MANCHETE
DO EPISÓDIO
Mistério
chama atenção do espectador
e mantém integridade dos personagens
Episódio
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episódio
Sinopse:
Data Estelar: 47581.2.
O'Brien a bordo do Explorador Rio
Grande dita um diário pessoal sobre os estranhos acontecimentos
que ele viveu nas últimas 52 horas. Ele não consegue pensar em
outra coisa, senão voltar para o sistema Parada e avisar os seus
habitantes de que algo esta muito errado com a Federação --o
que, exatamente, ele não tem certeza.
Ele começa a se lembrar que tudo começou dois dias atrás,
quando ele acabara de voltar de um encontro sobre segurança no
sistema Parada (no quadrante Gama). As duas facções governantes
daquele mundo, o "governo de direito" e "os
rebeldes", após 12 anos de guerra civil, decidiram realizar
uma conferência de paz e o local escolhido foi Deep Space Nine.
A
partir daí estranhos acontecimentos se iniciam: Molly e Keiko o
tratam de forma distante; Sisko manda o alferes DeCurtis preparar
o sistema de segurança para a conferência sem consultar O'Brien;
Bashir lhe aplica um minucioso exame físico; Sisko o manda
consertar as torres de atracação superiores em vez de se
envolver com a segurança da conferência; DeCurtis não deixa
O'Brien entrar em um dos aposentos destinados às delegações,
alegando que somente Kira tinha a senha de acesso. Porém, quando
O'Brien finge partir e se esconde, ele vê DeCurtis abrir a porta
sem precisar de senha alguma.
De volta a seus aposentos, ele vai jantar com Keiko,
e termina de comer (antes mesmo de começar) com a nítida impressão
de que o cozido feito por Keiko estava envenenado. Após Keiko ir
dormir, O'Brien começa a pesquisar e descobre que todos os diários
após o seu retorno foram protegidos com senha. Ele consegue
burlar o sistema, mas não descobre muito, além do fato de que o
resto da tripulação analisou repetidamente os próprios diários
do chefe.
O'Brien recorre a Odo, que acaba de chegar de Bajor. O Comissário,
apesar de a princípio simpático para com O'Brien, acaba por se
mostrar parte da mesma "conspiração" que envolvia o
resto da tripulação.
O'Brien
consegue fugir da estação no Explorador Rio Grande, logo após
Sisko, Kira e Bashir tentarem dominá-lo e sedá-lo. Como um
contato subespacial com a almirante Rollman torna-se perda de
tempo, O'Brien decide ir para o sistema Parada, onde ele acredita
poder encontrar as respostas para tudo isto.
A narrativa volta ao presente, com O'Brien sendo perseguido pelo
Explorador Mekong. O chefe consegue iludir seus perseguidores, e
quando os ocupantes do outro explorador de transportam para o
planeta Parada II, ele vai atrás.
Chegando em um complexo de cavernas, ele encontra Sisko e Kira
conversando com o líder dos "rebeldes", de nome Coutu.
Coutu diz que todas as explicações para O'Brien estão atrás de
uma porta. Porém, quando Coutu vai abri-la, O'Brien levanta a sua
arma e é mortalmente ferido pelo guarda-costas do líder alienígena.
A porta se abre e passam por ela Bashir, que vai socorrer O'Brien,
mortalmente ferido, e um outro idêntico chefe O'Brien. Coutu
explica que o verdadeiro O'Brien foi raptado pelo "governo de
direito" e um replicante foi enviado para DS9, um replicante
idêntico ao chefe e que acreditava plenamente que era o
verdadeiro Miles Edward O'Brien.
O propósito do replicante era assassinar alguém durante a conferência
de paz. Ele tinha uma personalidade submersa que se revelaria
quando fosse a hora apropriada. Sisko e o resto da tripulação
fizeram o melhor que puderam para isolá-lo de todas as áreas
essenciais e tentar aprender o máximo sobre o replicante enquanto
os "rebeldes" tentavam encontrar o verdadeiro, o que
finalmente aconteceu, quando tal replicante já estava rumando
para Parada. Apesar de ouvir tudo isto, o replicante morre ainda
pensando ser o verdadeiro O'Brien e suas últimas palavras são de
amor a Keiko.
