Voyager
Temporada 4

Análise do episódio por
Daniel Sasaki



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Tripulação lança resistência aos Hirogen

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Sinopse:

Data Estelar: 51715.2

Mesmo com a Segunda Guerra Mundial eclodindo pelos corredores da Voyager, o líder dos Hirogens não está disposto a destruir a tecnologia do holodeck. Insiste a seus soldados que Janeway seja encontrada e levada a ele com vida. Enquanto isso, a capitã e Seven of Nine, já a par da situação, continuam fingindo em seus respectivos papéis com o intuito de angariar o apoio da resistência francesa - especificamente, Tuvok, B'Elanna, Chakotay e Paris. Eles traçam um plano que permitirá a Janeway acessar todas as interfaces neurais.

Quando a capitã e Chakotay acessam a simulação Klingon, no outro holodeck, ela convoca o Doutor. As interfaces são controladas da Enfermaria, portanto o plano é explodir o console para desativá-las. Com os campos de contenção internos da Voyager desativados, os estragos da bomba holográfica serão reais. Chakotay monta os explosivos e Janeway consegue acesso, mas um Hirogen entra na sala e a ataca. Ela consegue escapar a tempo de a bomba explodir, desativando todos os dispositivos da tripulação.

A capitã é levada ao líder dos Hirogen, que lhe explica por que deseja preservar os holodecks. Ele diz que sua civilização está morrendo por causa dos hábitos predatórios em que a raça se baseia há milênios. Deseja reunir seu povo, abandonar a existência nômade e restringir as caçadas a presas simuladas. Janeway compreende e oferece a tecnologia, desde que a Voyager lhe seja devolvida. Os dois chegam a um acordo e o cessar-fogo parece próximo.

 No entanto, no holodeck, um holograma nazista convence soldados Hirogen a continuar lutando. Enquanto a batalha se intensifica, Neelix e o Doutor recrutam os Klingons para ajudar. Janeway trabalha com Harry para sobrecarregar a rede de emissores holográficos, o que desativará as simulações. Mas um oficial Hirogen invade a Engenharia, mata seu líder e exige que a capitã corra para que ele a cace pela nave.

Com as tropas alemãs se aproximando, Seven tenta modificar um explosivo para que uma rajada fotônica iniba a atividade holográfica na área. Os nazistas avançam com força e, quando estão prestes a vencer, os Klingons atacam. Correndo pelos corredores e arrastando-se por tubos Jefferies, Janeway luta pela sua vida. Ela ilude o soldado Hirogen para um ponto em que a  arma holográfica dele desaparece. Em seguida, pega um rifle e o mata. Os emissores holográficos finalmente sobrecarregam e a simulação termina. Embora a Voyager saia severamente danificada do conflito, os dois lados negociam uma trégua e Janeway entrega aos Hirogen a tecnologia dos holodecks.

 

Comentários:

Se na primeira parte de "The Killing Game" o foco era o tormento filosófico do líder dos caçadores, aqui passa a ser a resistência da tripulação da Voyager. E a conclusão da história consegue atingir seu objetivo, não sofrendo da "maldição da segunda parte". O segmento começa com a guerra correndo solta pelos corredores da nave. Os hologramas se espalham pelos decks porque há emissores holográficos instalados em toda parte. Janeway e Seven armam-se com rifles dos anos 1940 e saem para organizar o movimento com os aliados norte-americanos e os Klingons. Nesse meio-tempo, os Hirogens ficam impacientes. Não se trata mais de um jogo. A caçada é real. Em pouco tempo, o Alfa vê seu poder sobre os caçadores diminuir. Palavras e inspirações sobre um futuro improvável não mais os detêm.

Os roteiristas conseguem desenvolver muito bem os personagens aqui. Chakotay, Paris, B'Elanna, Tuvok. Todos brilham a seu modo. A grande ironia é que se desenvolvem os personagens dos personagens. Vê-se muito mais do capitão Hiller (ou Miller - sim, porque ele se refere a si mesmo pelos dois nomes!) do que de Chakotay em anos de série! O namorico do soldado americano (Paris) com a mocinha francesa (B'Elanna) só parece meio cafona porque na vida real do seriado os dois são mesmo namorados. Mas seu histórico foi muito bem costurado à trama da simulação. E a cena em que conversam sobre a gravidez de Brigitte é bastante convincente. Dawson faz aqui um papel bem diferente da Klingon. Enquanto a engenheira é agressiva, temperamental e impaciente, Brigitte é a tolerância em pessoa. Vive de cabeça baixa e leva desaforos para casa, apenas para não expor o movimento de resistência.

