Capítulo 10 –
Exploradores
- Eu realmente adoro
quando as coisas dão certo. – O Embaixador Duke disse, ao
término do relatório final pelo Almirante Galbraith, sobre o
término da operação de resgate. A sala de situação da
Presidência do Conselho, no Archer Hall, estava contando com a
presença de quase todos os líderes federativos envolvidos no
gerenciamento daquela crise.
- Realmente Trovez
agora está em uma posição muito mais desconfortável no que diz
respeito a ser enfrentado diretamente. O fator de ter reféns para
impedir ações dos poderes aliados acabou, e agora estes poderes
aliados podem possibilitar ao governo Cardassiano legalista uma
margem de manobra muito mais ampla para gerenciar a crise. – O
embaixador Natec comentou. Ele estivera junto com Duke no Conselho
da Federação, para que ambos, mais o Comitê de Ocupação do
Conselho, fizessem as manobras diplomáticas necessárias para
justificar a ação militar que acabara de acontecer. As reações
a ela já estavam acontecendo, na verdade, e o governo da
Federação iria precisar de um posicionamento para justificar.
Felizmente, ter os reféns sãos e salvos iria ser uma peça
fundamental, e esta havia sido conquistada. Duke continuou o
comentário de Natec.
- O que faz a bola
agora estar na quadra da Lang. Ela no momento tem boa capacidade
de manobra política no Conselho Detapa para intensificar as
operações militares contra o levante Quigoliano.
- Isto leva a uma
escalada do conflito. Eu não gosto disto. – Inyo disse,
simplesmente.
- Trovez praticamente
pediu por isto ao fazer o levante em primeiro lugar, Senhor
Presidente. – O Embaixador Natec afirmou. – Eu não acredito
que eles tenham levado realmente a sério as conversações que
tivemos nestas últimas duas semanas. A única coisa em que eles
se esforçaram neste meio tempo foi procurar ganhar apoio moral
pela União Cardassiana.
- E conseguiu
bastante, a se considerar as manifestações pela União, e o fato
daquela flotilha Cardassiana ter intercedido em favor do Empok bem
no momento da nossa operação – a Almirante Necheyev disse.
- Acabaram nos dando
um baita presente. – Duke comentou. – Este fato de parte da
Décima Segunda Ordem Cardassiana ter realizado este avanço foi
uma movimentação militar que serviu como uma luva para
justificar nosso avanço para resgatar os reféns.
- Em termos práticos,
era a de toda aquela Ordem, na verdade – Necheyev disse. –
Aquela unidade ainda estava em processo de ser reconstituída, e
apenas aquelas naves compunham toda a Ordem naquele momento.
- Tanto melhor... mas
não faz diferença. Isto quebrou a promessa de Trovez de manter
suas forças em compasso de espera durante as negociações. – O
Embaixador da Terra comentou, enquanto o Presidente se dirigiu
para a sua Secretária de Exploração Espacial.
- Uma saída
diplomática ainda era preferível do que toda esta operação
militar. – Trajina disse. - Ela nos custou vidas, fora as
centenas de Klingons cujas naves foram destruídas na fase
inicial.
- Bah. Não seja
ingênua, Trajina, - Duke intercedeu, fazendo um gesto de desdém
com a mão. – Se dada a chance, nenhum daqueles Klingons iria
trocar a chance de ter participado da batalha por nada. Era claro
que eles não iam ficar de braços cruzados, fosse o que fosse que
fizéssemos. Eles iam querer uma solução a curto prazo, mas
também uma a longo prazo. A de curto prazo teria que ser uma
resposta direta a uma das naves deles ter sido atacada. –
Trajina fuzilava o Embaixador enquanto ele falava. A Secretária
de Exploração Espacial já andava desgostosa com o Embaixador
por diversos motivos políticos que estavam interferindo com o
trabalho dela, mas aquilo já estava começando a ficar pessoal.
Se ele fazia tanta questão de se meter entre ela e a Frota
Estelar, que trabalhava em conjunto com a sua Secretaria, ele iria
ter que começar a considerar levar patadas de volta por pisar no
pé dela assim sem cerimônia.
- Já a de longo
prazo... – Cespedes disse.
- A de longo prazo
seria ter certeza de que os Cardassianos mesmo resolvam
internamente suas questões étnicas, e de uma maneira que seja
totalmente favorável ao governo central. A última coisa que os
Klingons querem no momento é movimentos nacionalistas pipocando
pelo quadrante. Eles tem aversão à idéia.
- Em que sentido? –
Dalton perguntou.
- As disputas internas
no Império não são apenas de interesses políticos e de Casas
diferentes, - Galbraith respondeu à pergunta de Dalton. – Mas
também possuem algumas tintas étnicas, e eles são de falar
muito pouco sobre o tema. Mas nossos serviços de inteligência
já levantaram muito a respeito. Tem a ver com aquela etnia
Klingon que influenciou por algum tempo o Império, coisa de uns
cem anos atrás. Os Klingons aos quais estamos acostumados a lidar
tiveram tantas disputas internas com eles que é admirável que
pouco se saiba publicamente, ou mesmo que o Império tenha
resistido. Mas o fato é: as facções atuais em controle do
Império Klingon jamais aceitariam a menor possibilidade de
insurgências étnicas em outros poderes do quadrante Alfa
começarem a servir de inspiração para levantes étnicos dentro
do próprio Império deles.
- Portanto, a coisa a
se saber é: o Alto Conselho e Martok iriam exigir que o Conselho
Detapa tivesse a chance de responder com força, e iriam querer
ter participação nisto.
- E só por causa
disto uma ação destas por parte da Federação se justifica,
Duke? – Trajina disse em um tom mais forte. – Nós
praticamente juramos que estávamos seguindo um caminho
diplomático seguro, e agora o quadrante Alfa dá de cara com a
notícia de que forças militares nossas atacaram enquanto se
conversava a saída diplomática!
- Mas nós estávamos
em um caminho diplomático, Trajina. – Ele respondeu. – O qual
estava sendo mantido em círculos por Trovez. Queria ficar nele
para sempre?
