Capítulo 8 – Tudo
Que Eu Peço...
Aquele imponente
salão havia sido utilizado pela primeira vez ainda em meados do
século 20, e ao longo destes mais de 400 anos de história, a sua
importância no cenário planetário havia passado por altos e
baixos. Neste momento, a câmara principal da Assembléia-Geral da
Terra estava desfrutando de tempos prósperos e tranqüilos na
Terra, mas como alguns costumavam dizer, estes também eram tempos
em que a importância do órgão parecia um tanto quanto pálida,
mesmo em comparação com épocas mais desfavoráveis. Talvez os
dias gloriosos do final do século 21 e começo do século 22
jamais voltem, quando aquele órgão realmente fez a diferença
nas questões terrestres, mas aparentemente este era o preço que
se pagava ao se estabelecer uma comunidade de planetas, unidos em
um todo que era maior do que a mera soma das partes.
A Senadora Cristina
Stel se encontrava no momento ocupando o seu lugar de direito, o
assento do representante do Brasil na Assembléia. Uma sessão
estava em andamento, e Cristina considerava importante participar
de tantas quantas fossem possíveis, quer ela estivesse ocupada
com a eleição ou não. E fosse como fosse, aquela sessão em
particular possuía um elemento interessante: o Embaixador Duke
estava discursando.
Como representante da
Terra no Conselho da Federação, é dever de Timothy Duke
reportar-se à câmara mais alta da sua comunidade e, embora ele
não fosse conhecido por dar muita importância a esta tarefa,
aquela sessão em particular também o interessava, pois Stel era
uma das senadoras presentes, certamente. Logo, ele não perderia a
oportunidade de mostrar serviço bem no quintal da Betazóide.
Mas este serviço
também não se mostrava particularmente fácil. Após ter
deliberado sobre diversos temas regionais pertinentes ao Setor
001, no momento Duke discursava a respeito das providências que o
Conselho da Federação estava tomando em relação à crise em
Chin'toka, que era tanto uma crise política como uma situação
de reféns, pois já havia sido divulgada a informação oficial
de que todos os tripulantes e passageiros do Volga haviam
sido tomados como reféns pelo Empok. A declaração oficial da
organização, assinada por Trovez, garantia que todos estavam em
perfeita segurança, e justificava a operação dizendo que era
uma garantia extra contra qualquer tipo de intervenção mais
profunda da Federação na crise; tanto ela como os demais poderes
aliados deveriam ficar apenas como mediadores -- se assim fosse,
Trovez garantiria a liberdade incondicional dos reféns, incluindo
a Secretária Zgouridy, tão logo as exigências do Empok fossem
atendidas.
A crise já estava
entrando na sua terceira semana, e as negociações com o grupo de
Trovez sobre estas tais exigências não avançaram muito. Embora
os embates militares tenham se restringido aos primeiros cinco
dias do levante em Chin'toka, nenhum progresso havia sido feito
além deste de haver um atenuamento no conflito, com ambos os
lados, Cardassianos legalistas e o Empok, mantendo as posições
conquistadas semanas antes.
O Conselho Detapa e os
Representantes Aliados ainda tentavam persuadir Trovez a depor as
armas e libertar os reféns para assim se negociar algum tipo de
acordo diplomático que daria a Chin'Toka alguma autonomia
administrativa, mas tanto ele quanto as demais lideranças Empok
se mostravam impassivas, não abrindo mão das suas exigências
principais: a retirada completa das forças legalistas do sistema,
e o reconhecimento por parte do Conselho da Federação da
independência da Aliança Quigoliana. Só então, dizia Trovez,
poder-se-ia abrir mão dos reféns e haver algum tipo de
negociação com a União Cardassiana. Mas Trovez sabia, tanto
quanto os demais jogadores deste jogo político sabiam, que se
estas exigências fossem atendidas, retroceder a este status-quo
seria bastante improvável, por duas razões principais: primeiro,
a pressão popular dos habitantes de Chin'toka fariam com que esta
conquista fosse solidificada, e segundo, o Conselho Detapa ainda
era muito instável, e ficaria ainda mais desgastado caso tivesse
que ceder tanto ao Empok. Lang também tinha que gerenciar toda
uma União Cardassiana ainda muito abalada pela guerra, com uma
economia e sociedade em frangalhos, um déficit público cada vez
maior, e diversos outros problemas. Certamente o governo
Cardassiano estava com mais problemas do que tinha a capacidade de
cuidar, e Trovez estava usando isto a seu favor. Mas da mesma
maneira, o líder do Empok procurava não exagerar na pressão
contra Lang e o restante do Conselho Detapa, pois isto poderia
gerar uma queda precipitada do Conselho em favor de um grupo mais
linha-dura, ou mesmo em favor do Comando Central, o que
dificultaria muito a sua luta, mesmo com a Federação mantendo as
rédeas sobre o governo Cardassiano. Esta situação toda estava
sendo relatada por Duke, que também tinha de tempos em tempos
durante a sessão a responder questões dos senadores da Terra,
embora estes não se mostrassem muito incisivos contra o
Embaixador.
A atenção de
Cristina ao discurso de seu adversário na eleição se desviou
quando o terminal LCARS à frente da cadeira ativou uma janela,
com os dizeres, PRECISO DO ELO COM VOCÊ AGORA, acompanhado do
nome da sua assessora de imprensa, Denise. Stel deu uma leve
olhada para trás e a viu no palanque para o público, numa
fileira de poltronas mais próxima do peitoril do local. Aquele
tipo de requisição acontecia quando um membro da sua equipe
precisava falar com a Senadora imediatamente, mas de uma maneira o
mais discreta possível.
Stel olhou levemente
para cima, tomando mais concentração, e conseguiu estabelecer um
elo mental com Denise. Como era com o seu marido Eduardo, o
procedimento tinha que ser totalmente controlado pelo único
telepata envolvido no procedimento, e a distância de vários
metros atrapalhava um pouco isto, mas não era nada que Cristina
não soubesse contornar.
<Eu imagino que
você já tenha aquilo que pedi,> Stel pensou.
<Sim, Senadora,>
Denise pensou de volta. <Eu encontrei Katilla não faz sequer
uma hora. Ela me passou todas as informações de que
precisávamos para confirmar aquilo que o Scott havia
levantado.> Nisto, Denise abriu mais a sua mente, e Stel
absorveu velozmente todo o conteúdo do que a meio-Romulana havia
tido com a Klingon.
<Bem, ela pareceu
muito segura de si, Denise.> Stel comentou assim que terminou
de conscientizar todo o material.
<Você a
conhece,> ela apenas respondeu. <Eu vou também repassar
esta informação para o Scott, e ele e o Massif irão colocar um
artigo no Inquirer tão logo a senhora termine aqui, para
assim também terem qualquer coisa que o Duke comente a
respeito.>
<Perfeito, Denise.