Kate Mulgrew também dá um show na atuação. Janeway assume aquele bom e velho instinto materno de proteção. A cena do diálogo com o Hirogen Alfa no deck 1 é sensacional, a chave para se entender o episódio. Há uma compreensão mútua. Respeito, apesar de serem adversários. Os dois saem de lá com um acordo de cessar-fogo. Acontece que tudo vai por água abaixo quando o líder dos caçadores acaba morrendo. E ele é morto pelo seu próprio Beta, assim como Ghandi foi assassinado por um hindu e Itzhak Rabin por um judeu. Há uma grande mensagem escondida aqui. Aliás, essa mensagem vem sendo repetidamente transmitida na série (em destaque, nos episódios "Distant Origin" e "Living Witness"): a ignorância, o medo e o fanatismo são os maiores entraves ao esclarecimento e à transformação.

Chama atenção também a forma como o Kapitan (J. Paul Boehmer) convence o Beta a armar o motim. A direção foi excelente aqui. O brilho no olhar do soldado frustrado.Veja que mesmo um holograma aparentemente insignificante consegue envenenar a situação. O oficial nazista nada mais faz do que reforçar as crenças fortemente enraizadas do jovem Hirogen. E se antes ele se mostrava descontente com as imposturas do superior, a declaração de cessar-fogo com a presa foi a gota d'água. Ao matá-lo sem sequer ouvir o que o Alfa tinha a dizer, parte para caçar da capitã.

A seqüência a seguir é sensacional. Não há quem não tenha ficado tenso nessa hora. Janeway, a corajosa oficial superior da Voyager, é vista aqui se arrastando pelos corredores e tubos Jefferies com a perna ensangüentada. A forma como consegue revirar a situação é brilhante! Outro ponto forte no roteiro foi a carga de humor. E ninguém melhor para balancear a ação com comédia do que o Doutor incitando os Klingons a lutar, assessorado por um "guerreiro" Neelix bêbado.

Mas vamos aos questionamentos menos generosos. Leiam-se "inconsistências". Quando o aparente fim das hostilidades é declarado, Paris se diverte na simulação da Segunda Guerra, entre mortos, feridos e uma Voyager semi-destruída. Foi despropositado e completamente dispensável; a seqüência não serviu a propósito algum. Depois, quando Seven modifica (sabe-se lá como) uma granada com tecnologia Borg e está prestes a lançá-la, leva um tiro e cai no chão. Ao final da história, quando toda a atividade holográfica cessa e Chakotay diz "acabou", ela sai caminhando normalmente.

Porém, deixando os detalhes à parte, nada explica a surpreendente decisão de Janeway de dar aos Hirogens tecnologia da Federação ao final do episódio. A capitã, que nas primeiras temporadas deflagrou uma longa guerra com os Kazons por um simples componente de teletransporte, aqui presenteia (porque não houve reciprocidade) o inimigo com os holodecks! E o pior: ela não esclarece por que o fez. Incoerente! Se o líder dos Hirogens morreu, não teria nem por que encerrar o conflito formal e pacificamente. O que, então, aconteceu? Simples: a capitã deu tecnologia a uma raça que não detinha tal conhecimento. Bem diferente do que aconteceu, por exemplo, em "Concerning Flight", no qual equipamentos e armas da Voyager foram roubados e ficaram para trás. Já se foi o tempo em que se dizia "vou destruir essa nave antes de entregar qualquer parte dela".

Agora, Janeway oferece e insiste (lembrando que o Hirogen declina a princípio, alegando que não compartilha dos princípios de seu ex-Alfa). A censura aqui não é ao roteiro, mas à capitã. Pode ser que quiseram lhe imprimir um toque humano e distanciá-la do conceito de que "o capitão não erra". E lá se vai a Primeira Diretriz, porque as repercussões podem se manifestar sobre outras raças no quadrante.Vendo a decisão pelo lado bom, parece que os caçadores não ficam com ódio da Voyager, como ficaram (e devem estar até hoje) os Kazons, Vidiians e tantos outros. Pela primeira vez, a tripulação chega a um (pseudo) entendimento com seus inimigos.

