Capítulo 1 – Liberando a Torre

David Cohen acenou com a cabeça para cumprimentar duas pessoas que saíam pela porta no momento em que ele entrava ali no gabinete principal do representante brasileiro na Assembléia Geral da Terra, a Senadora Cristina Stel. Praticamente aquele andar inteiro do Anexo Um do Palácio do Itamaraty era uma única grande área comum onde ficavam instalados os membros principais do staff da Senadora. David andava por entre as mesas de trabalho da sua equipe, com seus terminais LCARS e decorações pessoais, mas a maioria estava vazia no momento, pois ainda era hora do almoço. Em uma das áreas de convivência comum, onde há instalado um balcão de café com mesinhas espalhadas ao seu redor, era por onde David estava passando a caminho da sala da Senadora. Duas assessoras da Senadora, uma Andoriana e uma Boliana, tomavam café enquanto conversavam em uma das mesinhas. Zhaav, a Andoriana, acenou para ele, oferecendo uma cadeira, mas ele gentilmente recusou com um gesto, enquanto continuava a andar.

– Vocês já estão indo para São Paulo, certo? – ele perguntou.

- Sim, - respondeu Tolia, a Boliana. – Vamos um pouco na frente para verificarmos onde vão estar nossos lugares e coisas do tipo. – ela terminou de dizer, tomando mais um gole de sua xícara.

- Certo, eu só vou falar com a Senadora e encontraremos vocês por lá. – As duas azuis garotas observaram seu superior se afastar, e olharam uma para a outra. Embora ele não fizesse o tipo de nenhuma delas, ainda assim elas podiam notar que, para um humano, ele era consideravelmente atraente, um moreno alto com um rosto que combinava com seu cavanhaque.

David finalmente chegou na sala privativa da Senadora. Ele olhou ao redor do amplo recinto, decorado com várias obras de arte do século 22, um dos períodos favoritos dela, bem como uma miniatura da NX-01 Enterprise do mesmo século, que seu filho havia montado para ela, e algumas fotos de família. Bem à frente das janelas dando vista para o Plano Piloto estava a mesa de trabalho, mas ela não estava à vista.

- Cristina? – ele chamou. Ouviu um abafado ruído que lhe pareceu vagamente com um "espere um pouco", o que o atraiu na direção da porta do banheiro do gabinete, que estava aberta. E de fato, lá estava ela, na frente da pia em mármore e aço inoxidável. E, enquanto mantinha uma presilha entre os dentes, ficava com sua cabeça inclinada para baixo com ambas as mãos trabalhando para ajeitar seus lisos cabelos pretos em um penteado. Ela finalmente terminou a manobra de prender o cabelo com a presilha e deu uma última olhada no espelho tanto para checar seu penteado como sua roupa, um vestido bege-claro que de certa maneira tinha um estilo mais formal do que normalmente ela gostava de usar para trabalhar, ainda que mesmo suas roupas casuais fossem de um extremo bom gosto. Era uma característica das Betazóides naturais da Terra ter um gosto mais apurado de vestir, e elas não compartilhavam em nada a cafonice das Betazóides naturais do próprio sistema Betazed.

- Olá David... pensei que você não viesse mais, – Cristina disse para seu Chefe de Gabinete enquanto andava na direção de sua mesa. – Aonde você foi depois que saímos da Assembléia?

- Eu terminei de resolver algumas pendências burocráticas e depois fui naquele restaurante italiano que tem logo ali na Rua 45; marquei de almoçar lá com o chairman do Projeto Atlântida, Dr. Lauren Zidal... – David disse enquanto colocava um par de padds na mesa da Senadora. – Aqui tem o novo cronograma de colonização, já autenticado por ele, para você dar uma olhada depois.

- Ah, ótimo... e exatamente com o que podemos contar de colaboração da parte dele? – Cristina disse, passando os olhos pelos dados iniciais de um dos padds. – Já tem um pessoal da National Geographic e do Departamento de Arqueologia da Universidade de Alfa Centauri me contatando toda hora, querendo saber quando poderão preparar suas expedições.

- Sabe como engenheiros são, Cris. Zidal não gostou muito de ter que refazer toda a programação da parte final do assentamento geológico e início de colonização, mas até mesmo ele tem que concordar que vai ser necessário fazer uma minuciosa e completa varredura arqueológica do novo subcontinente deles assim que as primeiras porções de terra seca estiverem estáveis e assentadas. – Cristina deu um cínico sorriso enquanto desligava o padd. Havia ali uma boa quantidade de dados que ela queria rever com calma mais tarde.

- Quando ele soube que a Comissão de Operações Planetárias da Assembléia poderia ter que ser "forçada" a rever a distribuição dos recursos para os projetos civis depois do fim da guerra... – ela disse, gesticulando com dois dedos de cada mão as aspas que queria dizer junto com a palavra "forçada" – Acho que Zidal se tornou mais cooperativo, não?

- O que faria a coisa toda atrasar de qualquer jeito, e de uma maneira em que todos os lados perderiam. – David completou, enquanto observada Cristina pegar sua bolsa e caminhar na direção da porta. – Já estamos indo para a cerimônia, então?

- Sim, eu quero ver se consigo encontrar a Carolina antes da cerimônia... – a Senadora fez uma pausa para David a alcançar, e ambos foram até o turboelevador naquele andar do anexo.