Agora se me dá licença, eu vou começar a também fazer bom uso
deste material.> Stel desfez o elo mental com sua assessora e
voltou a atenção para a sessão. Pouco mais de um minuto havia
se passado, mas fora tempo o bastante para que houvesse mais uma
pausa para perguntas –- muito providencial, pensou Stel.
A senadora acionou
alguns comandos no console, e sua requisição ficou logada, para
ter a chance de falar assim que o Senador Kim Yan, da Coréia,
tivesse sua questão respondida por Duke. E este também percebeu
isto rapidamente, como Stel pôde observar. O Embaixador desviou o
seu olhar na direção do Senador Yan para a translúcida
projeção LCARS à frente do palanque, e instantaneamente para a
direção de Stel, mas também por apenas um instante, voltando
novamente a encarar o Senador coreano enquanto terminava a sua
frase. Foi um gesto rápido, mas que não passou desapercebido
pela Betazóide.
- Senadora Stel, sua
pergunta, - o Chanceler da Assembléia-Geral, Senador Dranan,
autorizou sua colega a se dirigir ao convidado. Stel se levantou.
- Como o senhor
Embaixador está nos assegurando, o Conselho da Federação está
insistindo fortemente em uma saída diplomática para a crise, -
Stel começou, fazendo uma pausa rápida na qual Duke confirmou
que ela estava correta em sua afirmação. A Senadora continuou.
– Bem, entre as diversas movimentações da Frota Estelar quando
do início da crise, algumas naves nossas se dirigiram para o
sistema de Chin'toka como parte de uma força aliada de reação
rápida, para eventualmente prover suporte para as forças
Cardassianas legalistas. Contudo, as naves da Frota quebraram
formação e se desviaram deste grupo. E nenhum dos Klingons,
fossem comandantes locais ou de esferas mais altas, protestaram ou
fizeram comentários irônicos, como eles têm o costume de fazer
quando têm a opinião de que alguma decisão da Frota foi
equivocada... e eles certamente considerariam uma divisão de
forças desta maneira como um equívoco. Mas não houve
absolutamente nenhuma reação negativa.
O Embaixador
aproveitou a pausa de Stel para começar a debater. - A senhora é
que está considerando a manobra da Frota como um
"equívoco", minha cara Senadora. Eu lhe asseguro que
tanto o Conselho como o Comando da Frota consideram que não houve
equívoco tático algum no procedimento, logo os Klingons também
não teriam nenhuma objeção. Eu não estou entendendo qual é a
sua reserva quanto a uma simples escolha tática.
- Não, eu concordo
com você, senhor Embaixador; os Klingons certamente concordam que
a movimentação da Frota foi uma necessidade tática totalmente
válida. A minha reserva, Embaixador, é que Klingons não fizeram
absolutamente nenhuma objeção não apenas a esta manobra, mas
também em relação a toda a maneira pela qual a Federação vem
liderando a negociação e a crise toda, que como o senhor mesmo
disse, está acontecendo toda em terreno da diplomacia. É algo
intrigante.
- Bem, só porque os
Klingons não fizeram nenhuma declaração não quer dizer que
eles não tenham reservas... nós não podemos afirmar com
certez...
- Não, caro
Embaixador. – Stel o interrompeu, o que nitidamente incomodou
Duke, mas ele não insistiu com nenhuma ressalva. - Fontes da
Embaixada Klingon asseguram que também não houve nenhuma queixa,
formal ou informal, em qualquer esfera, seja pública ou
privadamente. A minha questão é simples: devemos encarar esta
aparente tranqüilidade Klingon como um sinal de que já está em
andamento algum tipo de operação militar como opção caso as
negociações falhem? Entendo que o senhor não precisa, ou mesmo
não deve, claro, nos detalhar sobre estas eventuais operações,
é certo. Mas eu considero importante sabermos se a opção está
sendo considerada, e com que grau de seriedade. O senhor teria
algo a nos comentar?
Ficou bastante nítido
para Duke, pela maneira com a qual ela colocou a questão, que
Stel estava sendo o mais neutra possível para ocultar a sua
própria opinião sobre uma operação militar. Estaria ela sendo
contra algum tipo de intervenção mais forte? Ou a favor? E no
caso de considerar válida uma operação militar, até quanto ela
consideraria isto ser um "risco aceitável" para a
segurança dos reféns? Duke procurou não demorar novamente para
dizer algo a Stel, como da última vez que ela tentou pegá-lo
desprevenido. Afinal, Stel não devia estar interessada na
resposta em si, mas na maneira pela qual ele daria a resposta.
– Em uma situação
do tipo da qual estamos lidando, qualquer gabinete governamental e
câmara de representantes popular tem o dever de considerar todas
as possibilidades e maneiras de se chegar a uma solução
satisfatória para todos os lados. Os valores sociais e morais de
nossa sociedade, que são os elementos condutores das políticas
do Conselho, fazem com que as vias diplomáticas sejam sempre a
prioridade máxima, em qualquer caso. Mas apesar disto, eu estou
seguro em afirmar que o Conselho da Federação e o Comando da
Frota Estelar, em conjunto com os demais poderes aliados na União
Cardassiana, irão considerar todas, eu repito, todas as opções
possíveis para assegurarmos a segurança de nossos cidadãos e a
rápida e pacífica resolução deste conflito.
- Muito bem,
Embaixador. – Stel apenas disse, voltando a se sentar. – Eu
apenas peço ao senhor que quando deliberar mais a respeito desta
grave crise no Conselho, o senhor considere como seus elementos
condutores todos os comentários aqui realizados pelos
representantes regionais da Terra, que refletem apenas e tão
somente a vontade dos cidadãos da Federação na Terra.
- Como sempre faço,
Senadora, como sempre. – Duke concluiu.
# # # #
- Esgotamos realmente
todas as possibilidades?
O Presidente da UFP
estava neste momento em mais uma reunião ocorrendo no anexo de
Comando e Controle do Archer Hall. A reunião já vinha de várias
horas, e Inyo estava tendo que admitir que um cenário nada
agradável estava já definido na crise, o que criava a
necessidade de medidas mais duras.
- A questão não é
apenas o fato de que estamos ficando sem opções, - disse o
Embaixador Boliano Natec. – Mas também de prestar-se apoio ao
governo Cardassiano provisório o qual nós mesmos ajudamos a
criar. Se apenas sentarmos de lado e assistirmos a este circo
pegar fogo, estaremos anulando completamente qualquer
credibilidade nossa com a sociedade Cardassiana, o que por
conseqüência afeta toda a nossa política de ocupação e
projeto de reconstrução de Cardássia. Perdemos suporte popular,
e com isto o governo civil de Lang estará com os dias contados.
