MANCHETE
DO EPISÓDIO
Melhor
segmento da temporada alinha
Odo e Garak em trama espetacular
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episódio
Sinopse:
Data Estelar:
desconhecida.
Garak e Bashir estão almoçando a
falando sobre "Julius Caesar", de Shakespeare. O
Cardassiano falha em ver qualquer relevância na obra, que conta a
história de um brilhante estrategista que não consegue enxergar
o traidor bem debaixo do próprio nariz. O doutor retruca dizendo
que este é justamente o âmago desta tragédia do
"Bardo" Inglês. Bashir se levanta apressado, pois Garak
se atrasou para o compromisso e o doutor tem trabalho a fazer. Os
dois deixam o replimat, Bashir se encontra com Kira no caminho e
Garak continua rumo a sua loja. Pouco depois a loja de Garak
explode, Bashir corre em socorro. O Cardassiano se salva, mas a
sua loja fica completamente destruída.
A
investigação -- de Sisko, O'Brien e Odo -- descobre evidência
de que um microexplosivo foi responsável pela ruptura de um conduíte
de força atrás da loja e causou a sua destruição. Houve uma
tentativa de assassinato ao "alfaiate". Na enfermaria
Sisko e Odo não conseguem tirar nenhuma informação de Garak
(descaradamente evasivo) e o comandante (já perdendo a paciência)
o deixa sob a guarda de um destacamento de segurança e parte
junto com o comissário, que promete continuar a investigação.
Bashir conta então a fábula do "menino pastor de
ovelhas" sobre a falta de credibilidade de uma pessoa causada
por suas constantes mentiras. Garak rejeita que a fábula de fato
queira dizer isto. "Nunca diga uma mentira duas vezes!"
Seria uma interpretação mais apropriada da história de Esopo,
segundo ele.
Um pouco mais tarde, Garak chega ao escritório de Odo junto com
os oficiais de segurança. O comissário quer que ele olhe as
listas de entradas e saídas mais recentes em DS9 para ver se ele
descobre algum nome que possa estar envolvido no atentado. Garak não
acha nada. O'Brien chega com a informação que aponta para a
utilização de um sensor feromônico que se ativa na presença de
uma espécie específica. Eles são bastante usados por assassinos
Flaxianos. E um Flaxiano chegou à estação nesta manhã.
O tal Flaxiano, de nome Retaya, é um mercador de fragrâncias.
Odo faz perguntas sobre os assuntos dele na estação e do seu álibi
para o atentado contra Garak. O comissário também vai misturando
fragrâncias, "consultando" o mercador sobre um
"presente para uma amiga". Retaya se opõe a uma mistura
específica sem explicar o porquê. Odo diz que tal mistura produz
um gás que causa ataques cardíacos se inalado. O Flaxiano nega
ter tal conhecimento. Odo não tem evidências para retê-lo e
pede que O'Brien coloque um rastreador na nave do mercador para
poder segui-lo. Odo embarca em um explorador onde Garak já estava
esperando com as malas prontas. Depois de uma discussão inicial,
Odo acaba concordando em levar Garak com ele. Pouco depois a nave
de Retaya é destruída, logo que tenta entrar em dobra.
Examinando
as evidências obtidas por O'Brien e Dax, Odo conjura a teoria de
que os Romulanos contrataram Retaya para matar Garak e que o
mataram após ele falhar em sua missão. Garak diz não ter a
menor idéia do porquê de os Romulanos estarem envolvidos. Odo
agora acredita nele, mas não consegue tirar nada a mais do
Cardassiano, que sugere que o comissário pergunte aos próprios
Romulanos. Para surpresa de Sisko, uma oficial da Tal Shiar
confirma que a agência mandou matar Retaya -- ele era
alegadamente um criminoso procurado por crimes contra o Império
Romulano. Sisko e Odo tentam obter mais informação, mas a
Romulana nega qualquer fato adicional. Os dois não acreditam nas
explicações dela e continuam na estaca zero tanto sobre Retaya
quanto sobre os Romulanos.
Odo diz a Sisko que ainda possui certos contatos em Cardássia e
sem querer explicar muito pede o uso de um explorador. Sisko
concorda. No dia seguinte, em uma caverna escura em algum corpo
celeste deserto em algum lugar no espaço Cardassiano, Odo se
encontra com um informante Cardassiano, que se mantém nas sombras
e diz que fez uma operação de mudança facial. O Cardassiano
cumprimenta Odo por ter seguido as pistas até os Romulanos, mas
diz que ele só investigou até agora a ponta do iceberg de um
problema muito maior. Atividade de naves Romulanas camufladas tem
sido seguidamente reportada na fronteira Cardassiana. Ele joga
para Odo um padd com os nomes de outros cinco ex-operativos da
Ordem que foram mortos no dia anterior, todos por "causas
naturais", e sugere que o comissário o mostre para Garak.
