MANCHETE
DO EPISÓDIO
Chega a hora de o oficial de segurança
conhecer de verdade o que é violência
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Sinopse:
Data Estelar: desconhecida.
O corpo de um tripulante, chamado Darwin, é encontrado na
engenharia --supostamente uma morte causada por um acidente de
trabalho. Quando o Doutor examina o cadáver, descobre que trata-se
de um assassinato. Tuvok inicia uma investigação.
Uma checagem dos registros da engenharia coloca um Maquis, o Betazóide
Lon Suder, na cena do crime. De início, o tripulante nega qualquer
envolvimento, mas quando traços de seu DNA são encontrados
ligando-o ao crime, Suder confessa, dizendo a Tuvok que o matou por
não ter gostado do modo como Darwin teria olhado para ele.
Recusando-se a
aceitar um motivo tão insignificante para um crime tão sério,
Tuvok interroga Suder intensivamente. Para a decepção do Vulcano,
Suder é incapaz de explicar suas explosões de violência. Para
esclarecer, Tuvok decide realizar um elo mental com o assassino. Ele
espera com isso entender as motivações de Suder e ajudá-lo, com
sua disciplina mental, a controlar sua natureza violenta.
Tuvok informa Janeway de seu elo mental com Suder, e os dois
discutem opções de punição. Tuvok admite que embora o assassino
pareça agora mais calmo do que antes, o Vulcano está mais
perturbado que o habitual. Depois, em um encontro com um brincalhão
Neelix enraivece Tuvok de forma tão intensa que ele estrangula o
Talaxiano. Felizmente, era apenas uma simulação do holodeck criada
por Tuvok para testar seu controle emocional.
Tuvok
volta a se encontrar com Suder, que irrita o Vulcano com seus comentários
sobre o lado sedutor da violência, que Tuvok agora é capaz de
compreender. Temeroso por seus próprios impulsos, Tuvok se isola em
seus aposentos e informa a capitã que ele não está mais apto ao
serviço.
Janeway envia o Vulcano à enfermaria, onde ele começa um
tratamento para controlar suas tendências violentas. Naquela noite,
Tuvok escapa da enfermaria e confronta Suder, declarando que irá
executá-lo. Embora seu lado racional ainda fosse forte o suficiente
para impedi-lo de assassinar Suder, ele não consegue evitar o
colapso do Vulcano. Suder pede ajuda e Tuvok é devolvido à
enfermaria, onde ele conclui com sucesso sua reabilitação.
Comentários:
Uma coisa não se
pode criticar a respeito de "Meld": é impossível
dizer que o episódio não foi ousado. O tema é extremamente difícil,
tendo em vista as amarras estabelecidas por Gene Roddenberry desde A
Nova Geração, fixando que os personagens humanos do século 24
são quase perfeitos, livres das paranóias de seus equivalentes de
eras anteriores.
O truque para executar a idéia é bem simples: o assassino é um
Betazóide. Para todos os efeitos, a regra dourada de Roddenberry
continua valendo --os humanos continuam tão evoluídos quanto de
costume. Mas na prática, o resultado é bem diferente. Afinal, um
Betazóide sem poderes telepáticos é, para todos os efeitos,
humano. Solução barata? Sim. Mas igualmente eficiente.
Só mesmo desse
modo para abordar uma questão delicada como um desequilíbrio
mental que eleva a violência a níveis tão altos que é capaz de
se manifestar em assassinatos. As ramificações do tema são
contempladas de forma eficiente pelo roteiro, como a natureza patológica
do problema e os métodos de punição disponíveis para esses
criminosos.
Nessa dança entra um discurso contra a pena de morte (pode parecer
chover no molhado, mas vale dizer que esse tipo de penalidade é
aplicada em vários Estados dos EUA) e um estudo da personalidade de
Tuvok por trás de seu intenso controle emocional.
Aliás, pela primeira vez conseguimos testemunhar o perigo de um elo
mental. Desde os primórdios da Série Clássica ouvimos
dizer que elos mentais Vulcanos podem ser perigosos para os
envolvidos, mas nunca tivemos a chance de ver algum desses
procedimentos resultar em problema para algum de seus participantes.
Foi um bom meio de introduzir essa variável, favorecendo o
andamento da história.
Graças a essa ocorrência, surge a oportunidade de vermos um pouco
do que há por baixo do intenso controle emocional de Tuvok.
Infelizmente, o efeito serve muito mais para denegrir a imagem do
personagem frente à audiência do que para fornecer dicas sobre a
verdadeira natureza do Vulcano.
Por outro lado, algumas cenas são extremamente bem executadas.