– Ao lado dele, o chefe de gabinete de Inyo, Cespedes, balançou
a cabeça.
- Concordo. Isto não
apenas um incidente diplomático isolado. Na verdade, afeta
diretamente mais aos Cardassianos do que a nós, ou aos Klingons e
Romulanos. Trata-se de algo que coloca em perigo tudo aquilo no
que temos trabalhado para ajudar os Cardassianos a reformarem sua
sociedade... e há ainda o perigo de outros locais também se
desestabilizarem, como Camor V. Há indícios de que as
repercussões da crise atual estão tendo alguma influência neste
planeta, e em vários outros.
- Sim, mas não
subestimem a importância interna. – o Secretário Tiago Kirov
interveio. - Aquela região de nossas colônias, nas fronteiras,
também está passando por uma vasta e ampla reconstrução, que
está vindo desde os tempos da crise maquis, na verdade. Então
existe também uma inquietação popular na região, e que
tenderá a ficar mais grave caso a região das próprias colônias
Cardassianas volte mais uma vez a ficar instável. Daí a
necessidade de uma União Cardassiana que realmente faça valer
este termo "união".
- E por cima de tudo
isto, há também a necessidade de mostrarmos ao quadrante que
daqui em diante, nós iremos sim adotarmos posições firmes
quando isto se mostrar necessário. Não podemos permitir que a
Federação continue a ser vista como um poder vacilante; este
tipo de atitude é o que incentivou o Breen a se juntar ao
Dominion, durante a última fase da guerra, por exemplo. – Kirov
acrescentou.
- Quais podem ser as
ramificações jurídicas da atitude que estamos prestes a tomar,
Trilmore? - Inyo procurou mudar um pouco o eixo do debate, e se
virou na direção de seu Secretário de Justiça, Trilmore
Jrittz, um Betazóide. Jrittz era um jurista de longa carreira, e
embora esta tenha sido no meio acadêmico, ele tinha uma
sagacidade e habilidade que não deviam em nada aos melhores
advogados e juízes nas mais altas cortes federativas, o que era
naturalmente reforçado por suas naturais habilidades
telepáticas, claro. Jrittz também era notório por suas fortes
opiniões de como todo o código legislativo federativo,
principalmente a Primeira Diretriz, devia ser aplicado e
interpretado. E era justamente para isto que o Presidente havia
requisitado sua presença naquela reunião em particular. Jrittz
já havia preparado um relatório preliminar sobre a questão, no
qual antecipava diversas dúvidas que as diversas autoridades
presentes poderiam ter, mas ele sabia que iria precisar
reassegurar alguns pontos básicos.
- Na verdade, menos do
que se imagina, - Jrittz confirmou. – A nossa interferência
atual nos assuntos internos Cardassianos é plenamente
justificável, considerando dois fatores básicos: ela se dá na
medida de se tratar de uma conseqüência a uma intervenção
contra a nossa própria sociedade, ou seja, a guerra Dominion.
Afinal de contas, os governantes de uma potência agrediram nossa
soberania e nossas liberdades, e neste processo, a sociedade que
estes governantes controlavam sofreu impiedosas conseqüências.
Como vencemos a guerra e derrotamos estes governantes, temos até
mesmo um dever implícito de auxiliarmos na reconstrução das
instituições desta sociedade em questão. E portanto, isto nos
coloca na situação de termos que intervir.
Jrittz fez uma pausa
para tomar um gole de água do copo à sua frente. - E paralelo a
isto, há as vidas dos cidadãos da Federação diretamente
envolvidos na questão. Um grupo interno desta sociedade fez uma
agressão direta a nossos cidadãos, e também como uma maneira de
confrontar um segundo grupo desta sociedade, sobre o qual temos
direta influência. Logo, temos duas razões distintas para
intervir, e que, por não se relacionarem diretamente uma com a
outra, reforçam ainda mais a validade legal de qualquer
intervenção direta mais forte. A Primeira Diretriz não será
violada em absolutamente nenhum aspecto, posso lhes assegurar.
Assim que ele terminou
de falar, um momento longo de silêncio caiu pela primeira vez na
sala, com todos observando Inyo. Todos os dados, opiniões e
considerações já haviam sido deliberados. Agora era hora de
Inyo manifestar um parecer sobre tudo o que foi debatido com ele.
O Embaixador Natec se encarregou de quebrar o silêncio.
- O Conselho da
Federação já teve uma decisão favorável ao plano, Senhor
Presidente. Tudo o que falta é o seu visto final para ratificar
esta decisão.
Inyo olhou por alguns
instantes para o padd. Desde que a guerra terminara e a União
Cardassiana caíra na tutela dos poderes aliados, ele desejava que
uma situação do tipo pudesse ter sido evitada. Mas, como estava
ficando cada vez mais claro, não era por esta razão que se
deveria dar as costas ao problema; tentativas genuínas de se
resolver a crise por meios mais convencionais, ou seja, pela
negociação e diplomacia, se mostraram insuficientes. Então,
para que houvesse condições de se tentar novamente soluções
por estes meios convencionais, outros meios menos convencionais
deveriam ser utilizados. E a decisão não poderia ser hesitada.
O Presidente da UFP
digitou alguns comandos no padd e terminou pressionando firmemente
o local para autenticação final. Um beep confirmativo soou,
indicando que o sistema LCARS havia reconhecido sua autoridade
para o procedimento, e então estava feito.
- Muito bem,
senhores... a autorização está formalizada. – ele apenas
disse.
# # # #
A crise em Chin'toka
estava realmente fazendo com que o anexo de Comando e Controle do
CCTE estivesse sendo utilizado na base de 24/7, e neste momento,
mais uma reunião de alto nível ocorria nele. Tanto o Comandante
dos Fuzileiros da Frota Estelar, o Almirante John G. Sariff, como
a Almirante Necheyev já vinham trabalhando em um plano básico
para o resgate dos reféns em poder do Empok, e neste momento os
detalhes finais estavam sendo acertados, juntamente com o
Almirante Galbraith.
- Para esta
operação, utilizarei dois grupos de fuzileiros, cada grupo com
uma determinada especialidade, - Sariff passou um padd para cada
colega seu, contendo a relação do pessoal envolvido que fora
escolhido por ele, e suas funções e capacidades. – E cada time
terá o apoio de determinadas naves. Portanto, estamos lidando com
quatro grupos distintos, cujos nomes-código serão ESTRELA,
GALÁXIA, NAVE e ESPAÇO. ESTRELA e NAVE, os times do meu pessoal,
já estão estacionados todos na região, em duas de nossas bases
estelares. Eu já enviei novas ordens para os seus comandantes
locais, e eles no momento já estão preparados em pré-alerta.