Que aparentemente foi o único sortudo até agora.
De volta à estação, Garak fica radiante por saber que todos
aqueles Cardassianos estão mortos, mas quando continua negando
que também era um ex-agente da Ordem, Odo perde a paciência e
diz que Garak explodiu a própria loja. O Cardassiano fica sem
palavras. Odo diz que Retaya fora contratado para matá-lo
(provavelmente pelos Romulanos e utilizando veneno) e que quando
Garak percebeu a sua presença na estação temeu pela própria
vida e explodiu a alfaiataria para que Odo iniciasse a investigação.
Ele não poderia pedir diretamente: ou não seria levado a sério
ou se veria obrigado a revelar seus segredos pessoais. Garak se vê
em uma posição em que começa a cooperar.
Garak diz que os cinco mortos e ele foram um dia os homens de
confiança de Enabran Tain, ex-diretor da Ordem Obisidiana. Ele
nem sabe se o seu antigo chefe está vivo em vista das circunstâncias,
muito menos o porquê de os Romulanos estarem fazendo isso tudo.
Garak usa então o sistema de comunicações de Odo para contatar
a residência de Tain, através de uma conexão segura. Uma mulher
de nome Mila, governanta e confidente de Tain, atende. É fácil
reconhecer que existe uma conexão muito profunda entre estes dois
Cardassianos. Mila pede que Garak ajude Tain, que está
desaparecido desde o dia anterior. Garak promete fazer o possível.
Bashir se despede de Garak e o Cardassiano parte com Odo (no dia
seguinte) para o sistema Unefra, perto da Fronteira Cardassiana,
onde Tain tem uma casa secreta para emergências.
Durante
a viagem, Odo tenta descobrir mais sobre a relação de Garak com
Mila e principalmente com Tain. Ele chega muito perto quando
conjectura com propriedade que Tain foi o mentor de Garak e que
foi o velho Cardassiano que foi responsável pelo exílio de
Garak. E que apesar disto o "alfaiate" estaria disposto
a arriscar a própria vida por seu antigo superior, mostrando uma
grande conexão entre os dois. Garak diz que presume que Odo aja
simplesmente sob um código pessoal de justiça, sem envolver
sentimento algum e que ele acha "interessante" que ele
associe a ele sentimentos e motivações que o comissário
desconhece em primeira mão. Garak pergunta se existe alguém em
todo o universo que Odo considera mais do que um simples
"quebra-cabeça a ser montado". Odo diz que se existisse
tal pessoa, ele nunca diria a Garak. E Garak diz que ele faz muito
bem em não fazê-lo.
Ao chegar ao sistema Unefra, eles são capturados por uma Ave de
Guerra Romulana, que se descamufla em pleno espaço Cardassiano.
Eles são levados a uma espécie de escritório em que eles
encontram, para total surpresa, o próprio Tain, dizendo que a
chegada de Garak poupou o seu esforço de mandar outra pessoa para
matá-lo. Após o choque inicial, Tain explica que ele está no
comando de uma frota combinada da Tal Shiar Romulana e da Ordem
Obsidiana Cardassiana (construída por meses no sistema Orias),
rumando para o quadrante Gama com o objetivo de destruir o planeta
natal dos Fundadores (informação que a Frota Estelar partilhou
com os Romulanos e que os Romulanos partilharam com ele), com o
objetivo de levar o Dominion ao colapso.
Odo se sente desconfortável com o prospecto do genocídio de sua
raça, apesar de ter dado as costas para ela. Tain explica também
que tencionava matar todos os seus mais próximos colaboradores do
passado, pois ele tenciona voltar para sua antiga posição após
a conclusão da atual missão. Ele não podia deixar ninguém vivo
com informações que pudessem comprometê-lo. O antigo mentor de
Garak também fica surpreso ao saber que fora o próprio quem
explodiu a alfaiataria.
Garak diz que veio por que achava genuinamente que Tain corria
perigo de vida e que nunca o traiu de verdade em seu coração.
Para surpresa geral, Tain acredita e oferece uma escolha a Garak.