- Bolo de Noiva, - David disse assim que ambos já haviam entrado no turboelevador, e o beep de confirmação do computador foi seguido pelo zunido baixo do turboelevador indo na direção do Anexo Dois do Itamaraty. Eles ficaram em silêncio durante alguns segundos, o que serviu de deixa para David citar outro assunto importante na agenda deles para os próximos dias.

- Então... já decidiu quando iremos fazer a declaração sobre a candidatura? – David disse, olhando para ela de uma maneira inquisidora.

- Semana que vem, no mais tardar... – Cristina respondeu, sem mudar muito a sua expressão, pensando ainda mais sobre o assunto enquanto falava com ele. - Eu quero primeiro fazer uma última reunião com o pessoal para coordenarmos todos estes preparativos finais. Então poderemos dar entrada com o pedido de candidatura na Secretaria Eleitoral e fazermos o anúncio público... – ela terminou, e voltou toda sua atenção para David agora, pois ele estava rindo para si mesmo. – O que foi? Eu não estou lendo sua mente, mas está mais do que na cara que você achou graça de algo. – ele balançou a cabeça afirmativamente antes de dizer qualquer coisa.

- A primeira coisa que eu fico imaginando é como será que vai ficar quando eu pintar "CONSELHO DA FEDERAÇÃO OU NADA" no casco do runabout que vamos usar na campanha... - ele disse, gesticulando a sua mão como que escrevendo no ar.

- Pode deixar, eu replico o balde de tinta e pincel...! - a Senadora adicionou, enquanto ambos saíam do turboelevador para irem para a sala de transporte.

 

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Denise Tylare olhou mais uma vez para o relógio no painel da plataforma de atracação 12-F e jogou a cabeça para trás, se espreguiçando na poltrona em que estava, e resmungou baixinho. Ela já estava ali na Doca Espacial há quase uma hora, aguardando. A nave de seu namorado, Scott Ross, estava tendo que aguardar duas outras naves da Frota Estelar serem manobradas naquele nível de atracadouros da Doca Espacial para que ela pudesse finalmente descarregar seus passageiros. Só que isso estava atrasando o desembarque em mais de meia hora.

Ela olhou na direção do grande painel LCARS no topo da plataforma. A Doca Espacial estava apinhada de naves da Frota Estelar, e só para o nível doze havia três naves da Frota listadas, além de quatro outros transportes civis. A SS Kobiashi Maru, a que iria atracar naquela plataforma, era a primeira das civis na listagem, e o seu status atual ao lado de seu número de registro, NDT-301000, era de "docando". A poltrona em que Denise se encontrava estava bem ao lado da janela da plataforma, e ela olhou para a gigantesca área interna da Doca Espacial. Ela podia ver uma das três naves da Frota, e duas das naves civis que já haviam entrado e que estavam se dirigindo para aquele nível de atracação. Como ela já havia perturbado a paciência da balconista da Star Alliance três vezes, ela não podia fazer muito mais do que esperar, então ela voltou sua atenção ao jornal no padd que estava lendo.

Dez minutos mais tarde a atenção dela foi chamada pelo característico ruído de chapinhas de metal sendo folheadas rapidamente, e Denise olhou para o painel. A Kobiashi Maru, além de uma outra da Frota, estavam agora com o status de "docada", e o portão 12-F fora aberto. Enquanto ela pegava sua mochila e se levantava para se juntar às outras pessoas aguardando o desembarque dos passageiros, ela ficou imaginando porque diabos esses painéis de status da Doca Espacial tinham esse ruído mecânico junto, uma série de tic-tic-tics bem rápidos, em vez de um simples beep. Devia ser algum tipo de charme ou coisa parecida.

Os primeiros passageiros da Kobiashi Maru já estavam saindo, e Denise ficava movendo sua cabeça por entre as pessoas na sua frente, tentando ver se já enxergava Scott, pois, assim como ela, ele não era muito alto. Depois de avistar vários civis e alguns oficiais da Frota, ela o achou pelo chapéu que ele estava usando, um de seus favoritos. Ele já estava olhando naquela direção, e deve ter visto ela na porta da plataforma antes que ela o visse.

- Scott! Ei, aqui! – Denise saiu do meio das pessoas ao longo da pequena amurada que estava na frente da saída. Ele a acompanhou paralelamente até que ambos se abraçaram no meio da plataforma, já onde os passageiros se dispersavam. A alça da mochila de Scott escorregou de seu ombro direito quando ele a abraçou, ficando a mochila pendurada no braço que enlaçava as costas de Denise. O braço livre, contudo, já a abraçava também na altura do ombro, e remexia o cabelo da jovem enquanto ambos se beijavam, revelando por debaixo dos castanhos e lisos fios as pontiagudas orelhas de Denise. Daquele ponto em diante, os fios ficavam bastante ondulados, dando ao penteado todo aquele ar de meados do século vinte que estava em moda na Terra nestes últimos tempos.

- Como foi a viagem de volta? – Denise perguntou enquanto eles começavam a andar na direção do lobby do nível 12.

- Boa... mas se eu ouvir só mais uma piada sobre nossa nave se perder na Zona Neutra Romulana e uma nave da Frota vir em nosso resgate, eu juro que não piso em uma nave deles de novo. – Ross riu logo após este seu pretenso juramento. - Você vai para onde?

