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Sinopse:
Malcolm Reed e Charles Tucker estão
em um shuttlepod, fazendo o reconhecimento de um campo de asteróides.
Os sensores sofrem uma pane total, e a missão acaba se tornando
inútil. A Enterprise só deve aparecer para buscar a dupla em três
dias, e nada resta aos dois senão tentar efetuar os reparos nos
sensores e jogar conversa fora.
Tudo muda, entretanto, quando Reed observa alguns destroços na
superfície de um dos maiores asteróides. Eles chegam mais perto
para tentar fazer alguma identificação visual, quando avistam
uma placa entre os pedaços espalhados com a inscrição "NX-01".
Eles logo concluem que a Enterprise foi destruída acidentalmente
em um choque com um asteróide.
Apenas com os
motores de impulso do shuttlepod, não há esperança de chegar a
nenhum lugar que possa fornecer socorro. Reed começa a pensar que
estão condenados à morte, que deve chegar assim que o ar da nave
terminar, em nove dias. Tucker está mais otimista. Os dois têm
um atrito quando o engenheiro ordena que Reed, sem sensores,
marque um curso até Echo-3, o último satélite de comunicação
subespacial que eles deixaram no espaço enquanto a bordo da
Enterprise --mesmo que leve anos até que a nave sem propulsão de
dobra chegue lá.
Abalado com a perspectiva de sua própria morte, Reed começa a
fazer registros frenéticos em seu diário sobre os eventos que
antecederam sua morte, para que as informações estivessem disponíveis
às próximas gerações. Ele também passa a escrever cartas para
seus entes queridos. Trip, que está tentando manter a calma e
descansar, fica furioso com a atitude paranóica de Reed, e ordena
que ele pare --os dois quase saem no tapa.
O clima de tensão permanece conforme o tempo vai passando, e só
piora depois que a nave sofre nova avaria, com múltiplos furos no
casco, que estão deixando a atmosfera escapar. Depois que os
vazamentos são contidos, sobram apenas dois dias de ar. Diante da
cada vez mais próxima perspectiva da morte, os dois começam a
romper o clima de hostilidade e decidem beber juntos, depois de
reduzirem a temperatura da nave ao máximo para conservar oxigênio.
Durante
seus últimos momentos, Reed e Trip descobrem várias coisas um do
outro. Por exemplo, eles já tiveram em comum a mesma namorada,
Ruby, de San Francisco. Reed revela que considera a tripulação
da Enterprise mais próxima dele que sua própria família, e
conta que tem uma queda pela sub-comandante T'Pol.
Os dois já aceitam seu destino, quando, do nada, a Enterprise
entra em contato. Eles são incapazes de responder, mas recebem a
mensagem de Hoshi, indicando novo ponto de reencontro, em dois
dias. Infelizmente, eles não têm oxigênio suficiente para
esperar até lá.
Em uma atitude de desespero, Trip decide abandonar a nave e
morrer, para que Malcolm tivesse mais chance de viver até a
chegada da Enterprise, sendo o único ser respirante a bordo. O
oficial de armamentos, entretanto, não aceita o sacrifício do
engenheiro, chegando até a ameaçá-lo com uma pistola de fase.
Por fim, os dois concordam que a única coisa a fazer é ejetar
seu motor e induzir uma sobrecarga, produzindo uma explosão que
talvez chame a atenção da Enterprise, que então aumentaria sua
velocidade para resgatá-los. O truque dá certo, e os dois são
resgatados, inconscientes.
Na verdade, a
Enterprise não havia sido destruída em nenhum momento, mas
apenas danificada, após o choque de uma nave Tesniana. O impacto
arrancou a porta da baía de shuttles, que foi justamente o que
Reed e Trip viram no asteróide. Os outros restos eram da nave
alienígena, que havia sido irremediavelmente danificada pelo
mesmo fenômeno que causou a pane nos sensores e os vazamentos a
bordo do Shuttlepod Um --micro-singularidades (buracos negros do
tamanho de átomos), um fenômeno nunca antes observado, mas
firmemente sustentado por físicos teóricos Vulcanos.
