Capítulo 10 – Exploradores

- Eu realmente adoro quando as coisas dão certo. – O Embaixador Duke disse, ao término do relatório final pelo Almirante Galbraith, sobre o término da operação de resgate. A sala de situação da Presidência do Conselho, no Archer Hall, estava contando com a presença de quase todos os líderes federativos envolvidos no gerenciamento daquela crise.

- Realmente Trovez agora está em uma posição muito mais desconfortável no que diz respeito a ser enfrentado diretamente. O fator de ter reféns para impedir ações dos poderes aliados acabou, e agora estes poderes aliados podem possibilitar ao governo Cardassiano legalista uma margem de manobra muito mais ampla para gerenciar a crise. – O embaixador Natec comentou. Ele estivera junto com Duke no Conselho da Federação, para que ambos, mais o Comitê de Ocupação do Conselho, fizessem as manobras diplomáticas necessárias para justificar a ação militar que acabara de acontecer. As reações a ela já estavam acontecendo, na verdade, e o governo da Federação iria precisar de um posicionamento para justificar. Felizmente, ter os reféns sãos e salvos iria ser uma peça fundamental, e esta havia sido conquistada. Duke continuou o comentário de Natec.

- O que faz a bola agora estar na quadra da Lang. Ela no momento tem boa capacidade de manobra política no Conselho Detapa para intensificar as operações militares contra o levante Quigoliano.

- Isto leva a uma escalada do conflito. Eu não gosto disto. – Inyo disse, simplesmente.

- Trovez praticamente pediu por isto ao fazer o levante em primeiro lugar, Senhor Presidente. – O Embaixador Natec afirmou. – Eu não acredito que eles tenham levado realmente a sério as conversações que tivemos nestas últimas duas semanas. A única coisa em que eles se esforçaram neste meio tempo foi procurar ganhar apoio moral pela União Cardassiana.

- E conseguiu bastante, a se considerar as manifestações pela União, e o fato daquela flotilha Cardassiana ter intercedido em favor do Empok bem no momento da nossa operação – a Almirante Necheyev disse.

- Acabaram nos dando um baita presente. – Duke comentou. – Este fato de parte da Décima Segunda Ordem Cardassiana ter realizado este avanço foi uma movimentação militar que serviu como uma luva para justificar nosso avanço para resgatar os reféns.

- Em termos práticos, era a de toda aquela Ordem, na verdade – Necheyev disse. – Aquela unidade ainda estava em processo de ser reconstituída, e apenas aquelas naves compunham toda a Ordem naquele momento.

- Tanto melhor... mas não faz diferença. Isto quebrou a promessa de Trovez de manter suas forças em compasso de espera durante as negociações. – O Embaixador da Terra comentou, enquanto o Presidente se dirigiu para a sua Secretária de Exploração Espacial.

- Uma saída diplomática ainda era preferível do que toda esta operação militar. – Trajina disse. - Ela nos custou vidas, fora as centenas de Klingons cujas naves foram destruídas na fase inicial.

- Bah. Não seja ingênua, Trajina, - Duke intercedeu, fazendo um gesto de desdém com a mão. – Se dada a chance, nenhum daqueles Klingons iria trocar a chance de ter participado da batalha por nada. Era claro que eles não iam ficar de braços cruzados, fosse o que fosse que fizéssemos. Eles iam querer uma solução a curto prazo, mas também uma a longo prazo. A de curto prazo teria que ser uma resposta direta a uma das naves deles ter sido atacada. – Trajina fuzilava o Embaixador enquanto ele falava. A Secretária de Exploração Espacial já andava desgostosa com o Embaixador por diversos motivos políticos que estavam interferindo com o trabalho dela, mas aquilo já estava começando a ficar pessoal. Se ele fazia tanta questão de se meter entre ela e a Frota Estelar, que trabalhava em conjunto com a sua Secretaria, ele iria ter que começar a considerar levar patadas de volta por pisar no pé dela assim sem cerimônia.

- Já a de longo prazo... – Cespedes disse.

- A de longo prazo seria ter certeza de que os Cardassianos mesmo resolvam internamente suas questões étnicas, e de uma maneira que seja totalmente favorável ao governo central. A última coisa que os Klingons querem no momento é movimentos nacionalistas pipocando pelo quadrante. Eles tem aversão à idéia.

- Em que sentido? – Dalton perguntou.

- As disputas internas no Império não são apenas de interesses políticos e de Casas diferentes, - Galbraith respondeu à pergunta de Dalton. – Mas também possuem algumas tintas étnicas, e eles são de falar muito pouco sobre o tema. Mas nossos serviços de inteligência já levantaram muito a respeito. Tem a ver com aquela etnia Klingon que influenciou por algum tempo o Império, coisa de uns cem anos atrás. Os Klingons aos quais estamos acostumados a lidar tiveram tantas disputas internas com eles que é admirável que pouco se saiba publicamente, ou mesmo que o Império tenha resistido. Mas o fato é: as facções atuais em controle do Império Klingon jamais aceitariam a menor possibilidade de insurgências étnicas em outros poderes do quadrante Alfa começarem a servir de inspiração para levantes étnicos dentro do próprio Império deles.

- Portanto, a coisa a se saber é: o Alto Conselho e Martok iriam exigir que o Conselho Detapa tivesse a chance de responder com força, e iriam querer ter participação nisto.

- E só por causa disto uma ação destas por parte da Federação se justifica, Duke? – Trajina disse em um tom mais forte. – Nós praticamente juramos que estávamos seguindo um caminho diplomático seguro, e agora o quadrante Alfa dá de cara com a notícia de que forças militares nossas atacaram enquanto se conversava a saída diplomática!

- Mas nós estávamos em um caminho diplomático, Trajina. – Ele respondeu. – O qual estava sendo mantido em círculos por Trovez. Queria ficar nele para sempre?