Mas para lhes passarmos o restante das informações e a ordem
definitiva de avanço, precisamos definir neste momento os
grupamentos de naves que irão auxiliá-los, ou seja, GALÁXIA e
ESPAÇO. E esta bola está no campo seu, Necheyev.
- Muito bem. Semana
passada, você já havia me informado das características das
naves que seriam necessárias para a operação. Você quer fazer
alguma modificação ou ajuste? – a Almirante perguntou.
- Não será
necessário. Como sabem, esta operação preza a simplicidade em
primeiro lugar, e desta forma, GALÁXIA e ESPAÇO não precisam
ter um número grande de naves, mas sim ter as naves certas. A
única ressalva é que, primeiro, o time GALÁXIA terá
necessariamente que ser composto de naves Klingons; isto é
imperativo. Já o grupo NAVE precisará apenas de uma das nossas
próprias naves.
- Apenas uma? –
Galbraith perguntou.
- Sim, mas esta
precisa ter duas capacidades básicas: razoável capacidade de
carga para equipamento, e boa velocidade... no mínimo capaz de
manter dobra 9,94 por algumas horas.
- Qual será o apoio
de inteligência com que poderemos contar neste exato momento? –
Necheyev perguntou, e Galbraith lhe respondeu a pergunta enquanto
dedilhava em um padd.
- A Inteligência já
me informou que o nosso pessoal infiltrado em Chin'Toka está de
prontidão plena, ainda que eles estejam tendo que redobrar as
suas precauções de segurança, principalmente nas áreas em que
o Empok já conseguiu dominar totalmente a situação. Contudo,
além de todos os relatórios de campo que eles já tem lhe
passado, eles também já conseguiram nos entregar a informação
fundamental: a localização do cativeiro dos reféns, e as
informações sobre suas defesas e pessoal o defendendo-o.
Portanto, assim que tivermos definido estes detalhes finais,
podemos ir daqui direto para o holodeck tático três, - Galbraith
se referiu a um dos vários holodecks especialmente desenvolvidos
pela Frota Estelar para simulações de operações. – E
testarmos a operação toda, do começo ao fim.
- Excelente, -
respondeu o fuzileiro, enquanto Galbraith terminava de trabalhar
nos dados nos seus padds. O Almirante fez uma pausa, e assumiu uma
expressão preocupada ao ver uma determinada seção da relação
de material requisitado por Sariff. Para uma operação
"simples", ele não estava muito satisfeito de ver que
estava requisitando a utilização de material ainda não
definitivamente comissionado. – John, você está certo que
precisa utilizar exatamente este equipamento? Eles ainda são
experimentais, e embora já tenham tido bons testes de campo, são
protótipos, devemos nos lembrar.
- Ou os utilizamos, ou
nada feito, - respondeu Sariff. – As capacidades táticas deste
grupo serão fundamentais, e isto só pode ser conseguido se
utilizarmos o que eu estou lhe pedindo. E além do mais, são
unidades dos Fuzileiros da Frota que estão fazendo estes testes
de campo. Eu posso lhe assegurar de que eles já estão totalmente
familiarizados com o equipamento, e eu não os consideraria no
plano se fosse o contrário, esteja certo.
- Muito bem, então.
– Galbraith chamou uma de suas ordenanças, e assim que a
Alferes chegou na sala, o Almirante lhe passou um padd. –
Miranda, remeta estas ordens prioritárias com três níveis de
criptografia para o comandante da Nona Guarda Klingon, - Naquela
mensagem havia todas as instruções finais para a colaboração
Klingon para o grupo GALÁXIA do plano, e que era algo que já
havia sido prometido aos Klingons, ou seja, a responsabilidade de
levar a cabo parte da operação contra o Empok. O Alto Conselho
Klingon havia terminado suas investigações próprias, e havia
ficado claro que uma de suas naves havia sido emboscada pelos
separatistas para os seus planos. Logo, o Chanceler Martok queria
que a resposta do Império não fosse nada menos do que um golpe
forte contra estes agressores.
- A Nona Guarda irá
servir bem para dar apoio ao grupo ESTRELA, John. – Agora
precisamos definir qual das nossas será utilizada como o ESPAÇO.
Necheyev se virou, e entrou com alguns comando no console LCARS
próximo a ela. A projeção holográfica da região mudou
levemente, passando a indicar as diversas naves da Frota Estelar
que haviam sido originalmente colocadas em prontidão naquela
área, quando do início da crise. Um segundo comando fez com que
as unidades que se encaixavam nas necessidades operacionais do
plano ficassem mais destacadas.
- Hum... - ela disse,
enquanto todos observavam as catorze naves realçadas na
projeção. - Temos várias Nebulas, mas elas não são
velozes o bastante, embora tenham boa capacidade de carga.
- Há duas Akiras,
mas ambas estão longe demais da Base Estelar 310, que é onde
NAVE está estacionado, - Sariff comentou, enquanto também
procurava por opções. Necheyev dedilhou mais alguns comandos, e
uma determinada nave foi destacada, com os dados sobre ela
passando em uma janela anexa a projeção holográfica.
- Se considerarmos
apenas o hangar vazio, você fica satisfeito com esta?
O Comandante em Chefe
dos Fuzileiros da Frota pensou um pouco. – Meio apertado, mas...
sim, irá dar bem, a velocidade que poderemos desenvolver será
adequada. E ela já está muito bem posicionada, ainda por cima.
- Então já temos
nossa garota, - Necheyev disse, e começou a preparar para
contatar a nave em questão.
# # # #
- Verdade? Eu não
sabia disto. – disse Bárbara Coelho.
O refeitório da USS São
Paulo estava neste momento vazio, exceto por alguns dos
oficiais seniores da nave, no caso a Tenente Coelho, da
navegação, a oficial de segurança, Tenente-Comandante Naran, e
a própria Capitão Parker. A Capitão não tinha muito costume de
chegar tão cedo para o café-da-manhã, às 0530 horas, e ao
quebrar esta rotina naquela manhã, teve a chance de jocosamente
perguntar para suas duas oficiais se elas não tinham nada melhor
a fazer do que ficar comentando sobre a vida dos outros. No caso,
Coelho e Naran estavam comentando sobre o estado civil de vários
dos tripulantes homens da nave, especificamente do Comandante Dot,
o primeiro-oficial da nave.