No fim das contas, ficam diversas questões em aberto. Qual foi o dano à nave? Quantos tripulantes morreram? Isso quer dizer que os Hirogen deixarão a Voyager em paz? Pode haver uma futura cooperação? Haverá novos ataques? Tendo em conta o segmento seguinte, é seguro dizer que os roteiristas recorrerão ao velho amigo "reset". Pode esquecer quaisquer implicações de "The Killing Game" no futuro próximo. Seus efeitos só se farão sentir no também duplo "Flesh and Blood", da sétima temporada (isso mesmo), sobre o qual nada se dirá neste momento.

 

Citações:

Janeway - "I see you've done some redecorating."
("Vejo que andou redecorando.")
Hirogen Alpha - "Your attempt to retake this vessel was inventive. From the day I seized Voyager you put up a dauntless fight, but your fight is over now. You're going to help me shut down these simulations and repair the holodecks."

("Sua tentativa de retomar esta nave foi criativa. Desde o dia em que tomei a Voyager você iniciou uma luta incansável, mas sua luta terminou agora. Vai me ajudar a desligar essas simulações e reparar os holodecks.")
Janeway - "No. We'll destroy this ship before we surrender it."
("Não. Vamos destruir esta nave antes de rendê-la.")
Hirogen Alpha - "Don't threaten me, Captain. I've faced far more intimidating prey than you. If this fight continues, I promise you I will hunt down and kill every member of your crew."
("Não me ameace, capitã. Enfrentei presas muito mais intimidadoras que você. Se a batalha continuar, prometo que vou caçar e matar cada membro da sua tripulação.")
Janeway - "Well, by then this ship will be damaged beyond repair and there won't be much of a trophy left, will there?"
("Bom, até lá a nave estará danificada além dos reparos e não restará troféu algum, não é?")
Hirogen Alpha - "Perhaps I should kill you and find someone who will co-operate."
("Talvez eu devesse matá-la e encontrar alguém que coopere.")
Janeway - "Good luck. You'll get the same response from all of them."
("Boa sorte. Receberá a mesma resposta de todos eles.")

Hirogen Alpha - "You are a resilient species. I admire your cunning"
("Vocês são uma espécie resistente. Admiro sua esperteza.")
Janeway - "Let's end this. I'll call a cease-fire and we can try to contain the damage. I want my ship back, but in return I will give you what you need to create the holodeck technology. It would be cunning for you to agree."
("Vamos terminar isso. Vou declarar o cessar-fogo e podemos tentar conter os danos. Quero minha nave de volta, mas em troca lhe darei o que precisa para criar a tecnologia dos holodecks. Seria esperto de sua parte aceitar.")

Seven - "One day the Borg will assimilate your species despite your arrogance. When that moment arrives, remember me."
("Um dia os Borgs assimilarão a sua espécie, apesar da sua arrogância. Quando esse momento chegar, lembre-se de mim.")

Janeway - "What are you waiting for?"
("O que está esperando?")
Oficial Hirogen - "I am a hunter. You are my prey. Run."
("Sou um caçador. Você é minha caça. Corra.")

 

Trivia:

O personagem de Chakotay no holodeck chamava "capitão Hiller" na primeira parte de "The Killing Game". Aqui, chama-se "capitão Miller".

 

Ficha técnica:

Direção de Victor Lobl
Escrito por Brannon Braga e Joe Menosky
Exibido em 04/03/1998
Produção: 087

Elenco:

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Ethan Phillips
como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Jeri Ryan
como Seven of Nine
Garrett Wang como Harry Kim

Elenco convidado:

Danny Goldring como Hirogen Alpha
Mark Metcalf
como Médico Hirogen
Mark Deakins
como Oficial da SS Hirogen
J. Paul Boehmer
como Kapitan
Paul Eckstein
como Hirogen jovem
Peter Hendrixson
como Klingon

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