MANCHETE
DO EPISÓDIO
Segmento
mostra vida em cargueiros,
mas falha em desenvolver Mayweather
Episódio
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episódio
Sinopse:
O almirante Forrest contata a
Enterprise para passar novas ordens ao capitão Archer. Ele
lamenta informar, mas está tirando a nave de sua missão exploratória,
para que ela possa ir de encontro à ECS Fortunate, uma nave
cargueira da Terra que está enviando um sinal de socorro. Por ser
a única nave da Frota com capacidade de dobra 5, só ela poderia
atender ao chamado em tempo relativamente curto.
Archer ordena que
Mayweather estabeleça novo curso, enquanto eles estudam um pouco
mais da Fortunate e de suas funções. Chegando lá, eles
encontram a nave à deriva, seriamente danificada. Archer tenta se
comunicar, mas Hoshi não obtém resposta do cargueiro. Ao
detectar várias formas de vida a bordo, o capitão decide levar
um grupo até lá.
Ao abordar a nave, eles são recebidos por Matthew Ryan, o
primeiro-oficial. Ele diz que a Fortunate foi atacada por piratas
Nausicaans, mas que eles conseguiram rechaçá-los. Infelizmente o
capitão Keene foi ferido no processo, e se encontra afastado de
suas funções. Phlox se oferece para vê-lo, e Archer propõe que
a Enterprise ajude a tripulação do cargueiro nos reparos.
Ryan a princípio reluta, mas acaba concordando. Enquanto Tucker
coordena a instalação de reparos e atualizações nos sistemas
da Fortunate, T'Pol acaba detectando, com seu dispositivo sensor,
um sinal de vida Nausicaan vindo de dentro da Fortunate,
provavelmente de alguém ferido.
Terminados os reparos, Archer pressiona Ryan para que ele conte
sobre a natureza do Nausicaan, até que o primeiro-oficial
confessa que se trata de um prisioneiro. O capitão da Enterprise
insiste em falar com ele, mas Ryan recusa, argumentando que a
Frota Estelar não tem qualquer jurisdição sobre sua nave.
Archer é obrigado a aceitar, mas ameaça ordenar que Tucker
retire todo o equipamento que foi instalado a bordo.
Diante
da ameaça, Ryan concorda em que Archer veja o prisioneiro. O
capitão, T'Pol, Malcolm Reed e Phlox vão até o cargueiro, para
encontrar o Nausicaan. Eles são levados até um módulo de carga,
apenas para descobrir que tudo não passa de uma armadilha. Após
um tiroteio, o grupo da Enterprise fica preso dentro do módulo,
que acaba sendo desconectado do resto da nave e fica à deriva.
Tucker avisa a Archer, por comunicador, que a Fortunate está para
sair de dobra. O capitão ordena que ele impeça a partida do
cargueiro, mas é tarde demais. Em princípio Archer pede que
Tucker siga a Fortunate, mas como o módulo de carga em que eles
estão está passando rapidamente por descompressão (pois um tiro
acabou abrindo uma brecha no casco, por onde o ar está escapando
para o espaço), o capitão acaba abortando a operação para que
o engenheiro possa enviar um shuttlepod para resgatá-los.
Após o resgate, Archer decide ir atrás da Fortunate, quando é
informado por Mayweather que Ryan (com quem teve longas conversas
enquanto o cargueiro passava pelos reparos, em razão da natureza
comum dos dois, ambos nascidos em naves cargueiras no espaço) tem
intenção de perseguir os Nausicaans para se vingar deles. A
Enterprise passa então a procurar sinais do traço de dobra
deixado pela nave, mas acaba demorando um bocado para encontrá-la.
Enquanto isso, Ryan já colocou a Fortunate em batalha contra os
Nausicaans. O cargueiro persegue uma nave Nausicaan até um asteróide,
confiante de que poderá derrotá-lo com a frequência dos escudos
do oponente cedida pelo prisioneiro, após tortura. Entretanto,
quando lá chegam, descobrem que o asteróide é uma base para os
piratas, e que duas outras naves agora estão em seu encalço.
Para completar a desgraça, a frequência dada pelo prisioneiro não
corresponde à realidade.