- Se você queria uma
intervenção direta, Duke, esta devia ter acontecido justamente
usando o nosso peso de potência de ocupação, e as negociações
deviam ter incluído mais garantias de alguma autonomia para
Chin'toka, para ao menos o levante armado terminar.
- Isto seria ridículo
e inaceitável, - Duke desdenhou da idéia. – E seria exatamente
algo com que os Klingons não iriam concordar, ceder um ínfimo
que fosse para a sede nacionalista do grupo de Trovez. E quanto a
intervirmos diretamente, foi algo que tínhamos todo o direito de
fazer, uma vez que estamos co-administrando aquela pocilga em que
os próprios Cardassianos tornaram sua nação. E se você quer
tanto clamar pela Primeira Diretriz, que faça isto agora: eles
podem agora resolver a crise interna deles por eles mesmos.
Inyo estava
acompanhando com interesse a parte acalorada da troca de
argumentos entre o Embaixador e sua Secretária de Exploração
Espacial, mas o Presidente achou por bem intervir. – Eu, mais do
que ninguém, estou pensando nas conseqüências relativas a como
este eminente embate militar pode vir a afetar a sociedade
Cardassiana, mas devemos lidar com uma coisa de cada vez. Por ora,
iremos esclarecer ao povo da Federação as circunstâncias que
levaram à nossa decisão de resgatar nosso pessoal da maneira que
fizemos. Entrementes, o Comitê de Ocupação irá começar a
trabalhar com o Conselho Detapa em procurar negociar um novo
acordo, como uma segunda chance para o Empok renunciar ao levante
militar e resolver a crise pacificamente. – com isto, Inyo
distribuiu mais algumas instruções particulares a cada um dos
membros daquele grupo providenciarem para os próximos dias.
# # # #
Parker estava
terminando de falar na tela principal com o Comandante Rtoget, que
naquele momento se encontrava na enfermaria da São Paulo,
juntamente com os demais pilotos sobreviventes de sua equipe.
Rtoget informou a Capitão de que já estavam recebendo todos os
cuidados médicos necessários, assim como os outros tripulantes
da própria São Paulo que haviam se ferido. O Tellariano
também confirmou a ela que os passageiros e tripulação do
shuttle estavam sendo atendidos na Thunderchild, e assim
que o time do Comandante Muller terminasse de organizar tudo com
as equipes a bordo da Thunderchild, Muller e seus dois
oficiais iriam se juntar a eles na São Paulo para retornar
à Base Estelar 310, e K'trar e Rqutek iriam ficar na Thunderchild
para voltar à Nona Guarda Klingon.
Neste momento, a porta
do turboelevador se abriu, e o Capitão Dodgers saiu andando para
a ponte, indo à direita para contornar a antepara atrás das
cadeiras de comando da São Paulo. Parker se despediu de
Rtoget e se adiantou para cumprimentar o seu colega com um
abraço. - Que sujeira... nem parece ser a nave daquela cadete
toda certinha a quem eu dei a honra de ser minha consorte. –
Dodgers disse, olhando ao redor da ponte da São Paulo,
ainda mostrando as marcas da batalha. Todos os sistemas estavam em
operação, mas havia diversos conduítes EPS a mostra, e
destroços por vários locais, especialmente perto do console de
engenharia.
- Começa, vai,
começa. – Parker riu.
- Você que está
tendo que aturar ela agora? – Dodgers disse para o Comandante
Dot, esticando calorosamente sua mão.
- A Capitão falou
algumas vezes sobre o senhor, Capitão Dodgers, - Dot disse,
apertando a mão do Zakdoniano. - Só não vou dizer se bem ou
mal, claro.
- Meus times de
reparos se reportaram à sua engenheira-chefe, - Dodgers disse.
– Eu já dei um apertão neles para serem ligeiros em ajudar as
suas próprias turmas de reparos.
Típico dele,
pensou Carolina. Dodgers sempre foi do tipo que gosta de assumir o
controle de tudo em que se mete, e isto de já despachar o seu
pessoal para a São Paulo sem nem mesmo avisar a ponte era
mais uma demonstração disto. A atenção que ele estava dando
era elogiável, mas Parker não podia deixar de fazer isto ao
lembrar da razão pela qual ela rompeu com ele, quando ambos
namoraram durante o ano sênior deles na Academia da Frota –-
ela simplesmente não agüentava toda a empáfia e prepotência de
Dodgers, uma característica comum aos Zakdonianos.
- Eu não quero ter
que segurar vocês aqui mais do que o necessário, - Parker
respondeu, simplesmente. – Acho que poderemos arrumar as coisas
por aqui até voltarmos para a Base Estelar 310.
- Não há problema,
nós ainda vamos esperar mais algumas horas aqui com a Thunderchild
e as demais naves, e então iremos nos separar da força-tarefa
mais tarde.
- Por quê?
- As ordens do Comando
da Frota são para nós levarmos o grupo resgatado de volta para a
Terra. Não que eu tenha muita escolha, na verdade... – o
Capitão da Protector adicionou. - Nós estamos com ordens
de voltar para o setor 001 mesmo. A nossa próxima missão irá
consistir de operações de treinamento e patrulha que irão nos
colocar em uma zona de vigilância de dez anos-luz em torno do
sistema solar da Terra.
- Bem, então
realmente podemos fazer bom uso de braços extras, - Parker
respondeu. Ambos os Capitães e o Comandante Dot discutiram por
mais algum tempo procedimentos a serem feitos pelo pessoal da
Frota ali no que dizia respeito aos Cardassianos do Empok
capturados, que iriam ser encaminhados para as forças legalistas
Cardassianas e, depois disto, Dodgers retornou a sua nave. Depois
de acompanhar Dodgers até a sala de transporte para se despedir
dele, a Capitão da São Paulo retornou para a ponte de
comando.