- Sim, pode não
parecer, mas a esposa do Dot também é Trill. – confirmou a
Capitão, trazendo o seu copo de suco de laranja do balcão do
refeitório. A São Paulo, assim como outras unidades da
classe Intrepid, haviam ganho alguns pequenos ajustes
desenvolvidos pela tripulação da irmã delas no quadrante Delta,
o que incluía aquele pequeno balcão perto da unidade principal
de replicação. – Eu a conheço faz vários anos, do tempo em
que eu e ele ainda servíamos na Mutara. Só que ela é de
uma outra etnia Trill, e por isto a testa dela tem uma
protuberância diferente, e as pintas só começam do pescoço
para baixo.
- Ela é unida? –
quis saber Naran.
- Não, - respondeu
Parker. – E ela nunca quis. Os Trills desta etnia não se
voluntariam muito para se juntar a simbiontes, pois pelo que Dot
me disse, com eles o simbionte tende a se tornar a única
consciência do hospedeiro. Não é que nem no caso dele, que é
uma mistura dele mesmo, do simbionte Dot e dos outros dois
hospedeiros anteriores.
- Hum... interessante.
- Então, Bárbara,
você vai ter que esperar o próximo hospedeiro dele, pois este
já tem dona. – Naran comentou, rindo.
- Capitão para a
ponte, - a voz do citado primeiro oficial da São Paulo fez-se
ouvir pelo refeitório.
- Ih, ele ouviu que
nós estamos falando dele. – brincou Bárbara.
- Sim, Número Um? –
Parker respondeu, sorrindo pelo comentário de sua navegadora.
- Skipper, temos uma
mensagem da Frota Estelar classificada como prioridade um, e
específica para nós. – o semblante das mulheres no refeitório
adquiriu tom mais sério, e a Capitão da São Paulo
levantou-se. – Muito bem, redirecione para o meu gabinete. –
Com os recentes desdobramentos da crise na União Cardassiana, a
tripulação estava em um grau maior de alerta, e aquilo podia ser
o primeiro indício de que algo estava efetivamente para acontecer
que justificaria bem esta precaução.
# # # #
Kritol olhou ao redor
da ponte da IKS Sompek, a nave sob seu comando. Uma unidade
da classe Vor'cha, a Sompek havia acabado de sair da
doca seca antes de eles se juntarem à Nona Guarda, e havia
recebido o que existia de melhor e mais atualizado em novos
sistemas. Apesar disto, para um observador desavisado, sobretudo
se este não for Klingon, poderia haver dúvidas quanto a estes
reparos, a julgar-se pela aparência do acabamento dos novos
sistemas na ponte, os quais não fora refeito além do necessário
para serem funcionais e organizados. Kritol queria que sua nave
também tivesse a honra de mostrar as cicatrizes das batalhas
pelas quais passou, da mesma maneira que ele e seus demais
guerreiros prezam suas próprias cicatrizes.
Estes guerreiros, por
sua vez, se encontravam todos em postos de batalha, pois tanto a Sompek,
como o restante da flotilha de outras oito naves os quais
capitanearam, estavam entrando no sistema Chin'Toka, com todas as
naves camufladas e prontas para o momento certo do ataque. Os mais
novos inimigos do Império estavam prestes a aprender que este
não iria ignorar passivamente a tomada de uma de suas naves.
O ataque precisava ser
rápido e preciso, para que desta forma o seu objetivo principal
fosse realizado. Para tal, uma penetração funda nas linhas de
defesa do Empok era necessária, manobra a qual eles estavam
fazendo no momento. Uma outra força de doze naves Cardassianas
legalistas, entre elas quatro cruzadores classe Galor,
estava se movendo ao largo do sistema, atraindo a atenção das
patrulhas do Empok. Isto iria servir de distração, enquanto suas
próprias naves iriam se aproximar o máximo possível de
Chin'Toka Prime. Em toda a batalha havia elementos desconhecidos,
mas de uma coisa ele estava certo: iria ter sucesso em sua
missão.
E isto iria acontecer
contra um adversário que se mostrava bem preparado. As mais
recentes informações da inteligência mostravam que os
separatistas do grupo Empok estavam defendendo o sistema de
Chin'Toka com 93 naves de diferentes classes, tanto Cardassianas
quanto Dominion. As unidades Cardassianas haviam sido fornecidas
por alguns Guls que se aliaram a Trovez, enquanto outras foram
capturadas das forças legalistas. Além disto, o fato de Trovez
também ter conseguido um bom número de naves Jem'hadar mostrava
que o seu pessoal vinha se preparando para isto desde
imediatamente após a guerra. Todas as forças Dominion foram
forçadas a voltar para o quadrante Gama, mas na confusão da
retirada de tanto pessoal e equipamento, unidades Cardassianas que
já eram secretamente leais a Trovez conseguiram manter
secretamente cerca de 40 naves do Dominion. A falha dos serviços
de inteligência aliados de não descobrir estas naves foi algo
bastante grave, mas havia também mérito a se dar aos operadores
Empok, que procuraram escolher bem as naves: nenhuma estava em
plenas condições de operação quando foram ocultadas, e foram
retiradas de estaleiros e bases, onde se encontravam para reparos
quando do fim da guerra. Desta forma, os membros do Empok
conseguiram com que o paradeiro destas naves fosse facilmente
forjado, através de relatórios falsificados que indicavam que
estas naves haviam sido destruídas em diferentes épocas da
guerra. De lá para cá, Trovez e seu pessoal se dedicaram a
lentamente recuperar estas naves em plenas condições, e quando
se mostraram prontos, o levante em Chin'toka estava ao alcance
deles.
Mas o fato de o
inimigo à frente ter uma força considerável para defender um
território composto de apenas um sistema não o preocupava.
Embora isto fizesse com que as defesas estivessem bem posicionadas
e ocupando uma área pequena, uma força de guerreiros Klingons
bem treinados pode se inflitrar em qualquer defesa, seja ela de
que sofisticação for. E seus guerreiros estavam entre os
melhores.
Um destes, o
segundo-navegador Jkrett, responsável pelo monitoramento do
tráfego inimigo durante a batalha, foi o primeiro a relatar um
movimento hostil. Como de costume, o seu tom de voz era
profissionalmente neutro, mas que ainda assim deixava nítido a
satisfação de saber que o combate era iminente.
- Senhor, as naves do
Empok estão quebrando formação da perseguição do grupo de
apoio Cardassiano, - ele reportou. – O inimigo está assumindo
rotas de interceptação ao nosso flanco esquerdo, com as
coordenadas 120 marco 30.
Fomos
descobertos, pensou Kritol. Não era
algo de se espantar, claro. O Dominion desenvolveu diversas
técnicas de detecção de camuflagem durante a guerra, e o Empok
certamente estava fazendo bom uso destas técnicas, o que se
mostrava ainda mais claro com esta rápida detecção de seu
grupo. De qualquer modo, eles já haviam transcorrido mais de um
terço do curso até o alvo principal dentro do sistema. Os dois
terços seguintes não seriam nada os quais um Klingon não
pudesse conquistar lutando.