- Se você queria uma intervenção direta, Duke, esta devia ter acontecido justamente usando o nosso peso de potência de ocupação, e as negociações deviam ter incluído mais garantias de alguma autonomia para Chin'toka, para ao menos o levante armado terminar.

- Isto seria ridículo e inaceitável, - Duke desdenhou da idéia. – E seria exatamente algo com que os Klingons não iriam concordar, ceder um ínfimo que fosse para a sede nacionalista do grupo de Trovez. E quanto a intervirmos diretamente, foi algo que tínhamos todo o direito de fazer, uma vez que estamos co-administrando aquela pocilga em que os próprios Cardassianos tornaram sua nação. E se você quer tanto clamar pela Primeira Diretriz, que faça isto agora: eles podem agora resolver a crise interna deles por eles mesmos.

Inyo estava acompanhando com interesse a parte acalorada da troca de argumentos entre o Embaixador e sua Secretária de Exploração Espacial, mas o Presidente achou por bem intervir. – Eu, mais do que ninguém, estou pensando nas conseqüências relativas a como este eminente embate militar pode vir a afetar a sociedade Cardassiana, mas devemos lidar com uma coisa de cada vez. Por ora, iremos esclarecer ao povo da Federação as circunstâncias que levaram à nossa decisão de resgatar nosso pessoal da maneira que fizemos. Entrementes, o Comitê de Ocupação irá começar a trabalhar com o Conselho Detapa em procurar negociar um novo acordo, como uma segunda chance para o Empok renunciar ao levante militar e resolver a crise pacificamente. – com isto, Inyo distribuiu mais algumas instruções particulares a cada um dos membros daquele grupo providenciarem para os próximos dias.

 

# # # #

 

Parker estava terminando de falar na tela principal com o Comandante Rtoget, que naquele momento se encontrava na enfermaria da São Paulo, juntamente com os demais pilotos sobreviventes de sua equipe. Rtoget informou a Capitão de que já estavam recebendo todos os cuidados médicos necessários, assim como os outros tripulantes da própria São Paulo que haviam se ferido. O Tellariano também confirmou a ela que os passageiros e tripulação do shuttle estavam sendo atendidos na Thunderchild, e assim que o time do Comandante Muller terminasse de organizar tudo com as equipes a bordo da Thunderchild, Muller e seus dois oficiais iriam se juntar a eles na São Paulo para retornar à Base Estelar 310, e K'trar e Rqutek iriam ficar na Thunderchild para voltar à Nona Guarda Klingon.

Neste momento, a porta do turboelevador se abriu, e o Capitão Dodgers saiu andando para a ponte, indo à direita para contornar a antepara atrás das cadeiras de comando da São Paulo. Parker se despediu de Rtoget e se adiantou para cumprimentar o seu colega com um abraço. - Que sujeira... nem parece ser a nave daquela cadete toda certinha a quem eu dei a honra de ser minha consorte. – Dodgers disse, olhando ao redor da ponte da São Paulo, ainda mostrando as marcas da batalha. Todos os sistemas estavam em operação, mas havia diversos conduítes EPS a mostra, e destroços por vários locais, especialmente perto do console de engenharia.

- Começa, vai, começa. – Parker riu.

- Você que está tendo que aturar ela agora? – Dodgers disse para o Comandante Dot, esticando calorosamente sua mão.

- A Capitão falou algumas vezes sobre o senhor, Capitão Dodgers, - Dot disse, apertando a mão do Zakdoniano. - Só não vou dizer se bem ou mal, claro.

- Meus times de reparos se reportaram à sua engenheira-chefe, - Dodgers disse. – Eu já dei um apertão neles para serem ligeiros em ajudar as suas próprias turmas de reparos.

Típico dele, pensou Carolina. Dodgers sempre foi do tipo que gosta de assumir o controle de tudo em que se mete, e isto de já despachar o seu pessoal para a São Paulo sem nem mesmo avisar a ponte era mais uma demonstração disto. A atenção que ele estava dando era elogiável, mas Parker não podia deixar de fazer isto ao lembrar da razão pela qual ela rompeu com ele, quando ambos namoraram durante o ano sênior deles na Academia da Frota –- ela simplesmente não agüentava toda a empáfia e prepotência de Dodgers, uma característica comum aos Zakdonianos.

- Eu não quero ter que segurar vocês aqui mais do que o necessário, - Parker respondeu, simplesmente. – Acho que poderemos arrumar as coisas por aqui até voltarmos para a Base Estelar 310.

- Não há problema, nós ainda vamos esperar mais algumas horas aqui com a Thunderchild e as demais naves, e então iremos nos separar da força-tarefa mais tarde.

- Por quê?

- As ordens do Comando da Frota são para nós levarmos o grupo resgatado de volta para a Terra. Não que eu tenha muita escolha, na verdade... – o Capitão da Protector adicionou. - Nós estamos com ordens de voltar para o setor 001 mesmo. A nossa próxima missão irá consistir de operações de treinamento e patrulha que irão nos colocar em uma zona de vigilância de dez anos-luz em torno do sistema solar da Terra.

- Bem, então realmente podemos fazer bom uso de braços extras, - Parker respondeu. Ambos os Capitães e o Comandante Dot discutiram por mais algum tempo procedimentos a serem feitos pelo pessoal da Frota ali no que dizia respeito aos Cardassianos do Empok capturados, que iriam ser encaminhados para as forças legalistas Cardassianas e, depois disto, Dodgers retornou a sua nave. Depois de acompanhar Dodgers até a sala de transporte para se despedir dele, a Capitão da São Paulo retornou para a ponte de comando.

- Então, - disse Parker, - Assim que o pessoal da Protector tiver deixado a nave e o nosso pessoal e o time de Rtoget terminar de hangarar bem os caças, vamos fazer alguns reparos básicos e traçars o curso para a Base Estelar 310. Teremos muito que fazer, além é claro de um debriefing padrão sobre a missão.