- Então, - disse
Parker, - Assim que o pessoal da Protector tiver deixado a
nave e o nosso pessoal e o time de Rtoget terminar de hangarar bem
os caças, vamos fazer alguns reparos básicos e traçars o curso
para a Base Estelar 310. Teremos muito que fazer, além é claro
de um debriefing padrão sobre a missão.
- Será que vamos
ficar muito tempo parados lá? – perguntou Coelho.
- Hum... eu calculo
coisa de um par de semanas, talvez. – Parker respondeu, com uma
expressão pensativa. – Precisaremos de vários reparos, além
de reabastecermos com suprimentos e repormos os consumíveis que
usamos nesta operação, além de arrumarmos de volta nosso
hangar.
- Duas semanas? Tudo
isto?
- Ora, Tenente...
você acha que esta nave se conserta sozinha? – A Capitão
apenas disse, indo na direção de seu gabinete.
# # # #
Algo bastante comum na
Terra eram os chamados fóruns, que consistiam de encontros de
diversos intelectuais e pensadores de diversas áreas, para poder
ter um bate-papo informal em reuniões que podiam acontecer desde
diariamente até de maneira anual. Muitas vezes, os participantes
de tais encontros permitiam uma transmissão visual aberta dos
eventos, o que possibilitava que pessoas por toda a Federação
acompanhassem a conversa, o que tornava a coisa, em seu formato
básico, algo semelhante às chamadas "mesas redondas"
que existiram durante a era televisiva.
E naquela manhã de
sábado, enquanto se exercitava em um holoaparelho de
musculação, Kátia Parker estava começando a assistir
justamente a um destes fóruns, que ocorria toda semana naquele
horário, com cinco personalidades reunidas para um café da
manhã no bistrô instalado em uma das áreas de convivência do
Museu de Ciências de Vitória, instalado em uma ilha às margens
do litoral desta cidade do Espírito Santo. O Jornada, como
era conhecido aquele grupo em particular, se tratava de um dos
mais populares encontros em fórum, e Kátia passou a acompanhar
aquele em particular depois que a amiga de Denise, Katilla, passou
a integrar o grupo, coisa de dois anos antes. A participação da
Klingon realmente deu mais tempero aos debates do grupo, e ela
não parava de surpreender o público com que eles contavam.
Kátia observava a
Klingon discutindo com os demais membros do fórum enquanto
ajustou o holoemissor para ajustar o aparelho de musculação para
um exercício de pernas. Como a cabeça dela passou a estar em uma
outra direção por ela agora estar deitada, a projeção da
transmissão foi movida automaticamente para ficar um pouco abaixo
do teto, como se houvesse um monitor flutuante pairando acima da
cabeça de Kátia. A garota começou os exercícios enquanto
continuava assistindo ao fórum, no momento em que seu pai,
Eduardo Parker, entrou no recinto.
- Olá Kátia, -
Eduardo disse, passando pelo holoaparelho para ir na direção de
sua bancada de trabalho, que também ficava ali em uma sala de
recreação da casa da família. Era uma bancada que consistia em
metade mesa de despacho de documentos e metade área para
trabalhos manuais, onde se encontrava de tudo que um pesquisador
do estilo de Eduardo costumava usar: livros, padds, um tricorder,
instrumentos de análise, ferramentas para restauração de
artefatos antigos, pincéis, diversos porta-trecos com objetos,
caixas com o logo do Smithsonian, plaquetas de identificação, um
terminal LCARS e diversos outros ítens.
- Você viu onde
deixei a caixa de membranas palmares, Ká? - ele perguntou, ainda
revirando as coisas em sua mesa, olhando debaixo de uma pilha de
livros replicados em papel.
- O Ricardo andou
pegando algumas... acho que ele deixou na segunda gaveta. - O pai
de Kátia abriu a gaveta e encontrou a caixa com as membranas.
Eram leves folhas de um material orgânico que quando enroladas
nas mãos se transformavam em perfeitas luvas para manipulação
de objetos sensíveis, evitando-se sujar ou ferir as mãos da
mesma maneira que se evitava danos ao objeto manipulado, sem que
se perdesse em nada a sensação natural de tato.
- Esse guri vive
metendo as coisas onde não as encontrou, - Eduardo comentou,
enquanto separava algumas membranas. Ele se aproximou de Kátia
fazendo os exercícios. - O que você está assistindo?
- A Katilla está
falando no Jornada, - ela respondeu. - E está descendo o
ferro no Conselho. Ela disse que eles adoram dar um jeito de
colocarem um targ na sala, para que quando todo mundo começa a
reclamar que tem um raio de um targ ali, eles sempre serem os
heróis em arranjar jeitos de remover o targ.
- Ela está se
referindo à operação em Chin'Toka, não? Não sei se este
último rolo foi o caso disto, mas ela não deixa de ter razão...
é só lembrarmos por exemplo da crise em Ba'ku e da colonização
da ZDM Cardassiana. - Eduardo comentou, enquanto mantinha o olhar
para o alto para observar a projeção acima da cabeça de sua
filha.
- É, ela comentou
sobre a ZDM, como exemplo, mesmo. O Petrov concordou com ela, e
disse que de fato foi o próprio Conselho e a Comissão de
Ocupação que permitiram que a situação chegasse no ponto em
que chegou. Já os outros estão tendo que agüentar o verbo dela,
he, he. - Kátia riu, depois de se referir às várias reações
dos demais membros do fórum, como Petrov Leminom, o Risaliano que
era o chefe da editoria cultural do Serviço de Notícias da
Federação.
- É, meu, a Katilla
é foda, mesmo. - Eduardo sorriu, lembrando-se de como a Klingon
pode dobrar um oponente com os melhores argumentos sem sequer ter
que apelar para qualquer jeito Klingon de debater, coisa que
sempre desarmava seus oponentes, como Katilla mesmo costumava
dizer.