Ele pode partir com o explorador ou ficar para servir Cardássia
uma vez mais, sendo o passado esquecido. Odo ficaria na nave de
qualquer forma. Apesar dos protestos do comissário de que Tain não
é confiável, Garak diz que nada importa e que ele está de volta
ao lado do seu mentor. E a frota continua rumo à fenda espacial.
Comentários:
Este episódio é um vencedor tão completo e absoluto que fica até
difícil destacar os seus pontos principais. Tudo impressiona: o
fenomenal uso de continuidade, a trama (em complexidade, densidade
e sofisticação), os diálogos, as caracterizações dos
personagens (muito mais complexas do que usualmente se encontra em
Jornada), a direção, as atuações etc. Literalmente
tudo! Mas ainda assim ele é maior que a soma de suas partes, pois
todos esses elementos se mesclam de uma maneira extremamente
coerente e mesmo impiedosamente lógica. Mais detalhes, sem
precisar explodir o próprio lugar de trabalho no processo, nas
linhas abaixo.
Este
episódio é um exemplo de como se utilizar continuidade em um
drama serial. Temas recorrentes e acontecimentos passados da série
são reexaminados e unidos em uma frente lógica e coesa que eleva
a série a um novo patamar. Tal processo oferece novos possíveis
desdobramentos, que posteriormente levarão a outros novos
caminhos na série e assim sucessivamente. (Em outras palavras,
tudo que foi feito em "Life
Support", só que ao contrário.)
De fato tivemos inúmeros aspectos de continuidade tratados aqui.
Há referências a "The
Wire" (onde o passado de Garak começa a ganhar algum
foco com a introdução de Tain e da Ordem Obsidiana -- incluindo
aí a analogia entre a Ordem e a Tal-Shiar) e "The
Search" (que vira a vida de Odo do avesso com a
descoberta dos Fundadores como o seu povo -- além de outras inúmeras
informações sobre o Dominion) em primeiro lugar, mas não pára
por aí.
Vejamos: "Second
Skin" (onde Ghemor avisa a Kira sobre o quanto Garak
pode ser perigoso e em uma nota de retrocontinuidade o episódio
desta semana explica as costas quentes de Garak, através do seu
mentor: ele está exilado, mas não pode ser tocado), "Defiant"
(a frota da Ordem Obsidiana sendo construída no sistema Orias), "Destiny"
(um ponto claramente menor, mas mostra que a Ordem não queria
nenhum indício de invasão ou missão ao quadrante Gama de
qualquer parte envolvida -- também denota a sua preocupação com
a ameaça do Dominion e que Cardássia estava perdendo tempo e se
complicando politicamente ao intensificar suas relações com a
Federação e com Bajor), "Visionary"
(mostrando a paranóia dos Romulanos com relação ao Dominion) e
mesmo "Necessary
Evil" (pois voltamos a ter nesta semana mais um
vislumbre do passado sombrio de Odo, com direito até a uma menção
do infame "truque do pescoço Cardassiano").
Tais temas são incorporados de uma forma transparente e sem
chamar a atenção para si. Além disto o roteiro do episódio
aparenta ser tão multifacetado quanto o próprio Garak, trazendo
reviravoltas altamente inspiradas que parecem sair de uma linha de
montagem sem fim. Normalmente os "fins de ato" (em episódios
de séries de TV em geral) sempre trazem alguma espécie de
"gancho" para fazer o espectador não mudar de canal no
intervalo, algo que muitas vezes parece mecânico e artificial,
uma restrição de formato como usar uma determinada fonte ou
tabulação no manuscrito de um roteiro. Nesta semana cada
"fim de ato" teve vida e foi um evento em si próprio.
A maior surpresa da trama, de que foi o próprio Garak que
explodiu a própria loja e a explicação do "porquê"
embutida na fábula que Bashir conta a Garak muito antes (e, em
uma primeira assistida, aparentemente de forma totalmente
dissociada da investigação em curso naquele momento) de tal
revelação é brilhante.
Em termos de complexidade interna, tal roteiro encara pelo menos
de igual para igual qualquer outro de Jornada, mas se
formos levar em conta o seu tratamento de material passado, ele
ocupa uma classe por si só. Este roteiro é o mais ambicioso de Jornada
até aquele momento (em que o episódio fora exibido
originalmente) e consegue concretizar tal ambição de uma forma
admirável.
