou para o logo do CTS, e depois de alguns segundos Michael surgiu no monitor.

- Porque será que quando me falaram aqui que uma mensagem de "Scott Ross" estava chegando, eu fiquei com a impressão de que vai sobrar algo para mim? – foi a primeira coisa que ele disse assim que viu seu amigo na tela, um homem humano de cabelos castanhos.

- Talvez porque eu sempre te peço alguma coisa quando te contato? - o sorriso de Scott não tinha a intenção nenhuma de esconder para seu colega que esta rotina não iria ser quebrada desta vez. Ambos se conheciam desde o tempo que freqüentaram a mesma escola juntos, em Cuppertino. Mike preferira seguir uma carreira na Frota, entrando para a Academia, e desde então tem sido membro importante de diversos programas relacionados a tecnologia de comunicações espaciais.

- E aí, como você está, cara? – Mike continuou. – Faz um tempo que eu não vejo você, e a Denise... aliás, como ela está?

- Está ótima, mas quase ficando doida com a correria em que está devido à próxima eleição. E quanto a Julia? Vocês têm se visto ultimamente, ou nem?

- A nave dela está a caminho aqui do Setor 001, e talvez dê para nos vermos. Se marcar até daria para nós quatro combinarmos algo, vamos ver. - Scott concordou, e decidiu já tocar no assunto que o levou a contatá-lo.

- O negócio é o seguinte, Mike. Eu precisaria de um grande favor seu. Existe alguma maneira de eu conseguir mandar uma série de mensagens para a tripulação da USS Voyager?

Mike apenas sorriu, enquanto cruzou os braços relaxadamente. - Ah, pronto! Entra na fila. Sabe quantos pedidos deste tipo nós recebemos todos os dias?

- Garanto que poucos com a relevância do meu, cara. É um programa de entrevista interativa para alguns dos ex-maquis a bordo. Eu estou trabalhando em uma série de artigos sobre a história do movimento, e um deles eu pretendo fazer a respeito desse pessoal na Voyager. – Scott se referiu ao programa de computador que planejava usar para programar as perguntas. Embora todas as questões fossem pré-escritas, um algoritmo de inteligência artificial iria determinar a ordem e maneira com que as perguntas iriam sendo feitas, baseado nas respostas do entrevistado. Não era algo tão bom quando uma entrevista em tempo real, mas já que não havia esta possibilidade, este sistema iria ser um bom paliativo. – Sabe como é, ter a visão deles dos acontecimentos aqui no quadrante Alfa nos anos em que eles estiveram fora.

- Ah, e ainda por cima você quer mandar um programa junto, então? Não me diga. E que mais você precisa, fala para mim? – Mike perguntou.

- Vamos lá, não deve ser tão difícil assim... não é um volume muito grande de dados.

- A triagem do material que vai no pacote mensal é muito rígida, Scott. A lista de todo o material para ser enviada para a Voyager está tão longa que poderia alcançar o quadrante Delta por si só. Nós tivemos alguns problemas recentemente, e fazer o procedimento para enviar todo o material acumulado tem feito nós queimarmos as pestanas. E você quer que eu enfie ainda mais coisa nos pacotes?

- Vocês não têm cotas para material jornalístico e de informações? – Scott perguntou. De fato, a Frota Estelar estava liberando de tempos em tempos material recente sobre a situação da nave no quadrante Delta, e da mesma forma enviava para eles notícias e informações gerais sobre o quadrante Alfa.

- Bem, claro que sim. Mas já tem um monte de coisa na frente. Fora isto, apenas familiares da tripulação têm cotas de mensagens garantidas, e mesmo assim dentro de certos limites. – Mike acessou alguns comandos no console ao lado do monitor, e em ambas as telas uma listagem surgiu. – Está vendo isto? É a listagem dos arquivos de domínio público que estão programados para irem nos próximos quatro pacotes mensais. O algoritmo de compactação está praticamente no máximo que se pode usar.

Pelos títulos daqueles arquivos, parecia haver de tudo ali – notícias gerais, material de entretenimento, apresentações esportivas, livros, crônicas e ensaios, jornais técnicos, templates de replicação de pequenas novidades, e uma longa lista de outras categorias. Scott balançou a cabeça compreensivamente enquanto lia, e voltou sua atenção para seu colega.

- Sim, eu entendo... mas sei que você pode pensar em algo. Além do mais, você me deve. – Scott disse, com uma voz mais profunda. Mike sorriu levemente antes de responder.

- Que te devo coisa nenhuma! É sempre eu que faço as coisas para você, não me venha com esse seus lugares-comuns...! – Ambos trocaram algumas risadas. Depois de pensar por alguns segundos, Mike voltou a falar.

- Hum. Vamos fazer o seguinte. Eu estou pensando aqui em um jeito de quebrar o seu galho, mas eu vou precisar dar uma verificada em algumas coisas antes. Quando eu já tiver alguma coisa, eu entro em contato, coisa de alguns dias. Está bem assim?

- Então está então, Mike. Eu sei que você fará o melhor que puder. Fico no aguardo. – Ambos se despediram, e Scott desligou o monitor, que voltou a mostrar o seu desktop LCARS personalizado. Parecia que ele não tinha muita escolha no momento mas aceitar a intenção inicial de seu amigo estudar alguma possibilidade. Ele sabia que se tivesse alguma maneira, Mike daria a chance para ele, mesmo que fosse algo limitado. E já seria alguma coisa.

 

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Earth, D.C.

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Epílogo