MANCHETE
DO EPISÓDIO
Roteiro
propõe discussão indecisa sobre
o conflito "tecnologia versus natureza"
Episódio
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episódio
Sinopse:
Data Estelar: 47573.1.
Sisko e O'Brien estão em uma missão
de reconhecimento em um Explorador quando detectam sinais de vida
humana em um planeta supostamente desabitado. Os dois
transportam-se para a superfície do planeta, onde encontram uma
colônia humana (fruto de uma nave acidentada) mantida no local
por mais de 10 anos sem benefício algum da tecnologia.
Existe
um misterioso campo de força no planeta que torna inútil
qualquer dispositivo tecnológico, inclusive os de Sisko e
O'Brien. Assim eles também ficam presos, sem chance de voltarem
à nave em órbita.
Eles são encontrados por dois homens, Joseph (originalmente o
engenheiro da missão) e Vinod (filho da líder da comunidade, uma
naturalista radical, de nome Alixus).
Sisko e O'Brien chegam a um vilarejo construído em torno do casco
da nave acidentada dos colonos. Ainda com o interesse dos colonos
pelo que aconteceu "no resto da galáxia" nos últimos
dez anos e mesmo alguns mencionando uma certa antecipação quanto
a um possível resgate, Alixus diz que nunca irá deixar o
planeta, mesmo que a oportunidade apareça. Os dois oficiais são
convidados a ficar, desde que ajudem nas plantações.
Uma garota de nome Meg está muito doente, à beira da morte. Por
isso, Sisko e O'Brien lamentam a falta do kit médico do
explorador e O'Brien tem uma idéia de como "driblar" o
campo de interferência. Alixus chama Sisko e diz que qualquer
conversa sobre tecnologia é nociva à moral da comunidade e pede
que ele mande O'Brien parar imediatamente com os seus esforços.
Kira e Dax se entregam a uma missão de procura do
"casal" desaparecido e encontram o Rio Grande, em
velocidade de dobra, sem ninguém dentro, em um curso errante.
Eles rastreiam o curso do Rio Grande e rumam para o
"planeta-paraíso". Sisko e O'Brien voltam do plantio e
presenciam a principal forma de punição da comunidade:
confinamento solitário no interior de uma pequena e escura caixa
de metal (a "hot box"). Stephen (um colono) é visto
saindo da caixa em estado deplorável. Seu crime: roubou uma vela.
Naquela noite uma colona de nome Cassandra, vai ao quarto de Sisko
com a clara intenção de seduzi-lo. O comandante fica furioso.
Ele confronta Alixus com a fato de que foi ela que mandou
Cassandra e ela admite que sim. Sisko acha uma enorme
"coincidência" o fato de uma pessoa totalmente contrária
a tecnologia vir parar em um planeta em que nenhuma tecnologia
funciona, com um bando de colonos, e se tornar a líder deles.
Alixus se irrita e manda Sisko montar guarda a noite toda.
No
dia seguinte Alixus anuncia a morte de Meg e diz ter flagrado
O'Brien tentando resolver o problema do campo de interferência, o
que é nocivo à comunidade, segundo ela. Ela considera Sisko
responsável e o manda pra dentro da caixa. Após um longo período
ela o libera e diz que ele poderá beber água se começar a abraçar
os valores dela. Apesar de uma sede excruciante Sisko não se
curva e volta pra dentro da caixa.
Decidido, O'Brien constrói uma bússola rudimentar e encontra o
gerador do campo de interferência enterrado na floresta. Ele o
desativa e volta para comunidade com seu feiser funcionado e
liberta Sisko. Denunciando
a surpresa de Alixus --ela confessa e diz que tudo, desde o
acidente original de dez anos atrás, foi um plano cuidadosamente
preparado, concebido por ela para chegarem na situação que a
comunidade chegou. Em sua defesa ela diz que tal experiência
conseguiu extrair o máximo potencial de cada indivíduo
envolvido. Sisko lembra que muitas vidas forma perdidas, e ela
deve pagar por tais mortes.
Kira e Dax entram em órbita, Sisko oferece relocação para os
colonos, mas eles não estão preparados para deixar seu lar de
uma década. Apenas Alixus e seu filho deixam o "planeta-paraíso"
junto com Sisko e O'Brien.
Comentários:
Esta tentativa de Deep Space Nine de entrar no tema de
"cultos, seus seguidores e seus líderes" não foi muito
bem-sucedida. Saiba por que, nos não muito paradisíacos comentários
a respeito do episódio, a seguir.
A
aparente idéia original de discutir (via uma alegoria) os
"prós e contras da tecnologia na vida moderna" acaba se
tornando, durante o curso do episódio, basicamente um estudo
sobre "cultos, em especial sobre o seus líderes". Não
sei ao certo se esta mudança de foco está relacionada ao fato de
o episódio ter sofrido um número enorme de revisões (basta
conferir os seus créditos, que, ainda assim, não incluem o fato
de que a história original foi de Peter Allan Fields) ou da intenção
consciente de colocar Sisko em uma posição adversária frente a
uma (como caracterizada no curso do episódio) "formidável
vilã". Apesar de considerar ambos os temas relevantes
(especialmente o segundo), a falta de coesão do roteiro fere um
bocado o sentido geral do episódio.