Não precisamos ir muito longe para exemplificar a qualidade do
roteiro. Basta tomarmos a primeira cena. Bashir e Garak almoçando
e falando sobre literatura, algo absolutamente rotineiro. Garak se
atrasou para o almoço (estava preparando o explosivo e deixando
as pistas para Odo seguir, após ver o Flaxiano na estação),
estava ainda mais falastrão do que de costume e não tocou na
comida (estava claramente nervoso com toda a situação) e partiu
junto com Bashir (para garantir um perfeito álibi). Visto uma
primeira vez, um encontro divertido. Visto uma segunda vez, um
brilhante "setup".
Por falar em "setup", tal cena inicial com a discussão
a respeito de "Julius Caesar" (a princípio completa
rotina) terá o seu "payoff" na semana que vem.
Shakespeare só foi usado de forma tão efetiva e tão sofisticada
anteriormente em Jornada em "The Defector",
da terceira temporada de A Nova Geração. Não é coincidência
que Ronald D. Moore, que escreveu tal episódio de Picard e cia.,
também esteve envolvido (de forma não-creditada) no segmento de DS9
desta semana e escreveu a sua conclusão.
(Na realidade, a conclusão "The Die Is Cast"
provavelmente utiliza o velho "Bardo" -- através de um
eco -- de uma forma ainda mais forte e muito mais pessoal do que
em "The Defector".)
Com cenas tão longas como as que temos aqui, bons diálogos são
necessários para segurar as cenas e para produzir um fechamento
em cada uma delas. Nós tivemos esta semana provavelmente o melhor
episódio em termos de diálogos de toda a história do franchise.
A variedade, sofisticação e riqueza dos diálogos... É
desconcertante. Parece mais uma antologia.
A
formação da dupla Garak e Odo faz tanto sentido dramático que
fica a pergunta de por que ela demorou tanto a acontecer. Eles são
os dois únicos de suas respectivas espécies vivendo em DS9.
Ambos são olhados com desprezo pelos moradores da estação
(Garak mais claramente do que Odo neste ponto -- apesar de "A
Man Alone" apontar que certas pessoas também mantêm
o seu ressentimento com relação a Odo). Sem falar que eventos
futuros na série vão trazer ainda mais ódio e desconfiança
para cima deles. Ambos pessoas extremamente privadas. Garak, um
agente de elite do maior serviço de inteligência do quadrante (e
o herdeiro natural do comando de tal agência). Odo, o melhor
chefe de segurança do quadrante (e o filho pródigo do mais
poderoso império intergaláctico da história do franchise). E
ambos vivem no exílio. As coincidências são tantas que chega a
assustar.
Outro fato importante é que Garak e Odo não são exatamente
escoteiros. Garak, com certeza, fez coisas terríveis no seu
passado (e nunca olhou para trás, porque não poderia fazê-lo se
quisesse continuar vivendo) e é um homem prático sob todos os
aspectos. Odo foi responsável por trazer ordem e justiça a uma
escravatura e condenou direta ou indiretamente muitos inocentes
(em um outro possível estado de direito) à morte. Quando tal
passado é de fato respeitado, o material associado a esses
personagens é intenso como muito pouca coisa produzida em Jornada.
Este foi o caso aqui.
Posto isto, não existe muito que falar sobre as cenas dos dois
juntos. Eles "quebram tudo" seguidamente e sem descanso.
É um verdadeiro massacre. A viagem dos dois para o sistema Unefra
em que é trazido pela primeira vez à tona o tema da solidão
compartilhada dos dois é um estupendo material. Reparem que o
Dominion só é referido no último ato do episódio. E quando o
futuro genocídio dos Fundadores é anunciado, Odo está lá para
produzir a ressonância emocional adequada. Porque ele era o
responsável natural pela investigação em primeiro lugar. Esta
simples noção de coerência permeia todo o segmento.
Tain exibe aqui a mesma dualidade com relação a Garak que em "The
Wire", mandando matar o ex-pupilo e pouco tempo
depois aceitando esquecer a traição dele e o convidando para a
sua missão. Mila é definitivamente mais um elemento importante
na vida de Garak, mas cabe salientar que não aprendemos nada
sobre Garak que já não fosse sabido ou que já não fosse uma
suposição confiável. O que de forma alguma é um problema --
trazer toda a caracterização de Garak à vida através de
subtexto é extremamente sofisticado. Tornar sentimentos
(notadamente entre Garak, Tain e Mila) tão claros desta maneira
é tarefa para poucos.
