Capítulo 9 –
Cavaleiros Fantasmas
Tanto aquela região
remota no hemisfério norte de Chin'Toka Prime como a Ilha Mretet
tinham uma densidade demográfica baixa, mas mesmo que algum
Cardassiano por acaso tivesse observado os diversos flashes
luminosos no céu da madrugada, certamente imaginaria serem
clarões de alguma das batalhas espaciais que tem ocorrido em
órbita, devido a todas as mudanças políticas que estavam
ocorrendo no seu mundo. Os dirigentes atuais do Empok não estavam
informando muito, mas sim apenas dizendo para a população em
geral "não se preocupar" com toda a atividade estelar
dos últimos tempos. Portanto, este eventual observador pararia
por alguns instantes para observar os clarões, e continuaria
seguindo pelo seu caminho, imaginando ser apenas alguma troca de
tiros entre naves.
Bem, ele não estaria
de todo errado.
Primeiro, correram em
direção à superfície três flashes luminosos, com dois
desaparecendo no horizonte, e um atingindo o mar muito ao longe,
mas ainda assim possível de observar-se da Ilha o local do
impacto. Após isto, cinco outros clarões cortaram o céu, mais
lentamente, e desapareceram em um vale no interior da ilha. Após
estes eventos, a noite em Mretet voltou a se acalmar.
Os locais da queda
destes últimos cinco torpedos quânticos Klingons em especial
eram ocupados por um pequeno bosque silvestre, já longe da linha
do litoral. Mas os pontos em que eles caíram não parecia
danificado pelo impacto, pelo contrário. Desafiando a gravidade e
o bom senso, estes cinco torpedos caíram muito suavemente. Não
era de se espantar, contudo; eles haviam sido projetados para tal
manobra.
Depois de um par de
minutos da queda, a Tenente Pava Aqabaa ativou o mecanismo de
trava, e a tampa externa do torpedo Klingon na qual ela se
encontrava se soltou, caindo para o lado. Aqabaa segurou
rapidamente a tampa, para que ela não caísse ruidosamente no
chão, e se levantou devagar. Estava tudo escuro, mas ela podia
notar que se encontrava no meio de algumas árvores. A Andoriana
ativou sua visão noturna e saiu do torpedo, rapidamente tratando
de retirar seu equipamento de dentro, que consistia em um rifle
feiser e uma mochila, e depois arrumou alguns ítens.
Assim que ela terminou
de colocar a mochila nas costas, suas antenas captaram um
movimento, fraco o bastante para ainda não ser ouvido, mas que
estava se aproximando. Aqabaa destravou o rifle por precaução, e
olhou na direção de onde sentira o movimento.
Do meio de duas
árvores, quatro vultos saíram caminhando na direção de Aqabaa,
mas a voz de um deles fez com que ela confirmasse a
identificação do grupo.
- Pava, você está
pronta? – perguntou o Tenente-Comandante Dennis Muller, líder
daquela unidade em particular do Space Assault Service dos
Fuzileiros da Frota Estelar, equipe da qual a Tenente Aqabaa fazia
parte. Muller se aproximou dela, acompanhado por mais um humano, o
Tenente Tiago Vieira e outros dois Klingons. Vieira também era um
dos comandandos de Muller, da mesma forma que a Andoriana,
enquanto os Klingons, K'trar e Rqutek, eram oficiais de campo da
Nona Guarda, e foram designados a participarem do time ESTRELA da
operação, juntamente com aqueles integrantes do esquadrão Gama
das SAS. O local estava bastante escuro, mas todos também estavam
com capacidade de visão noturna. Os humanos e a Andoriana estavam
utilizando o visor que equipava a Hazard Suit que estavam
vestindo, um uniforme de combate tático da Frota. A Hazard Suit
era bem mais justa ao corpo do que o uniforme de serviço padrão
da Frota, com o qual compartilhava apenas a aparência, uma
vestimenta preta com ombros cinza, e um comunicador padrão da
Frota no peito esquerdo. Fora isto, aquela vestimenta era muito
mais sofisticada, possuindo um limitado suporte de vida, era bem
resistente e possuía ótima elasticidade, isolamento térmico, e
um visor fixo à frente dos olhos do usuário que era conectado a
um tricorder instalado em um dos vários bolsos da vestimenta. Já
os dois Klingons estavam em uma versão de campo noturna do
uniforme regular de combate Klingon, e também equipados com um
equivalente do visor noturno da Hazard Suit.
- Quase, chefe. -
respondeu Aqabba. – Só preciso agora cuidar do torpedo. – A
Andoriana retirou um pequeno dispositivo de um dos seus bolsos e o
jogou dentro do torpedo já vazio. Em coisa de dez minutos, aquele
emissor energético iria cuidar para que o torpedo fosse
totalmente desintegrado, ele mesmo incluso, não deixando nenhum
vestígio, fosse de matéria ou de qualquer assinatura residual do
desintegramento, por este acontecer de maneira relativamente
lenta.
- Muito bem, - disse
K'trar, um dos Klingons. – Rqutek, triangule nossa posição.
– com isto, o outro Klingon ativou um tricorder e entrou com
alguns dados nele, enquanto K'trar andou alguns metros até uma
área mais aberta, para observar algumas colinas ao longe, para
tentar reconhecer o local. Ambos os guerreiros eram veteranos da
primeira campanha dos aliados contra Chin'Toka Prime, e desta
forma tinham grande conhecimento da geografia do planeta. Esta era
uma das razões pela qual Muller havia requisitado à Nona Guarda
que K'trar fizesse parte do time. Além disto, K'trar e Muller já
haviam trabalhado juntos em diversas outras operações especiais
antes, e ele sabia que podia confiar plenamente nas habilidades do
guerreiro klingon.
- Nós estamos na grid
176 do hemisfério norte, bem dentro de Mretet, - o Klingon disse,
depois de consultar seus mapas no aparelho. Mretet era uma ilha
razoavelmente grande, tendo um formato mais ou menos oval e mais
de 1400 quilômetros quadrados, e algumas poucas cidades e
vilarejos ao norte. Rqutek continuou a reportar. - Desta forma,
nosso alvo está a 19 quilômetros de distância daqui, nesta
direção. – ele virou o tricorder para o oeste, na direção
para onde se localizava a instalação que era o destino daquela
equipe, ou seja, o local do cativeiro dos reféns mantidos pelo
Empok.
- Hum, nada mal, -
comentou o Tenente Vieira. – a melhor estimativa de precisão
para a penetração com os torpedos foi de 30 quilômetros, pelo
que eles disseram.
Muller deu um tapa no
ombro de K'trar. - Seus companheiros "erraram" os
disparos de torpedo muito bem, K'trar.
- O artilheiro-chefe
da Sompek é aclamado como um dos melhores; nosso
comandante não iria aceitar nada menos. – respondeu o Klingon.
O desembarque do time ESTRELA em Chin'Toka Prime havia sido
realmente o único objetivo do ataque da flotilha das naves
Klingons, de maneira que este desembarque fosse o mais discreto
possível, sem se utilizar quaisquer meios convencionais para
isto, como naves ou teleporte. Desta forma, cada um dos cinco
membros da equipe foram colocados em um torpedo especialmente
desenvolvido para a tarefa. Quando a Sompek se aproximou de
Chin'Toka Prime, disparou os torpedos-transporte de maneira que
parecesse apenas mais disparos comuns contra as naves do Empok,
mas que desde o início estava programado para "errar",
e assim os torpedos iriam "aleatoriamente" rumar para o
planeta.
- Bem, então peguem
suas tralhas e vamos andando, - Muller afirmou. – Temos agora...
1,75 data estelares para a operação, e teremos primeiro que
passar pelo checkpoint alfa, aonde vamos nos encontrar com o nosso
batedor para a missão. – Muller se referia ao agente local da
Inteligência da Frota em Chin'Toka Prime, o qual havia sido
instruído a se encontrar com o time ESTRELA em uma determinada
coordenada a alguns quilômetros de distância do alvo da equipe
na Ilha. Todos ali terminaram de verificar os arredores, para se
certificarem de que não haviam sido eventualmente observados, e
se colocaram em marcha pelo interior da Ilha Mretet.