Eduardo guardou as
membranas no bolso de sua jaqueta de campo. - Ela gostou muito do
pote de pimenta que eu preparei para ela, e me prometeu que vai me
mandar um quarto de targ, que ela mesma vai caçar na reserva da
Embaixada Klingon. - Eduardo fez alguns gestos para demonstrar
qual seria o provável tamanho daquela peça de carne que Katilla
iria lhe mandar de presente. - Sua mãe ganhando a eleição, eu
vou fazer um churrasco bom quando nós formos a Nova, em
comemoração. Vou assar este quarto de targ no vapor, temperando
com sal grosso, e depois servir ele com uma farofa de
quadrotriticale, para depois tomarmos um boa garrafa do melhor
madeira que temos... hum...
- A mãe é quem vai
te assar no vapor se ela souber disto, - Kátia comentou,
sorrindo.
- Bah, a sua mãe,
também, viu? - Parker fez um gesto desdenhoso, sorrindo levemente
ao comentário. - Típica terráquea, mesmo... não come carne
real nem que suas vida dependa disso. Vocês não sabem apreciar o
bom paladar de uma verdadeira carne caçada e assada como nos
velhos tempos.
- Ê, ê, vocês é
muita gente, hein, pai? Você sabe que eu como, quando você faz.
- Kátia respondeu, enquanto se levantava para permitir que o
holoaparelho se reconfigurasse novamente para um exercício de
braços.
- Eu sei, você não
perdeu o costume mesmo depois que viemos para a Terra. - Kátia
havia nascido na época em que o casal Parker-Stel morou em Terra
Nova, o planeta-natal de Eduardo Parker. Eles passaram dois anos
lá, enquanto Parker ocupou a cadeira de antropologia da
Universidade de Logan City, instituição onde Stel também
lecionou letras. O casal se mudou para a Terra quando Kátia tinha
três anos, e Priscila e Ricardo já nasceram quando a família
morava na capital da Federação, enquanto Stel ocupava cargos na
Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, e Parker atuava como
pesquisador para o Instituto Daystrom.
- Mas deixe comigo, -
continuou Parker – Mesmo porque a sua Mãe sabe bem que nenhuma
festa lá em Nova pode ser feita com os trecos replicados que ela
gosta de comer aqui. E, de qualquer jeito, se ela não quiser o
targ, ela sempre pode preferir comer um tatu, que a vó de vocês
faz. - o humano se referiu a um tradicional prato novano que sua
mãe costumava fazer.
- Ah, tá bom...! -
Kátia apenas responde, enquanto continuava a se exercitar
assistindo ao fórum.
# # # #
Marcus e Vortik
caminharam rapidamente por entre todas as pessoas que se
encontravam no momento em uma das salas de convenções do Bolo de
Noiva, no Itamaraty, e chamaram a atenção de Denise e David, que
estavam atrás da mesa no palanque principal instalado ali. Ambos
estavam sendo os principais moderadores daquele debate, que
envolvia membros das equipes políticas dos principais candidatos
ao senado Terrestre que Cristina Stel estava apoiando. A reunião
tinha como principal objetivo uma melhor articulação entre as
propostas de todos aqueles candidatos, e se definir uma agenda de
compromissos básica com a qual aqueles eventuais Senadores iriam
trabalhar em conjunto com a eventual Embaixadora. Mas por ora
todos ali estavam concentrando seus esforços em assegurar que a
palavra "eventual" poderia futuramente ser
desconsiderada desta afirmação.
- Bebidas para os
forasteiros, e água para seus cavalos, - David brincou, enquanto
acenava para os dois se juntarem a eles. David estava sentado de
maneira mais descontraída na sua cadeira na mesa de moderação,
enquanto outras pessoas caminhavam ao redor do local. Aquele
intervalo estava programado para durar vinte minutos, o que daria
bom tempo para a recém-chegada dupla reportar as novidades.
- Parece que a coisa
está animada aqui, - Marcus disse, colocando um par de padds na
mesa.
- Não faltou
ninguém, - Denise disse, - E a presença de correspondentes
também tem sido boa. Mas e lá na reunião?
- Igualmente
proveitoso, - começou Vortik. - Ainda que tivemos uma
considerável dose de trabalho.
- Considerável é
apelido... tivemos que ó... - Marcus disse, passando dois dedos
da esquerda para a direita ao longo de sua testa, e os estalando
em seguida, em um suposto gesto de remover suor. - Setorianos são
osso duro de roer em negociações, especialmente aqueles que
trabalham nas Câmaras em si.
Marcus se referia ao
grupo com o qual ele e Vortik haviam se reunido previamente,
diversos representantes das principais Câmaras Setoriais e
Sindicatos Terrestres. A finalidade do encontro foi acertar alguns
detalhes finais para que estes grupos assegurassem seu apoio
formal para Stel na eleição e, disto, preparassem a
participação da Senadora no próximo Fórum Econômico
Terrestre, para dali a dez dias, em Mojave City.
De toda a força de
trabalho existente na Terra e na Federação, cerca de 40 por
cento é composta de pessoas em diferentes posições
governamentais, seja este nas esferas das administrações
regionais, como as cidades e estados de um planeta, seja nas
esferas governamentais ou mesmo federativa. Outros 25 por cento da
força de trabalho são de pessoas que possuem pequenos negócios
particulares ou trabalham em atividades individuais, como donos de
pequenos cafés e restaurantes, artistas, músicos, e outras
atividades. Os demais 35 por cento correspondem a todos os
trabalhadores envolvidos no chamado setor produtivo, que são as
grandes organizações de produção e serviços que são
responsáveis pela produção e distribuição dos bens e
serviços os quais são necessários serem realizados por
instituições com grandes estruturas para isto.
A uma primeira vista,
estas organizações seriam o equivalente de empresas privadas de
grande porte, que existiram séculos antes, mas apenas em alguns
pontos, como áreas de atuação e parte da estrutura
organizacional. Primeiramente, tais organizações não têm mais
como objetivo básico gerar lucro puro e simples - a finalidade
agora é prover para a sociedade como um todo os bens e serviços
pelos quais a organização em questão é responsável. Da mesma
maneira, a "propriedade" destas organizações não
está nas mãos de indivíduos específicos ou de qualquer órgão
governamental. O controle sob estas organizações é de
responsabilidade das Câmaras Setoriais das áreas em que a
organização atua, e estas são auxiliadas na administração
destas organizações pelos Sindicados dos trabalhadores destas
respectivas áreas de atuação.