A Fortunate é
rapidamente imobilizada e agora está sendo abordada pelos
Nausicaans, que querem seu colega aprisionado de volta. Nisso a
Enterprise entra em cena. Archer se comunica com os Nausicaans e
negocia com eles um acordo, em que a Fortunate cede o prisioneiro
e os piratas partem sem qualquer outra ação agressiva. Após
alguma discussão, os alienígenas concordam. Mas falta ainda
convencer Ryan, totalmente obcecado com a idéia de vingança, a
entregar o prisioneiro.
A Enterprise contacta a Fortunate e Archer é incapaz de fazer
Ryan ceder. Entretanto, Mayweather consegue influenciar
suficientemente o primeiro-oficial do cargueiro para convencê-lo
a libertar o prisioneiro. Após Ryan liberar o Nausicaan, os
piratas partem.
O capitão Keene finalmente se restabelece, e rebaixa Ryan a um
posto inferior na hierarquia da Fortunate. Archer se oferece para
levar o ex-primeiro-oficial de volta à Terra, mas Keene o lembra
que ele precisa de todos os seus homens para continuar operando, e
reflete com o capitão da Enterprise sobre as mudanças que virão
com a introdução de motores mais rápidos, como o que equipa a
nave da Frota Estelar.
Comentários:
"Fortunate Son" é um episódio que
serve bem a um propósito: dar à audiência a chance de conhecer
melhor qual é o ambiente e o modo de vida dos humanos que
ousaram, ainda com tecnologia incipiente, explorar comercialmente
o espaço.
Temos a chance de observar em primeira mão a filosofia por trás
desses mercadores e de suas naves. Os antigos cargueiros
terrestres funcionavam como verdadeiros lares para esses humanos,
uma vez que uma simples viagem de um sistema estelar a outro
levava vários anos. É uma versão "espacializada" dos
marinheiros conhecidos como "lobos do mar", que
consideravam o oceano sua verdadeira casa.
Mais
que isso, começamos a conhecer em termos históricos o momento em
que estão esses cargueiros agora --seu modo de trabalho está
para ser radicalmente modificado pela introdução de motores mais
potentes, como os da Enterprise, que cortarão em centenas de
vezes o tempo de viagem nas rotas comerciais.
Finalmente, descobrimos que a Frota Estelar tem um papel muito
mais de agência espacial civil conjunta da Terra, como a Nasa
atua hoje para os EUA, do que como força de polícia para as
naves terrestres. É interessante descobrir que Archer e sua
tripulação não têm qualquer jurisdição sobre a ação de
cargueiros da Terra.
Infelizmente, apesar de todas essas informações de contexto
valiosas, o episódio falha justamente em seu objetivo principal:
dar um pouco mais de textura e tridimensionalidade a Travis
Mayweather. O segmento claramente é devotado a explorar o pensar,
as emoções e o passado do jovem piloto da Enterprise.
Só que esses
desenvolvimentos são extremamente mal-conduzidos, com problemas
que vão desde o roteiro até a interpretação de Anthony
Montgomery. Parece que a falta de destaque para Mayweather nos
primeiros episódio não é só uma culpa da produção; quando
teve uma boa chance, Montgomery não conseguiu fazer seu
personagem brilhar.
Sua atuação parece um pouco forçada. O personagem não parece
emanar do ator, mas do roteiro. E as falas não ajudam muito, o
que torna o trabalho do intérprete ainda mais difícil. Suas
cenas com o primeiro-oficial da Fortunate, Matthew Ryan, até que
quebraram um galho, mas muito mais pela atuação de Lawrence
Monoson do que por seu mérito próprio. Tanto que seus diálogos
com Archer foram uma das coisas mais patéticas que já se
produziu nesta temporada de Enterprise.
O tom extremamente moralista do discurso de Archer e o tom de
"cachorrinho abandonando o rabo" de Mayweather destroem
qualquer possibilidade dramática da sequência. Por ter sido
criado em um desses cargueiros, Travis devia ser muito mais
agressivo e desafiador do que foi para com Archer. Sua abordagem e
a resposta do capitão destruíram qualquer possibilidade de
desenvolvimento do personagem. Sem falar na boa vontade do
telespectador.