# # # #
- Dê-me a relação
dos ítens que você já calibrou agora.
A Tenente Coelho levou
um susto pela maneira repentina que o Tenente Cevar Melden usou
para se dirigir a ela, e quase deixou cair o tricorder que estava
utilizando para calibrar alguns ítens do equipamento que o time
NAVE iria utilizar na operação. Ela se virou na direção de
Melden, e com uma cara nitidamente emburrada, pegou um padd ao seu
lado e entregou para ele, que saiu andando para fora do hangar da São
Paulo sem falar nada.
- Mal educado, - ela
resmungou meio que para si mesma, quando Melden desapareceu de
vista. A Tenente-Comandante Sielle, a segunda em comando do grupo
de Fuzileiros da Frota que Rtoget comandava, estava trabalhando
com Coelho, e estava bem ao lado dela.
- Não tome como algo
pessoal, Tenente. – a Vulcana disse. – Melden é Zaldaniano, e
membros desta espécie são conhecidos por sua típica atitude
ríspida.
- Ah, eu sei, mas eles
bem que podiam dar uma maneirada nisto, não? Ninguém tem a
obrigação de ter que aturar estes modos deles só porque eles
são assim e pronto. – ela se virou na direção de Sielle. –
Mesmo vocês Vulcanos não são rudes deste jeito... especialmente
você, Sielle, ao menos pelo que eu tive a chance de te conhecer.
- Muitas pessoas têm
uma visão estereotipada de Vulcanos, eu penso. – Sielle
respondeu. – Certamente controlo minhas emoções com grande
disciplina e exerço minha lógica com muita precisão, mas isto
realmente não é motivo para fazer com que meus associados de
outras espécies fiquem desconfortáveis com minha presença. Há
muitos outros Vulcanos que também agem assim, especialmente
aqueles que não são naturais de Vulcano.
- Mas você é de lá,
não é?
- Minha família é de
Vulcana Regar, - Sielle respondeu. – Meus pais serviram na Frota
durante muitos anos, mas ambos já deixaram a corporação. Meu
pai seguiu carreira política, e minha mãe optou por se
especializar em desenvolver lingerie cerimonial para Vulcanas
utilizarem durante pon-farr.
Coelho não conseguiu
evitar de sorrir ao comentário. – Não disse? Eu nunca conheci
nenhum vulcano que citasse o pon-farr de maneira tão
descompromissada como agora...! – a humana sorriu, mas não foi
acompanhada neste gesto pela sua colega Vulcana.
- Como citei, muito se
baseia em estereótipo. A definição totalmente precisa do que
seria o típico Vulcano é algo que na verdade é bastante
complexo, uma vez que estamos falando de uma sociedade espalhada
por toda a Federação, totalizando uma população de vinte e um
bilhões, novecentos e quarenta e sete milhões, duzentos... – e
Sielle parou de falar quando Coelho levantou sua mão, rindo,
mostrando que compreendia que, como Sielle ali, era possível de
fato alguém ser total e tipicamente vulcano, mas sem sê-lo
dentro do estereótipo normalmente aceito.
A vulcana que
conversava no momento com a pilota da São Paulo era mais
um membro da equipe de fuzileiros que compunham o time NAVE,
juntamente com o Tenente Melden. Tanto Sielle como Coelho haviam
ficado encarregadas de preparar todos os sistemas eletrônicos do
equipamento que NAVE utilizaria, e era um trabalho que demandava
considerável precisão. Os demais membros da equipe de Rtoget,
tendo a ajuda de um time de engenheiros da São Paulo,
estavam bastante ocupados em desempacotar e preparar a montagem
final de todo este hardware, coisa que tinha que acontecer em uma
ordem absurdamente específica, dada as condições bastante
apertadas do local. Eles tinham agora apenas poucas horas para ter
tudo pronto, mas com o esforço demonstrado por todos trabalhando
ali, isto não deveria ser problema.
# # # #
Ainda era noite na
Ilha Mretet, e os integrantes do time ESTRELA já haviam caminhado
cerca de oito quilômetros até finalmente alcançar o checkpoint
Alfa, que nada mais era do que uma coordenada específica dentro
dos bosques de Mretet, aonde um operador da Inteligência da Frota
Estelar iria encontrá-los para trazer as informações mais
atuais sobre a situação no alvo deles, e discutir detalhes
finais da operação. O time ESTRELA se encontrava reunido em
torno de um pequeno aquecedor de plasma, acompanhados de Deltay, o
homem da Inteligência, que tinha aquela função ali em Chin'Toka
Prime havia pelo menos seis anos. Ele era um Halliano, mas havia
sido cirurgicamente alterado para parecer um Cardassiano
Quigoliano, e seu disfarce também envolvia ter de ser um ativo
membro do comércio local, o que lhe dava boa liberação de
tráfego no sistema e lhe foi bastante útil durante a ocupação
Dominion, como estava sendo para aquela ocasião.
Naquele momento,
Deltay já havia repassado todas as atualizações que dispunha
sobre o local do cativeiro, que se tratava de um antigo depósito
de maquinário e armamento do Jem'Hadar. O local em si não era
grande, tratava-se de apenas uma única edificação de mil metros
quadrados em um campo cercado pelo bosque típico da Ilha Mretet e
uma colina, mas esta edificação tinha pelo menos duas dezenas de
níveis de subsolo, fortemente reforçados. Além disto, havia um
forte escudo sendo mantido na área, e diversos guardas tripulavam
torres de controle armadas com canhões feiser, e todo este
aparato fazia com que o lugar fosse praticamente inexpugnável
frente a um bombardeio orbital de naves estelares, por exemplo.
Logo, a finalidade do time ESTRELA seria justamente preparar o
terreno para o assalto por parte dos membros da equipe NAVE, que
já se encontrava a caminho, e era agora sobre isto que todos
debatiam com Deltay.
- Vocês deverão
instalar os estimuladores de busca aqui, aqui, aqui e aqui, -
Deltay disse, apontando para quatro posições específicas em
torno do perímetro da instalação. – É imperativo que vocês
não errem o ângulo de instalação dos estimuladores, caso
contrário eles não irão operar na eficiência necessária, e
não irão conseguir localizar com precisão o ponto em que os
reféns estão sendo mantidos. – O grupo aproveitou o momento
para examinar os aparelhos em questão, pequenas caixas com uma
perfuratriz conectada, de modo a descer uma antena a dois metros
de profundidade no solo.
- Muito bem, Deltay,
prossiga. – disse o Comandante Muller.
- Quando os
estimuladores estiverem em posição, vocês devem assumir
posições nesta colina. – Deltay acionou um comando e a
reprodução holográfica girou e centralizou-se em uma colina
próxima ao alvo. – Aqui, vocês irão cumprir a parte dois e
três de sua missão. A dois envolve ativar as contramedidas que
irão servir para o time NAVE conseguir derrubar os escudos da
área, e a parte três será fornecer qualquer apoio de fogo que o
time NAVE precisar, especialmente apoio de fogo de precisão.
- Quando saberemos que
eles terão resgatado os reféns? – perguntou Vieira.
- Quando estiverem
junto com eles, - respondeu Deltay. – No momento em que vocês
ativarem as contramedidas contra os escudos, os transponders de
suas vestimentas estão sincronizados para se ativar em uma
freqüência específica, e o time NAVE irá vir retirar vocês do
local. – O que Deltay não disse a eles é que o sinal em
questão seria transmitido em EHF, um sinal de rádio subluz. A
Inteligência da Frota costumava usar algumas destas freqüências
em determinadas situações nas quais elas se mostravam práticas,
pois sendo um tipo de transmissão de dados há muito tempo
obsoleto, eram faixas de transmissões que absolutamente ninguém
monitorava para nada, e, portanto, perfeitas para alguns usos
táticos em campo e de curta distância.