- Será que vamos ficar muito tempo parados lá? – perguntou Coelho.

- Hum... eu calculo coisa de um par de semanas, talvez. – Parker respondeu, com uma expressão pensativa. – Precisaremos de vários reparos, além de reabastecermos com suprimentos e repormos os consumíveis que usamos nesta operação, além de arrumarmos de volta nosso hangar.

- Duas semanas? Tudo isto?

- Ora, Tenente... você acha que esta nave se conserta sozinha? – A Capitão apenas disse, indo na direção de seu gabinete.

 

# # # #

 

Algo bastante comum na Terra eram os chamados fóruns, que consistiam de encontros de diversos intelectuais e pensadores de diversas áreas, para poder ter um bate-papo informal em reuniões que podiam acontecer desde diariamente até de maneira anual. Muitas vezes, os participantes de tais encontros permitiam uma transmissão visual aberta dos eventos, o que possibilitava que pessoas por toda a Federação acompanhassem a conversa, o que tornava a coisa, em seu formato básico, algo semelhante às chamadas "mesas redondas" que existiram durante a era televisiva.

E naquela manhã de sábado, enquanto se exercitava em um holoaparelho de musculação, Kátia Parker estava começando a assistir justamente a um destes fóruns, que ocorria toda semana naquele horário, com cinco personalidades reunidas para um café da manhã no bistrô instalado em uma das áreas de convivência do Museu de Ciências de Vitória, instalado em uma ilha às margens do litoral desta cidade do Espírito Santo. O Jornada, como era conhecido aquele grupo em particular, se tratava de um dos mais populares encontros em fórum, e Kátia passou a acompanhar aquele em particular depois que a amiga de Denise, Katilla, passou a integrar o grupo, coisa de dois anos antes. A participação da Klingon realmente deu mais tempero aos debates do grupo, e ela não parava de surpreender o público com que eles contavam.

Kátia observava a Klingon discutindo com os demais membros do fórum enquanto ajustou o holoemissor para ajustar o aparelho de musculação para um exercício de pernas. Como a cabeça dela passou a estar em uma outra direção por ela agora estar deitada, a projeção da transmissão foi movida automaticamente para ficar um pouco abaixo do teto, como se houvesse um monitor flutuante pairando acima da cabeça de Kátia. A garota começou os exercícios enquanto continuava assistindo ao fórum, no momento em que seu pai, Eduardo Parker, entrou no recinto.

- Olá Kátia, - Eduardo disse, passando pelo holoaparelho para ir na direção de sua bancada de trabalho, que também ficava ali em uma sala de recreação da casa da família. Era uma bancada que consistia em metade mesa de despacho de documentos e metade área para trabalhos manuais, onde se encontrava de tudo que um pesquisador do estilo de Eduardo costumava usar: livros, padds, um tricorder, instrumentos de análise, ferramentas para restauração de artefatos antigos, pincéis, diversos porta-trecos com objetos, caixas com o logo do Smithsonian, plaquetas de identificação, um terminal LCARS e diversos outros ítens.

- Você viu onde deixei a caixa de membranas palmares, Ká? - ele perguntou, ainda revirando as coisas em sua mesa, olhando debaixo de uma pilha de livros replicados em papel.

- O Ricardo andou pegando algumas... acho que ele deixou na segunda gaveta. - O pai de Kátia abriu a gaveta e encontrou a caixa com as membranas. Eram leves folhas de um material orgânico que quando enroladas nas mãos se transformavam em perfeitas luvas para manipulação de objetos sensíveis, evitando-se sujar ou ferir as mãos da mesma maneira que se evitava danos ao objeto manipulado, sem que se perdesse em nada a sensação natural de tato.

- Esse guri vive metendo as coisas onde não as encontrou, - Eduardo comentou, enquanto separava algumas membranas. Ele se aproximou de Kátia fazendo os exercícios. - O que você está assistindo?

- A Katilla está falando no Jornada, - ela respondeu. - E está descendo o ferro no Conselho. Ela disse que eles adoram dar um jeito de colocarem um targ na sala, para que quando todo mundo começa a reclamar que tem um raio de um targ ali, eles sempre serem os heróis em arranjar jeitos de remover o targ.

- Ela está se referindo à operação em Chin'Toka, não? Não sei se este último rolo foi o caso disto, mas ela não deixa de ter razão... é só lembrarmos por exemplo da crise em Ba'ku e da colonização da ZDM Cardassiana. - Eduardo comentou, enquanto mantinha o olhar para o alto para observar a projeção acima da cabeça de sua filha.

- É, ela comentou sobre a ZDM, como exemplo, mesmo. O Petrov concordou com ela, e disse que de fato foi o próprio Conselho e a Comissão de Ocupação que permitiram que a situação chegasse no ponto em que chegou. Já os outros estão tendo que agüentar o verbo dela, he, he. - Kátia riu, depois de se referir às várias reações dos demais membros do fórum, como Petrov Leminom, o Risaliano que era o chefe da editoria cultural do Serviço de Notícias da Federação.

- É, meu, a Katilla é foda, mesmo. - Eduardo sorriu, lembrando-se de como a Klingon pode dobrar um oponente com os melhores argumentos sem sequer ter que apelar para qualquer jeito Klingon de debater, coisa que sempre desarmava seus oponentes, como Katilla mesmo costumava dizer.