- A Senadora Stel está atendendo a um comissionamento, e eu pedi para ficar livre hoje para que pudesse vir encontrar você. Eu fico lá na sua casa de hoje para amanhã, e então vou para Philly.

- Hum, praticamente dois dias... mas você não precisaria de todo este tempo "para me buscar". – ele disse.

- Um detalhe cronológico que não vem ao caso... – ela respondeu, rindo. O casal chegou no setor dos teletransportes, e as filas para os transportes estavam com cerca de três a quatro pessoas cada. O casal andou até um dos últimos pontos de transporte, onde havia apenas um grupo de três pessoas que aguardavam na frente para serem enviadas à Terra.

Logo ao lado, as janelas daquele ponto da área de transporte, que davam para a área interna da Doca Espacial, tinham um melhor ângulo de visão, e o casal pôde ver qual havia sido o motivo do atraso no desembarque. Três rebocadores estavam alinhando duas das naves da Frota que estavam atracando naquele mesmo nível.

Uma delas era da classe Akira, mas Scott sequer conseguia ler o nome ou registro, tantas eram as marcas de feisers no casco superior. Havia também cerca de três rombos logo ao lado da ponte, um deles aparentando ter vários decks de profundidade, e dois terços da nacele direita deviam estar agora flutuando em algum lugar no espaço Cardassiano, pois no seu lugar haviam apenas improvisadas coberturas de contenção, para que ela pudesse ter sido rebocada. A outra nave, uma Ambassador, tinha uma profunda rachadura de pelo menos nove decks de altura ao longo da seção de engenharia, e um comprido pedaço da seção disco estava faltando, mais de um quarto da área toda, permitindo ver as camadas de compartimentos e salas do interior da nave. Era como se alguém tivesse mordido um gigantesco biscoito waffle.

- Credo... ainda tem naves danificadas chegando da fronteira Cardassiana? – Denise perguntou, enquanto observava as manobras das naves abaixo.

- Hum, hum... – Scott sussurrou, antes de dizer qualquer outra coisa. – Só recentemente as instalações da Frota que estão lá perto da fronteira Cardassiana estão começando a ficar menos sobrecarregadas, agora que a maioria das naves danificadas já foi transferida de volta para os estaleiros, - ele disse. – Eu ainda vi várias naves assim nas bases estelares ao longo da fronteira. – Mesmo depois de cerca de um ano desde o fim da Guerra Dominion, várias instalações da Frota, fosse ali no Setor 001 ou em outros territórios da UFP, ainda estavam com muitas naves danificadas esperando serem reparadas. Todos os principais estaleiros estavam trabalhando praticamente em capacidade máxima, tanto para fazer estes reparos como para construir novas unidades para a Frota poder repor as custosas perdas que a Federação teve na guerra. Denise continuou olhando pela janela por mais alguns segundos, enquanto Scott voltou sua atenção para o operador de transporte, que o havia chamado.

- Qual o destino de vocês? – o operador perguntou.

- Estação República do Metrô de São Paulo, por favor. – Assim que Scott disse o destino, o computador de controle do teletransporte identificou rapidamente as coordenadas necessárias, e o operador do sistema ativou a sincronização com um dos teletransportes da Estação República, que já sinalizava estarem prontos para receber os passageiros. Aquele era um modelo de teletransporte civil, de uso genérico, que podia realizar teletransportes apenas para outros sistemas de teletransporte. A grande maioria dos modelos civis não dispunha de recursos como transportar de e para qualquer lugar, e também não podiam realizar transportes ponto-a-ponto.

- Certo... podem subir na plataforma. – o operador indicou a área circular mais à frente, com quatro círculos menores. Denise se afastou da janela e subiu com seu namorado nos pontos de transporte da frente. A garota continuava com o olhar na direção da janela, embora daquele ângulo não se pudesse ver mais as naves. Scott apertou o ombro dela suavemente, como para assegurar a garota de que tanto ela como ele estavam ali juntos, e certamente isso é mais do que muita gente podia dizer, depois de tão custosa guerra. Scott fez um rápido gesto com a cabeça para o operador de transporte.

- Energizar.

 

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Enquanto observava pensativa pelas amplas janelas do refeitório, Cristina Stel tomou mais um leve gole do champanhe que estava saboreando. Tratava-se de uma Bollinger RD de 2362, o mesmo ótimo ano da que fora batida contra o casco da USS São Paulo, NCC-75633-A, na Cerimônia de Comissionamento que havia acontecido alguns minutos antes. Ainda que o pessoal da Frota ali presente tivesse que se contentar com as variações baseadas em sinthehol, Cristina estava aliviada por haver também disponíveis bebidas genuínas, e não somente aquelas pálidas versões replicadas.