O
enredo em si não é ruim, e daria um bom episódio de Jornada
nas Estrelas --não fosse tão curto. Claramente faltam uns
bons dez minutos de história para completar esse episódio. Tanto
que a Enterprise, com seu motor super-hiper-ultra-rápido de dobra
5, leva várias horas para encontrar a Fortunate, com sua
velocidade máxima de dobra 1,8.
É justamente nesse momento do episódio que a história perde
totalmente o ritmo. Depois disso, é só desastre. A intervenção
final de Mayweather para salvar a pátria é terrível. Fora que já
está virando clichê um personagem secundário falando a distância
resolver a trama do episódio. Já vimos Hoshi fazer isso em "Fight
or Flight" e agora é a vez de Travis.
Os outros tripulantes da Enterprise, à exceção de Hoshi,
tiveram alguma participação relevante no episódio. Phlox é o
menos destacado dos três, mas ao menos teve a chance de
participar da ação (ou se esquivar dela) durante o tiroteio a
bordo da Fortunate. T'Pol também teve seu momento de glória ao
ajudar "vulcanamente" uma menininha a se esconder de
seus coleguinhas na nave cargueira. Tucker não teve nada muito
importante para fazer, exceto instalar e desinstalar equipamentos
na Fortunate.
O capitão Archer saiu mais uma vez beneficiado, com decisões
mais firmes e acertadas do que no começo da temporada. Pena que
ele tenha estragado sua participação com aquele discurso manjado
para Mayweather em seu gabinete.
A aparição dos Nausicaans, embora não faça muito por eles
enquanto espécie alienígena de Jornada, pelo menos já os
estabelece como uma força hostil no quadrante Alfa. E a velha
falta de diplomacia deles está lá. Só incomoda o fato de o líder
Nausicaan ter aceitado tão rapidamente a proposta de Archer --e
de seus liderados terem saído da Fortunate com seu colega
aprisionado sem disparar um único tiro. Os Nausicaans me parecem
traiçoeiros e violentos o suficiente para recusar um cessar-fogo
tão "fair play" quanto o que Archer propôs.
Se os Nausicaans
ajudaram a estabelecer detalhes de continuidade entre as múltiplas
séries de Jornada, um elemento adicional do episódio foi
igualmente importante para manter a continuidade dentro da própria
série. A aparição do almirante Forrest foi uma bela adição,
assim como sua menção aos dados obtidos no estudo do cometa
Archer, descoberto pela Enterprise em "Breaking
the Ice".
Um último comentário: por que Archer recusou insistentemente o
drink oferecido pelo capitão da Fortunate? Para mim, os
produtores quiseram transformá-la num ícone da situação dos
veteranos "astronautas", a tripulação do cargueiro,
com relação ao surgimento da nova geração --Archer e cia.
Enquanto o capitão da Fortunate quer parar e saborear cada
momento da viagem, tomando drinks aqui e ali, Archer representa o
progresso, caminhando a passos largos, ou, como queira, em dobra
5, sempre com pressa. É a contraposição do novo e do velho, e
suas respectivas posturas. Entretanto, o toque ficou sutil demais
para que funcionasse. Na prática, parece apenas que Archer foi
antipático e descortês.
Nem os belos efeitos especiais, os designs interessantes da
Fortunate e das naves Nausicaans e a direção firme de LeVar
Burton salvaram o episódio de sua evidente falta de assunto para
40 minutos. Mayweather talvez pudesse ter feito isso, assim como
salvou a Enterprise e a Fortunate de um conflito catastrófico com
os Nausicaans. Mas ainda não foi desta vez.
Citações:
Forrest - "Whatever
you have to do to keep those reports coming. Those scans of that comet
were incredible."
("O que for necessário para manter esses relatórios chegando.
Aqueles dados daquele cometa eram incríveis.")
Archer - "Something tells me you didn't call at four in the
morning to talk about comets."
("Algo me diz que você não me ligou às quatro da manhã para
falar de cometas.")
Mayweather - "I grew up on a J-Class. A little smaller, but the
same basic design. And one thing I can tell you is that at warp 1.8 you've
got a lot of time on your hands between ports. That's how my parents
wound up with me."
("Eu cresci num classe-J. Um pouco menor, mas o mesmo design básico.
E uma coisa que posso dizer é que em dobra 1,8 você tem muito tempo em
suas mãos entre portos. Foi como meus pais se saíram comigo.")
