MANCHETE
DO EPISÓDIO
Doutor descobre as dores de ter uma família
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Sinopse:
Data Estelar: 50863.2.
Quando a Voyager se depara com um vasto campo de destroços, a
tripulação conclui que isso é tudo o que resta de uma estação
espacial alienígena para a qual estavam indo. Ao encontrar uma
estranha trilha de partículas de plasma no local, a nave altera seu
curso para solucionar o mistério acerca do que aconteceu com a estação.
Enquanto isso, em um esforço para expandir os horizontes de
seu programa, o Doutor cria uma família holográfica
"perfeita": uma esposa chamada Charlene, o filho
adolescente Jeffrey, e uma filha de dez anos de idade chamada Belle.
Depois que o médico convida Kes e Torres para jantar com seus
"familiares", a tenente o avisa que aquilo não é uma visão
precisa da vida familiar e oferece ajuda para tornar o cenário mais
realístico.
À medida que a Voyager segue a trilha de partículas, um fenômeno
semelhante a um tornado emerge do subespaço e a atinge. A nave
consegue escapar da anomalia relativamente intacta e Chakotay sugere
que da próxima vez que aquilo acontecer, eles tentem capturar
algumas das partículas altamente carregadas. No holodeck, as alterações
de Torres não agradam o Doutor; sua esposa agora trabalha, sua
filha reclama o tempo todo e o filho se envolve com Klingons
violentos.
Paris sugere que levar uma nave auxiliar até o centro do fenômeno
pode ser a melhor oportunidade de capturar as valiosas partículas
de plasma. Quando a anomalia entra em erupção novamente, ele tenta
a manobra e acaba sendo pego de surpresa por um segundo tornado. A
tripulação assiste assustada Paris desaparecer.
O Doutor tenta resolver a complicada situação com o filho. A
conversa se transforma em uma discussão que acaba interrompida pela
notícia de que Belle foi seriamente ferida em um acidente.
Percebendo que a filha está para morrer, ele abruptamente
interrompe o programa do holodeck.
Paris descobre que está preso entre o espaço e o subespaço,
e conclui que a única forma de sair de lá é a mesma pela qual
entrou: dentro de um tornado. Quando uma enorme tempestade surge no
espaço normal, a Voyager consegue transportá-lo a bordo. Na
Enfermaria, Paris convence o Doutor a retornar ao holodeck e encarar
a dor que a vida inevitavelmente traz. O médico então reativa seu
programa e permite-se experimentar o sofrimento da perda e o consolo
que vem da união que a tragédia trouxe ao resto da família.
Comentários:
Como é de praxe em Voyager, a
história da semana se sustenta em duas tramas paralelas, uma delas
trabalhando o lado psicológico de um personagem, e a outra, o
fenômeno espacial da semana.
Apesar da fórmula batida, "Real Life" é,
sem dúvida nenhuma, um dos pontos altos do terceiro ano, e o
sucesso do roteiro pode ser atribuído à atuação sempre
impecável de Robert Picardo, no papel do complexo médico
holográfico da nave.
É irônico que durante os primeiros
episódios da série o Doutor fosse o personagem menos explorado e
mais subestimado pelos roteiristas, constantemente deixado de lado
sem nada para fazer, e agora passe a ser o centro das
atenções e um dos tripulantes mais amados da nave. Parece
que os produtores resolveram assumir alguns riscos - atitude
surpreendente, diga-se de passagem - e tentaram inserir o
telespectador no universo particular do Doutor. Aqui, o EMH não se
parece em nada com Data, de A Nova Geração, a inteligência
artificial perfeita em suas ações (em quem os criadores de Voyager
se basearam para desenvolvê-lo). Pelo contrário, o personagem
de Picardo é conflitante, irregular, às vezes contraditório; é
humano. Novamente, o fã atento não deixa de perceber a ironia da
situação: o médico-chefe, mero exemplar de tecnologia do século
24, é o personagem mais humano e carismático da série!
A princípio, o que mais chama a
atenção na história é o fato de o Doc ter finalmente adotado um
nome para si. No holodeck, sua família holográfica o trata por
"Kenneth". Mas, "como alegria de pobre dura
pouco", ele volta ao velho "EHM" ao final do
episódio - e pelo mesmo motivo que o fez em "Heroes
and Demons", da primeira temporada. A dor da perda de
alguém com quem se importava o dissuadiu de usar um nome
definitivo.
A família irritantemente funcional
é outro ponto que chama a atenção. Apesar de dramático, o
roteiro abre espaço para o humor, que é a grande característica
de Picardo. Só que a comicidade da situação é às vezes superada
pela abordagem muito ingênua do tema. Sendo uma enciclopédia
ambulante, programada com mais de 5 milhões de referências
médicas (incluindo conteúdo sobre psicologia), e convivendo há 3
anos entre 150 pessoas de raças diferentes, como é que o Doutor
poderia acreditar que a família que ele criou era um retrato fiel
da realidade? Será que era mesmo necessário que a explosiva B'Elanna
Torres lhe desse uma indicação do que é verossimilhança? É em
momentos como esse que o Doc mais se assemelha a uma criança do que
a um médico experiente.