Uma ampla área do Parque Pinheiros, próxima ao início da Avenida Juscelino Kubitschek, havia sido preparada para recepcionar a imensa nave da classe Intrepid que fora batizada com o nome daquela cidade. A São Paulo havia sido trazida de Utopia Planitia duas semanas antes por uma tripulação-esqueleto do estaleiro, e passou este tempo na Estação McKinsley recebendo os preparativos finais e sua nova tripulação. Na noite anterior, a nave foi pousada naquela área para a Cerimônia, evento que por si só já havia atraído uma pequena multidão, pois não era todo dia que uma nave da Frota Estelar daquele tamanho entrava na atmosfera da Terra. Da mesma maneira, houve também um bom público presente no Comissionamento propriamente dito, onde houve os costumeiros discursos de dignitários da cidade, de altos oficiais da Frota Estelar e da Capitão Carolina Parker. Após isto, houve a quebra do champanhe contra o casco, do lado esquerdo do disco defletor, na frente do qual havia sido montado o palanque principal, e seguiu-se uma apresentação da filarmônica da cidade. Esta também havia executado no início da Cerimônia os hinos apropriados para a ocasião, e além do Hino da Federação, eles também ouviram Life is a Dream, de um dos mais renomados compositores clássicos do século 20, Jerry Goldsmith. Realmente era uma música que Cristina considerava tão linda quanto inspiradora, e realmente era uma perfeita escolha como o Hino da Frota Estelar desde a criação desta Instituição. Depois da segunda apresentação da filarmônica no final da Cerimônia, foi oferecido ao público um tour pela nave, e guiado pela tripulação da São Paulo.

Ela olhou para o outro lado do recinto e observou David conversando com o Prefeito de São Paulo, Rodolfo Siqueira, vendo-o no meio de uma alta risada por algo que Siqueira deve ter dito. Cristina não conseguiu evitar pensar em quanto o seu Chefe de Gabinete era dedicado ao seu trabalho, e sempre que podia ele estava em contato com pessoas que podiam ser politicamente úteis para o grupo deles. Exatamente por isso Cristina ficava contente em saber que apesar disto, David também se dava ao prazer de uma conversa informal e descontraída mesmo com um outro político ou autoridade, como ela podia sentir que era aquela. Cristina olhou ao redor novamente e viu suas duas outras assessoras, Tolia e Zhaav, conversando com uma dupla de oficiais da São Paulo, duas jovens, uma delas aparentemente humana, e a outra era de Delta IV. Ou ao menos parecia ser, pois ela não conhecia nenhuma outra espécie humanóide membro da Federação na qual as mulheres fossem totalmente carecas. Diversos outros convidados também estavam espalhados pelo refeitório com vários outros tripulantes da nave, todos conversando e servindo-se do buffet que fora colocado ali, para a recepção das autoridades.

Cristina retornou sua atenção para a vista do refeitório. O longilíneo e pontudo casco da seção disco da São Paulo não permitia ver muito abaixo da área do Parque Pinheiros onde a nave havia sido pousada para a Cerimônia. Mas a outra margem do Rio Pinheiros estava visível, ao longo do qual seguia o setor oeste do Parque, além de toda a vista à frente da nave, com o Edifício Eletropaulo bem em primeiro plano, e o restante da linha de prédios ao lado do setor leste do Parque Pinheiros, juntamente com a esguia tubulação metálica do Airtram da linha Celeste do Metrô. O dia estava muito bonito, com céu claro e temperatura agradável, e o Parque estava com um bom público, por toda sua longa extensão.

Desde o início do século 22 as áreas adjacentes aos rios Pinheiros e Tietê vieram a se tornar dois monumentais parques, cada um deles seguindo o curso do rio. Ambos os Parques começavam onde o Rio Tietê e o Rio Pinheiros se encontram, na parte noroeste da cidade, e dali o Parque Tietê seguia a leste indo até a cidade de Guarulhos, e o Parque Pinheiros descia ao sul até o bairro de Interlagos. O complexo todo tinha, portanto, mais de 50 quilômetros de comprimento, com ambas as margens dos dois rios tendo densos jardins arborizados com os mais diversos tipos de paisagismos, áreas esportivas e culturais, boulevards, áreas de natação e canoagem, docas para barcos de turismo e diversas outras instalações. A largura de cada um dos dois parques, somando as duas margens e o rio, variava entre apenas algumas centenas de metros a mais de um quilômetro em alguns pontos, quando os Parques se juntam a áreas que já existiam previamente, como os Parques Burle Marx e Villa Lobos, o Jóquei Clube, a Academia Vulcana de Pedagogia, o campus da USP, o Estádio Vicente Matheus, o Parque Anhembi e outros.

A idealização deste complexo de Parques datava da época imediatamente após o Primeiro Contato, quando dois importantes fatores combinados criaram as condições ideais para o projeto. Primeiro, a despoluição que os dois rios finalmente tiveram no final do século 21 aconteceu aproximadamente na mesma época em que houve o fim do uso do automóvel como o principal meio de transporte urbano do planeta. Isto fez com que o complexo viário conhecido como Marginais, instalado às margens de ambos os rios, se tornasse obsoleto, e portanto toda aquela área podia ser utilizada para outro fim. A Prefeitura da Cidade decidiu então construir os dois parques ao longo dos despoluídos rios. Ambas as vias Marginais foram totalmente destruídas e as antigas pontes de concreto foram demolidas, exceto pela Ponte das Bandeiras, no Rio Tietê, que fora escolhida para ser preservada por questões históricas. Um trabalho de terraplanagem se seguiu, e ambos os rios, já livres de suas indesejadas funções de escoar esgoto, puderam ter sua vazão diminuída, e então ter seus leitos estreitados em cerca de 30%. Isto aproximou as margens uma da outra, que ajudou a aumentar ainda mais a área disponível para os parques, ao mesmo tempo em que devolveu aos rios suas características originais, que tinham até o início do século 20. Terminada a terraplanagem, os Parques adquiriram sua forma final por volta de 2130.