T'Pol - "Do you have any helpful information on this vessel
beyond its... recreational activities?"
("Você tem alguma outra informação relevante nessa nave além
de... suas atividades recreativas?")
Ryan - "That's a transporter."
("Isso é um transporte.")
Mayweather - "Enterprise came with all the trimmings."
("A Enterprise veio com todos os acessórios.")
Ryan - "I've read about them. Have you been through it?"
("Eu li sobre eles. Você já passou por ele?")
Mayweather - "Not yet. Most of the crew's afraid, but I'm kind
of curious to try it out."
("Não ainda. A maioria da tripulação tem medo, mas eu estou meio
curioso para experimentar.")
Ryan - "They say that for a split second you can actually feel
yourself in both places at once."
("Eles dizem que por uma fração de segundo você pode se sentir
mesmo em dois lugares ao mesmo tempo.")
Mayweather - "Why do you think I want to try it?"
("Por que acha que eu quero experimentar?")
Archer - "I don't know about you, Travis, but that doesn't sit
right with me. Human beings have a code of behaviour that applies
whether they're Starfleet Officers or space boomers. And it isn't driven
by revenge. Just because someone isn't born on Earth doesn't make him
any less human."
("Eu não sei quanto a você, Travis, mas isso não parece certo
comigo. Seres humanos têm um código de comportamento que se aplica
tanto a oficiais da Frota Estelar quanto a nascidos no espaço. E ele não
é ditado por vingança. Só porque alguém não nasceu na Terra, não
faz dele menos humano.")
Archer - "Perhaps we have an opportunity here to improve
relations between your people and mine."
("Talvez tenhamos uma oportunidade aqui para melhorar as relações
entre seu povo e o meu.")
Nausicaan - "We're happy with our 'relations' the way they
are."
("Estamos felizes com nossas 'relações' do jeito que elas estão.")
Trivia:
Vários atores desse episódio fizeram aparições anteriormente em Jornada
nas Estrelas. Lawrence Monoson interpretou Hovath, em "The
Storyteller" (Deep Space Nine). Kieran Mulroney fez
Benzan, em "The
Outrageous Okona" (A Nova Geração). Danny Goldring
fez o legado Kell, em "Civil Defense" (Deep Space
Nine), o tenente Burke, em "Nor the Battle to the Strong"
(Deep Space Nine), e um Hirogen em "The Killing
Game" (Voyager). Charles Lucia antes interpretou o
embaixador Ramid Ves Alkar, de "Man
of the People" (A Nova Geração), creditado como
Charles O. Lucia), e Mabus, em "Alliances"
(Voyager), creditado como Chip Lucia. Finalmente, D. Elliot Woods
interpretou um oficial Klingon em "Sons of Mogh" (Deep
Space Nine), creditado como Elliot Woods, e um oficial da Frota
Estelar no filme "Jornada nas Estrelas: Insurreição".
O episódio marca o retorno de Vaughn Armstrong como o almirante Forrest
(a primeira aparição havia sido no piloto "Broken
Bow"). Antes de ganhar esse papel recorrente, Armstrong já
havia passado por oito papéis em Jornada nas Estrelas, incluindo
participações em A Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager.
Nas primeiras versões do roteiro, quase até a finalização do episódio,
o personagem Matthew Ryan se chamava "Ryan Cross". Tanto que
até o "press release" da UPN listava o personagem como tendo
esse segundo nome.
A música do episódio ficou por conta do veterano compositor Dennis
McCarthy.
Ficha
técnica:
Escrito por James
Duff
Direção de LeVar Burton
Exibido em 21/11/2001
Produção: 010
Elenco:
Scott
Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como
T'Pol
John Billingsley
como Phlox
Anthony Montgomery
como Travis Mayweather
Connor Trinneer como
Charlie 'Trip' Tucker III
Dominic Keating como
Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado:
Lawrence Monoson como Matthew Ryan
Kieran Mulroney como Shaw
Vaughn Armstrong como almirante Forrest
Danny Goldring como capitão Nausicaan
Charles Lucia como capitão Keene
D. Elliot Woods como prisioneiro Nausicaan
Daniel Asa Henson como garoto
Elyssa D. Vito como Nadine
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