Comentários:
Para um episódio escrito por Rick Berman e Brannon
Braga, "Shuttlepod One" tem várias coisas
impressionantes. Primeiro, é fortemente orientado a personagem,
uma coisa que a dupla não costuma fazer muito. O enfoque da história,
no caso, nem é um personagem do grande trio, mas o até então
pouco conhecido tenente Reed.
Tucker até aparece um bocado, mas o drama e as revelações ficam
majoritariamente por conta do oficial de armamentos, o grande
beneficiado pelo segmento. Temos a chance de descobrir
verdadeiramente a personalidade de Malcolm, de forma muito mais
intensa do que a mera história secundária de "Silent
Enemy" ("o que Malcolm gosta de comer?").
Vivemos aqui toda a angústia de Reed, sua tristeza, sua introversão,
seus sentimentos para com a tripulação da Enterprise e seu
lamento por nunca ter se aberto com seus entes queridos. Sem dúvida,
estar à beira da morte inspirou o personagem, o que trouxe bons
resultados ao episódio.
Claro,
nem só de revelações viveu Malcolm. Todo o roteiro foi
abrilhantado por uma espetacular atuação de Dominic Keating.
Trinneer vai bem, mas Keating sem dúvida garante o centro do
palco, não só pela natureza da história em si, mas por sua
brilhante interpretação. O momento em que Reed tenta convencer
Trip de que ele não está querendo morrer, mas está somente
reagindo a tudo que está deixando para trás em sua vida, é
bastante tocante.
De um lado mais cômico, mais igualmente interessante, é ver sua
paixão enrustida pela sub-comandante T'Pol. A frieza e a beleza
da Vulcana certamente tocam fundo no coração do tímido oficial
de armamentos. O jogo entre a cena em que ele sonha ser beijado
por T'Pol e a cena final, em que ele e Trip são resgatados e
levados à enfermaria, é muito bem feito, um bom uso do desejo
dos produtores de tornar a série mais "caliente". Resta
saber se Malcolm vai seguir perseguindo sua paixão pela Vulcana,
após romper essa inércia, ou se vai voltar a estacionar.
Aliás, por falar em paixão, é um grande alívio saber que o
beijo de T'Pol em Reed (que nem chega a acontecer) não passou de
uma fantasia do oficial de armamentos. Um envolvimento emocional tão
grande por parte de T'Pol não deve ser expressamente proibido,
mas, tão no início da série, simplesmente iria destruir toda a
credibilidade do personagem.
Mas faltou dizer qual foi a segunda coisa incomum do episódio,
para ser de autoria de Rick e Brannon --ele é fortemente
inspirado pela Série Clássica!
Pois é, tem gente que acha que esses dois simplesmente não
suportam o seriado original, mas a referência a "The
Galileo Seven" é muito óbvia para ser mera coincidência.
O isolamento na pequena nave, a perspectiva da morte certa e a ejeção
do motor (ou do combustível, no episódio clássico) são muita
coisa para que acreditemos que não há uma inspiração por trás
da história.
Alguém pode reclamar que eles estão fazendo o que sempre fazem
--reciclando velhas idéias. Nada estaria sendo mais injusto: o
uso dos elementos aqui presta muito mais uma homenagem à Série
Clássica do que se apropria de suas glórias. O mérito de "Shuttlepod
One" está totalmente calcado em outros elementos
(leia-se, o desenvolvimento de Malcolm Reed enquanto personagem
tridimensional), e o uso das referências clássicas só serve
para conquistar a simpatia da audiência. Boas escolhas, sem dúvida.
O episódio é recheado de diálogos bem escritos e não cansa a
audiência, apesar de ser praticamente inteiro filmado em um
claustrofóbico shuttlepod. Em certo momento, há uma pequena
sensação de repetição exaustiva, com Reed ditando seus diários
e Tucker reclamando, mas felizmente o episódio não chega a
empacar, e volta a fluir com suavidade e de forma agradável e
interessante.