Após o grupo trocar
mais algumas recomendações e instruções, todos se prepararam
para deixar o local. Deltay se retirou para retornar à uma das
províncias da Ilha, onde supostamente ele estava "a
negócios" no momento, e os humanos, Andoriana e Klingons
resumiram a marcha na direção do alvo. Tinham agora poucas horas
para estar em posição, e todo minuto era precioso.
# # # #
A São Paulo
navegava lentamente através da borda da nebula McAllister,
impulsionada apenas pelos propulsores de manobra. A nave da
Federação se encontrava agora a apenas poucos anos-luz de
Chin'Toka Prime, na posição marcada para o início da
operação. Os acertos e preparativos que envolveram o equipamento
do time NAVE já haviam sido terminados, e, um a um, todos os
fuzileiros da Frota já haviam sido recepcionados por uma das
outras equipes envolvidas na missão, que a partir dali assumiria
o uso do codinome ESPAÇO, e que havia sido instruída de se
encontrar com NAVE ali naquela nebulosa. Faltava agora apenas o
próprio Comandante Rtoget, que no momento se encontrava na porta
de acesso ao hangar da São Paulo, falando com a Capitão
Parker e a Tenente Naran.
- Eu agradeço por
todo o apoio que nos forneceu, Capitão. – ele apertou a mão
dela, enquanto pegava o seu equipamento para a viagem.
- O seu pessoal se
mostrou bastante flexível também, e estou certa que terão
sucesso. Godspeed, e nos encontramos no ponto de recuperação
combinado.
O Tellariano acionou a
porta e entrou para o hangar. Parker e Naran seguiram para a
ponte, onde Dot estava coordenando as operações.
- Capitão, a escolta
tática ESPAÇO para o time NAVE chegou na hora marcada, e já tem
todos os membros da equipe de Rtoget sob seus cuidados. Eles
estão prontos para partir. – O Trill reportou assim que a
humana e a Bajoriana entraram na ponte. Parker olhou as
informações táticas mostradas no painel principal da nave, e
transmitiu a confirmação final para ESPAÇO, que não demorou a
partir em direção ao sistema de Chin'Toka Prime.
- Muito bem, - disse a
Capitão, assim que ESPAÇO partiu levando o time NAVE. – Acione
em dobra nove para as coordenadas do ponto de recuperação,
Tenente.
- Sim, Senhora. – A
pilota da São Paulo respondeu, e a nave da Federação
também deixou a nebula, para dar uma larga volta circundando o
sistema Cardassiano, de modo a estarem devidamente posicionados
para aguardarem o término da operação.
# # # #
O campo de visão
diante de Vieira tinha uma bela vista, de um pequeno descampado à
frente de uma colina a cerca de um quilômetro adiante da própria
colina em que se encontrava, mas o que interessava mais ao humano
naquele momento era observar o movimento em torno da base do Empok
em que os reféns estavam sendo mantidos, e que era o alvo deles
naquele dia.
Vieira olhou ao redor
de todo o perímetro da base, mas não via nada de incomum a uma
instalação destas, o que naquele exato instante era exatamente o
que ele desejava. Em algum lugar deste perímetro, seus quatro
outros companheiros estavam se esgueirando para instalar o
equipamento que possibilitaria ao outro grupo de Fuzileiros
encontrar os reféns dentro daquela instalação.
Ele aguardou mais um
pouco, e aproveitou aqueles minutos para checar novamente o seu
rifle TR-116, na versão Mark II. Não era a típica arma que
você encontraria nas mãos de um oficial da Frota Estelar, uma
vez que tratava-se de uma arma de projéteis, e não de feixes
energéticos como o tradicional feiser. A Frota Estelar havia
iniciado aquele projeto visando dispor de uma arma que pudesse ser
utilizada em ambientes com muita interferência de campos
inibidores, mas acabou abandonando o programa do TR-116 em favor
de feisers regenerativos. Contudo, os Fuzileiros da Frota
refinaram para si mesmos o projeto da arma para servir como rifle
sniper, uma vez que com os ajustes necessários, ele se mostrou
uma arma admiravelmente discreta, que não deixava sequer um
ínfimo de assinatura residual de disparo, e um eventual inimigo
teria grande dificuldade de perceber de onde vinham os disparos.
Para conseguir descobrir esta informação, uma análise química
era necessária, e seria necessário conhecer exatamente o que se
procurava. Quando fosse possível descobrir de onde os disparos
haviam se originado, o seu autor há muito teria deixado o local.
A versão Mark II do rifle era, portanto, uma arma com altíssima
precisão, e que podia ser tão discreta quanto seu operador.
Depois de algum tempo,
sua atenção foi desviada por notar que pessoas se aproximavam.
Após alguns segundos, Aqabba revelou-se e caminhou semi-agachada
até a posição onde Vieira se encontrava, deitado à frente de
uma árvore caída, entre algumas plantas na extremidade de um
barranco à frente do campo onde era a base Empok.
- Está pronto? – a
Andoriana perguntou, e Vieira respondeu com um tranqüilo hum-hum,
quase inaudível. – O pessoal já está vindo para cá, e então
só precisaremos aguardar.
Vieira olhou no
mostrador LCARS do seu sistema de visor acima-da-cabeça da Hazard
Suit o local onde marcava o tempo estimado para a chegada de NAVE:
T menos 5 minutos. Já era hora de fazer valer sua parte na
operação.
# # # #
- Será que ele
realmente está dizendo tudo que o Conselho tem de intenções em
relação a esta confusão?
- O que você acha?
– Cristina Stel respondeu à pergunta de David Cohen com um tom
nitidamente sarcástico.
Todo o staff da
Senadora Stel estava no momento reunido no Palácio do Itamaraty,
assistindo o vídeo de um debate público ocorrendo entre diversos
Embaixadores do Conselho da Federação, e alguns cientistas
políticos, com o tema principal sendo o agravamento da crise em
Chin'Toka provocado pelo repentino ataque Klingon ao sistema. A
Chancelaria do Império havia divulgado uma nota dizendo que o
Alto Conselho Klingon havia decidido tomar as rédeas para si da
crise, frente à toda a imobilização que a Federação estava
demonstrando. A nota prosseguia dizendo que era de se esperar que
o Império Romulano lavasse as mãos em relação ao problema em
Chin'toka (o que provocou protestos dos Romulanos, certamente),
mas que a Federação não podia se dar ao luxo de lidar apenas
com sua diplomacia quando as vidas de vários de seus cidadãos
corriam grande perigo.
Trovez ameaçou
seriamente retirar a sua Aliança Quigoliana da mesa de
negociações, mas alguns movimentos diplomáticos feitos pelos
representantes da Federação em Cardássia Prime e o Conselho da
Federação conseguindo acalmar os ânimos pelo presente momento.
O debate prosseguia com o Embaixador Duke fazendo uma réplica aos
comentários de alguns dos analistas políticos presentes ao
debate, que estavam especulando sobre se Trovez queria capitalizar
em cima dos desencontros de opiniões e ações entre os aliados,
que aparentemente estavam divergindo bastante sobre qual deveria
ser o curso de ação em relação à crise provocada pelo levante
do Empok em Chin'toka. Trovez estava agora usando a oportunidade
para se fazer de vítima, e acabaria reconsiderando sua posição
para mostrar que podia ser conciliador, era a opinião dominante
no momento.
- Desta forma,
- prosseguiu Duke, - Eu acredito que Trovez de fato só tenha a
ganhar em voltar à negociação para encontrarmos uma saída
pacífica para a crise. A demonstração de força dos Klingons
não pode colocar em risco esta oportunidade, pois todos nós
ainda temos a esperança de conseguir uma resolução que agrade a
todas as partes envolvidas, tantos os poderes aliados como o
governo da União Cardassiana, e o povo de Cardássia, toda ela,
Chin'toka inclusive. Nós apenas desejamos que os líderes do povo
em Chin'toka não percam esta janela de oportunidade.
- Ele só está
falando obviedade em cima de obviedade, - Zhaav comentou. – A
capacidade do Duke de camuflar enrolação como argumentos
sólidos nunca para de me espantar.