A última fase do projeto previu a construção de uma descomunal torre na área onde os dois parques se encontravam. A sua finalidade era tanto a de servir como símbolo principal da cidade como a de ser uma alternativa de expansão imobiliária em lugar das áreas onde foram construídos os parques, áreas estas que sem dúvida haviam sido cobiçadas para um sem número de outros usos. A construção da torre em conjunto aos dois parques daria à cidade o melhor dos dois mundos, certamente. Portanto, a idéia básica seria construir uma estrutura nos moldes do Millenium Gate, o enorme complexo erguido no início do século 21 em Portage Creek, Indiana, e que havia servido de modelo para as primeiras colônias humanas em Marte.

Denominado Braço de Gaia, a sua construção havia se iniciado no final da década de 2130, e a obra ficou pronta a tempo do 600o aniversário da cidade, em 2154. O conjunto todo é composto de seis grandes torres de 400 metros de altura cada, duas delas instaladas em cada uma das três margens do encontro do Rio Tietê com o Pinheiros. Cada uma destas seis maciças torres foi construída com uma leve inclinação de 75 graus em relação ao solo, pois também serviam de base de sustentação para a segunda parte do complexo, uma torre final de 800 metros de altura, dando ao conjunto todo uma altura final de mais de um quilômetro. Imediatamente abaixo da torre principal, em uma pequena ilha artificial no entroncamento do dois rios, foi construído um monumento aos mortos na Guerra Romulana, que acabou pouco antes de a obra ficar pronta, apenas a dois anos da fundação da Federação.

A aparência geral do projeto arquitetônico da torre principal lembrava um braço humano, com os últimos andares no formato de uma mão aberta, com o que seria o dedo indicador apontando diretamente para cima, e os demais em diferentes ângulos até o "dedo mindinho" estar a 90 graus em relação ao "dedo indicador". Críticos deste design na época disseram que a coisa toda parecia alguém se atrapalhando todo para fazer a saudação Vulcana. Ainda assim, este formato foi o aprovado para o projeto, pois remetia ao mesmo espírito empreendedor e aventureiro que estava fazendo a humanidade explorar cada vez mais a galáxia, sentimentos estes comemorados também em outras obras como o Zefram Cochrane Memorial, no Missouri.

E era esta a visão que Cristina tinha mais ao fundo, no horizonte. Um enorme braço estilizado, levemente refletindo a luz do Sol em sua estrutura de duranium revestido com alumínio transparente de diversos tons, levantando-se ao céu e lembrando ao povo daquela cidade que sua civilização sempre estava indo aonde ninguém jamais havia ido.

Cristina desviou-se daquele seu momento de ponderação quando ouviu uma familiar voz soando atrás de si, se destacando do murmúrio contínuo das conversas no refeitório.

- Mãe! – exclamou Priscila Stel Parker, quando esta viu a Senadora próxima à janela da extremidade direita do refeitório. O seu irmão, Ricardo, estava ali também. Embora eles dois fossem gêmeos, com 13 anos cada, obviamente eram do tipo não-idêntico. Na verdade, Priscila tinha mais semelhança com a irmã seis anos mais velha dos dois, Kátia, do que com Ricardo. Ambas tinham rostos com feições leves e olhos bem amendoados, e um cabelo castanho claro que não era muito típico de Betazóides, mas certamente isto elas haviam herdado do pai deles, da mesma forma que Ricardo tinha uma semelhança grande com ele.

Entre os dois garotos estava uma sorridente mulher de cabelos castanhos lisos que terminavam um pouco abaixo dos ombros, e que esbeltamente preenchia o uniforme da Frota Estelar em que estava vestida. Embora estivesse quase com 40 anos, ela tinha o biotipo daquelas pessoas que aparentam serem muito mais novas do que realmente são, e se não fosse pelas quatro pequenas bolinhas douradas em sua gola, alguém desavisado facilmente poderia confundir a Capitão Carolina Parker com uma Alferes recém-saída da Academia da Frota.

- A tia Carol aqui mostrou a nave toda para a gente, - a garota continuou a falar. – Nós estivemos até mesmo na ponte.

- Hum, parece que vocês dois tiveram um tour personalizado, então. – Cristina respondeu para seus filhos.

- É, foi legal e coisa e tal, mas eu ainda preferiria que a Frota tivesse feito a nova São Paulo também da classe Defiant, - Ricardo comentou displicentemente – E não esta colher com naceles que eles te deram, tia.

- Cala a boca Ricardo, - Priscila deu um leve empurrão no ombro do seu irmão, para repreendê-lo. – Essa nave aqui é muito mais legal do que as que nem a Defiant.

- Pffz... até parece. - o garoto desdenhou de sua irmã. – E a Frota Estelar ter mudado o nome da São Paulo original só para se ter outra Defiant foi uma cretinice, isso sim... de que droga adianta desvestir um santo para vestir outro?

- Ricardo, pare de malcriação e respeite sua tia aqui, - Cristina falou em um tom mais seco, mas Carolina sorriu despreocupadamente.