- Ordene todas as
escoltas, aumentem a velocidade para impulso total, e adotem a
formação de penetração em profundidade, - ordenou Kritol. A
manobra foi realizada, com as naves ajustando seus cursos para
adotarem a nova formação. Kritol também ordenou que o grupo
desativasse os dispositivos de camuflagem, uma vez que sua
utilidade chegara ao fim. E desta forma, todas as naves já
estariam prontas para os primeiros disparos no instante seguinte a
que isto fosse possível. Tão logo as primeiras manobras foram
concluídas, Jkrett reportou novamente.
- Senhor, há outras
seis naves vindo do planeta, acompanhadas de outros dez contatos
ainda não identificados... – alguns segundos se passaram antes
que o computador principal pudesse ter uma leitura positiva da
identificação dos alvos. – São mísseis táticos
Cardassianos, do tipo D2.
Aquilo era má
notícia.
O D2 era uma versão
reduzida de um outro tipo de míssil Cardassiano, o qual eles
tinham o costume de classificar como uma arma "tática",
mas que estava longe de ser isto: tratava-se de uma naveta
autoguiada carregada com uma tonelada de matéria e uma outra de
antimatéria, poder o bastante para despedaçar um asteróide por
total. Como eram de difícil construção, os Cardassianos
desenvolveram uma versão reduzida, esta sim para finalidades
táticas, a D2, que embora não fosse nem de perto tão poderosa,
por levar bem menos carga explosiva, ainda assim podia dizimar uma
nave em apenas um único impacto. E além do mais, era muito mais
manobrável do que a primeira versão.
- Os cruzadores devem
nos fornecer cobertura enquanto nos posicionamos para o ataque, -
o Capitão ordenou o seu oficial de comunicações a transmitir
instruções detalhadas para todas as naves. – Enquanto as
ave-de-rapina devem engajar os mísseis táticos. Se assegure que
todos recebam suas instruções.
Naquele momento, duas
forças distintas se dirigiam contra o grupamento Klingon, que em
velocidade de impulso máxima, se encontrava ainda a bons 15
minutos de Chin`Toka Prime. O primeiro grupo de naves do Empok,
que antes estavam perseguindo os Cardassianos legalistas, chegou
primeiro, composto de 14 naves, as quais abriram fogo tão logo
entraram no alcance. Kritol observou no tático dois de seus
cruzadores receberem o primeiro voleio de torpedos, enquanto as
demais naves respondiam com fogo de feisers. A nave mais avante do
grupo do Empok recebeu boa parte dos disparos, explodindo quase
que instantaneamente, mas era apenas uma fragata leve; os dois
cruzadores classe Galor que vinham logo atrás agüentaram
bem estes primeiros disparos, e retornaram fogo com tudo o que
tinham.
- Oito minutos para os
mísseis nos alcançarem, - reportou o seu navegador, no meio do
intenso trabalho na ponte da Sompek. Eles podiam agüentar
bem contra este grupo do Empok mesmo estando em uma desvantagem de
cerca de três para um, mas era imperativo que as suas escoltas
ligeiras conseguissem ganhar tempo destruindo o maior número
possível de mísseis D2 que se aproximavam. As seis naves do
Empok que vinham acompanhando estes mísseis abriram fogo contra
as suas aves-de-rapina, que corriam para interceptar estas armas.
Este segundo grupo do Empok era todo composto de naves
ex-Jem'Hadar, as quais mostraram o seu poder ao destruírem em
apenas uma passada duas das aves-de-rapina, mas não sem antes o
piloto da segunda conseguir controlar os destroços de sua
moribunda nave de modo que eles colidiram com uma das naves do
Empok, danificando os escudos desta o bastante para que uma outra
ave-de-rapina conseguisse acabar com esta nave Empok com apenas um
torpedo. As cinco naves inimigas restantes fizeram uma manobra
rápida e saíram em perseguição das três ave-de-rapina que
ainda se dirigiam contra os dez mísseis, enquanto a Sompek
e os outros três cruzadores Klingons continuavam a avançar
debaixo do fogo de nove naves Cardassianas; os artilheiros da Sompek
e das demais naves estavam conseguindo nivelar as coisas com uma
contagem que já alcançava cinco alvos destruídos, mas eles não
poderiam continuar a suportar danos naquele ritmo por muito mais
tempo, e ainda quatro minutos os separavam do alvo.
Enquanto avançavam
mais e mais, outro cruzador pesado Empok foi destruído, com
diversos outros em diferentes graus de danos, mas a coisa estava
complicando, pois os primeiros D2 começaram a sua corrida final
contra seus alvos; as aves-de-rapina conseguiram interceptar
quatro deles, mas ainda lutavam para conseguir acertar os seis
restantes, uma vez que ainda tinham que lutar contra as naves do
Empok que as perseguiam.
Em menos de um minuto
todas estas naves e mísseis se encontravam bastante próximos uns
aos outros. Os cruzadores Klingons dividiam agora o fogo contra
todas as naves do Empok que conseguiam engajar, e os artilheiros
conseguiram aumentar as perdas deles em mais duas naves, com
outras duas danificadas a ponto de não representar mais perigo.
Mas a conta de atacantes ainda estava em dez naves.
As três
aves-de-rapina conseguiram destruir mais três mísseis antes que
finalmente se juntassem à Sompek e os demais cruzadores,
para que todos pudessem chegar ao mesmo tempo em Chin'Toka Prime,
agora a menos de dois minutos.
- Senhor, tenho uma
solução de tiro para a nossa salva de torpedos, - o seu
artilheiro-chefe afirmou, enquanto Kritol observava o monitor do
tático, com os dados da batalha chegando, no meio de uma caótica
ponte na qual todos estavam trabalhando freneticamente em seus
consoles, mesmo aqueles que estavam consideravelmente feridos
pelos danos que a Sompek vinha sustentando.
- Ainda não. Aguarde
meu comando. – E Kritol ficou em silêncio. Seus oficiais sabiam
que ele não falaria absolutamente mais nada até que fosse a hora
de ele se pronunciar; não haveria necessidade alguma de ele
reiterar esta ordem. A distância entre o grupo principal e
Chin'Toka Prime caiu para meros segundos. Da mesma forma que a
distância entre os mísseis D2 e eles.
O primeiro dos três
mísseis restantes conseguiu um impacto direto contra a nave
Klingon mais exposta, um cruzador que protegia o flanco direito do
grupo. A nave partiu-se em dois e explodiu instantaneamente, mesmo
sendo a nave Klingon que havia sustentado menos dano até aquele
ponto da batalha. O segundo míssil restante recebeu disparos de
feiser de quatro naves Klingons diferentes, que eram as unidades
que haviam entre o cruzador destruído e a capitânia do grupo. O
fogo concentrado neste míssil o detonou repentinamente, e a
explosão fez com que alguma das naves Empok que os perseguiam
ficassem momentaneamente fora de rota. E por fim, o terceiro
míssil estava travado diretamente em seu alvo, a Sompek,
que já estava praticamente em órbita de Chin'Toka Prime.