- Deve ser só uma
cortina de plasma para tentar minimizar o fato de os Klingons
terem tentado uma operação de resgate e quebrado a cara, - Stel
fez uma expressão de que não concordava muito com esta
afirmação de Tolia.
- Não acho que os
Klingons fizeram isto realmente sozinhos. Eles devem ao menos ter
contatado o Comando da Frota. Se eles obtiveram a aprovação ou
não já são outros quinhentos créditos, entendeu... mas é
difícil de acreditar que a turma do Galbraith não estaria a par
de alguma coisa que eles estivessem armando.
- Bem, você estava
estranhando a falta de ação klingon, - comentou Marcos, com um
sorriso um tanto irônico. – Queria ver só o Duke falar alguma
coisa sobre o que você disse a ele na Assembléia-Geral uns dias
atrás.
- Vamos ter que
esperar sentados, - a senadora comentou, sorrindo de volta.
Enquanto um dos
debatedores comentava as declarações de Duke a seguir, Stel não
conseguiu evitar de notar que Duke deu um rápido tapinha na sua
combadge, mas aparentemente não foi por razão alguma, pois ele
não começou a dizer nada, e nem pediu licença para responder a
algum chamado, o que só ocorreria em uma situação daquelas se o
assunto fosse muito urgente. Contudo, ele não esboçou reação
alguma; Duke parecia estar ouvindo algo, mas apenas isto – e
certamente apenas ele estaria tendo acesso ao eventual áudio de
alguma mensagem destinada a ele.
Stel ficou ali
imaginando se poderia se tratar de algo relacionado à crise.
Provavelmente, a Betazóide ficou pensando, enquanto continuava a
observar o debate.
# # # #
Em uma pequena
estação de controle, em órbita alta de Chin'Toka Prime, um
destacamento de oficiais do Empok estava monitorando toda a
atividade de tráfego no sistema, bem como recebendo a telemetria
de vigilância do sistema estelar de Chin'Toka, o que garantia que
aquele sistema fosse um dos mais bem monitorados em toda aquela
região, especialmente se tratando de captar naves camufladas. O
sistema de detecção de camuflagens que o Empok preparou era
vasto, todo baseado em técnicas modernas de detecção, como
feixes de antiprótons e malhas energéticas, e utilizando-se de
equipamento especialmente desenvolvido pelo Dominion, e tal
aparato já se mostrara eficiente, quando a frota Klingon fora
detectada não muito tempo depois de entrar no sistema. Sem
dúvida era um sistema robusto, e mesmo no caso de aquela
estação ser destruída, haviam também centros de controle
redundantes em alguns dos cruzadores classe Galor que eles
conseguiram capturar quando do levante contra o governo central.
Naquele momento, os
controladores dos sistemas anticamuflagem Empok estavam todos
confiantes de que seu sistema de alerta antecipado poderia captar
todas e quaisquer possíveis ameaças. Na verdade, eles estavam
trabalhando muito, uma vez que aqui e ali emissões naturais de
partículas táquions eram captadas e analisadas, para se
identificar a possível presença de naves camufladas. O sistema
era refinado o bastante para distinguir emissões naturais de
artificiais, uma vez que naves estelares eram corpos grandes e que
tinham um perfil de movimento típico e previsível, e portanto,
as emissões de táquions que se encaixassem neste perfil eram
investigadas, e as emissões naturais eram ignoradas. Uma destas
emissões de partículas táquions no momento estava surgindo e
desaparecendo algumas vezes perto de Chin'Toka Prime, mas de
maneira bastante dispersa, e também se tratava de uma das mais
fracas emissões detectadas naquele dia, logo não recebeu mais do
que apenas alguns segundos de atenção dos controladores na
estação orbital. Isto iria se mostrar um erro.
Quando estas fracas
emissões dispersas de tachyons entraram na atmosfera de Chin'Toka
Prime e se aproximaram a cerca de oitocentos metros da
superfície, um efeito surgiu no céu marítimo na costa da Ilha
Mtrev, que lembrava muito cristais de gelo surgindo e então
derretendo, e dele uma formação de nove escuras naves apareceu.
No centro desta
formação estava a responsável pelo efeito, no caso um shuttle
Romulano da classe Vreenak. A bordo, estavam oficiais
Romulanos nos postos de piloto e navegador, enquanto um terceiro
manejava os controles de um dos mais novos sistemas de camuflagem
do Império, em uma versão adaptada para gerar uma cobertura de
camuflagem para naves que estivessem próximas da nave que tinha o
dispositivo de camuflagem. Além deste, haviam também uma dupla
de oficiais da Frota Estelar, que estavam ali para operarem o
sistema de teleportagem da missão, que tinha que ser habilmente
manejado. O shuttle estava servindo como cobertura de camuflagem
para outras oito naves que no momento escoltava, todas da
Federação, e cada uma pilotada por um fuzileiro da Frota
Estelar.
Gostaria de ver a
cara deles, pensava Rtoget
sobre os controladores orbitais do Empok. O comandante estava
atuando como líder daquela formação de naves da Federação,
que eram unidades do Ghostrider SF Mk-III, um novo projeto de
caça estelar leve da Frota. Era uma nave pequena, que não tinha
mais do que treze metros de comprimento e cinco de largura na sua
parte mais larga, mas que dispunha de bastante recursos para tão
pouco tamanho: era extremamente manobrável, contava com
avançados sistemas de navegação da Frota e podia chegar a
manter dobra oito; contavam também com um novo sistema de
escudos, um canhão de pulso feiser semelhante ao utilizado na
classe Defiant, além de também poder carregar até oito
torpedos quânticos ou outras cargas em um compartimento interno
na parte inferior do caça.
Era uma ótima nave de
se pilotar, pensava Rtoget, enquanto estava confortavelmente
instalado no cockpit do caça, que era equipado um holoemissor
conectado ao seu capacete de sua Hazard Suit. Neste dispositivo
ele podia ver todas as informações básicas da missão. O manche
de pilotagem ficava em um dos consoles LCARS da cockpit, à sua
direita, e tratava-se de uma esfera oval a qual ele mantinha à
sua mão, o que lhe dava um controle bastante natural do
Ghostrider.
O nome fora dado por
um dos engenheiros que participou do projeto, quando ele percebeu
que o desenho final do caça coincidentemente lembrava muito o do
assim chamado F-19A Ghostrider, um caça atmosférico da Terra no
final do século 20. O único porém é que tal aeronave nunca
existiu, tendo sido apenas uma peça de desinformação criado
pelo então Departamento de Defesa dos EUA para ocultar a
verdadeira designação do caça stealth, o F-117A Nighthawk. De
qualquer modo, eram realmente espantosas as semelhanças entre o
fictício caça do século 20 e aquele que no momento ele
pilotava: linhas esbeltas e arredondadas, quase no formato de uma
gota, com duas pequenas derivas verticais na cauda e asas no
formato de semicírculos, ainda que, no caso da versão do século
24, as asas eram na verdade os casulos das pequenas naceles de
dobra. Ao que parece, desenhos retrôs se mostravam bastante
atuais, quando efetivamente desenvolvidos.
Fosse como fosse, o
Ghostrider era um projeto bastante controverso, e Rtoget tinha
conhecimento de que não eram poucas as pessoas, dentro e fora da
Frota Estelar, que eram contra o desenvolvimento de uma classe de
naves daquele tipo, que segundo diziam, ia contra as
características e diretrizes básicas da Frota Estelar e da
Federação. Mas também não era segredo algum que as
necessidades militares dos últimos anos serviram de bom incentivo
extra para se apoiar o desenvolvimento de um caça estelar puro,
que apesar disto não chegou a ficar pronto a tempo de ser
utilizado na Guerra Dominion, o que na verdade era algo que Rtoget
não lamentava... bom projeto ou não, ele certamente preferiria
ver a guerra terminar antes de qualquer coisa.