- Não se preocupe, Cristina... – ela finalmente disse. - Esse moleque é bem que nem o pai dele mesmo, fala exatamente aquilo que está pensando, sem meias palavras. – e ela deu um leve tapinha no ombro do seu sobrinho. – Mas você não fica contente que seja eu a Capitão da nave que homenageia bem a cidade em que vocês vivem?

- Sim, eu concordo, tia... eu só preferiria que tivesse sido uma Defiant, só isso. – sua mãe sentia em Ricardo uma sincero sentimento de orgulho dele para com a Capitão, então ela não forçou o assunto. Carolina apontou para a mesa à frente de ambos.

- Façam o seguinte, vão se servir do buffet ali que eu preciso falar com a mãe de vocês, certo? – o casal de irmãos concordou com a sugestão da Capitão da São Paulo e foram na direção da mesa se servir, enquanto as duas mulheres ali continuaram a observar os dois.

- Hunf... quem vê esses dois nem diz que foram criados por uma Betazóide, hein? – Cristina comentou ironicamente com sua cunhada.

- Betazóide que tem mais de "humana" que muitos que eu conheço também, não é? – a Capitão fez uma pausa. - Venha, vamos até o meu gabinete para falarmos com mais tranqüilidade. – Cristina acenou com a cabeça concordando, enquanto terminava de tomar o que restava de champanhe no seu copo, e as duas saíram do refeitório.

 

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- Oh, Cristina, é lindo... realmente não precisava. – Carolina segurava a pequena escultura, que Zhaav havia se encarregado de trazer consigo para a Senadora presentear a Capitão.

- Deixe disso, Carol... nós sabíamos que você ia gostar. Eduardo procurou feito um maluco por uma deste período da arte Andoriana, que ele achasse que combinava com sua personalidade. – Denise se referiu ao seu marido, Eduardo Parker, irmão de Carolina. Sendo Diretor do Instituto Smithsonian, e grande conhecedor de arte, Eduardo tinha excelentes contatos no meio, e havia conseguido aquela exclusiva escultura com um colecionador Andoriano que conhecera em uma de suas viagens. – Aliás, ele pediu para lhe dizer que fez de tudo para ver se conseguia mudar sua agenda e voltar de Tellar a tempo de estar aqui, mas não pôde. E Kátia também está com todos os trabalhos na faculdade...

- Sim, eu recebi a mensagem deles... – Carolina continuou a admirar a peça por mais alguns instantes antes de a colocar na mesinha perto dos sofás do gabinete. – Diga ao Edu que eu adorei a escultura... vou colocá-la em um lugar mais adequado, assim que eu terminar de arrumar essa bagunça toda. – Carolina sorriu enquanto fez um gesto na direção das caixas com alguns de seus objetos pessoais, em cima de sua mesa de trabalho. – E ele, como está?

- Ótimo, viajando como nunca agora que a guerra acabou e o período de exposições fora da Terra pode recomeçar... – Cristina disse, antes de desfazer o sorriso que mantinha por então se lembrar de uma das tristes notícias que ela ainda não tinha tido a chance de comentar com Carolina. – Eu realmente sinto muito pela Cíntia... nós todos ficamos arrasados quando recebemos as notícias, ano passado. - Carolina olhou um pouco para o lado, respirando fundo, antes de dizer qualquer coisa. A morte da irmã dela e de Eduardo, uma Comandante dos Fuzileiros Navais da Frota Estelar, durante a batalha pela libertação de Betazed, havia sido particularmente difícil para os dois. A Betazóide adotou uma posição mais serena, como que para deixar sua interlocutora mais à vontade para dizer o que estava sentindo. Cristina não tinha treinamento formal na tarefa de Conselheira, mas tendo sido uma educadora por muitos anos, não era algo difícil para ela.

- Eu mal tinha acabado de terminar meu turno na ponte da Mutara quando eu recebi a notícia, - Carolina se referia à nave na qual serviu nos últimos dois anos. – Tínhamos saído de uma batalha bastante danificados, o Capitão Taylor estava inconsciente na enfermaria e eu estava tendo que ficar em comando. Eu estava esgotada, e naquele mesmo momento recebemos mais outro contra-ataque de dois cruzadores Jem´Hadar. Eu até agora não sei como, depois de tudo isso, consegui juntar forças para continuar lutando e em comando... sem dúvida aquilo deve ter me deixado ainda mais sedenta por chutar o traseiro de tantas naves Dominion quantas eu pudesse encontrar. – ela se inclinou para frente suspirando, enquanto apoiava seus cotovelos em suas pernas e esfregava uma mão na outra.

- Toda esta guerra, Carol... terrível. - Cristina abaixou o olhar durante alguns segundos, e voltou a falar. - Não há nada que se possa dizer que realmente alivie a falta que ela faz, mas ao menos devemos sempre pensar que o sacrifício dela não foi em vão. O de ninguém nesta guerra foi.

- Sim, é o que eu fico dizendo para mim mesma. Cíntia adorava o que fazia, e vinha com uma brilhante carreira no Corpo. Eu imagino que, como oficiais da Frota, nós sempre devemos estar preparados para um dia acabarmos encontrando nosso fim. Muitas vezes é inevitável, no final das contas... e pode acontecer com um acidente de transporte, uma queda em um shuttle, alguma anomalia espacial sem sentido... - Carolina voltou a se reclinar no sofá, e olhou na direção das janelas por um momento. - Mas ela caiu libertando o solo da Federação, e certamente foi uma maneira honrosa de partir.