Eduardo guardou as membranas no bolso de sua jaqueta de campo. - Ela gostou muito do pote de pimenta que eu preparei para ela, e me prometeu que vai me mandar um quarto de targ, que ela mesma vai caçar na reserva da Embaixada Klingon. - Eduardo fez alguns gestos para demonstrar qual seria o provável tamanho daquela peça de carne que Katilla iria lhe mandar de presente. - Sua mãe ganhando a eleição, eu vou fazer um churrasco bom quando nós formos a Nova, em comemoração. Vou assar este quarto de targ no vapor, temperando com sal grosso, e depois servir ele com uma farofa de quadrotriticale, para depois tomarmos um boa garrafa do melhor madeira que temos... hum...

- A mãe é quem vai te assar no vapor se ela souber disto, - Kátia comentou, sorrindo.

- Bah, a sua mãe, também, viu? - Parker fez um gesto desdenhoso, sorrindo levemente ao comentário. - Típica terráquea, mesmo... não come carne real nem que suas vida dependa disso. Vocês não sabem apreciar o bom paladar de uma verdadeira carne caçada e assada como nos velhos tempos.

- Ê, ê, vocês é muita gente, hein, pai? Você sabe que eu como, quando você faz. - Kátia respondeu, enquanto se levantava para permitir que o holoaparelho se reconfigurasse novamente para um exercício de braços.

- Eu sei, você não perdeu o costume mesmo depois que viemos para a Terra. - Kátia havia nascido na época em que o casal Parker-Stel morou em Terra Nova, o planeta-natal de Eduardo Parker. Eles passaram dois anos lá, enquanto Parker ocupou a cadeira de antropologia da Universidade de Logan City, instituição onde Stel também lecionou letras. O casal se mudou para a Terra quando Kátia tinha três anos, e Priscila e Ricardo já nasceram quando a família morava na capital da Federação, enquanto Stel ocupava cargos na Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, e Parker atuava como pesquisador para o Instituto Daystrom.

- Mas deixe comigo, - continuou Parker – Mesmo porque a sua Mãe sabe bem que nenhuma festa lá em Nova pode ser feita com os trecos replicados que ela gosta de comer aqui. E, de qualquer jeito, se ela não quiser o targ, ela sempre pode preferir comer um tatu, que a vó de vocês faz. - o humano se referiu a um tradicional prato novano que sua mãe costumava fazer.

- Ah, tá bom...! - Kátia apenas responde, enquanto continuava a se exercitar assistindo ao fórum.

 

# # # #

 

Marcus e Vortik caminharam rapidamente por entre todas as pessoas que se encontravam no momento em uma das salas de convenções do Bolo de Noiva, no Itamaraty, e chamaram a atenção de Denise e David, que estavam atrás da mesa no palanque principal instalado ali. Ambos estavam sendo os principais moderadores daquele debate, que envolvia membros das equipes políticas dos principais candidatos ao senado Terrestre que Cristina Stel estava apoiando. A reunião tinha como principal objetivo uma melhor articulação entre as propostas de todos aqueles candidatos, e se definir uma agenda de compromissos básica com a qual aqueles eventuais Senadores iriam trabalhar em conjunto com a eventual Embaixadora. Mas por ora todos ali estavam concentrando seus esforços em assegurar que a palavra "eventual" poderia futuramente ser desconsiderada desta afirmação.

- Bebidas para os forasteiros, e água para seus cavalos, - David brincou, enquanto acenava para os dois se juntarem a eles. David estava sentado de maneira mais descontraída na sua cadeira na mesa de moderação, enquanto outras pessoas caminhavam ao redor do local. Aquele intervalo estava programado para durar vinte minutos, o que daria bom tempo para a recém-chegada dupla reportar as novidades.

- Parece que a coisa está animada aqui, - Marcus disse, colocando um par de padds na mesa.

- Não faltou ninguém, - Denise disse, - E a presença de correspondentes também tem sido boa. Mas e lá na reunião?

- Igualmente proveitoso, - começou Vortik. - Ainda que tivemos uma considerável dose de trabalho.

- Considerável é apelido... tivemos que ó... - Marcus disse, passando dois dedos da esquerda para a direita ao longo de sua testa, e os estalando em seguida, em um suposto gesto de remover suor. - Setorianos são osso duro de roer em negociações, especialmente aqueles que trabalham nas Câmaras em si.

Marcus se referia ao grupo com o qual ele e Vortik haviam se reunido previamente, diversos representantes das principais Câmaras Setoriais e Sindicatos Terrestres. A finalidade do encontro foi acertar alguns detalhes finais para que estes grupos assegurassem seu apoio formal para Stel na eleição e, disto, preparassem a participação da Senadora no próximo Fórum Econômico Terrestre, para dali a dez dias, em Mojave City.

De toda a força de trabalho existente na Terra e na Federação, cerca de 40 por cento é composta de pessoas em diferentes posições governamentais, seja este nas esferas das administrações regionais, como as cidades e estados de um planeta, seja nas esferas governamentais ou mesmo federativa. Outros 25 por cento da força de trabalho são de pessoas que possuem pequenos negócios particulares ou trabalham em atividades individuais, como donos de pequenos cafés e restaurantes, artistas, músicos, e outras atividades. Os demais 35 por cento correspondem a todos os trabalhadores envolvidos no chamado setor produtivo, que são as grandes organizações de produção e serviços que são responsáveis pela produção e distribuição dos bens e serviços os quais são necessários serem realizados por instituições com grandes estruturas para isto.

A uma primeira vista, estas organizações seriam o equivalente de empresas privadas de grande porte, que existiram séculos antes, mas apenas em alguns pontos, como áreas de atuação e parte da estrutura organizacional. Primeiramente, tais organizações não têm mais como objetivo básico gerar lucro puro e simples - a finalidade agora é prover para a sociedade como um todo os bens e serviços pelos quais a organização em questão é responsável. Da mesma maneira, a "propriedade" destas organizações não está nas mãos de indivíduos específicos ou de qualquer órgão governamental. O controle sob estas organizações é de responsabilidade das Câmaras Setoriais das áreas em que a organização atua, e estas são auxiliadas na administração destas organizações pelos Sindicados dos trabalhadores destas respectivas áreas de atuação.