Algumas cenas
chegam mesmo a se destacar, como Tucker e Reed já de porre,
comentando os dotes de T'Pol e ainda esvaziando a garrafa, ou a
cena de abertura do episódio, com o britânico Reed mostrando uma
certa rivalidade para com seus colegas americanos. Um lembrete
interessante de que ainda estamos no século 22, e que a
humanidade não é tão coesa quanto nos séculos seguintes.
Também devemos agradecer por termos sido poupados de uma anomalia
temporal ou algum "braguete" do tipo. O enredo foi
conduzido de maneira bem tradicional, o que ajudou o episódio a
se manter sólido e se manter dentro da premissão de pré-sequência
da série. Outro ponto positivo.
Na verdade, só há uma coisa que realmente se pode criticar sobre
esse episódio: ele de fato não tem história; é 100% interação
de personagens. Se isso pode ser uma grande força à primeira
vista, não parecerá do mesmo modo depois da terceira vez que
alguém o assiste. Por não ter uma história particularmente
vibrante, logo que a audiência extrai o conteúdo sobre os
personagens, não vale a pena revisitá-lo.
De toda forma, esse era o único modo de conceber essa história e
foi válido os produtores a fazerem. Apesar dos paralelos com "The
Galileo Seven", trata-se essencialmente de uma novidade
em Jornada --e uma das boas. Esperemos que a equipe de Enterprise
continue assim, conseguindo inovar com qualidade --uma coisa cada
vez mais rara, após tantos anos e episódios...
Citações:
Reed - "If
only Dr. Cochrane had been a European. The Vulcans would've been
far less reticent to help us. But, no... he had to be from
Montana."
("Se apenas o dr. Cochrane tivesse sido um europeu. Os
Vulcanos seriam bem menos relutantes em nos ajudar. Mas não...
ele tinha de ser de Montana.")
Reed - "Does
that sound modulated enough for you?"
("Isso parece modulado pra você?")
Tucker - "Modulated?"
("Modulado?")
Reed - "The radio. Or is it just the galaxy giggling at us
again?"
("O rádio. Ou é só a galáxia rindo de nós de
novo?")
Tucker - "It can giggle all it wants, but the galaxy's not
getting any of our bourbon."
("Pode rir quanto quiser, mas a galáxia não vai ganhar nada
do nosso bourbon.")
Reed - "She's got a nice bum."
("Ela tem um belo traseiro.")
Trivia:
Rick Berman, um dos autores do episódio, apostou nos personagens.
"Há um show em que Brannon [Braga] e eu estamos trabalhando
agora que é um episódio forte para Trip e Reed e acho que irá
unir esses dois personagens."
Quem falou mais do episódio, entretanto, foi Dominic Keating.
"Tem um episódio vindo aí chamado 'Shuttlepod One',
e é uma de minhas mais empolgantes e memoráveis experiências de
atuação, tanto em palco quanto em câmera. É entre mim e Trip,
o engenheiro. Achamos que estamos abandonados sozinhos no espaço
no Shuttlepod Um. Você poderia colocar isso em uma peça de fora
da Broadway e interpretado como um 'ato-único'. Rick está muito
satisfeito, e ele disse algumas coisas muito congratuladoras sobre
ele ontem."
Não foi fácil filmar o episódio, segundo Keating. "Foi bem
duro filmar, porque no episódio nós desligamos o termostato para
conservar oxigênio, então a temperatura cai, e eles construíram
um iglu para nós no palco oito e colocaram seis aparelhos de
ar-condicionado lá com pacotes de gelo seco, e baixaram a
temperatura para menos que zero, e fizemos três dias assim. Foi
bem duro."
O resultado, para o ator, valeu a pena. "Esse episódio é um
dos melhores trabalhos que já fiz, se posso dizer. Estou
realmente empolgado para ver como sai. Acho que fizemos algo bem
extraordinário."
Sem atores convidados e filmado totalmente dentro do estúdio, "Shuttlepod
One" foi um dos episódios que ajudou a equilibrar o orçamento
da série durante a primeira temporada, que esbanjou dinheiro em
seus primeiros episódios com efeitos especiais.
Ficha
técnica:
Escrito por Rick Berman &
Brannon Braga
Direção de David Livingston
Exibido em 13/02/2002
Produção: 016