- Impacto em cinco,
quatro, três... – Jkrett reportou, no que Kritol finalmente
fez-se ouvir.
- Agora! Impulso total
para 240 marco 45, e disparar torpedos!
No que a ordem foi
dada, quatro eventos distintos ocorreram no mesmo exato instante.
Os dois primeiros foram tanto o seu navegador-chefe e seu
artilheiro-chefe obedecerem às suas ordens velozmente, o que fez
a Sompek fazer uma violenta manobra enquanto nada menos do
que oito torpedos eram disparados. Já o terceiro evento foi que
eles foram atingidos por dois torpedos disparados por uma das
naves Jem'Hadar do Empok, enquanto o quarto evento foi também
responsabilidade de outro de seus artilheiros, que concentrou todo
o fogo de feisers no míssil que estava travado neles, fazendo-o
explodir a apenas quarenta quilocams da Sompek, uma
insignificância absurda.
Toda esta atividade em
torno da Capitânia Klingon naquele momento provocou grande
confusão nas linhas da batalha. Com o impacto dos torpedos que
foram disparados contra as naves Empok, mas principalmente devido
à onda de choque da explosão do míssil D2, a Sompek
girou violentamente para o lado oposto ao qual estava manobrando,
o que exigiu o máximo da integridade estrutural da nave. Diversas
explosões secundárias aconteceram na ponte e por toda a nave,
com seus guerreiros lutando bravamente com os sistemas do cruzador
para mantê-lo em condições de batalha. As naves do Empok mais
próximas foram seriamente danificadas, e as restantes tiveram que
manobrar violentamente para se desviar do ainda numeroso enxame de
torpedos que corria em sua direção, pois todas as sete naves
restantes do grupo também lançaram todos os torpedos que ainda
podiam disparar simultaneamente, o que colocava nada menos do que
setenta torpedos quânticos espalhados na área da batalha.
Vários atingiram seus alvos, mas alguns acabaram sofreram
interferência eletrônica do Empok, e estavam vagando sem rumo,
em rotas aleatórias contra o grupamento de naves atacantes e o
planeta próximo.
Kritol observou o
tático e rapidamente digitou alguns comandos no console próximo
à sua cadeira de comando. O grupo de sete naves passou ao largo
do planeta, enquanto duas plataformas de armas orbitais se
juntavam à defesa do planeta e abriam fogo contra os Klingons, e
as naves Empok que ainda tinham condições de combate os
perseguiam.
- Atenção todas as
naves, - Kritol ordenou novamente. – Velocidade de dobra
máxima, ativar! – e em apenas um par de segundos, todas as
naves Klingons desapareceram nos característicos efeitos de naves
entrando em dobra, e as naves Empok se desviaram da rota de
perseguição, para reagruparem e restabelecerem o perímetro de
defesa em volta do sistema, uma vez que a força Klingon atacante
havia se retirado.
Entrementes, Kritol
aguardava o seu oficial tático analisar os resultados. Haviam
perdido um cruzador e duas aves-de-rapina, e tinham diversos danos
em todas as demais naves, mas em contrapartida conseguiram
destruir oito naves do Empok. Mas isto não era o principal a se
saber. Instantes antes de o grupo entrar em dobra, o Capitão
havia deixado para trás um pequeno satélite de dados, que antes
de ser destruído pelas naves Empok restantes, conseguiu
transmitir a principal informação de que eles precisavam: a de
que o objetivo da missão havia sido atingido.
- Qa'pla! – Kritol
exclamou batendo em seu peito, enquanto todos os seus guerreiros
ali trocavam entusiasmados cumprimentos por uma missão de
sucesso.
# # # #
- Como vão indo os
trabalhos?
A Capitão Parker
entrou no hangar da sua nave, acompanhada pelo Comandante Dot, e
ambos estavam caminhando na direção do Comandante Rtoget, o
Tellarita que estava em comando do grupo de Fuzileiros da Frota
Estelar que no momento estavam embarcando o seu equipamento.
- Caminhando muito
bem, Capitão, - respondeu Rtoget. - Os trabalhos de ampliação
do deck de manobras do hangar já terminaram, e o pessoal da Base
está começando a trazer o equipamento. Teremos uma seqüência
específica para fazermos tudo encaixar no hangar, mas isto já
foi providenciado. - E com isto Rtoget entregou um padd para o
Primeiro-Oficial Dot, que descrevia o procedimento pelo qual o
equipamento do grupo de Rtoget iria ser estocado, e a maneira que
o seu pessoal de apoio iria fazer a preparação dele durante a
viagem.
Neste momento, a São
Paulo estava docada na Base Estelar 47. A nave havia sido
chamada às pressas para aquela instalação da Frota, ao largo da
fronteira Cardassiana. Uma vez na base, a Capitão Parker foi
informada dos detalhes da operação. A participação da São
Paulo iria ser de transportar o time NAVE, comandando por
Rtoget, até o teatro de operações, e efetuar a extração deste
time posteriormente. Não eram muitas pessoas, apenas 14 oficiais
dos Fuzileiros da Frota. Mas o equipamento que eles levavam era
tanto que a São Paulo teve que sofrer algumas adaptações
para acomodar todo o material, que estava sendo colocado no hangar
neste momento.
As equipes de
engenharia da São Paulo tiveram que remover praticamente
todo o equipamento que normalmente ficava espalhado pelo local, a
fim de aumentar a área útil para a estocagem, que consistia de
oito grandes contêiners, além de dezenas de outras caixas e
envoltórios menores. Consoles de controle, bancadas de
manutenção, contêiners, e tudo o mais que pode ser remanejado
para as laterais do local. Mesmo assim, o espaço iria ficar
extremamente apertado, mas se tratava de um problema que de uma
maneira ou de outra, teria que ser contornado.
- Vocês tiveram mesmo
que bagunçar a minha nave, hein? – comentou a Capitão,
observando as modificações feitas no hangar.
- Lamento pelo
inconveniente, mas o nosso equipamento é volumoso, - o Comandante
respondeu. - O seu pessoal se mostrou muito eficiente,
especialmente sua engenheira-chefe, embora eu esteja certo de que
demos a ela muito trabalho. Acho que se ela tivesse algum fio de
cabelo, já teria arrancado todos. - ele comentou sorrindo. Com as
portas do hangar da São Paulo totalmente abertas, e com os
campos de força mantendo a pressurização do local, a Capitão
podia observar o espaço fora da nave, onde um dos shuttles classe
dois da São Paulo fazia uma manobra para entrar em uma
área da Base Estelar 310.