Então, o modelo se divide em setores: por um lado, o governo da Federação e os governos regionais dos planetas-membros, através de seus departamentos específicos, atuam como reguladores da economia em geral, enquanto as Câmaras Setoriais se ocupam da administração direta das companhias, e as representam enquanto instituições, e os Sindicatos se responsabilizam por apoiar e representar os trabalhadores destas instituições enquanto indivíduos. Os campos de atuação são os mais diversos possíveis, como mineradoras, refinarias, indústrias de base, metalurgia, construção, indústria de equipamentos acabados, estaleiros, agroindústria, e diversos serviços fundamentais para a organização de uma boa economia, como transporte, distribuição de energia, desenvolvimento de sistemas computacionais, comunicações, e muitas outras áreas.

Marcus não era de se animar à toa, e quando isto ocorria David nunca deixava de notar – conhecia-o bem demais. Apesar de ele querer dar a entender que tiveram uma negociação difícil com os setorianos e sindicalistas, a sua animação era visível. Marcus continuou a falar.

- Estamos falando de pelo menos dez por cento, aqui... na primeira seqüência. Pelo menos.

- Kahless seja louvado, - brincou Denise, lembrando de uma fala típica de sua amiga. - Tomara que isto já apareça nas próximas projeções. - com isto, ela começou a fazer alguns cálculos em um padd, enquanto Vortik continuou a falar.

- A atual composição do Conselho do Fórum Econômico mostra-se extremamente favorável para nós. Cerca de 66% deles são representantes da Associação de Automação Mecânica, e falam por boa parte da indústria robótica federativa. – disse o Vulcano.

Marcus passou um dos padds para David, com a pauta da reunião em detalhes. - Eles queriam porque queriam se assegurar de que a Senadora fizesse pressão para que a Secretaria do Desenvolvimento Industrial e a do Planejamento aumentem o apoio à indústria robótica, especialmente a de autômatos.

- Eu já havia comentado sobre isto com Zhaav e Stel. - emendou David. - E já garantimos o suporte do pessoal acadêmico e de centros de pesquisa. Agora com o apoio das indústrias de base, vamos ter uma mão que ninguém vai poder bater.

- Adiantamos esta informação para eles, e foi um dos fiéis da balança em nosso favor na reunião. - disse Vortik.

- Excelente. - David pensou durante alguns instantes, procurando também ponderar sobre as eventuais desvantagens deste arranjo; afinal de contas, quando o latinum é muito, o Ferengi desconfia. - Podemos ficar meio impopulares com os setores de holoprogramação, mas acho que é um risco aceitável, - ele finalmente disse. - Com o apoio do pessoal de robótica, é meio caminho andado para o resto da turma de indústria pesada nos apoiar também.

Denise mostrou um outro padd, com alguns cálculos especulativos sobre as projeções futuras de intenção de voto. - Considerando a projeção da semana passada... na qual o Triev e o Duarte deram uma pequena crescida... - a Romulana ia murmurando enquanto fazia mais alguns cálculos. - Se considerarmos quinze por cento de ganho na primeira seqüência, vamos ceifar pelo menos a metade da diferença geral que separa a Senadora do Duke.

- Acho melhor esperar as projeções depois do Fórum Econômico, Dê. - Marcus disse. - Vai dar para termos uma precisão bem melhor de quanto foi que ganhamos. Até lá, eu vou considerar estes dez por cento mesmo.

- Muito bem, então. - David disse, se levantando para ir buscar algo para beber. - Eu vou falar com a Senadora, e ela vai preparar todo o material para o debate no Fórum. Ela está especialmente interessada em discursar sobre nossos planos para aumentar o apoio aos projetos educacionais regionais que as Câmaras Setoriais fazem. Aqueles cursos de complementação, coisas do tipo.

- Bom, mas seja lá qual for o nosso crescimento final depois do Fórum, vai ter sido uma bruta ajuda. Bem que estamos precisando. - Denise comentou, se levantando também. Marcus continuou sentado, calmamente dando um gole em uma garrafa de água mineral que estava aberta em cima da mesa.

- Com certeza... com certeza. - ele apenas disse, entre goles.

 

# # # #

 

Entre as dezenas de compromissos de campanha, como o Fórum Econômico, e os compromissos normais de representante na Assembléia-Geral, Cristina Stel ainda tinha que também gerenciar as responsabilidades de ser mãe de três adolescentes, e todo o trabalho que vem juntamente com isto, como por exemplo estar presente em eventos nos quais os seus filhos tomavam parte. Ela procurava participar do máximo que podia, mas como era de se esperar, não havia a possibilidade de estar em todos, fato que tinha a compreensão de seus três filhos, pois eles bem sabiam dos meses atribulados em que sua mãe estava no momento.

Um dos compromissos que Stel teve que inicialmente abrir mão de participar foi a apresentação das bandas musicais das quais Priscila e Ricardo participavam. Em um festival musical a ser realizado no sul do Brasil, ambos os seus filhos iriam participar como integrantes de bandas musicais de colegas seus da escola em que estudavam, a SPHS Derville Allegretti –- ainda que ambos não estivessem na mesma banda, mas sim em grupos separados. Tal festival musical era uma tradição entre as escolas secundárias da Terra, que anualmente patrocinavam estas apresentações musicais de seus alunos em um evento conjunto em Santa Catarina.