Comentários:
"Whispers" é um dos melhores episódios da série
e é também o melhor esforço de DS9 (e provavelmente de
toda a história de Jornada) para oferecer um "mistério
trekker". Fiquem atentos, pois prometo sussurrar bem baixinho
o porquê.
Normalmente os fãs não sentam para assistir a um episódio de Jornada
(ou de drama televisivo em geral) ansiando por um "mistério
da semana". Digo isto por que normalmente em tais "mistérios
da semana", o episódio perde um bocado de tempo,
estabelecendo o mistério, soltando pistas e reviravoltas e
revelando a charada ao seu final, e na maioria das vezes isto é
feito às custas do desenvolvimento dos personagens --JUSTAMENTE a
principal razão para assistir a Jornada.
Outro
problema é que tais episódios normalmente envolvem um alto grau
de paranóia, algo que eu tendo a achar mais engraçado do que
interessante. O episódio em questão é um mistério e um
festival de paranóia, mas transcende os estereótipos e as limitações
do formato com uma extrema simplicidade e sinceridade, aliada a
uma infinitamente perfeita execução.
(Apesar dos elogios eu não gostaria de ver similares a este episódio
uma vez por semana. Uma vez por temporada está bom pra mim, mas
com qualidade.)
O ponto de partida para a qualidade do episódio é que sua
premissa, "O O'Brien replicante", é bastante simples e
enxuta, com regras bem definidas, que não vão "sofrendo uma
metamorfose" ao longo do episódio. Isso garante a
credibilidade do roteiro. Outro grande acerto do episódio foi
fazer o O'Brien (replicante) exatamente igual ao O'Brien real, física
e mentalmente, com exatamente a mesma caracterização, o que o
faz DE FATO O'Brien no curso do episódio.
O episódio tem sucesso porque a partir da sua premissa, os
personagens respondem estritamente (sem exageros ou manipulações)
dentro de suas caracterizações: O'Brien tentando descobrir o que
ou quem são "eles" e o que "eles" querem e o
restante do pessoal da estação tentando ganhar tempo e impedir
que o replicante fizesse qualquer coisa de errado. Ao final, o
episódio é extremamente tocante porque, em um certo sentido,
Miles Edward O'Brien morreu naquelas cavernas de Parada II.
(A posição mais difícil foi a de Keiko, interagir com uma réplica
exata do seu marido --que ela não tinha certeza se iria voltar a
ver--, que a qualquer momento poderia "despertar" e
quebrar o seu pescoço. Deve ter sido uma experiência terrível.
Levando em conta os acontecimentos de "Armageddon
Game" então, absolutamente insuportável. Eu gostaria de
saber que explicação que ela deu para a Molly sobre o
replicante?)
A
narrativa (com "voiceover") de O'Brien (o replicante)
serviu maravilhosamente ao episódio, não somente para manter a
atenção do espectador, mas também para tornar virtualmente
impossível à audiência descobrir realmente o que estava
acontecendo.
É claro que pistas foram deixadas no sentido de que havia
"alguma coisa errada" com O'Brien e não com os outros
(como, quando durante o seu exame médico, O'Brien perguntar a
Bashir se ele não está doente, justificando com isso as reações
estranhas dos outros), mas entrar de fato nos detalhes desta
"alguma coisa errada" foi deixado como um trabalho difícil
para os espectadores.
Vendo o episódio uma segunda vez (entre outros pontos), a
"conversão" de Jake fica entendida como simplesmente
Ben explicando o que estava acontecendo a ele, assim como o
aparente lapso de memória de Bashir, que serviu para testar (de
modo informal) a memória do replicante.
Acho que a cena do "cozido envenenado" é até bastante
inocente. Ela fez a comida preferida do "marido" para
agradá-lo (e testar novamente a memória do replicante) e não
comeu algo de que não gostava. A agonia de Keiko com a situação
e a crescente paranóia do replicante é que deram ares sinistros
ao coitado do cozido.