Considerem por exemplo a cena final, em que, apesar da revelação
do plano de Alixus (e da total fraude envolvida na criação da
colônia), não existe nenhuma reação de revolta por parte da
comunidade, o que pode ser entendido como um alerta (construído
de forma discreta, como sempre deve ser) sobre o poder que tais líderes
podem exercer sobre as pessoas em circunstâncias adequadas.
A tomada final, em que as duas crianças ficam olhando a "hot
box" reforça tal percepção. Porém isso, quando
contrastado com a cena da chegada de Sisko e O'Brien na
comunidade, não faz sentido algum. Ali vimos pessoas interessadas
pelo mundo exterior e Cassandra só faltando pedir para reservarem
um assento pra ela no Explorador. Este é o exemplo mais claro
(mas não único) da falta de direcionamento do episódio.
(Em um universo como o de Jornada, onde a tecnologia está
tão intrinsecamente associada à melhoria da qualidade de vida do
homem, temas como o deste episódio costumam ser recebidos com
indiferença. O episódio tem o mérito de ter ao menos tentado
trilhar tal caminho espinhoso.)
Abundam
problemas de trama: não é apresentado um bom motivo para Sisko
(comandante da estação) sair com O'Brien em um Explorador para
uma rotineira missão de reconhecimento (a ida de Dax e Kira em
seu resgate no final também deixa dúvidas a respeito de quem
ficou no comando da estação. Morn talvez?).
Foi uma tremenda burrice de Sisko e O'Brien se meterem na situação
em primeiro lugar --como eles vão se transportar para a superfície
de um planeta com um "estranho campo de força" sem
descobrir exatamente que efeito este "campo" terá no
seu transporte de retorno?
Eu fiquei impressionado com a capacidade tecnológica e a
inventividade de Alixus, não tanto pelo gerador de campo que
poderia ter sido uma oferta como "caixa preta" de algum
cientista simpatizante, mas o fato de ela conseguir
"furar" a segurança do Explorador (uma classe de nave
que foi comissionada oito anos APÓS a queda do grupo de Alixus no
planeta), se transportar a bordo e programar o piloto automático
para uma rota rumo à destruição da nave --tudo foi
"meio" exagerado. (OK, ela errou a estrela, mas continuo
achando absurdo como ela conseguiu fazer tudo isso.)
As cenas iniciais entre Kira e Dax na estação funcionaram bem,
mas as cenas a bordo do Explorador foram bastante mecânicas, só
para levar uma parte da trama à frente.
(Talvez tivesse sido benéfico ao episódio deixar o Explorador de
Sisko e O'Brien em órbita, eliminar as cenas de Kira com Dax e
realizar alguma espécie de "fechamento" quando do
retorno de Sisko e de O'Brien à estação.)
As cenas entre O'Brien e Joseph funcionaram muito bem, incluindo
especialmente a cena da fuga de O'Brien ("Eu posso fazer de
forma que não doa nem um pouco").
(A forma como Alixus vira a defesa de O'Brien por parte de Joseph
contra o próprio Joseph exemplifica claramente o que ela deve ter
feito freqüentemente nestes dez últimos anos de existência da
colônia.)
As cenas envolvendo a "hot box" foram as melhores do
episódio. A melhor em particular foi a de Sisko retornando a
caixa logo após ter saído dela. Tudo foi perfeito (do mais puro
e efetivo teatro), desde Sisko saindo da "cabana" até a
"hot box" se fechando com ele dentro e o ato chegando ao
seu final. Bravo!
Alixus
foi da primeira a última cena uma vilã tradicional, com o benefício
de acreditar plenamente em sua causa e estar disposta a fazer tudo
para defendê-la (manteve a sua posição até o fim). Este tipo
de caracterização tornou impossível uma discussão equilibrada
sobre a dualidade "tecnologia X valor natural do homem".
(Ainda que insatisfatório, Joseph serviu muito melhor para, ao
menos apresentar, alguns pontos da questão.)
Inúmeros pontos razoavelmente conhecidos sobre líderes de cultos
foram apresentados via a personagem de Alixus. Infelizmente foram
apresentados, assim como todo o material entre ela e Sisko, de uma
forma forçada (de forma a não deixar dúvidas na audiência
sobre o que está acontecendo) e pouco sutil (por vezes até
grosseira).
Apesar dessas falhas na caracterização de Alixus, ela, apesar de
acreditar plenamente no que fez, ao menos teve suficiente senso de
realidade para aceitar a sua derrota ao final e não terminar
morta, assim como o proverbial "megalomaníaco da
semana".
A direção de Corey Allen teve altos e baixos, acompanhando os
altos e baixos do próprio episódio. Mas o grande problema do seu
trabalho (e o de Gail Strickland também) foi de não conseguir
transformar nem de longe Alixus em uma figura simpática para a
audiência.