Mas ainda era um
projeto promissor, e ele tinha esperança de que o desempenho que
o seu esquadrão estava tendo com aqueles protótipos iria
incentivar a Frota a adotar a pequena nave. Além do mais, a
Inteligência da Federação já havia descoberto fortes indícios
de que os próprios Romulanos estavam desenvolvendo também uma
nova classe de naves que se encaixava exatamente na categoria de
caça estelar leve, e portanto, a Frota Estelar logo teria que
possuir a capacidade de eventualmente os enfrentar de igual para
igual.
- Atenção time
ESPAÇO, e vetores dois a oito de NAVE, assumir padrão de assalto
final, - Rtoget disse pelo sistema de comunicação.
- Roger, vetor um. –
Todos confirmaram, e os oito caças manobraram fortemente para
iniciar suas corridas finais contra o alvo. Sielle e seus dois
alas quebraram formação à esquerda do grupo, e Rtroget e seus
próprios dois alas fizeram o mesmo, mas à direita, ambos os
grupos aumentando a velocidade. Melden e seu ala continuaram
escoltando o shuttle Romulano, mantendo o curso direto na
direção da base Empok.
Rtoget moveu a sua
mão no esférico manche, que no seu caso era especialmente
desenhado para a de um Tellariano, e com apenas alguns sutis
movimentos ele manobrou o seu Ghostrider, ajustando-o novamente em
rota, com seus dois alas vindo logo atrás. Os pequenos caças
aumentaram ainda mais a potência do motor de impulso, velozmente
cruzando a linha de costa da Ilha Mrtetv, voando agora a meros 200
metros de altura, acompanhando o terreno da ilha. Chin'Toka Prime
tinha cerca de 86% da gravidade da Terra ou de Tellar, mas mesmo
assim Rtoget e os demais podiam sentir a força G contra eles
aumentando, enquanto as Hazard Suits se ajustavam para compensar o
aumento da pressão.
Isto sim é que se
pode chamar de voar, pensou
o Tellariano.
# # # #
Quando o cronômetro
atingiu a marca de T menos catorze segundos, um beep pôde ser
ouvido no sistema de comunicação de cada um dos cinco membros da
equipe ESTRELA. Aparentemente, NAVE estava adiantado quatro
segundos em relação ao cronograma oficial. Não que precisassem
do tempo extra, claro que não. Já estavam prontos, e só
utilizaram os segundos que faltavam para se certificarem que tudo
estava correndo com precisão.
No que o cronômetro
finalmente atingiu a marca cravada de 54198.0, as coisas
começaram a acontecer. De posições específicas, Aqabba e
K'trar, Muller e Rqutek dispararam repetidamente invisíveis
feixes dispersados de feiser contra sete pontos específicos em
torno e ao redor da base Empok. O escudo defletor em volta da base
era uma adaptação de um escudo de defesa Cardassiano que
normalmente era utilizado para defender áreas com pelo menos o
dobro de tamanho daquela. Quando os feixes atingiram o escudo,
este brilhou em diversos tons de dourado e azul, reagindo como se
tivesse suportado a carga de canhões feisers centenas de vezes
mais potentes do que apenas rifles manuais. Levou apenas um
nanosegundo para um alarme soar na instalação, e no instante
seguinte o computador de controle daquele tipo de escudo
automaticamente desviou energia para reforçar aquelas áreas
"atingidas", compensando a suposta perda de força
naqueles locais. Para isto, as demais áreas do escudo perderam
potência durante dois segundos e meio, até que o gerador de
força da base pudesse equilibrar a transferência de energia e
novamente estabilizar o escudo.
Mas dois segundos e
meio era tudo o que precisavam.
# # # #
O primeiro grupo a
passar foi o liderado por Rtoget. Três Ghostriders surgiram
detrás da colina, com o sol do sistema Chin'Toka começando a
nascer no horizonte atrás deles. Todos os sensores das três
naves já estavam fazendo leitura passiva do alvo, e tão logo
detectaram as variações de força no escudo da Base, o sinal de
alvo travado soou para os pilotos. O comandante foi o primeiro a
disparar, seguido pelos demais. Dois mísseis com ogivas de
tricobalto se desconectaram de cada Ghostrider, e os caças
fizeram uma curva brusca para cima assim que os mísseis estavam a
caminho. O vôo destes não durou mais do que um segundo e alguns
décimos. Todos os seis mísseis atingiram o escudo em locais
diferentes, e tanto a estupenda força explosiva daqueles
dispositivos, quanto a repentina necessidade do computador de
defesa de compensar drenagens demais de energia foram
responsáveis pelo colapso total do escudo de defesa. A reação
luminosa do escudo ficou parcialmente encoberta pelo clarão das
explosões, e finalmente este se desativou sem maiores efeitos de
luz.
Ainda escondidos na
mata, Muller e sua equipe observaram a confusão subseqüente à
base perder sua primeira linha de defesa. Vários Cardassianos
corriam de um lado para o outro, e era necessário que todos ali
estivessem prontos no caso de serem descobertos e
conseqüentemente atacados, mas não parecia ser o caso. Desta
forma, a preocupação seguinte deles era a de observar e anular
quaisquer ameaças às naves que poderiam ser discretas demais
para os pilotos conseguirem perceber em vôo. Por enquanto, não
havia nada além de soldados procurando seus comandantes diretos
para instruções.
Muller olhou para o
outro lado do vale, e o segundo grupo de Ghostriders surgiu
velozmente. Os três caças estavam tão rápidos que ele não os
conseguiria reconhecer caso não soubesse do que se tratava. No
céu, havia apenas três formas difusas de cor grafite, mal
aparentando serem naves estelares, e tampouco permitindo-se
observar as marcações da aeronave, que tinha os dizeres MARINES
em letras grandes na cauda, e de onde partia a característica
fina listra pelo casco com os dizeres UNITED FEDERATION OF
PLANETS, terminando com a ponta do emblema da Frota Estelar.
Este segundo grupo
também não demorou para localizar seus alvos e disparar. Uma
saraivada de nada menos do que dezoito torpedos quânticos
surgiram no céu, com o característico brilho circular de seus
disparos. Vários dos torpedos atingiram em cheio as torres de
defesa, equipadas com canhões feisers de grande capacidade. Uma
delas ainda estava em processo de ativação, e não conseguiu
realizar sequer um disparo contra as naves atacantes. A segunda
torre já estava em pleno funcionamento, tendo conseguido atingir
quatro vezes os caças. Foram baques consideráveis, mas os
escudos estavam agüentando com eficiência, pensou Sielle, cujo
Ghostrider levou dois dos quatro disparos. Contudo, também esta
foi neutralizada por vários dos torpedos, desmoronando em uma
grande explosão. Dois torpedos perderam seus alvos devido a
contramedidas eletrônicas, e caíram em áreas vazias do
complexo, enquanto os restantes atingiram o prédio principal da
base e o hangar de naves auxiliares. Mas estas eram apenas o alvo
secundário do grupo de Sielle. O alvo primário, uma edificação
ao lado do prédio principal da base, teve a atenção de nada
menos do que seis dos torpedos quânticos disparados, o que
resultou na destruição completa daquela estrutura, onde estavam
instalados vários subsistemas da base, como os relés de
comunicação subespacial e também os inibidores de teleporte.
Com a destruição
destes dispositivos assegurada, era hora do time ESTRELA ativar os
seus brinquedinhos. Muller fez um gesto para K'trar e este entrou
com alguns dados em um tricorder klingon. Os emissores instalados
pelo grupo começaram a trabalhar, ativando poderosos sinais de
busca por formas de vida humanóide. Depois de alguns segundos, os
emissores conseguiram identificar 16 humanóides das espécies
Trill, humana, Felinóide, Cignetiana e Bajoriana, e com estes
dados travou um sinal de teleporte no grupo, retransmitindo as
coordenadas para o tricorder de K'trar. Ele não precisou fazer
mais nada com o aparelho; o sinal já estava sendo repassado para
o terceiro grupo de naves, que surgiam naquele exato instante.
O shuttle romulano
vinha voando acima dos seus dois Ghostriders de escolta, e devido
a sua iminente tarefa, ele já estava com os seus escudos
abaixados; daí a necessidade de cobertura total por suas
escoltas. Mas estas não estavam ali apenas para defesa passiva.