A
fuga de O'Brien (digo, do replicante) foi fantástica. De fato,
ninguém conhece o funcionamento da estação como ele. Quando ele
levantou os campos de força, ele impediu que ele fosse
transportado ou posto pra dormir com gás (os campos de força
isolam as seções incluindo as paredes o teto e o chão), os
campos de força em toda parte impediram o funcionamento normal da
estação e Sisko teve que baixá-los todos. A fuga do replicante
(a se julgar pela fala da almirante Rollman) já era uma contingência
considerada e Sisko já estava esperando o aviso do resgate do
real O'Brien.
(Tão conveniente termos quase ao mesmo tempo a fuga do replicante
e a liberação do verdadeiro O'Brien, não é mesmo? Aí me
dizem: "Pô, eles tinham que acabar o episódio, né?",
ao que respondo: "Eu sei, eu sei".)
A direção de Les Landau é primorosa, apostando nos pequenos
detalhes e nas pequenas diferenças para causar apreensão em
O'Brien (replicante) e na audiência no processo. A cena em que
O'Brien chega à conclusão de que Keiko está tentando envenená-lo
é incrivelmente bem dirigida (e atuada), uma das mais incríveis
cenas de toda a série. A música de Dennis McCarthy também foi
bem boa, especialmente na fuga do replicante.
Colm Meaney, que tem que LITERALMENTE carregar o episódio nas
costas e aparecer em todas as cenas (para manter o mistério do
episódio), foi fenomenal, emprestando ao O'Brien replicante
características de antecipação, improvisação e finalmente de
heroísmo. É por isto que ele é um dos melhores atores da história
de Jornada. O resto do elenco regular ofereceu a excelente
performance que podemos esperar dele.
Chao esteve ótima, bastante realista frente à situação. Os
demais convidados fizeram o pedido e nada mais.
Em sua busca pela verdade, o replicante varreu virtualmente todos
os clichês Sci-Fi da história para explicar: "O que diabos
está errado com eles?" Ele fez tudo que deveria fazer e mais
um pouco, mas foi meio engraçado.
Um toque de nostalgia: mais alguém se lembrou do episódio "Conspiracy",
da primeira temporada da Nova Geração, após O'Brien
falar com a almirante Rollman pelo subespaço?
Bons toques de continuidade com relação ao episódio "Rivals",
no diálogo entre Quark e o replicante O'Brien e também entre
Bashir e o chefe, dando a entender que os acontecimentos de "Armageddon
Game" levaram a relação dos dois a outro nível (era o
replicante, não o real, mas vocês entenderam, não é?).
Em um dos diários que O'Brien ouviu é falado, de passagem, algo
sobre um certo tratado entre a Federação e Cardássia. Tal
tratado será explorado no episódio duplo "The
Maquis", mais tarde nesta temporada.
A "cena da tosse do replicante O'Brien" foi antológica!
O excesso de falas na cena final (escritas obviamente para
explicar o acontecido para a audiência) pegou um pouco mal, eu
preferiria algo com mais imagens, símbolos e pausas.
"Whispers" é um maravilhoso episódio, que deixa
uma sensação parecida com a de muitos episódios de "The
Twilight Zone" ao seu final. Não exatamente má companhia.
Citações
O'Brien - "No, they
did, they GOT to you..."
("Não, eles fizeram, eles te ALCANÇARAM..."
Bashir - "How's the sex life?"
("Como vai a vida sexual.")
O'Brien - "I don't HAVE a sense of humor."
("Eu não tenho senso de humor.")
O'Brien - "I believe you've poked into every orifice in my
body --and created a few new ones."
("Acho que você já fuçou em cada orifício do meu corpo
--e até criou uns novos.")
Trivia:
Presença de Keiko e Molly
O'Brien.
Este episódio
exemplifica uma (quase que) tradição anual de Deep Space Nine:
episódios em que o chefe O'Brien come o pão que o diabo amassou.