Então, o modelo se
divide em setores: por um lado, o governo da Federação e os
governos regionais dos planetas-membros, através de seus
departamentos específicos, atuam como reguladores da economia em
geral, enquanto as Câmaras Setoriais se ocupam da administração
direta das companhias, e as representam enquanto instituições, e
os Sindicatos se responsabilizam por apoiar e representar os
trabalhadores destas instituições enquanto indivíduos. Os
campos de atuação são os mais diversos possíveis, como
mineradoras, refinarias, indústrias de base, metalurgia,
construção, indústria de equipamentos acabados, estaleiros,
agroindústria, e diversos serviços fundamentais para a
organização de uma boa economia, como transporte, distribuição
de energia, desenvolvimento de sistemas computacionais,
comunicações, e muitas outras áreas.
Marcus não era de se
animar à toa, e quando isto ocorria David nunca deixava de notar
– conhecia-o bem demais. Apesar de ele querer dar a entender que
tiveram uma negociação difícil com os setorianos e
sindicalistas, a sua animação era visível. Marcus continuou a
falar.
- Estamos falando de
pelo menos dez por cento, aqui... na primeira seqüência. Pelo
menos.
- Kahless seja
louvado, - brincou Denise, lembrando de uma fala típica de sua
amiga. - Tomara que isto já apareça nas próximas projeções. -
com isto, ela começou a fazer alguns cálculos em um padd,
enquanto Vortik continuou a falar.
- A atual composição
do Conselho do Fórum Econômico mostra-se extremamente favorável
para nós. Cerca de 66% deles são representantes da Associação
de Automação Mecânica, e falam por boa parte da indústria
robótica federativa. – disse o Vulcano.
Marcus passou um dos
padds para David, com a pauta da reunião em detalhes. - Eles
queriam porque queriam se assegurar de que a Senadora fizesse
pressão para que a Secretaria do Desenvolvimento Industrial e a
do Planejamento aumentem o apoio à indústria robótica,
especialmente a de autômatos.
- Eu já havia
comentado sobre isto com Zhaav e Stel. - emendou David. - E já
garantimos o suporte do pessoal acadêmico e de centros de
pesquisa. Agora com o apoio das indústrias de base, vamos ter uma
mão que ninguém vai poder bater.
- Adiantamos esta
informação para eles, e foi um dos fiéis da balança em nosso
favor na reunião. - disse Vortik.
- Excelente. - David
pensou durante alguns instantes, procurando também ponderar sobre
as eventuais desvantagens deste arranjo; afinal de contas, quando
o latinum é muito, o Ferengi desconfia. - Podemos ficar meio
impopulares com os setores de holoprogramação, mas acho que é
um risco aceitável, - ele finalmente disse. - Com o apoio do
pessoal de robótica, é meio caminho andado para o resto da turma
de indústria pesada nos apoiar também.
Denise mostrou um
outro padd, com alguns cálculos especulativos sobre as
projeções futuras de intenção de voto. - Considerando a
projeção da semana passada... na qual o Triev e o Duarte deram
uma pequena crescida... - a Romulana ia murmurando enquanto fazia
mais alguns cálculos. - Se considerarmos quinze por cento de
ganho na primeira seqüência, vamos ceifar pelo menos a metade da
diferença geral que separa a Senadora do Duke.
- Acho melhor esperar
as projeções depois do Fórum Econômico, Dê. - Marcus disse. -
Vai dar para termos uma precisão bem melhor de quanto foi que
ganhamos. Até lá, eu vou considerar estes dez por cento mesmo.
- Muito bem, então. -
David disse, se levantando para ir buscar algo para beber. - Eu
vou falar com a Senadora, e ela vai preparar todo o material para
o debate no Fórum. Ela está especialmente interessada em
discursar sobre nossos planos para aumentar o apoio aos projetos
educacionais regionais que as Câmaras Setoriais fazem. Aqueles
cursos de complementação, coisas do tipo.
- Bom, mas seja lá
qual for o nosso crescimento final depois do Fórum, vai ter sido
uma bruta ajuda. Bem que estamos precisando. - Denise comentou, se
levantando também. Marcus continuou sentado, calmamente dando um
gole em uma garrafa de água mineral que estava aberta em cima da
mesa.
- Com certeza... com
certeza. - ele apenas disse, entre goles.
# # # #
Entre as dezenas de
compromissos de campanha, como o Fórum Econômico, e os
compromissos normais de representante na Assembléia-Geral,
Cristina Stel ainda tinha que também gerenciar as
responsabilidades de ser mãe de três adolescentes, e todo o
trabalho que vem juntamente com isto, como por exemplo estar
presente em eventos nos quais os seus filhos tomavam parte. Ela
procurava participar do máximo que podia, mas como era de se
esperar, não havia a possibilidade de estar em todos, fato que
tinha a compreensão de seus três filhos, pois eles bem sabiam
dos meses atribulados em que sua mãe estava no momento.
Um dos compromissos
que Stel teve que inicialmente abrir mão de participar foi a
apresentação das bandas musicais das quais Priscila e Ricardo
participavam. Em um festival musical a ser realizado no sul do
Brasil, ambos os seus filhos iriam participar como integrantes de
bandas musicais de colegas seus da escola em que estudavam, a SPHS
Derville Allegretti –- ainda que ambos não estivessem na
mesma banda, mas sim em grupos separados. Tal festival musical era
uma tradição entre as escolas secundárias da Terra, que
anualmente patrocinavam estas apresentações musicais de seus
alunos em um evento conjunto em Santa Catarina.