Melden e seu ala travaram o canhão de pulsos feiser em diversas
posições de onde soldados do Empok disparavam contra eles,
usando rifles manuais e pequenos canhões feiser de campanha. Os
disparos eram fracos, mas como se tratava de um número grande
destes, os dois Ghostriders estavam tendo que suportar um poder de
fogo considerável, o que estava exigindo bastante dos sistemas de
escudo e de integridade estrutural dos caças. Os grupos de Rtoget
e Sielle já haviam manobrado novamente e se juntavam agora para
prestar suporte de fogo para o grupo de Melden e do shuttle,
adicionando disparos feisers para tentar neutralizar este fogo
cerrado dos oficias do Empok.
Já o grupo ESTRELA
também estava com esta função, uma vez que de sua posição
privilegiada eles conseguiam observar e localizar alvos pequenos,
que podiam passar desapercebidos para os pilotos no ar. Desta
maneira, Vieira destravou o seu TR-116 e procurou por alvos que
pareciam oferecer maior poder de fogo contra os caças. Um par de
oficiais do Empok parecia estar se preparando para disparar mais
uma vez um dos canhões feiser de campanha, montado em um tripé.
Vieira sincronizou o alvo travado com o TR-116 e levemente
pressionou o gatilho da arma. O projétil de tritanium foi
disparado com um leve "fssss", e atingiu o canhão
feiser bem no meio, despedaçando-o em várias partes. Ambos os
operadores foram jogados para trás, mas não pareciam gravemente
feridos. Bom, pensou Vieira. Não havia realmente nenhuma
necessidade tática de se matar os operadores da arma, mas sim
apenas de neutralizar a arma em si, então ele não tinha
realmente razão alguma para adicionar aqueles sujeitos à lista
de baixas que o Empok estava tendo que enfrentar com o pesado
ataque. Não só ele estava com esta tarefa –- Muller e Aqabba
também montaram dois outros TR-116 e se juntaram à tarefa,
enquanto K'trar e Rqutek estavam de prontidão com seus
disruptores para o caso de eles serem descobertos e atacados, mas
o que ainda era improvável. Afinal, a escolha de usar o TR-116
para esta tarefa havia sido justamente o fato de que os disparos
não revelariam a posição deles.
A tripulação do
shuttle estava com bastante trabalho. O piloto se concentrava em
manter a nave estabilizada em uma posição na qual ela estava
ficando na cobertura dos caças, mas que também possibilitasse o
teleporte que eles estavam para fazer, enquanto o navegador
continuava a monitorar pelas ameaças do solo, e repassar as
informações para os caças. Na parte traseira, os operadores de
teleporte receberam o sinal de telemetria dos emissores em terra:
já tinham um sinal de teleporte travado. Certificando-se de que
todos os delicados ajustes para um teleporte naquelas condições
estavam perfeitos, o sistema foi ativado.
Na área de carga na
popa do shuttle, atrás do console de teleporte, numerosos efeitos
de teleportagem começaram a surgir, rapidamente definindo-se como
formas humanóides. Destes efeitos, surgiram todos os reféns que
estavam sendo mantidos pelo Empok: a Secretária Zgourydi, seu
staff, a tripulação do Volga e todos os demais
passageiros. As suas expressões iniciais mostravam confusão e
surpresa, e vários caíram no assoalho do shuttle por
evidentemente terem sido pegos desprevenidos. O Tenente Diego, um
dos operadores de teleporte, se dirigiu ao grupo para
certificar-se de seu estado, e não parecia haver ninguém
necessitando de cuidados médicos de urgência, embora era nítido
que todos estavam bem abatidos e assustados. Mais atrás, os cinco
membros do time ESTRELA também haviam se materializado, todos em
pé e com o equipamento travado, pois haviam recebido um sinal de
alerta para cessarem fogo e se posicionarem para teleportagem.
Muller rapidamente indicou para Vieira e Aqabba verificarem os
reféns, e ambos os oficias da Frota se muniram de kits médicos e
tricorders, enquanto Rqutek acenava para Diego que todos estavam
ali.
O Tenente correu para
a cabine do shuttle e deu um par de tapinhas rápidos nas costas
do piloto Romulano. - Grupo recuperado e seguro, podemos cair fora
daqui, vamos, vamos, vamos! – ele disse rapidamente. O navegador
acionou o sinal de retirada, enquanto o piloto manobrava
velozmente o shuttle, subindo rapidamente para sair da atmosfera
do planeta, acompanhado de perto do grupo de caças de Rtoget. Em
poucos instantes, as nove naves atingiram a ionosfera do planeta,
com todas desapareceram rapidamente nos clarões de dobra,
deixando para trás a Base Empok. Haviam se passado não mais do
que quatro minutos desde o momento que o primeiro disparo fora
feito.
# # # #
Não muito tempo
depois, em um clarão típico de nave saindo de dobra, a USS São
Paulo surgiu em uma posição a dois parsec do limite externo
do sistema estelar de Chin'toka, ponto de encontro combinado para
eles recolherem os times NAVE e ESTRELA, voltando da operação.
- Skipper, estou
detectando múltiplos contatos nas coordenadas de recuperação, -
A Tenente-Comandante Naran reportou. Mas antes que Parker pudesse
dizer qualquer coisa, a Bajoriana adicionou informação, com um
tom mais preocupado. – Há contatos Cardassianos... pelo menos
12 deles. - Aquilo atraiu a atenção tanto de Parker quanto a de
seu Número Um. Quando a São Paulo saiu de dobra, se viu
frente a uma cena totalmente inesperada. O grupo de naves dos
times ESTRELA e NAVE estava sofrendo forte perseguição por parte
de nada menos do que uma flotilha de naves Cardassianas,
supostamente do Empok, uma vez que estas não estavam economizando
disparos contra o grupo de pequenas naves. Os Ghostriders estavam
extremamente ocupados em manobrar tanto para manter o shuttle
protegido como para responder o fogo dos cruzadores que os
perseguiam, e o combate era nitidamente encarniçado.
- Alerta vermelho, e
levantar escudos! – Parker ordenou instintivamente, enquanto
observava a tela principal. - Mas que cacete está acontecendo?
Não havia a possibilidade de naves do Empok chegarem nestas
coordenadas tão rapidamente...!
- Eu estive
monitorando os dados sobre as forças Empok no sistema, e não há
indícios alguns que elas se moveram. Eles ainda tem o grosso da
frota deles posicionada entre Chin'toka e várias das naves da
Força Tarefa 47 estacionadas ao largo do sistema. - Dot
acrescentou ao comentário de sua comandante. - Mas pelas naves
que estamos vendo aqui, eu diria que é um regimento de frota
completo, talvez parte de alguma Ordem Cardassiana que tenha
passado para o lado do Empok, mas não há nenhuma informação
oficial a respeito.
- Mas que bela hora
para eles ganharem reforços, - a Capitão disse, enquanto a
transmissão do líder do esquadrão entrava no áudio da ponte.
- Estamos com as mãos
bem cheias aqui, Capitão, - ela escutou a voz de Rtoget. -
Captamos estes Cardassianos se dirigindo para o sistema de
Chin'Toka, mas antes que pudéssemos corrigir a rota eles nos
engajaram, - o Tellariano continuou dizendo atrás de alguma
estática, sua voz soando nitidamente tensa e cansada. -
Conseguimos neutralizar três naves, mas eles já abateram Melden,
estamos ficando sem torpedos e escudos, e não sei por quanto
tempo mais podemos manter cobertura segura ao shuttle.
- Agüente firme
Rtoget, - respondeu Parker. – Quanto tempo até estarmos em
alcance de fogo?
- Mais 12 segundos,
dando impulso total que nem eu já estou fazendo, - respondeu
Coelho, trabalhando freneticamente no leme.
- Estamos sendo
contatados pela capitânia Cardassiana, que se identifica como
membro do Empok, Skipper. Abro um canal? – K'livon perguntou, do
ops.