A oportunidade, contudo, não aconteceu de maneira totalmente espontânea, tinha que admitir Stel. Originalmente, o seu marido Eduardo havia se comprometido a comparecer neste evento dos filhos deles, uma vez que a data não era nada favorável para a senadora, mas um convite para o evento, especificadamente dirigido para Cristina Stel, serviu de perfeita desculpa para a senadora se permitir comparecer. Afinal de contas, o convite em particular veio diretamente do gabinete da Secretária de Educação da Federação, e foi entregue em mãos para Priscila Parker pela Diretora da escola deles. Embora estivesse dirigido para ela enquanto mãe de uma das participantes, a Senadora não podia deixar de pensar que havia uma agenda oculta de Zgouridy ali, então ela certamente devia aceitar o sutil convite, pois provavelmente iria encontrar no evento não apenas atividades maternas, mas também políticas.

E de fato, sua especulação se confirmou. Quando compareceu ao Festival, Stel pôde constatar que entre as mães que estavam prestigiando o evento das bandas estudantis se apresentando, Raquel Trajina era uma delas.

 

# # # #

 

E os compromissos continuavam pelas semanas seguintes. De todos os candidatos ao cargo de Embaixador, aquele que estava se destacando mais em fazer campanha fora da Terra sem dúvida era Stel, com a senadora fazendo questão de visitar todos os assentamentos e colônias da UFP espalhadas pelo setor 001, por menor que fossem. Esta prática a levava no momento para as plataformas de mineração em órbita do planeta Mercúrio, onde ocorre a extração de alguns metais raros para replicadores industriais usarem como matéria-prima para a sintetização de peças de maquinário. A plataforma não contava com mais do que uma população de três mil pessoas, sendo que, destas, duas mil eram flutuantes -- logo, a busca de votos per se não era seu único objetivo ali. Stel estava particularmente interessada em demonstrar o seu apoio aos setores de indústria de base, e o trabalho realizado pelo pessoal das plataformas orbitais do setor 001 era claramente de suprema importância.

A Senadora visitara todo o complexo e recebeu uma explicação básica sobre como são realizados os trabalhos de extração do minério no planeta abaixo, e seu processamento básico na plataforma, para posterior distribuição para diversos locais da UFP. Após a visita, uma palestra se seguiu, e ao seu encerramento, tanto ela como o seu staff já estavam retornando para o Delaware, bem como todos os jornalistas que os acompanharam. Stel aproveitou o tempo que ainda faltava para a partida de volta para a Terra para ter uma conversa reservada com um daqueles jornalistas em particular, o qual Denise havia garantido sua presença no evento.

- Então este é o negócio? - Ross disse, depois que Stel usou dez minutos para explicar no que ela precisaria da ajuda dele.

- Este é o negócio. Topa?

Ross ponderou um pouco. O que Stel havia proposto era bastante incomum, considerando que isto não dizia respeito especificamente sobre qualquer coisa que estivesse na sua jurisdição. Uma investigação independente sobre os eventos em Chin`toka Prime? A informação contida no material básico do padd que ela lhe entregou tinha o típico ar de "Algo de Errado", e certamente valia uma fuçada a mais. E há muito que Ross aprendera a confiar no estilo de agir de Stel, e não apenas por intermédio de sua namorada; ele já havia votado nela mesmo antes de conhecer Denise, além de todo o trabalho dela antes.

- Você vai ser ideal para isto, Ross, - Denise recomeçou a falar, para assegurar-lhe de que ela e Stel não tinham dúvidas sobre suas capacidades. - Você conhece bem os Cardassianos...

- E é bom repórter investigativo. - Acrescentou Stel.

- Nem tanto, Senadora... minha especialidade é mais de análise, e não deste tipo de investigação minuciosa.

- Bobagem. Não é o que sua série de matérias sobre os maquis parece demonstrar. - ela replicou.

Ross ficou em silêncio por mais alguns instantes, mas pareceu bastante seguro de si ao concordar com o que a Senadora estava lhe propondo. - Muito bem, faremos isto.

- Excelente. Agora, deixa eu te dar uma coisa a qual eu posso te fornecer diretamente para te ajudar no trabalho. - com isto, a senadora levantou da poltrona do runabout, ajeitou o seu vestido em uma posição mais formal e fez um gesto para que Ross também se levantasse. - Estenda a sua mão direita para mim.

Ross não entendeu bem, mas seguiu as instruções dela. Stel pegou a mão dele com ambas as suas mãos, e a pedido dela, Ross repetiu uma frase de cinco palavras em Betazóide. Logo em seguida, Stel voltou a usar o inglês federativo.

- Computador, autentique esta operação com o meu código pessoal, que é... - e com isto Stel digitou o seu código no teclado LCARS no console próximo a si. - Está feito. Agora você é o meu valete.

- O seu o quê? - Ross fez uma expressão intrigada, que valeu um sorriso por parte de Denise.

- Meu valete, - respondeu Stel. - Toda mulher Betazóide em alta posição na sua Casa tem direito a um, cuja função é a de ser uma espécie de secretário pessoal, mordomo e guarda-costas. Eu sempre detestei este tipo de coisa e nunca tive um, mas neste momento você bancar ser o meu irá ter uma baita vantagem... como sua "chefe", o meu status diplomático passa a se estender a você, se eu precisar que você faça algum serviço diplomático.

- Certo, certo... bem, mas isto não é necessário para acelerar a minha ida até lá, de qualquer maneira. Imagino então que tenha algo mais em mente, Senadora?

Stel entregou para Ross um padd e uma pequena caixa com o timbre do Departamento de Exploração Espacial. - Sim. Vamos dizer que... preciso que você leve isto para uma certa Capitão da Frota Estelar, cuja nave no momento se encontra exatamente naquela região.

- Que coisa, não? - Denise ironicamente comentou.

- E uma vez lá, eu quero que você fique à disposição dela. Entendeu? - Stel disse para Ross, com um sorriso que deixava claro qual era a finalidade básica do novo "emprego" do jornalista.

- Perfeitamente, milady. - ele apenas respondeu.