A oportunidade,
contudo, não aconteceu de maneira totalmente espontânea, tinha
que admitir Stel. Originalmente, o seu marido Eduardo havia se
comprometido a comparecer neste evento dos filhos deles, uma vez
que a data não era nada favorável para a senadora, mas um
convite para o evento, especificadamente dirigido para Cristina
Stel, serviu de perfeita desculpa para a senadora se permitir
comparecer. Afinal de contas, o convite em particular veio
diretamente do gabinete da Secretária de Educação da
Federação, e foi entregue em mãos para Priscila Parker pela
Diretora da escola deles. Embora estivesse dirigido para ela
enquanto mãe de uma das participantes, a Senadora não podia
deixar de pensar que havia uma agenda oculta de Zgouridy ali,
então ela certamente devia aceitar o sutil convite, pois
provavelmente iria encontrar no evento não apenas atividades
maternas, mas também políticas.
E de fato, sua
especulação se confirmou. Quando compareceu ao Festival, Stel
pôde constatar que entre as mães que estavam prestigiando o
evento das bandas estudantis se apresentando, Raquel Trajina era
uma delas.
# # # #
E os compromissos
continuavam pelas semanas seguintes. De todos os candidatos ao
cargo de Embaixador, aquele que estava se destacando mais em fazer
campanha fora da Terra sem dúvida era Stel, com a senadora
fazendo questão de visitar todos os assentamentos e colônias da
UFP espalhadas pelo setor 001, por menor que fossem. Esta prática
a levava no momento para as plataformas de mineração em órbita
do planeta Mercúrio, onde ocorre a extração de alguns metais
raros para replicadores industriais usarem como matéria-prima
para a sintetização de peças de maquinário. A plataforma não
contava com mais do que uma população de três mil pessoas,
sendo que, destas, duas mil eram flutuantes -- logo, a busca de
votos per se não era seu único objetivo ali. Stel estava
particularmente interessada em demonstrar o seu apoio aos setores
de indústria de base, e o trabalho realizado pelo pessoal das
plataformas orbitais do setor 001 era claramente de suprema
importância.
A Senadora visitara
todo o complexo e recebeu uma explicação básica sobre como são
realizados os trabalhos de extração do minério no planeta
abaixo, e seu processamento básico na plataforma, para posterior
distribuição para diversos locais da UFP. Após a visita, uma
palestra se seguiu, e ao seu encerramento, tanto ela como o seu
staff já estavam retornando para o Delaware, bem como
todos os jornalistas que os acompanharam. Stel aproveitou o tempo
que ainda faltava para a partida de volta para a Terra para ter
uma conversa reservada com um daqueles jornalistas em particular,
o qual Denise havia garantido sua presença no evento.
- Então este é o
negócio? - Ross disse, depois que Stel usou dez minutos para
explicar no que ela precisaria da ajuda dele.
- Este é o negócio.
Topa?
Ross ponderou um
pouco. O que Stel havia proposto era bastante incomum,
considerando que isto não dizia respeito especificamente sobre
qualquer coisa que estivesse na sua jurisdição. Uma
investigação independente sobre os eventos em Chin`toka Prime? A
informação contida no material básico do padd que ela lhe
entregou tinha o típico ar de "Algo de Errado", e
certamente valia uma fuçada a mais. E há muito que Ross
aprendera a confiar no estilo de agir de Stel, e não apenas por
intermédio de sua namorada; ele já havia votado nela mesmo antes
de conhecer Denise, além de todo o trabalho dela antes.
- Você vai ser ideal
para isto, Ross, - Denise recomeçou a falar, para assegurar-lhe
de que ela e Stel não tinham dúvidas sobre suas capacidades. -
Você conhece bem os Cardassianos...
- E é bom repórter
investigativo. - Acrescentou Stel.
- Nem tanto,
Senadora... minha especialidade é mais de análise, e não deste
tipo de investigação minuciosa.
- Bobagem. Não é o
que sua série de matérias sobre os maquis parece demonstrar. -
ela replicou.
Ross ficou em
silêncio por mais alguns instantes, mas pareceu bastante seguro
de si ao concordar com o que a Senadora estava lhe propondo. -
Muito bem, faremos isto.
- Excelente. Agora,
deixa eu te dar uma coisa a qual eu posso te fornecer diretamente
para te ajudar no trabalho. - com isto, a senadora levantou da
poltrona do runabout, ajeitou o seu vestido em uma posição mais
formal e fez um gesto para que Ross também se levantasse. -
Estenda a sua mão direita para mim.
Ross não entendeu
bem, mas seguiu as instruções dela. Stel pegou a mão dele com
ambas as suas mãos, e a pedido dela, Ross repetiu uma frase de
cinco palavras em Betazóide. Logo em seguida, Stel voltou a usar
o inglês federativo.
- Computador,
autentique esta operação com o meu código pessoal, que é... -
e com isto Stel digitou o seu código no teclado LCARS no console
próximo a si. - Está feito. Agora você é o meu valete.
- O seu o quê? - Ross
fez uma expressão intrigada, que valeu um sorriso por parte de
Denise.
- Meu valete, -
respondeu Stel. - Toda mulher Betazóide em alta posição na sua
Casa tem direito a um, cuja função é a de ser uma espécie de
secretário pessoal, mordomo e guarda-costas. Eu sempre detestei
este tipo de coisa e nunca tive um, mas neste momento você bancar
ser o meu irá ter uma baita vantagem... como sua
"chefe", o meu status diplomático passa a se estender a
você, se eu precisar que você faça algum serviço diplomático.
- Certo, certo... bem,
mas isto não é necessário para acelerar a minha ida até lá,
de qualquer maneira. Imagino então que tenha algo mais em mente,
Senadora?
Stel entregou para
Ross um padd e uma pequena caixa com o timbre do Departamento de
Exploração Espacial. - Sim. Vamos dizer que... preciso que você
leve isto para uma certa Capitão da Frota Estelar, cuja nave no
momento se encontra exatamente naquela região.
- Que coisa, não? -
Denise ironicamente comentou.
- E uma vez lá, eu
quero que você fique à disposição dela. Entendeu? - Stel disse
para Ross, com um sorriso que deixava claro qual era a finalidade
básica do novo "emprego" do jornalista.