- Que contato que
nada. Já que não estão se fazendo de rogados em atirarem contra
o nosso pessoal, eu já vou considerar isto como contato até
demais. Naran, trave as armas naquelas três unidades que estão
em perseguição direta do shuttle!
- Alvos adquiridos.
– respondeu rapidamente a oficial.
- Então abra fogo com
tudo o que temos, mulher!
Em uma questão de
segundos, nada menos do que quatro torpedos quânticos deixaram os
lançadores no topo da seção de engenharia da São Paulo
em duas salvas, acompanhados por disparos de feiser de ambas as
faixas de tiro ao longo da seção disco da nave. A nave Empok
mais avante recebeu um dos disparos feiser à meia nau e dois dos
torpedos, fazendo-a girar em torno de seu próprio eixo enquanto
tinha as suas nacelas de dobra e sistemas de armas destruídos
pelo impacto. As duas outras sofreram bons danos, mas ainda
agüentaram o bastante para continuar a perseguição a três dos
Ghostriders, enquanto dois outros estavam juntando os últimos
torpedos que tinham contra as naves, as quais foram atingidas pela
São Paulo. Mas um cruzador Galor e duas corvetas
menores o escoltando fizeram a dupla de Ghostriders ter que se
dispersar em manobras evasivas, procurando voltar para perto do
shuttle, que estava recebendo vários disparos de feiser das
demais naves Empok.
- Direcione sua
atenção contra as demais naves, - Dot instruiu Naran, enquanto
ele acessava alguns controles no seu console ao lado da cadeira de
primeiro oficial, para repassar à oficial tática uma análise da
batalha, alimentando com mais dados o computador de tiro de Naran.
A Bajoriana realinhou os alvos e disparou novamente, no exato
momento em que a São Paulo teve que começar a também
demonstrar suas próprias capacidades defensivas.
A nave sacudiu
fortemente quando diversos disparos de feiser e um torpedo
atingiram os escudos na parte superior da seção disco. Vários
tripulantes se seguraram, e alguns consoles LCARS piscaram
enquanto a navegadora colocou a nave em uma manobra evasiva, e o
Tenente K'livon recalibrava os escudos.
- Danos médios em
sistemas EPS ao longo do deck quatro, mas escudos suportando a
carga atual de fogo!
- Coelho, trace uma
rota seguindo o shuttle, mas por entre as naves Empok em 085 marco
205, em um ângulo de descida direto para o shuttle, e acelere
para impulso total. Precisamos chegar perto o bastante para
conseguirmos colocar nossos escudos em volta deles.
- Skipper, está é
uma manobra extremamente arriscada nestas condições... - Dot
citou.
- E você, bom XO que
é, vai tentar me fazer mudar de idéia, - a Capitão disse,
novamente se segurando em uma antepara ao lado do console da
navegadora, devido a mais um impacto de feiser.
- Só se eu não a
conhecesse como conheço, - respondeu o trill, sorrindo, enquanto
Coelho realizava a manobra.
Com a São Paulo
iniciando sua corrida em direção do shuttle, a tela principal
mostrou em uma imagem secundária abaixo do tático um dos caças,
o Vetor cinco, sofrendo uma concentração de fogo. Era admirável
como aquelas pequenas naves estavam conseguindo sobreviver ante a
uma força de naves que além de em maior número, naturalmente
eram mais poderosas do que aquelas pequenas naves de um só
tripulante. As manobras destes pilotos estavam conseguindo
garantir esta sobrevivência, mas contra fogo concentrado em
demasia, os escudos dos caças não estavam conseguindo agüentar
por tempo demais. O vetor cinco perdeu totalmente suas defesas, e
um tiro de feiser arrancou uma das asas-naceles, fazendo o caça
vazar plasma e começar a rachar. O sistema de controle de danos
ativou a seqüência de pré-lançamento do escape pod, e o piloto
mal conseguiu ativar a trava final, ferido que estava.
O Ghostrider explodiu
segundos depois do cockpit se desconectar do casco do caça,
tornando-se assim o próprio escape pod para o tripulante. Embora
fosse mais uma das inúmeras coisas acontecendo todas no mesmo
frenético ritmo de batalha, o Primeiro Oficial da São Paulo
correu para o console traseiro de ops para dar atenção a isto.
Enquanto K'livon manipulava os escudos, Dot ativou o raio trator
da São Paulo, disparando-o contra o escape pod. O Trill
teve bom trabalho para controlar o feixe de tração com a nave,
tendo que manobrar tão violentamente, mas ele eventualmente
conseguiu trazer o pod para dentro do envelope do escudo, ao
calibrar a freqüência do raio trator na mesma em que K’livon
mantinha o escudo, da mesma maneira que iriam tentar com o
shuttle. Assim que o pod caiu na proteção da São Paulo,
K'livon teleportou o piloto direto para a enfermaria, com o
oficial-médico Benit Tomly já preparando-se para atendê-lo. Dot
fez um silencioso gesto com a cabeça para Parker, indicando para
a Capitão que isto já havia sido feito, mas a batalha
continuava, e mais ainda havia para fazer.
A São Paulo
novamente sacudiu com novos impactos de disparos, desta vez devido
mais a torpedos quânticos do que canhões feiser, e os danos
sustentados pele nave foram maiores, com diversos sistemas a
bombordo sofrendo pane. K'livon comunicou para times de reparos
correrem para as áreas afetadas, enquanto a equipe de Tomly
corria para atender alguns feridos na tripulação. O fogo estava
começando a se concentrar mais e mais contra o shuttle e a São
Paulo, à medida que os artilheiros Empok percebiam ambas as
naves se aproximando uma da outra. Os Ghostriders remanescentes
passaram a dar apoio de fogo à aproximação da São Paulo,
mas também tinham que manobrar evasivamente, pois não havia
falta de armas Cardassianas para engajar o menor número de alvos
federativo e Romulano que ali se apresentava.
Em mais outro voleio
de disparos das naves atacantes, a São Paulo agüentou um
forte impacto concentrado nos escudos de sua seção disco. A
drenagem de energia nos decks superiores para se reforçar o
escudo foi grande, e por alguns instantes diversos sistemas
auxiliares ficaram enfraquecidos, um deles sendo o sistema de
integridade estrutural. Com isto, algumas anteparas de contenção
se romperam, antes que os reatores da São Paulo pudessem
compensar a perda e reforçar o sistema de integridade estrutural,
uma de suas prioridades máximas em receber potência. O
rompimento ocorreu em corredores de três decks diferentes, mas
uma delas aconteceu exatamente em cima do posto de engenharia na
ponte da São Paulo.
O Alferes Harvey, um
membro do staff da Engenheira-Chefe Zalyn, tentou se desviar, mas
uma seção inteira da antepara caiu em cima dele, derrubando-o no
chão, em meio a vapor escapando e fagulhas queimadas do console
que foi destruído pelo impacto. A tripulante mais próxima ao
local era exatamente a Capitão Parker, que estava ao lado da
Tenente Coelho no console de navegação, acompanhando as manobras
de aproximação ao shuttle. Parker correu rapidamente para
socorrer o Alferes, e começou a tentar mover a pesada peça de
duranium composto. Contudo, o destroço estava em uma posição
péssima para ser erguido, e o fato de pesar mais de cem quilos
não ajudava em nada, mesmo ela agora tendo a ajuda de Dot. Harvey
gemeu algumas vezes, o que indicou a eles que a coisa não poderia
ser resolvida com força bruta.
- Computador, - Parker
disse, retomando o fôlego. – Diminua a gravidade artificial
neste deck para quinze por cento durante dez segundos, ao meu
comando.
- Segurem-se todos, -
vociferou o primeiro-oficial da São Paulo, instruindo a
todos ali que a gravidade iria ficar bastante enfraquecida.