Estes episódios são usualmente chamados de "Let's Torture
O'Brien" ("Vamos torturar o O'Brien") ou
"O'Brien Must Suffer" ("O'Brien tem que
sofrer"). A tradição realmente se iniciou no episódio
passado, "Armageddon Game", e começa a se tornar
particular à série aqui, em "Whispers". Um
outro exemplo, nesta mesma segunda temporada, é o episódio "Tribunal",
em que O'Brien é preso e torturado pelos Cardassianos. Outros
exemplos ao longo da série: "Visionary", da
terceira temporada, em que O'Brien morre e é substituído por uma
versão alternativa sua de um futuro quase que imediato; "Hard
Time", da quarta temporada, em que O'Brien é condenado a
vivenciar (em sua mente) décadas de encarceramento em uma prisão
alienígena; "The Assignment", da quinta
temporada, em que um Pagh-Wraith possui o corpo de Keiko; "Empok
Nor", da quinta temporada, em que O'Brien (preso na
abandonada estação Empok Nor, gêmea de Terok Nor, a nossa DS9)
tem que parar um enlouquecido e assassino Garak; "Honor
Among Thieves", da sexta temporada, em que O'Brien se
infiltra no sindicato Orion; e "Time's Orphan",
da sexta temporada, em que sua filha Molly sofre um acidente
temporal e se torna uma jovem adulta.
Participação de Susan
Bay (esposa de Leonard Nimoy) como a almirante Rollman, o seu
mesmo papel de "Past
Prologue", da primeira temporada.
O produtor-executivo Ira
Steven Behr ficou muito satisfeito com o resultado final do episódio:
"Existe algo sobre o modo como foi filmado e sobre o ponto de
vista que torna este um episódio realmente especial, e obviamente
Colm Meaney é um dos nossos melhores atores."
Devido à necessidade de
se manter o mistério, O'Brien teria que estar em cada cena. Isto
acabou levando o roteiro original de Coyle a ficar meio curto (49
páginas, quando o tamanho normal é de 60 páginas). Por isso foi
introduzida a narrativa em "flashback", com o episódio
já se iniciando com O'Brien fugindo no Explorador.
Foi introduzido o
Explorador Mekong, o substituto do Explorador Ganges, destruído
no episódio anterior, "Armageddon Game".
Em uma cena cortada do
roteiro, O'Brien cantava "The Minstrel Boy", aquela
mesma que ele cantou em dueto com o capitão Maxwell em "The
Wounded", episódio clássico da quarta temporada da Nova
Geração.
Foi utilizado pela
primeira vez em Jornada o termo "replicante", bem
conhecido do filme "Blade Runner".
Embora a história e o
roteiro deste episódio sejam creditados a Paul Robert Coyle, uma
antiga nota de imprensa da Paramount apontava o roteiro como um
trabalho conjunto de Coyle e Michael Piller.
A idéia original de
Coyle para o episódio, como foi esboçada aos produtores, era ter
O'Brien acordando em uma realidade alternativa, onde ele nunca
teria voltado à Deep Space Nine de seu encontro com os alienígenas.
Robert Hewitt Wolfe, um
dos principais roteiristas da série, acredita que não haja nada
de errado em criar interessantes raças alienígenas. Entretanto,
o primordial para ele é manter o foco nos personagens. Ele diz:
"Um bom exemplo do que quero dizer são os Paradans, em 'Whispers'.
Sabemos muito pouco sobre eles. Mas não precisamos. Sabemos tudo
o que precisamos para assistir a uma história fascinante sobre
O'Brien. Estou certo de que poderia escrever uma redação sobre a
cultura deles, o comportamento, os hábitos reprodutivos etc. Mas
o ponto é que, até onde diz respeito à história, isso tudo não
importa".
Ficha
técnica:
Escrito por
Paul Robert Coyle
Direção de Les Landau
Exibido em 07/02/1994
Produção: 034
Elenco:
Avery Brooks como
Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko
Elenco convidado:
Rosalind Chao
como Keiko O'Brien
Todd Waring como DeCurtis
Susan Bay como almirante Rollman
Philip LeStrange como Coutu
Hana Hatae como Molly O'Brien
Majel Barrett como a voz do computador