A direção de Brooks é absolutamente matadora, uma das melhores
de toda a série. Não somente por arrancar atuações memoráveis
de todos os envolvidos, mas também por pontuar cada recorrência
do roteiro, tornando a versão filmada ainda mais coesa do que a
escrita (que já era estupenda). A cena em que Odo encontra o seu
informante é uma das mais bem construídas e originais de toda a
história do franchise. O ato final, que contém apenas uma única
cena, é outra pérola em que todos as "feras de teatro"
envolvidas "quebram tudo" em uma demonstração brutal
de talento. A imagem final (de Tain e Garak se cumprimentando com
Odo ao fundo) é antológica. Outro tributo ao diretor (e aos
atores envolvidos) vai pela cena em que Garak contata Mila.
Normalmente tais cenas são muito frias, uma vez que os atores
normalmente filmam separados e muitas vezes nem se encontram
durante as filmagens. A aura, traduzida em tal seqüência, de
ternura e mágoa que circunda os dois Cardassianos é tão espessa
que dá para enfiar uma colher. Brilhante!
É claro que nenhum ator regular fez nada de errado aqui, mas o
destaque vai obviamente para o magistral René Auberjonois. Falar
da sua incrível técnica com máscaras é essencialmente lugar
comum. Mas quem consegue fazer tanto emoção atravessar uma máscara
tão rígida e disforme com a de Odo merece todo o elogio. A forma
como ele alterna caracterizações, quando Odo interroga Retaya,
é mágica. Ele tem total controle dos diálogos, da voz e da
sensibilidade do comissário.
O arsenal de inflexões e entonações de Robinson parece
ilimitado. Basta contrastar as cenas em que Garak mente
descaradamente com um semblante completamente opaco e as cenas do
personagem com Mila e finalmente no final com Tain. O domínio de
Robinson sobre o personagem é incrível e os olhos do ator têm
uma vida própria. Sua face quando Odo o encurrala é digna de uma
placa na Paramount. Dooley projeta uma incrível aura de poder
apesar do seu físico não ajudar em nada. LaCamara foi genial, só
faltava escrever culpado na sua testa, mas ainda assim ele não
perdeu a pose em momento algum. O vozeirão de Ruskin foi de
arrepiar e McCarthy foi absolutamente brilhante. Carson foi talvez
o único elo fraco entre os atores convidados, mas ainda assim ela
não comprometeu.
Garak havia entrado em território Cardassiano anteriormente em "Second
Skin", porque foi chantageado por Sisko. Não por
vontade própria.
Infelizmente o informante de Odo não seria sequer mencionado no
curso da série. Ainda que gul Russol (referido no início de "Treachery,
Faith and the Great River", da sétima temporada) possa
ou não ser o mesmo Cardassiano.
A informação dos sensores da Defiant não chegou, com certeza,
nas mãos do Comando Central, após "Defiant".
E se chegou, chegou adulterada. Sem problemas quanto a isso.
"Improbable Cause" é um clássico de DS9
e o melhor episódio desta terceira temporada. Como os dois
"cabeças de temporada" antes dele ("Duet"
e "Necessary
Evil"), ele traduz perfeitamente a quinta-essência
de DS9 enquanto série: complexas caracterizações de
personagens, que são arrastados por uma torrente de eventos sobre
a qual eles não possuem controle algum. A sofisticação, o
escopo e mesmo a coragem do segmento são dignas de nota e a execução
de tais idéias é simplesmente de cair o queixo. Todos os
envolvidos merecem os maiores elogios, mas o trabalho de quatro
nomes ganha uma menção especial: as inesquecíveis atuações do
trio Auberjonois, Robinson e Dooley (todos os três indicados ao
prêmio Emmy em suas vidas de ator) e a antológica direção de
Brooks. O episódio é verdadeiramente "à prova de
balas", uma obra-prima!
Citações
Garak - "I'm afraid
your pants won't be ready tomorrow after all."
("Temo que suas calças não estarão prontas amanhã
afinal.")
Garak - "The truth is usually just an excuse for lack of
imagination."
("A verdade é normalmente apenas uma desculpa por falta de
imaginação.")
Odo - "Considering those uniforms of theirs [Romulans],
you'd think they'd appreciate a decent tailor."
("Considerando os uniformes deles [Romulanos], você poderia
pensar que eles gostariam de um alfaiate decente.")
Tain - "Always burn your bridges behind you; you never
know who might be trying to follow."
("Sempre destrua as pontes atrás de você; você nunca sabe
quem pode estar tentando te seguir.")