- Perfeitamente,
milady. - ele apenas respondeu.
# # # #
A movimentação era
grande como sempre no gabinete principal da sede da Secretaria de
Exploração Espacial, em Houston, e no momento a Secretária
Trajina estava despachando com alguns de seus assessores. A sua
assistente terminou de deixar alguns padds na mesa de Trajina, e
deixou a sala no momento em que a Secretária aceitava um chamado
de São Francisco. Trajina ordenou o computador a desviar o
chamado para seu monitor auxiliar, próximo à sua mesa, em vez de
usar o grande monitor principal da sala. Na tela, em uma sala do
Comando da Frota Estelar, apareceu a figura do Almirante
Galbraith.
- Trajina, Bom dia...
- Galbraith começou a dizer. – Me diga, você passou ordens
para alguma de nossas naves mudar o seu curso ao longo da
fronteira Cardassiana?
- Sim. – ela
respondeu, podendo prever exatamente ao que o Almirante se
referia.
- Carol Parker?
- A própria, -
Trajina confirmou tranqüilamente, ainda trabalhando em alguns
padds enquanto falava com o Almirante. – Depois de sair da base
estelar 211, ela irá correr pelos setores Dorvan e Almatha... mas
você já deve estar sabendo disto, de qualquer forma.
- O comando da
Força-Tarefa 47 não foi diretamente informado de detalhes destas
novas ordens da São Paulo, Trajina. Eles são o núcleo de
nossas forças naquela região da fronteira para onde a São
Paulo mudou a rota.
- Ela não está em
uma missão de defesa, Galbraith. Realoquei-a para dar suporte
para uma pesquisa cultural do Departamento de Educação da
Federação.
- O local ainda está
bem volátil para ficarmos inventando missões de pesquisa
cultural. As forças legalistas ainda estão tendo diversas
escaramuças contra forças Empok espalhadas por aqueles setores
do espaço Cardassiano, e nossas forças estão bem ocupadas dando
apoio a eles. Pode ser arriscado mandar uma nave sozinha, em
missão de pesquisa, para lá nestas circunstâncias.
- As instruções
nossas para a São Paulo incluem evitar todo e qualquer
engajamento desnecessário, Almirante. E ela tem plena capacidade
de cuidar de si mesma.
Galbraith não
conseguia deixar de imaginar que a Secretária Trajina parecia ter
algo bem mais específico para a São Paulo do que apenas
"pesquisa cultural", mas resolveu não forçar o
assunto. Por ora, não havia realmente nada de incomum no
procedimento requerido pela Secretária. – Muito bem, então.
Estou apenas confirmando para podermos remarcar o status
operacional da São Paulo na região.
- Sua equipe tem feito
ótimo trabalho nisto, Almirante. Trajina desliga. – Assim
como o senhor, Almirante, pensou Trajina. Muito polido da
sua parte, o próprio Chefe do Estado Maior da Frota em pessoa, se
encarregar de fazer uma corriqueira verificação como esta...
# # # #
A parada na Base
Estelar 211 não havia sido demorada. Segundo as ordens da
Secretaria de Exploração Espacial, tudo o que a São Paulo
precisava fazer era pegar um passageiro, o qual iria servir de
adido para a nova missão deles –- esta pessoa também estaria
trazendo detalhes a respeito. A Capitão Parker encontrou-se com
Scott Ross tão logo ele chegou à sala de transporte.
- Permissão para
subir a bordo, - Ross disse, descendo do padd. Como civil, ele
não tinha realmente obrigação de dizer a frase, mas gostava de
a usar como cortesia para as tripulações com as quais interagia.
- Concedida. Bem vindo
à São Paulo... sou a Capitão Carolina Parker, e esta é
a Tenente-Comandante Naren.
- Capitão,
Comandante, - Ross apertou a mão da humana e da Bajoriana. O
grupo se pôs em direção do gabinete de Parker, e, no que
entraram, usando a porta secundária da sala, a Capitão já
estava passando os olhos pelo sumário das ordens criptografadas
que Ross trouxera no padd que Stel havia lhe confiado.
- Pretende fazer uma
pesquisa sociológica bastante específica, não, Ross? –
perguntou retoricamente Parker. As ordens também continham
recados pessoais da Senadora para a sua cunhada, além de
instruções pessoais da Secretária Trajina. Com mais alguns
minutos de leitura, Parker já estava ciente da natureza pouco
convencional da missão à frente.
- Será interessante
que conversemos mais a respeito, para discutirmos a melhor maneira
de fazermos esta... análise e pesquisa, Capitão. – comentou
Ross. - Será um empreendimento cheio de quetais, como pode
imaginar.
- Sim, concordo... nos
reuniremos com meu staff após o jantar, as 2100 horas. Mas
enquanto isto acho que seria melhor nos colocarmos a caminho de
nosso destino. – com isto, Parker começou a ir na direção da
porta principal de sua sala, e o grupo passou para a ponte da
nave.
- Quanto mais rápido
chegarmos a Torga, melhor.
- Você ouviu o rapaz,
Tenente Coelho, - Parker chamou a atenção de sua navegadora. –
Trace o curso para lá e acione em dobra oito.
- Aye, aye, Skipper.
# # # #
Com o passar do par de
semanas seguinte, a campanha eleitoral tomou ainda mais corpo, e a
agenda de Cristina Stel estava cheia como nunca. Diversas sessões
na Assembléia-Geral dividiam a atenção da Senadora com a mais
recente rodada de debates entre os candidatos, além de visitas e
reuniões a diversos grupos no Setor 001, nos quais os temas
debatidos variavam de controle climático a educação infantil,
de desenvolvimento industrial a controle de aduana planetária, de
propostas de novos centros esportivos a ampliação de fazendas
marinhas.
