001. Broken Bow, Part I
002. Broken Bow, Part II
003. Fight or Flight
004. Strange New World
005. Unexpected
006. Terra Nova
007. The Andorian Incident
008. Breaking the Ice
009. Civilization
010. Fortunate Son
011. Silent Enemy
012. Cold Front
013. Dear Doctor
014. Sleeping Dogs
015. Shadows of P'Jem
016. Shuttlepod One
017. Fusion
018. Rogue Planet
019. Acquisition
020. Oasis
021. Detained
022. Vox Sola
023. Fallen Hero
024. Desert Crossing
025. Two Days and Two Nights
026. Shockwave, Part I

Análise da temporada

Quando os "donos" de Jornada nas Estrelas dentro da Paramount começaram a produzir a mais nova série do franchise, Enterprise, eles prometiam um novo vigor, graças à nova perspectiva que uma tripulação do século 22 --cem anos antes de Kirk e Spock-- ofereceria.

E agora, uma temporada depois, a audiência recebeu o que lhe foi prometido? Curto e grosso: não. Enterprise é muitas coisas --interessante, bem escrita, bem produzida--, mas certamente não tem inovação como uma de suas qualidades. Apesar de os produtores prometerem uma nova perspectiva de Jornada, tudo que recebemos foi mais do mesmo.

A cada novo episódio, era muito fácil executar o mesmo ritual de exorcismo: "Ah, essa idéia veio de Deep Space Nine, aquela veio da Nova Geração, isso é de Voyager, esse pedaço é cópia da série original". O que, no fundo, no fundo, não passa de uma grande bobagem. O que um telespectador esperaria de uma série baseada em Jornada nas Estrelas que não fosse parecida com Jornada nas Estrelas?

Nesse sentido, é um esforço inútil reclamar que a série continua muito parecida com as outras. Vai ser a mesma coisa porque tem de ser, grosso modo, a mesma coisa. E foi isso que Rick Berman e Brannon Braga entregaram nos primeiros 26 episódios da série.

A primeira temporada foi medíocre (no bom sentido do termo, ou seja, mediana), mas ainda melhor que o primeiro ano de A Nova Geração. E chegou mesmo a brilhar, quando os produtores apostaram nos diferenciais (poucos e sutis) da série com relação às predecessoras. Nesse pacote, a palavra mágica é uma só: continuidade.

Toda vez que os roteiristas carregaram uma história de um episódio para outro, se deram bem. Infelizmente, eles construíram uma expectativa que ainda não foram capazes de satisfazer. E se não o fizerem logo, o público vai acabar se cansando.

Há dois grandes arcos em Enterprise, ambos iniciados no piloto "Broken Bow". O primeiro diz respeito à famigerada Guerra Fria Temporal --o conceito de que há duas ou mais facções do futuro disputando um conflito que envolve a alteração da linha do tempo no século 22--, e o segundo, à construção das relações interplanetárias que devem culminar com a fundação da Federação, mas tiveram como matriz um contato tenso entre humanos e Vulcanos.

O arco da Guerra Fria Temporal teve três grandes episódios: "Broken Bow", "Cold Front" e "Shockwave, Part I", este o último da temporada, fechando o ano em um "cliffhanger" (episódio que só terá continuação na temporada seguinte). Os três foram bastante interessantes e agradáveis de se ver, mas já estamos num momento em que a falta de informações começa a incomodar.

A verdade é que os criadores da série ainda não têm a menor idéia do que consiste a tal da Guerra Fria Temporal. Ficam então apenas regorjitando o termo episódio após episódio, sem dar real informação à audiência sobre o que está havendo. No começo isso é legal, cria expectativa, mas já é chegado o momento em que precisamos saber de alguma coisa, ao menos para conjecturarmos sobre o que está havendo.

Certamente os produtores sabem disso, tendo contratado o escritor John Shiban (produtor-executivo da nona temporada de "Arquivo-X", série que foi mestra em conduzir arcos misteriosos, mas ricos em informação) como produtor-executivo da segunda temporada. E algumas respostas talvez já surjam na conclusão de "Shockwave, Part I", o primeiro episódio do segundo ano.

O outro arco, envolvendo a relação Terra/Vulcano e aparições de outras espécies importantes da região próxima do espaço, evoluiu de forma mais consistente, embora muitos estejam incomodados com a "vilania" dos Vulcanos. Foi um prazer, por exemplo, rever os Andorianos, que não apareciam com importância desde a Série Clássica, nos episódios "The Andorian Incident" e "Shadows of P'Jem". Melhor ainda vermos que eles e os Vulcanos não são exatamente bons amigos --o que coloca a Terra exatamente no meio dos dois.