- Ativar! – e com
isto a força G na ponte caiu para apenas 15 por cento do que
normalmente. Vários tripulantes se apoiaram em seus consoles e
cadeiras, enquanto tinham que manter total atenção em suas
tarefas, pois o Empok não estava fazendo nenhuma pausa, e a nave
precisava manter-se firme na batalha. A antepara que Parker e Dot
estavam tentando erguer passou a pesar cerca de apenas quinze
quilos, e a Capitão a removeu rapidamente de cima de Harvey
enquanto Dot o puxou pelo corredor, deitando-o próximo a entrada
do gabinete de Parker. Esta, por sua vez, soltou a antepara no
chão novamente, e mais um par de segundos depois o computador
reativou a gravidade normal da ponte.
Naran estava naquele
instante totalmente concentrada em realizar o mais rápido
possível uma operação de reativação de um dos dois
lançadores de torpedos, que fora danificado com um dos mais
recentes impactos contra a nave, quando vários beep no seu
console auxiliar tático soaram.
- Skipper, - ela
chamou a atenção de Parker, que estava retornando para o lado do
console de navegação, assim que um enfermeiro se encarregou de
atender Harvey com auxílio médico. - Tem uma nave saindo de
dobra... é da Federação!
Uma chegada
providencial, pensou
Parker. - Não me diga que é a Enterprise...! – ela
respondeu, segurando-se no console de navegação devido a ainda
outro impacto contra os escudos.
- Não, é... –
Naran verificou os dados da telemetria, que mostravam o nome
daquela unidade ao lado do registro NCC-3672-A. – É a Protector!
# # # #
Do característico
efeito luminoso de nave saindo de dobra, a USS Protector
surgiu, mantendo alta velocidade de impulso na direção da
batalha que ali se desenrolava. Aquela unidade da classe Prometheus,
contudo, não iria continuar avançando em apenas uma única rota.
Simultaneamente, a nave começou a se separar em suas três
seções distintas. O topo da seção disco se desconectou do
inferior da seção disco, que por sua vez também se separou da
seção de engenharia, todas continuando a avançar. A Protector
era mais uma unidade de uma classe que finalmente entrara em
produção depois de um difícil processo de desenvolvimento,
durante o qual diversos refinamentos foram adicionados ao projeto,
como a seção disco principal ganhar uma segunda nacela auxiliar
para quando estivesse separada, pontes de comando reformuladas, e
sistemas auxiliares desenvolvidos durante a guerra Dominion.
Agora, atuando como
uma pequena flotilha de três unidades, a Protector estava
preste a executar as manobras ofensivas que o chamado Modo de
Assalto Multivetor proporcionava. O controle geral era realizado
da ponte principal, onde o Capitão Adrib Dodgers, o Zakdoniano em
comando da Protector, coordenava a ação de seus oficiais
nas três pontes para fornecer apoio a seus companheiros. Na tela
principal da ponte Alfa, onde Dodgers se encontrava, surgiu a
figura da Capitão da outra nave da Federação ali presente, em
uma imagem secundária às demais informações táticas.
- Adrib! O que foi
que eu te disse depois que te dei aquele tapa na Academia?
– Parker exclamou, um sorriso cínico complementando um olhar
que combinava alegria e irritação.
- Sabe como são
ex-namorados, Carol, - Dodgers respondeu, retribuindo a gentileza,
enquanto andava ao centro da sua ponte. – Se vamos aparecer,
escolhemos para fazer isto na pior hora possível. – O Capitão
da Protector se posicionou atrás de seu navegador.
- Todas as unidades
reportam estarem prontas e armadas, Capitão. - K'Nel, o navegador
andoriano, informou.
- Excelente.
Computador, coordenar os sistemas das pontes de comando para modo
de assalto multivetor, agora.
- Especificar
padrão de ataque. – o computador requisitou.
- Padrão Omega 13.
- Especificar alvos.
- Seções alfa e
gama, o grupo de naves Cardassianas a 231 marco 43, alvos
engajando o shuttle Romulano, e seção beta, intercepte a classe Galor
em 032 marco 89, para dar cobertura para a São Paulo se
aproximar do shuttle. Ativar agora!
Com isto, as três
seções fizeram rápidas manobras e iniciaram suas corridas
contra as naves Cardassianas. A seção em que Dodgers se
encontrava e a seção gama dispararam simultaneamente todos seus
bancos feiser, atingindo quatro naves do Empok. A seção gama
adicionou dois torpedos quânticos ao alvo que havia sido mais
duramente atingido, o que rapidamente desabilitou totalmente o
alvo, que passou a vagar à deriva com os seus sistemas
energéticos em pane total. A seção alfa fez o mesmo contra uma
corveta de escolta, a que havia sofrido menos danos, mas
concentrou o fogo dos torpedos contra a seção de engenharia
desta, o que provocou danos o bastante para que a nave Empok
tivesse que ejetar o núcleo de dobra. Dodgers contava com esta
possibilidade, e o piloto do Gosthrider mais próximo executou
rapidamente as instruções que recebeu da seção alfa da Protector,
disparando um pulso de feiser diretamente contra o núcleo de
dobra Cardassiano tão logo as seções alfa e gama fizeram uma
violenta manobra evasiva, juntando-se aos demais caças. A onda de
choque da explosão atingiu outras três naves do Empok, que
sofreram danos o bastante para terem que cessar a perseguição.
Com o fogo Empok
momentaneamente dividido, a São Paulo conseguiu momento de
folga o bastante para finalmente emparelhar bem ao lado do shuttle
romulano, e seus escudos envolveram a pequena nave, enquanto a
seção beta da Protector dava cobertura, pois ainda haviam
diversas naves Empok os engajando. A seção gama passou a dar
cobertura para a seção alfa se dirigir ao outro flanco da São
Paulo, onde também iria envolver os Ghostriders mais
danificados em seu próprio escudo. A pressão de fogo contra as
naves da Federação diminuíra no seu geral, mas os comandantes
Empok ainda estavam tentando provocar danos sérios a eles, quando
passaram a concentrar todos os disparos em apenas uma única nave
por vez. Isto fez com que as três seções da Protector e
a São Paulo recebessem forte impactos por diversos
segundos cada vez, mas todas ainda continuavam a mostrar os
dentes, retribuindo fogo tão pesado quanto.
- Ainda não
terminei de surpreender você, - a voz de Dodgers soou pelo
intercom da ponte da São Paulo, por entre o som de mais
impactos, tanto na nave de Dodgers como na de Parker. – Ah...
aí estão eles. – a atenção de todos na ponte da São
Paulo se dirigiu novamente para a tela principal, quando nada
menos do que oito naves saíram de dobra naquele instante. Três Nebula,
duas Norway, uma Soyuz e uma Ambassador, com
esta frota sendo nucleada pela USS Thunderchild, uma
unidade da classe Akira.
- Havíamos
detectado estes caras várias horas atrás, ao largo do sistema
Torga, no que eles rapidamente entraram em dobra indo para Chin’toka,
- Dodgers continuou. – O Comando da Frota nos informou que
eles não tinham ordens do Conselho Detapa para isto, então
suspeitamos que eles iam acabar pulando a cerca e provocando mais
encrenca, especialmente se encontrassem vocês. Como o tempo
estava ficando curto, nós viemos na frente até que eles também
chegassem na festa. – Dodgers estava se referindo a alta
velocidade que as Prometheus podiam desenvolver, as naves
mais velozes da Frota, ainda mais do que as Intrepid.
Parker e Dot
observaram com alívio enquanto todas aquelas naves engajavam as
naves Empok que ainda os perseguiam. Estes, vendo-se
repentinamente em evidente inferioridade de músculos, fizeram
manobras evasivas, quebrando a perseguição, e tentavam fugir
entrando em dobra, enquanto respondiam ao fogo da frota. Quatro
naves no total conseguiram escapar, enquanto duas Nebulas e
as duas Norway também entravam em dobra para persegui-las.
As demais naves da Frota Estelar cercaram todas as unidades hostis
que se encontravam imobilizadas ali, e times de segurança
começaram os procedimentos de abordagem. A São Paulo se
aproximou da Thunderchild, acompanhada do shuttle e dos
caças, enquanto a Protector iniciava o procedimento de
reconectar suas seções.
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