- Falou como uma verdadeira guerreira... - a Senadora disse, levantando a sua mão, na altura de seu rosto, com os dedos posicionados como se estivesse segurando uma esfera, em um gesto de triunfo. Carol sorriu levemente ao comentário, pois havia feito com que algo viesse à sua mente.

- Isso de honra em batalha me lembrou de algo que mostra bem esse jeito que Cíntia tinha, de sempre lutar pelo que acredita... – Carolina disse. – Eu era bem pequena, mas lembro de uma vez em que estávamos nós três e nossos pais em uma recepção diplomática. Alguns dias antes, uma nave da Federação havia atendido o pedido de ajuda de um posto avançado Klingon que tinha sido atacado por Romulanos...

- Sim, eu já ouvi falar deste incidente. Foi uma das Enterprise, inclusive, não foi? – Cristina comentou.

- Isso, a que foi comandada pela Capitão Garrett. Ela e sua nave foram destruídas nesta batalha contra forças Romulanas. Bem, de qualquer jeito, o Império Klingon sentiu-se honrado por uma nave da Federação ter se sacrificado em defesa do posto avançado. Nossa família estava postada na Base Estelar 24, e o Capitão de um cruzador Klingon que estava naquele setor se ofereceu para realizar uma celebração em honra à tripulação da Enterprise, e como nossos pais eram do corpo diplomático da Federação naquele setor, eles estavam presentes na recepção que os Klingons prepararam em um local da base... e você sabe bem como são festas de Klingons, não? – As duas mulheres trocaram irônicos olhares para indicar que conheciam bem quão intensas podem ser as festividades celebradas pela guerreira espécie.

- Bem, eu só sei que lá pelas tantas na festa, o Eduardo e a Cíntia haviam brigado por algum motivo, e de repente o Eduardo tacou uma tigela enorme de gagh bem na cabeça da Cíntia, e ela saiu correndo gritando, enquanto ele começou a rir. – Carolina levou a sua mão direita até a boca para tentar evitar uma risada ao se lembrar da cena. – E ainda era daquele tipo de gagh que tem aquelas perninhas, eu não lembro bem do nome. – Cristina também sorria enquanto Carolina descrevia visualmente a aparência do gagh com alguns gestos. – Mas de repente a Cíntia voltou correndo na direção do Eduardo, e ainda com gagh andando pelos cabelos, ela chegou nele e meteu um murro na cara dele que o levou ao chão, você pode imaginar? Aquelas duas crianças se agarrando de tapas no meio de uma festa de diplomatas? O meu pai tratou de separar os dois, e a minha mãe ficou com uma cara horrorizada enquanto uma de nossas anfitriãs Klingons, a primeira-oficial da nave deles, deu uma alta risada junto com os outros de sua tripulação, e a cumprimentou com um tapa no ombro por ela ter uma filha com tanto espírito Klingon, que não aceitava levar desaforo para casa.

- Mas também, os seus pais levaram para uma festa com Klingons os filhos pequenos deles?

- Meu pai sempre considerou importantes estas demonstrações de confiança nas espécies com quem tinha contato, então... mas também minha mãe não permitiu nossa presença de novo nestas ocasiões por um bom tempo...! – ambas as mulheres riram novamente. A conversa continuou em questões familiares por mais algum tempo, e de teor mais alegre. Após isto, as duas conversaram sobre algumas questões pertinentes à política externa da Federação, principalmente para a área em que a USS São Paulo estava indo. A missão da nave iria consistir de várias análises científicas ao longo da rota que iria começar na Base Estelar 621, indo até a Base Estelar 47, próxima a Tammeron. Ainda que Carolina não estivesse autorizada a dizer isto para sua amiga, estas "análises científicas" também incluíam manter um patrulhamento tanto da fronteira com os Breens quanto do território Cardassiano, do qual uma parte ainda estava sob controle temporário dos Aliados após o final da guerra. Muitas outras naves das Frotas estacionadas naquele setor estavam fazendo estas patrulhas e missões de suporte para o pessoal da Frota Estelar naquela região, e a São Paulo iria cobrir os espaços de algumas naves que estariam voltando para os setores centrais da Federação. Carolina também não deixou de perguntar sobre a eleição que se aproximava, e teve de sua amiga a confirmação de que de fato ela iria participar, ainda que esta notícia ainda fosse não-oficial por mais uma semana. Depois de quase uma hora de conversa, um aviso sonoro indicou que alguém queria entrar no gabinete. – Entra, - Carolina disse, com uma voz um pouco mais alta, ainda que a instrução fosse mais para o próprio computador abrir logo a porta do que para a pessoa do outro lado.

- Com sua permissão, Skipper, – Tenente K'livon, um Benzariano, entrou e ficou parado à meia-distância entre a porta e o sofá. - A senhora me pediu para avisar quando estivéssemos prontos para os procedimentos de partida. O tour para o público já terminou há cerca de vinte minutos, e a tripulação já está em seus postos.