- Todos os nossos
shuttles já foram removidos?
- Sim. O meu pessoal
se assegurou com as equipes da Base que eles fossem bem
hangarados, e vão ficar seguros até a nossa volta.
- Ainda estamos com o
Aerowing, - disse Dot. - Ele irá servir bem caso surja a
necessidade por uma nave auxiliar. – Parker fez uma silenciosa
expressão de que concordava com o seu Número Um.
Rtoget fez um gesto
para um dos oficiais no hangar ir verificar um dos oito grandes
contêiners, o qual havia acabado de ser descarregado no hangar
por uma naveta da classe Workerbee, que pertencia à Base 310.
Parker não reconheceu o Tenente, o que lhe indicava que devia ser
um dos homens de Rtoget. Ele estava usando um uniforme de serviço
regular da Frota, com a única diferença que próximo às
bolinhas de patente na lapela, havia um pequeno distintivo dos
Fuzileiros da Frota, uma âncora no fundo do brasão da UFP.
- Comandante, - Dot
chamou a atenção de Rtoget. – Antes de levantarmos ferros, eu
preciso coordenar a distribuição dos alojamentos ao seu pessoal,
então vou colocar alguns tripulantes para prepararem tudo. Eu a
encontrarei na ponte, Skipper. – e com isto Dot começou a se
dirigir à saída do hangar. A equipe de Fuzileiros não iria
ficar muito tempo na nave, mas eles precisariam de algum local
para descansar ao menos por um par de horas antes da missão.
- Muito bem, Número
Um. E lembre-os e também ao nosso pessoal de que teremos uma
reunião tão logo nós partirmos, para que possamos repassar o
cronograma do plano, e outros detalhes.
- E isto não deve
demorar muito, - o tellariano acrescentou. – A Frota vai nos dar
a ordem a qualquer instante, agora.
- Eu imagino que sim.
E teremos que partir minutos depois, ou vamos ficar para trás
nisto tudo.
# # # #
SECRETO
DE: IKS SOMPEK
PARA: CINC FROTA
ESTELAR
VOCE TEM A ESTRELA QUE
PEDIU A DISPOSICAO DE SUA NAVE. COORDENADAS 33NO 75W 176.
A mensagem estava
sendo mostrada na tela principal da sala de Comando e Controle do
Archer Hall, onde o Presidente Inyo estava acompanhando o
desenrolar da operação, acompanhado de Gregory Dalton, do
Embaixador Boliano Natec, e dos Almirantes Galbraith e Neychevey.
- Cespedes já
verificou com a Inteligência da Frota de que a informação é
correta, embora nossos agentes de campo ainda não tenham chegado
nas coordenadas do encontro, que serão nas proximidades destas
que os Klingons passaram, - Dalton disse, se referindo à mensagem
que recebera do Chefe de Gabinete da Presidência da UFP. – O
Empok em momento algum teve o conhecimento do real motivo do
ataque Klingon, e as comunicações que interceptamos deles
mostram que eles estão especulando de que se tratava de um
desembarque de tropas em Chin'Toka Prime para o estabelecimento de
uma cabeça-de-ponte para a chegada de tropas cardasssianas
legalistas.
- Desta forma, esta
etapa da operação está completa, - Neychevey afirmou. A
Almirante acionou alguns comandos e o grande painel passou a
mostrar uma rota espacial, partido das cercanias de Trill até o
sistema de Chin`Toka.
- A segunda fase,
será, claro, efetuada pelo pessoal embarcado na USS São Paulo,
ou seja, o grupo NAVE. – ela continuou. – A São Paulo
partiu da Base Estelar 310 tão logo tivemos a confirmação por
parte dos Klingons sobre o momento e o local onde ESTRELA foi
posicionado. A contar de 35 minutos atrás, tanto NAVE quanto
ESTRELA agora tem exatas 2.0 datas estelares para estarem na
posição zero, quando será o momento de agir. Estimamos que a
extração dos reféns e a retirada do local levarão exatamente
vinte minutos, sendo que quinze destes são solenemente o tempo
necessário para a penetração inicial e a retirada. Portanto, a
operação per se levará não mais do que cinco minutos. Nem
deve, na verdade.
Inyo observou as
informações táticas por mais alguns instantes. Claramente a
operação estava caminhando bem neste aspecto, mas ele sabia que
isto era apenas um lado daquela problema. Havia uma outra questão
a se considerar, e ele sabia que isto estava nas mãos dele, do
Conselho da Federação e do corpo de diplomatas. O Almirante
Galbraith se encarregou de introduzir o tema.
- Mas considerando que
ainda estamos a quase um dia de isto acontecer, precisamos ter
certeza de que não irá ocorrer nenhum tipo de retaliação por
parte do Empok devido ao ataque Klingon. Em outras palavras, agora
é a hora de ganharmos tempo.
- A idéia, Sr.
Presidente, é estabelecermos que isto teria sido uma ação
unilateral dos Klingons, resultante das próprias investigações
deles sobre o que aconteceu com a IKS Azetbur. – disse
Dalton.
- O Chanceler Martok
concorda com este posicionamento?
- Foi idéia dele, na
verdade, - respondeu o Embaixador Natec. – Originalmente, nós
queríamos camuflar isto como algum tipo de erro de comunicações
que teria causado um mal-entendido. Mas Martok preferiu uma
versão mais firme, por assim dizer. O que faz a coisa sequer ser
uma mentira, pois eles certamente iriam retaliar, fosse para
apoiar nossa operação ou não.
- Tudo já está
arranjado para que tenhamos êxito nisto, - Dalton afirmou,
passando um padd para Inyo, embora o Presidente já conhecesse bem
o cronograma ali listado. – Certamente haverá protestos e
ameaças iniciais, os quais iremos responder com o argumento sobre
os Klingons, acompanhado de que estamos estudando diversas das
exigências de Trovez, e que devemos preparar uma reunião em
Chin'Toka. Isto tudo, se feito de maneira apropriada, irá levar
exatamente o tempo necessário para que a operação termine. E
com isto, teremos eliminado o principal risco imediato à
Federação, que é a vida de nossos compatriotas.
- Muito bem. –
respondeu o Presidente. – Então vocês podem nos assegurar que
a operação vai se dar exatamente na data estelar 54198.0?
- O cronograma é
vulcanamente preciso, Sr. Presidente.
Vulcanamente
preciso, pensou Inyo. Infelizmente eles
não poderiam fazer com que os argumentos os quais usariam para
contatarem o Empok também tivessem valores mais Vulcanos.
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