 

# # # #

 

A movimentação era grande como sempre no gabinete principal da sede da Secretaria de Exploração Espacial, em Houston, e no momento a Secretária Trajina estava despachando com alguns de seus assessores. A sua assistente terminou de deixar alguns padds na mesa de Trajina, e deixou a sala no momento em que a Secretária aceitava um chamado de São Francisco. Trajina ordenou o computador a desviar o chamado para seu monitor auxiliar, próximo à sua mesa, em vez de usar o grande monitor principal da sala. Na tela, em uma sala do Comando da Frota Estelar, apareceu a figura do Almirante Galbraith.

- Trajina, Bom dia... - Galbraith começou a dizer. – Me diga, você passou ordens para alguma de nossas naves mudar o seu curso ao longo da fronteira Cardassiana?

- Sim. – ela respondeu, podendo prever exatamente ao que o Almirante se referia.

- Carol Parker?

- A própria, - Trajina confirmou tranqüilamente, ainda trabalhando em alguns padds enquanto falava com o Almirante. – Depois de sair da base estelar 211, ela irá correr pelos setores Dorvan e Almatha... mas você já deve estar sabendo disto, de qualquer forma.

- O comando da Força-Tarefa 47 não foi diretamente informado de detalhes destas novas ordens da São Paulo, Trajina. Eles são o núcleo de nossas forças naquela região da fronteira para onde a São Paulo mudou a rota.

- Ela não está em uma missão de defesa, Galbraith. Realoquei-a para dar suporte para uma pesquisa cultural do Departamento de Educação da Federação.

- O local ainda está bem volátil para ficarmos inventando missões de pesquisa cultural. As forças legalistas ainda estão tendo diversas escaramuças contra forças Empok espalhadas por aqueles setores do espaço Cardassiano, e nossas forças estão bem ocupadas dando apoio a eles. Pode ser arriscado mandar uma nave sozinha, em missão de pesquisa, para lá nestas circunstâncias.

- As instruções nossas para a São Paulo incluem evitar todo e qualquer engajamento desnecessário, Almirante. E ela tem plena capacidade de cuidar de si mesma.

Galbraith não conseguia deixar de imaginar que a Secretária Trajina parecia ter algo bem mais específico para a São Paulo do que apenas "pesquisa cultural", mas resolveu não forçar o assunto. Por ora, não havia realmente nada de incomum no procedimento requerido pela Secretária. – Muito bem, então. Estou apenas confirmando para podermos remarcar o status operacional da São Paulo na região.

- Sua equipe tem feito ótimo trabalho nisto, Almirante. Trajina desliga. – Assim como o senhor, Almirante, pensou Trajina. Muito polido da sua parte, o próprio Chefe do Estado Maior da Frota em pessoa, se encarregar de fazer uma corriqueira verificação como esta...

 

# # # #

 

A parada na Base Estelar 211 não havia sido demorada. Segundo as ordens da Secretaria de Exploração Espacial, tudo o que a São Paulo precisava fazer era pegar um passageiro, o qual iria servir de adido para a nova missão deles –- esta pessoa também estaria trazendo detalhes a respeito. A Capitão Parker encontrou-se com Scott Ross tão logo ele chegou à sala de transporte.

- Permissão para subir a bordo, - Ross disse, descendo do padd. Como civil, ele não tinha realmente obrigação de dizer a frase, mas gostava de a usar como cortesia para as tripulações com as quais interagia.

- Concedida. Bem vindo à São Paulo... sou a Capitão Carolina Parker, e esta é a Tenente-Comandante Naren.

- Capitão, Comandante, - Ross apertou a mão da humana e da Bajoriana. O grupo se pôs em direção do gabinete de Parker, e, no que entraram, usando a porta secundária da sala, a Capitão já estava passando os olhos pelo sumário das ordens criptografadas que Ross trouxera no padd que Stel havia lhe confiado.

- Pretende fazer uma pesquisa sociológica bastante específica, não, Ross? – perguntou retoricamente Parker. As ordens também continham recados pessoais da Senadora para a sua cunhada, além de instruções pessoais da Secretária Trajina. Com mais alguns minutos de leitura, Parker já estava ciente da natureza pouco convencional da missão à frente.

- Será interessante que conversemos mais a respeito, para discutirmos a melhor maneira de fazermos esta... análise e pesquisa, Capitão. – comentou Ross. - Será um empreendimento cheio de quetais, como pode imaginar.

- Sim, concordo... nos reuniremos com meu staff após o jantar, as 2100 horas. Mas enquanto isto acho que seria melhor nos colocarmos a caminho de nosso destino. – com isto, Parker começou a ir na direção da porta principal de sua sala, e o grupo passou para a ponte da nave.

- Quanto mais rápido chegarmos a Torga, melhor.

- Você ouviu o rapaz, Tenente Coelho, - Parker chamou a atenção de sua navegadora. – Trace o curso para lá e acione em dobra oito.

- Aye, aye, Skipper.

 

# # # #

 

Com o passar do par de semanas seguinte, a campanha eleitoral tomou ainda mais corpo, e a agenda de Cristina Stel estava cheia como nunca. Diversas sessões na Assembléia-Geral dividiam a atenção da Senadora com a mais recente rodada de debates entre os candidatos, além de visitas e reuniões a diversos grupos no Setor 001, nos quais os temas debatidos variavam de controle climático a educação infantil, de desenvolvimento industrial a controle de aduana planetária, de propostas de novos centros esportivos a ampliação de fazendas marinhas.