Em todo caso, a participação de
Torres na história foi interessante. Por experiência própria de
vida, a engenheira sente-se quase insultada quando conhece a sra.
Kenneth e cia., após um convite do Doc. E deveria sentir-se mesmo.
Abandonada pelo pai aos 5 anos e com contas a acertar com a mãe,
uma Klingon de temperamento difícil, certamente não era tarefa
fácil engolir o "bando de pirulitos perfeitos". A parte
interessante aparece nas escolhas de Torres na hora de re-programar
a família do Doutor. Ela leva a situação de um extremo ao outro.
A esposa se transforma numa mãe ausente e neurótica, a filha não
passa de uma garotinha mimada e irritante, e o filho, um adolescente
revoltado e cercado por más companhias.
Curioso
também é o modo como o médico tenta resolver as novas crises
domésticas que vieram com a família modificada. Ele é técnico e
teórico até a última gota. Tenta ingenuamente acertar os
problemas estabelecendo regras e rotinas para cada um dos
familiares. Só que ele não antecipa as respostas que decorrem
disso e tem dificuldade em compreender as reações à sua volta. A
esposa o repreende na frente das crianças e o filho o deixa falando
sozinho. A resposta inesperada vem da filha, a garotinha mimada. Ela
é a única que compreende as intenções de Kenneth.
Enquanto o drama familiar se agrava
no holodeck, o resto da tripulação se mantém ocupado com uma
anomalia sem nome ou classificação. A USS Voyager deve ter
quebrado todos os recordes da Frota, no que diz respeito a
fenômenos espaciais. Aparentemente, o quadrante Delta tem mais
atividade cósmica do que qualquer outra região da galáxia.
Tom
Paris se aventura em um tipo de universo paralelo e apresenta ao
telespectador o "melhor" tipo de tecnobaboseira que
existe. O que fica mal explicado nessa história é como a sonda
continua enviando dados à Voyager depois de sumir dos sensores e,
da mesma forma, como Tom Paris consegue estabelecer contato daquela
outra dimensão. Mas como fica muito claro que essa trama
secundária serve apenas para ambientar a problemática em torno do
Doc, ela não merece tanto espaço nos comentários.
O
clímax do episódio é com certeza a cena em que a filha do Doutor
se acidenta no holodeck, e ele perde o controle e desativa o
programa. Esse momento é um dos mais profundos da série. Merece
destaque a cena que se segue, com o médico e Tom Paris na
Enfermaria. Os papéis se invertem. Paris, o incorrigível, depois
de levar um hilário sermão do Doc, transmite a sabedoria, a
sensatez e a moral da história. Mas ele não o faz de uma forma
piegas. Ele é muito convincente e acaba convencendo o EMH a
testemunhar a morte de sua filha, como parte da experiência
familiar. Só um parênteses: é lindo quando Paris fala que as
circunstâncias que aprisionaram a Voyager no quadrante Delta
aproximaram todos a bordo e os transformaram numa família, e que os
tripulantes se apóiam uns nos outros para contornar a dor do
isolamento. É isso que os fãs sempre quiseram, mas sabe-se que, de
fato, não foi o que aconteceu.
Com pontos altos e baixos - como em
todo episódio -. "Real Life" é um vencedor e só
vem para reafirmar o potencial do EMH e o talento de Picardo.
Citações:
B'Elanna - "You're not going
to learn anything from being with these lollipops."
("Você não vai aprender nada estando com esses
pirulitos.")
Doutor - "You're in fine
physical shape, Lieutenant. You may go ahead and engage in this
reckless activity."
("Você está em boa forma física, tenente. Pode ir em frente
e se meter nessa atividade imprudende.")
Trivia:
Kate
Mulgrew protestou junto aos produtores sobre este episódio. Ela
achava que havia mais a explorar no relacionamento de Janeway com
sua tripulação. "Eu gostaria de vê-la em suas relações com
sua tripulação. Pessoas reais. É por isso que fui tão enfática
ao protestar contra o episódio do Doutor, 'Real Life' -- por
que o Doutor, que era um holograma, deveria ser o único a explorar
relacionamentos?"
Este é mais um episódio de mal-funcionamento no holodeck. O Doutor
cria para si uma esposa e dois filhos, mas quando os problemas começam
a aparecer, adivinha de quem é a culpa?
Linsdey Haun já havia aparecido
em Voyager, como a personagem holográfica Beatrice Burleigh
de "Learning Curve" e "Persistence
of Vision", da primeira e segunda temporadas,
respectivamente.
Ficha
técnica:
Dirigido por Anson Williams
História de Harry Doc Kloor
Roteiro de Jeri Taylor
Exibido em 23/04/1997
Produção: 064
Elenco:
Kate Mulgrew como
Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garrett Wang como Harry Kim
Elenco convidado:
Wendy Schaal como Charlene
Glenn Walker Harris, Jr. como Jeffrey
Linsdey Haun como Belle
Stephen Ralston como Larg
Chad Haywood como K'Kath
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