Brooks foi excepcional (protagonizando a --de longe-- melhor cena
do episódio). Em situações difíceis e de grande pressão ele
funciona perfeitamente. Meaney foi excelente como sempre e o resto
dos regulares honrou o pagamento.
Strickland decepcionou como Alixus, com uma leitura muito rígida
(dando a clara impressão de estar seguindo estritamente as linhas
de um roteiro) e pouco natural. Strickland também dava a impressão
de estar sempre no seu limite emocional (digamos, pronta para
desabar em lágrimas a qualquer momento), tornando difícil de
acreditar que ela de fato tenha tido carisma suficiente para ter
se tornado líder daquela comunidade. Vinovich foi o melhor ator
convidado, com uma atitude e uma leitura bem mais relaxadas e
realistas. Silver e Weis fizeram o que foi pedido deles. Nickson
se saiu muito mal MESMO.
O diálogo inicial entre Sisko e O'Brien no Explorador foi
excelente, preparando acontecimentos relacionados a Jake (de sua
ida ou não à Academia da Frota Estelar) que serão tratados nos
episódios seguintes. A história de como O'Brien fez o seu
primeiro "milagre" nos transportes e como ele ganhou o
posto de oficial tático da Rutledge foi muito legal (ainda que a
história passada de O'Brien seja uma das mais complicadas de se
entender dentre os personagens de Jornada --é uma LONGA história,
para outro tipo de artigo--, eu prefiro a que é consistente com
este episódio).
(Novamente Sisko fala de seu pai no passado, dando a entender que
ele ou está morto ou não é mais um "chef", ambas idéias
em desacordo com o que vai ser visto em "Homefront",
da quarta temporada, em que Joseph Sisko está vivo e ainda tem um
restaurante em Nova Orleans.)
A caçada de Vinod a O'Brien foi muito bem realizada, incluindo o
clássico (e infame) truque do uniforme na árvore. Interessante
também por que descobrimos como são as roupas de baixo do
pessoal da Frota no processo.
A seqüência do "enlaçamento do Explorador" deixou um
bocado a desejar e a parte em que os dois exploradores desaceleram
para impulso contém os piores efeitos visuais de toda a série.
A cena da "tentativa de seduzir Sisko" por parte de
Cassandra foi extremamente ruim, em parte pela obviedade do
material e em grande parte pela péssima atuação de Nickson.
"Paradise" acaba ficando na categoria do
"neutro" (até abaixo disso). Embora o tema "será
que a tecnologia de fato nos afasta de nossa natureza
fundamental?" (que acaba sendo apenas uma espécie de ponto
de partida para a discussão de líderes de cultos e similares) e
a forte presença de Sisko sejam claros pontos positivos, existem
tantas problemas de execução e de trama no episódio, que estes
acabam por mais do que "cancelar" aqueles bons pontos.
Citações
Joseph - "My name is
Joseph; Vinod's the one playing with the sharp object."
("Meu nome é Joseph; Vinod é o que está brincando com o
objeto afiado.")
Sisko - "Interesting philosophy --and while we're
discussing it, a woman is dying."
("Filosofia interessante --e enquanto a estamos discutindo,
uma mulher está morrendo.")
Alixus - "We're doing everything we can for her."
("Estamos fazendo tudo o que podemos por ela.")
Sisko - "No, we're not!"
("Não, não estamos!")
Trivia:
A dupla Hans Beimler &
Richard Manning já havia trabalhado nas três primeiras
temporadas da Nova Geração e depois se envolveram (entre
outras) nas séries "TekWar" (de William Shatner) e
"Beyond Reality" (onde Beimler conheceu Nicole de Boer,
que acabaria se juntando ao elenco de DS9 na sétima
temporada, como Ezri Dax). Beimler, que já havia trabalhado antes
com Ira Behr na série "Fame", se juntou em definitivo
à equipe de roteiristas de DS9 a partir da quarta
temporada da série. Manning hoje em dia trabalha na série
"Farscape".
Presença de Julia Nickson como
Cassandra, que também interpretou Catherine Sakai, um interesse
amoroso do comandante Sinclair, em diversos episódios de
"Babylon 5".
O produtor-executivo Ira Steven Behr
tem o seguinte a dizer sobre o episódio: "Foi um episódio
forte para Sisko. Foi o nosso "Great Escape", com Sisko
no lugar do personagem de Steve McQueen, o firme rei, que nunca
recua um centímetro. Mas em termos da comunidade de colonos em
si, a mensagem do episódio sempre pareceu muito pouco
clara."
Ficha
técnica:
História de Jim Trombetta
e James Crocker
Roteiro de Jeff King e Richard Manning & Hans
Beimler
Direção de Corey Allen
Exibido em 14/02/1994
Produção: 035
Elenco:
Avery Brooks como
Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko
Elenco convidado:
Julia Nickson como Cassandra
Steve Vinovich como Joseph
Michael Buchman Silver como Vinod
Erick Weiss como Stephan
Gail Strickland como Alixus
Majel Barrett como a voz do computador