Durante este tempo, Stel não conseguia esquecer aquilo que Trajina lhe havia dito, e daquilo que ela havia iniciado com a Secretária. Uma investigação secreta estava em curso, da qual apenas Trajina tinha controle direto – elas optaram por deixar a participação de Stel o mais distante possível, para se evitar conseqüências políticas que pudessem envolver a eleição. Este risco foi diversas vezes ressaltado por Stel para Trajina, mas a Secretária parecia bem segura de si em desejar a colaboração da Senadora. Ela certamente tem algo em mente... – pensava Stel, antes de um suspiro mais forte. – Hum... eu e esta minha maldita decência Betazóide... bem que uma leiturazinha da mente dela viria a calhar. – Stel sorriu para si mesma ao especular sobre a possibilidade. Tudo o que Trajina havia conversado com ela a preocupava. Mas não havia muito que fazer por ora, a não ser aguardar pelo comunicado dela, sobre qual irá ser o próximo movimento.

- Estamos chegando, - Tolia avisou, enquanto olhava pela janela do Runabout a vista da Estação Europa se aproximando, em órbita daquele satélite de Saturno. Aquele era o local onde estava para ocorrer o mais próximo evento da campanha, uma visita ao Centro de Coordenação de Colonização, ou seja, o local do setor 001 onde novas missões de colonização de mundos desabitados são preparadas. Neste centro as naves de colonização da Federação são preparadas com todo o equipamento e suprimento necessário para se dar início a novas colônias em pontos remotos da Federação e em novos territórios, e é onde as equipes de colonos se reúnem para se preparar para tais jornadas, onde recebem todas as instruções e o treinamento necessários, estudam as condições do local escolhido, e uma série de outros procedimentos, coisa que normalmente ocupa boa parte de um ano todo. Tudo pronto, a flotilha de naves de colonização zarpa com uma escolta de naves da Frota Estelar, para a viagem até o planeta escolhido, onde o processo inicial de criação da colônia é acompanhado pela Frota e pela Secretaria de Exploração Espacial.

Zhaav, David, Tolia e Denise estavam acompanhando a Senadora para esta visita, que visava mostrar o apoio dela para com a iniciativa de colonização de um novo sistema classe M que fora recentemente descoberto no quadrante Beta, e também o seu apoio em geral a política de colonização da Federação. Nos últimos dias, diversas críticas a Stel haviam sido comentadas na opinião pública, depois dos outros candidatos Tiago Duarte e Zirot comentarem as posições de Stel em relação à maneira pela qual a Federação criava novas colônias, e como este procedimento teria que ser revisto. Ambos estes rivais de Stel especularam que isto se tratava do fato de que a Senadora era basicamente contra a política de colonização. O mais irônico de tudo é que as próprias posições pessoais de Duarte e Zirot são praticamente opostas – Duarte é fervoroso defensor de uma ampliação geral do processo de colonização para níveis ainda maiores do que os atuais, enquanto Zirot, condizente com sua visão de uma Federação mais fechada, advoga por mudar o foco da criação de novas colônias para se resumir a expansão de sistemas estelares já conhecidos. E ambos encontraram meios de combinar suas visões particulares com maneiras de criticar Stel por seus recentes comentários, nos quais a Senadora comentou as implicâncias políticas da expansão das colônias, usando para isto as campanhas de colonização dos territórios próximos às fronteiras Cardassianas, durante as décadas de 2330 e 2340.

- Hum... não vejo ninguém com tochas e ancinhos nas janelas da doca de atracação, - David comentou.

- Só deve ter ancinhos, - Stel disse, se preparando para desembarcar. – Colonos não devem ser do tipo de gastar oxigênio com tochas. – Stel não estava tão preocupada quanto o restante de sua equipe sobre a possível receptividade daqueles colonos, logo não se incomodava de manter um tom irônico para eles sobre o tema. Ela já havia imaginado que poderia receber duras críticas quando mencionasse suas opiniões sobre a crise maquis de alguns anos antes, e mais ainda quando especulasse sobre as raízes deste problema, que teria sido em um processo de colonização que não levou em consideração nenhuma questão política a respeito da região escolhida, e como isto serviu de catalizador para os problemas com os Cardassianos na década de 2350.

Zhaav se levantou junto com os demais quando a nave finalmente terminou de atracar. – Bem, páreo duro ou não, vamos ter que sair aí para enfrentar as feras. Bom, mas não vai ser só com esse pessoal que o nosso osso vai ser duro de roer. A agenda para os próximos dias também não está nada fácil. Só eu vou ter que ir em uma dúzia de reuniões, aaargh...

- Não se preocupa não, que depois eu ponho uma coisa mole na tua mão. – David disse com um sorriso jocoso.

Zhaav combinou um sorriso com uma expressão de desdenho, e cruzou os braços. – Ih, tá ruim assim é? – ela finalmente respondeu, olhando ele de cima a baixo. - Não, pode guardar isso aí para as tuas garotas Órion, tá?

- Pô, eu estou dizendo que vou guardar para ela pegar as tarefas mais fáceis desta semana e ela ainda reclama...? – ele comentou para Denise, logo ao lado.

- Para as próximas semanas, - disse Stel enquanto o grupo saia pela doca do Runabout. – Para as próximas semanas, o que nos espera pode ser bem maior do que isto...

 

# # # #

 

Katilla mal saiu do pad de teleporte e correu apressadamente pelos corredores da ala de serviço da Embaixada Klingon para o átrio principal, indo para o gabinete do adido de Inteligência do Império. A jornalista entregou uma autorização para o guerreiro em serviço de vigilância no momento, e este autorizou a entrada dela no recinto. Uma conversa de cinco minutos seguiu-se com o oficial do dia, que o entregou um padd e uma caixa com fragmentos metálicos dentro. O oficial se despediu dela com um qa'pla, e alguns minutos mais tarde Kattila estava de volta novamente na sala de transporte.

- Para onde está indo? – o Klingon operando o teleporte da Embaixada disse.

- Para a SecExp, Houston. – ela confirmou, pisando no pad mais próximo.

 

# # # #

 

 

Earth, D.C.

Prólogo
|   01   |   02   |   03   |   04   |   05   |   06   |
|   07   |   08   |   09   |   10   |   11   |   12   |
Epílogo