Tain - "I can't forgive what you did, but I can try to
forget -- put it aside as if it never happened. So, do you want to
go back to your shop and hem pants, or shall we pick up where we
left off?"
("Não posso perdoá-lo pelo que fez, mas posso tentar
esquecer -- colocar de lado como se nunca tivesse acontecido. Então,
você quer voltar à sua loja e ajustar calças, ou devemos
continuar de onde paramos?")
Odo - "Garak, this is the man who sent you into exile.
This is the man who two days ago tried to have you killed."
("Garak, esse é o homem que o mandou para o exílio. Esse é
o homem que há dois dias tentou matá-lo.")
Garak - "Yes, he is. But it doesn't matter. I'm
back."
("Sim, ele é. Mas não importa. Eu estou de volta.")
Trivia:
A história inicial do episódio brotou da mente do editor de episódios
Robert Lederman. Enquanto montava "Second
Skin", ele observou Garak matando Entek e imaginou
que a Ordem não poderia deixar barato tal ato. Não poderia
simplesmente deixá-lo no exílio em paz. Ele (e o seu parceiro de
escrita David R. Long) bolaram uma história em que, sentindo que
sofreria um atentado, Garak explode a sua própria loja. A idéia
da dupla não envolvia o personagem de Enabran Tain. René
Echevarria, que escreveu o roteiro, logo perguntou a toda a equipe
da série: "Por que Garak faria uma coisa assim?"
Durante tal discussão, a construção de naves da Ordem Obsidiana
no sistema Orias (de "Defiant")
foi também trazida à mesa.
Uma nova história foi concebida e Echevarria escreveu uma versão
do roteiro em que no começo do "Ato 4", Garak entregava
a Bashir uma barra isolinear, dizendo: "valiosas informações
- para se o pior vier a acontecer comigo". Ao final do
"Ato 5", Garak então fazia que Tain deixasse que Odo e
ele partissem graças a este ardil e o velho Cardassiano assim o
fazia. Ninguém da equipe ficou satisfeito com a história.
Aí que Michael Piller, em um dos seus últimos atos oficiais como
manda-chuva da série, disse para manter Odo na Ave de Guerra
Romulana e partir para combater o Dominion no quadrante Gama.
"Façam uma segunda parte", disse o produtor. Além dos
problemas em modificar a história para ir para uma segunda parte,
"Through
The Looking Glass" estava para entrar em produção,
logo após "Improbable Cause" e não havia como
mudar. Daí "The Die is Cast" teve de ser
produzido depois. Felizmente a agenda de Paul Dooley permitiu que
ele voltasse quase três semanas depois para fechar o episódio
agora duplo.
Daí Echevarria e Moore rescreveram a primeira parte e Moore
partiu para escrever a segunda. Agora a história da tal
"barra isolinear" virou uma brincadeira que Garak prega
em Bashir. Eles também tornaram implícito o motivo para Garak
explodir a própria alfaiataria quando Bashir conta a fábula
sobre o menino pastor de ovelhas. Os novos uniformes da Tal Shiar
foram fruto de um esforço de Moore, que simplesmente odiava os
uniformes Romulanos originais feitos para a primeira temporada de A
Nova Geração.
Gary Monak usou a experiência adquirida para explodir a escola de
Keiko em "In
the Hands of the Prophets" para explodir a alfataria
de Garak esta semana. Jonathan West não pôde usar chamas reais
para iluminar as cenas de Garak em meio aos escombros da sua loja,
mas utilizou uma iluminação especial para simular tal efeito.
Mila (Julianna McCarthy) voltaria a aparecer nos episódios finais
da série: "The Dogs of War" e "What You
Leave Behind". Apesar de nunca ter sido confirmado em
tela, tudo indica que Mila é de fato a mãe de Garak.
Este episódio duplo é tão importante para a saga de DS9
quanto o episódio "The Coming Of Shadows" o é para a
saga de "Babylon 5".
Episódio indicado ao Prêmio Emmy de melhor penteado.
Ficha
técnica:
História de Robert
Lederman & David R. Long
Roteiro de René Echevarria
Direção de Avery Brooks
Exibido em 24/04/1995
Produção: 065
Elenco:
Avery Brooks como
Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko
Elenco convidado:
Andrew Robinson
como Elim Garak
Carlos LaCamara como Retaya
Joseph Ruskin como o Informante Cardassiano
Darwyn Carson uma Romulana
Julianna McCarthy como Mila
Paul Dooley como Enabran Tain