Além disso, episódios especialmente talhados para desenvolver a compreensão mútua entre humanos e Vulcanos foram bem-sucedidos. Bons exemplos da evolução são "Breaking the Ice" (que mostra toda a desconfiança de ambas as partes) e "Fallen Hero" (que inicia o quadro de reversão dessa situação, de forma bastante interessante). Mas ainda falta um algo mais, uma real evolução das relações. A promessa fica para o segundo ano.

De resto, os episódios que trataram de histórias individuais oscilaram bastante em seu desempenho. Temos segmentos brilhantes, como "Dear Doctor", medianos, como "Fight or Flight" e "Silent Enemy", e horríveis, como "Rogue Planet". Uma coisa boa foi que nem nesses os roteiristas se furtaram a deixar referências de outros episódios, dando um maior senso de unidade e continuidade à série.

Personagens

Uma promessa cumprida pelos produtores, entretanto, foi dar maior atenção aos personagens. Em geral, os sete tripulantes principais receberam mais atenção em um ano do que a turma de Voyager teve em sete. Infelizmente, sempre há um "patinho feio", e o de Enterprise é o piloto Travis Mayweather. Ele recebeu pouca atenção nos episódios finais, e nos iniciais praticamente nenhuma --ficou vários deles sem sequer uma fala, como mero figurante na ponte.

Na outra ponta, os que mais brilharam foram o armeiro britânico Malcolm Reed e o exótico médico alienígena Phlox. O sucesso é a combinação de roteiros bem escritos, personagens bem definidos e a capacidade incrível dos atores Dominic Keating e John Billingsley de interpretá-los. Os dois apareceram até pouco, mas fizeram cada segundo contar.

Logo atrás vem Charles Tucker, o engenheiro-chefe da nave, outro personagem que é bem interpretado, por Connor Trinneer, e bem escrito, mas que não se destaca tanto justamente por ter muito tempo de tela para mostrar a que veio. Ele é tão bom quanto os outros, mas, com mais exposição, isso fica mais fácil.

Os demais oscilaram entre boas e más aparições. O capitão Jonathan Archer, por ser a figura central da série, mereceria atenção com mais urgência. O personagem começou com o pé direito, em "Broken Bow", mas foi perdendo o vigor ao longo dos episódios, apanhando muito e mostrando pouca inteligência. A culpa não vem do ator Scott Bakula, que em geral consegue fazer o melhor possível com os seus textos, mas dos roteiristas, que parecem querer colocar o capitão em maus lençóis uma vez após a outra.

Jolene Blalock ainda está procurando sua voz Vulcana para T'Pol, mas já mostra pelo menos o potencial necessário para encontrá-la, de modo que eu não me preocuparia muito. A mesma coisa vale para Linda Park e sua Hoshi Sato.


O futuro

A segunda temporada deve trazer, como seria previsível, mais do mesmo. A Guerra Fria Temporal deve finalmente ganhar alguma consistência, e novos e esperados elementos devem surgir na série. O mais polêmico deles é o mais conhecido: os Romulanos.

Rick Berman já disse que a primeira aparição dos Romulanos na série deve acontecer no segundo ano. Essa introdução vai acontecer logo no começo da temporada, no episódio "Minefield", o terceiro a ser exibido. Os produtores já reconheceram que estão tomando muito cuidado para não contradizer as informações dadas pela Série Clássica sobre esse primeiro contato. Segundo Kirk e Spock, nenhum humano tinha visto um Romulano até aquele momento, impedindo que Archer e cia. conheçam a familiar aparência de seus inimigos. Resta saber como eles vão conseguir fazer isso e ainda assim produzir drama de qualidade.

Outros alienígenas que podemos certamente esperar rever no segundo ano são os Andorianos, chefiados por Shran, personagem interpretado pelo veterano de Jornada Jeffrey Combs (mais conhecido como Weyoun e Brunt, ambos de DS9). Certamente eles darão bom combustível para a evolução das relações políticas entre as forças do quadrante Alfa.

Da mesma maneira, há a esperança de revermos outros alienígenas clássicos, como os Telaritas (que já foram mencionados em "Civilization", do primeiro ano) e os Órions. Esperemos só que os produtores dêem ao menos uma folga aos Klingons, que realmente não caem muito bem em Enterprise. Isso sem comentar Ferengis, Nausicaans e similares. Entretanto, não há indício de que os produtores vão se esquecer de seus alienígenas mais próximos, pertencentes ao século 24. Vamos ver.

De resto, é tudo como já está. Uma série mais bem-humorada que as anteriores, com personagens menos hábeis e experientes, mas ainda assim com muito potencial. Daqui para frente, nada deve mudar dramaticamente. Quem gostou até aqui, aconselho que continue. Quem não gostou, é melhor nem perder tempo com a segunda temporada.