Carolina acompanhou Cristina se levantando do sofá, e ambas andaram na direção da porta. – Obrigada, Sr. K'livon. Você poderia acompanhar a Senadora para a sala de transporte dois, sim? – K'livon inclinou a cabeça levemente, e Carolina então abraçou sua cunhada. – Até mais, Cristina. Dê lembranças ao povo lá de casa, e boa sorte em junho. – ela se referia à eleição pelo mês em que o pleito iria ocorrer, dali a cerca de cinco meses.

- Obrigada, Carol. Espero que corra tudo bem na sua missão, e vá em casa quando você estiver de volta na Terra. – as duas terminaram de se despedir, e K'livon gesticulou para Cristina seguir na sua frente em direção ao turboelevador, enquanto a Capitão se dirigiu para o centro da ponte da São Paulo.

 

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- Tenente Naran, acione o alerta azul. – disse Maxstrim Dot, o Trill com o posto de primeiro-oficial da São Paulo, levantando-se de sua poltrona, enquanto Carolina continuava sentada na de Capitão, terminando de colocar sua assinatura em alguns padds. Barras luminosas azuis começaram a piscar em volta da ponte, enquanto os tripulantes se posicionavam em seus postos e iniciavam seus terminais LCARS. Maxstrim ficou de pé atrás da cadeira da piloto, com os braços cruzados atrás de suas costas.

- Staff de comando da São Paulo, atenção, - ele disse. – Eu quero agora um "vamos/não-vamos" para decolarmos. Engenharia?

- Engenharia, aqui nós temos um "vamos" para a decolagem! – a voz da Tenente-Comandante Zalyn soou pelo intercom, onde estava no momento a Engenheira-Chefe, a oficial natural de Delta IV que Cristina havia visto durante a recepção.

- Cirurgião? – Maxstrim perguntou em seguida.

- Vamos, Ponte. – a voz do Médico-Chefe da São Paulo, Benit Tomly, também soou pelo intercom.

- Operações?

- Operações, vamos, senhor! – o Benzariano que acompanhara a Senadora até a sala de transporte alguns instantes atrás, Ladel K'livon, disse.

- Navegação?

- Vamos, senhor! – Tenente Bárbara Coelho, a piloto da São Paulo afirmou, enquanto trabalhava nos controles para vôo atmosférico da nave.

- Tático?

- Tático, nós temos um vamos! – confirmou Naran Maren, a Tenente-Comandante Bajoriana, terceira em comando da São Paulo. Maxstrim começou a retornar para sua poltrona.

- Muito bem, então é um "vamos" para a decolagem... – o Trill notou o olhar um tanto intrigado de sua Capitão, enquanto ele se sentava ao seu lado. – Nós imaginamos que você iria gostar deste toque de homenagem aos pioneiros da exploração espacial aqui do planeta natal humano, Skipper. – Dot se referiu à sua oficial comandante pelo costumeiro apelido naval que eles usavam para isto, enquanto Carolina sorriu largamente por esta pequena surpresa de seu Número Um, e colocou os padds de lado para se preparar para a decolagem também.

- Todos os decks reportam estarem prontos para a decolagem. – K'livon disse.

- Ótimo. Senhorita Naran, contate o Controle de Tráfego da Frota e peça permissão para decolarmos. – respondeu a Capitão. Naran ativou alguns consoles LCARS para remeter a requisição, e redirecionou a resposta para o intercom da ponte.

- São Paulo, aqui é a Doca Espacial, Controle Orbital B4, vocês têm rota livre para decolagem por estas coordenadas enviadas neste momento. Boa viagem, e Godspeed, São Paulo.

- Obrigada, Controle Orbital. Senhor K'livon, ajuste os amortecedores de inércia para vôo planetário. Senhorita Coelho, libere as travas de pouso e dê força máxima nos propulsores atmosféricos. – Bárbara ativou todos os sistemas de propulsão e a maciça nave da classe Intrepid começou a vibrar, com os propulsores recebendo plena potência. Carolina esticou seu braço, apontando o dedo na direção do monitor principal da ponte, onde estava a imagem da vista da cidade à frente da nave.

– Ativar.

 

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Cristina já havia se teleportado, juntamente com David e Zhaav, para Nova York, aonde ela tinha alguns assuntos pendentes na Assembléia-Geral, mas Tolia ainda estava ali no Parque Pinheiros, acompanhada pelos dois filhos de sua chefe, Ricardo e Patrícia. O grupo estava acompanhando a decolagem da nave juntamente com uma multidão agrupada ali naquele setor do parque. O ruído característico de possantes propulsores atmosféricos, necessários para erguer uma nave daquele tamanho, soou por toda a área. No momento em que a São Paulo começou efetivamente a levantar, o vento provocado foi forte o bastante para fazer várias pessoas protegerem o rosto e segurarem alguns chapéus. Os suportes de pouso foram recolhidos de volta aos seus compartimentos, enquanto a São Paulo subia verticalmente até cerca de duzentos metros de altura. A nave inclinou-se levemente para frente quando começou a avançar, seguindo o traçado do rio, fazendo uma curva à direita para circundar o Braço de Gaia, e começou então a subir bem mais rápido, logo desaparecendo no céu à medida que acelerava para sair da órbita da Terra.

 

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Earth, D.C.

Prólogo
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Epílogo