Durante este tempo,
Stel não conseguia esquecer aquilo que Trajina lhe havia dito, e
daquilo que ela havia iniciado com a Secretária. Uma
investigação secreta estava em curso, da qual apenas Trajina
tinha controle direto – elas optaram por deixar a participação
de Stel o mais distante possível, para se evitar conseqüências
políticas que pudessem envolver a eleição. Este risco foi
diversas vezes ressaltado por Stel para Trajina, mas a Secretária
parecia bem segura de si em desejar a colaboração da Senadora. Ela
certamente tem algo em mente... – pensava Stel, antes de um
suspiro mais forte. – Hum... eu e esta minha maldita
decência Betazóide... bem que uma leiturazinha da mente dela
viria a calhar. – Stel sorriu para si mesma ao especular
sobre a possibilidade. Tudo o que Trajina havia conversado com ela
a preocupava. Mas não havia muito que fazer por ora, a não ser
aguardar pelo comunicado dela, sobre qual irá ser o próximo
movimento.
- Estamos chegando, -
Tolia avisou, enquanto olhava pela janela do Runabout a vista da
Estação Europa se aproximando, em órbita daquele satélite de
Saturno. Aquele era o local onde estava para ocorrer o mais
próximo evento da campanha, uma visita ao Centro de Coordenação
de Colonização, ou seja, o local do setor 001 onde novas
missões de colonização de mundos desabitados são preparadas.
Neste centro as naves de colonização da Federação são
preparadas com todo o equipamento e suprimento necessário para se
dar início a novas colônias em pontos remotos da Federação e
em novos territórios, e é onde as equipes de colonos se reúnem
para se preparar para tais jornadas, onde recebem todas as
instruções e o treinamento necessários, estudam as condições
do local escolhido, e uma série de outros procedimentos, coisa
que normalmente ocupa boa parte de um ano todo. Tudo pronto, a
flotilha de naves de colonização zarpa com uma escolta de naves
da Frota Estelar, para a viagem até o planeta escolhido, onde o
processo inicial de criação da colônia é acompanhado pela
Frota e pela Secretaria de Exploração Espacial.
Zhaav, David, Tolia e
Denise estavam acompanhando a Senadora para esta visita, que
visava mostrar o apoio dela para com a iniciativa de colonização
de um novo sistema classe M que fora recentemente descoberto no
quadrante Beta, e também o seu apoio em geral a política de
colonização da Federação. Nos últimos dias, diversas
críticas a Stel haviam sido comentadas na opinião pública,
depois dos outros candidatos Tiago Duarte e Zirot comentarem as
posições de Stel em relação à maneira pela qual a Federação
criava novas colônias, e como este procedimento teria que ser
revisto. Ambos estes rivais de Stel especularam que isto se
tratava do fato de que a Senadora era basicamente contra a
política de colonização. O mais irônico de tudo é que as
próprias posições pessoais de Duarte e Zirot são praticamente
opostas – Duarte é fervoroso defensor de uma ampliação geral
do processo de colonização para níveis ainda maiores do que os
atuais, enquanto Zirot, condizente com sua visão de uma
Federação mais fechada, advoga por mudar o foco da criação de
novas colônias para se resumir a expansão de sistemas estelares
já conhecidos. E ambos encontraram meios de combinar suas visões
particulares com maneiras de criticar Stel por seus recentes
comentários, nos quais a Senadora comentou as implicâncias
políticas da expansão das colônias, usando para isto as
campanhas de colonização dos territórios próximos às
fronteiras Cardassianas, durante as décadas de 2330 e 2340.
- Hum... não vejo
ninguém com tochas e ancinhos nas janelas da doca de atracação,
- David comentou.
- Só deve ter
ancinhos, - Stel disse, se preparando para desembarcar. –
Colonos não devem ser do tipo de gastar oxigênio com tochas. –
Stel não estava tão preocupada quanto o restante de sua equipe
sobre a possível receptividade daqueles colonos, logo não se
incomodava de manter um tom irônico para eles sobre o tema. Ela
já havia imaginado que poderia receber duras críticas quando
mencionasse suas opiniões sobre a crise maquis de alguns anos
antes, e mais ainda quando especulasse sobre as raízes deste
problema, que teria sido em um processo de colonização que não
levou em consideração nenhuma questão política a respeito da
região escolhida, e como isto serviu de catalizador para os
problemas com os Cardassianos na década de 2350.
Zhaav se levantou
junto com os demais quando a nave finalmente terminou de atracar.
– Bem, páreo duro ou não, vamos ter que sair aí para
enfrentar as feras. Bom, mas não vai ser só com esse pessoal que
o nosso osso vai ser duro de roer. A agenda para os próximos dias
também não está nada fácil. Só eu vou ter que ir em uma
dúzia de reuniões, aaargh...
- Não se preocupa
não, que depois eu ponho uma coisa mole na tua mão. – David
disse com um sorriso jocoso.
Zhaav combinou um
sorriso com uma expressão de desdenho, e cruzou os braços. –
Ih, tá ruim assim é? – ela finalmente respondeu, olhando ele
de cima a baixo. - Não, pode guardar isso aí para as tuas
garotas Órion, tá?
- Pô, eu estou
dizendo que vou guardar para ela pegar as tarefas mais fáceis
desta semana e ela ainda reclama...? – ele comentou para Denise,
logo ao lado.
- Para as próximas
semanas, - disse Stel enquanto o grupo saia pela doca do Runabout.
– Para as próximas semanas, o que nos espera pode ser bem maior
do que isto...
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Katilla mal saiu do
pad de teleporte e correu apressadamente pelos corredores da ala
de serviço da Embaixada Klingon para o átrio principal, indo
para o gabinete do adido de Inteligência do Império. A
jornalista entregou uma autorização para o guerreiro em serviço
de vigilância no momento, e este autorizou a entrada dela no
recinto. Uma conversa de cinco minutos seguiu-se com o oficial do
dia, que o entregou um padd e uma caixa com fragmentos metálicos
dentro. O oficial se despediu dela com um qa'pla, e alguns minutos
mais tarde Kattila estava de volta novamente na sala de
transporte.
- Para onde está
indo? – o Klingon operando o teleporte da Embaixada disse.
- Para a SecExp,
Houston. – ela confirmou, pisando no pad mais próximo.
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