Quando Kes e o Doutor "desligam" o centro de controle
emocional do cérebro de Tuvok, a reação do Vulcano para com a
capitã é bastante impactante. Também vale ressaltar a brilhante
atuação de Tim Russ, que soou perfeitamente como um Romulano
durante sua fase "emocional", enfatizando ainda mais o
parentesco entre os Vulcanos e seus sórdidos colegas de orelhas
pontudas.
O efeito mais incrível obtido com o episódio é que a audiência não
fica com raiva de Suder --fica tão claro que ele é uma vítima de
sua própria natureza que não conseguimos imaginá-lo simplesmente
como o vilão da história. Mais um ponto para o roteiro.
Nem tudo
são flores, entretanto. O grau de manipulação dos sistemas
nervosos dos pacientes é arbitrário, de forma a conduzir a história.
Se é tão fácil desligar o controle emocional de Tuvok, ou tratá-lo
de modo a anular os efeitos ruins de seu elo mental com Suder, não
é possível que nada possa ser feito pelo nosso Maquis raivoso!
A subtrama com Tom Paris, o "bicheiro" da Voyager,
promovendo uma loteria entre os tripulantes também não passa de
uma perda de tempo. Uma tentativa (pouco eficiente, diga-se de
passagem) de trazer algum alívio cômico para um episódio sombrio
e pesado. Em vez disso, o tempo seria muito melhor aproveitado se
tivesse mostrado o impacto de um assassinato a bordo da nave. Como
os tripulantes reagiriam à ocorrência? Em vez disso, parece que
está todo mundo feliz, brincando de bingo com o piloto da nave no
holodeck. É meio difícil de engolir. A Voyager não é tão grande
assim, para que uma morte não cause impacto em toda a tripulação.
Por fim, há de se criticar a falta de fechamento para o enredo. No
fim, Tuvok conclui seu tratamento e se recupera. Ponto final. Não há
nenhum desenvolvimento sobre o trauma gerado por esses eventos na
vida a bordo da Voyager. Passa a ser apenas um drama pessoal para
Tuvok. Enquanto isso, o que será de Suder? Continuará ele preso
para sempre?
Felizmente o tripulante voltará a aparecer mais tarde na série
para nos contar a quantas ele anda... e para salvar a tripulação e
conquistar sua redenção.
Citações:
Tuvok - "Why did you kill
him, mr. Suder?"
("Por que você o matou, sr. Suder?")
Suder - "... No reason."
("Nenhuma razão.")
Tuvok - "Do you have a criminal record?"
("Você tem um registro criminal?")
Suder - "Now, that would be ...sort of difficult to check on,
wouldn't it?"
("É, isso seria... meio difícil de checar, não?")
Tuvok - "Sitting here, attempting to meditate, I have
counted the number of ways I know of killing someone using just a
finger, a hand, a foot... I had reached 94 when you entered."
("Sentado aqui, tentando meditar, eu contei o número de
maneiras que eu conheço de matar alguém só usando um dedo, uma mão,
um pé... eu cheguei a 94 quando você entrou.")
Trivia:
Em entrevista, o autor da história,
Michael Sussman, disse: "'Meld' foi meu primeiro trabalho
profissional. Durante o verão de 95, passei a integrar a equipe de
roteiristas de Voyager e pude ver de perto como o show
funciona. Em um encontro, ouvi Michael Piller dizer que queria fazer
um episódio centrado em Tuvok e "violência espontânea".
Foi tudo o que disse, mas me fez pensar. Após muitas semanas,
finalmente surgiu uma idéia de que gostei, e a passei a Michael.
Chamei-a de "Genocide". Era sobre um alienígena racista
que vem a bordo da Voyager. Em esforço para descobrir quem
era o ser e o que queria, Tuvok se voluntaria a tentar um elo mental
com ele. Mas a ligação leva o tenente ao estágio primitivo dos
Vulcanos, fazendo-o expressar profundamente seus sentimentos
racistas reprimidos, contra os colegas. Enquanto isso, o alienígena,
que teve acesso à mente de Tuvok, o provoca com o conhecimento de
que os Vulcanos desprezam os humanos (...)" Essa concepção
original difere (e muito) do resultado final.
"Meld" traz novamente
Simon Billig no papel de Hogan, um membro da tripulação maquis de
Chakotay. Tanto Billig como Brad Dourif (Suder) farão parte do
elenco secundário pelo resto da segunda temporada da série.
Ficha
técnica:
Escrito por Michael Sussman
Direção de Cliff Bole
Exibido em 05/02/1996
Produção: 033
Elenco:
Kate Mulgrew como
Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garrett Wang como Harry Kim
Elenco convidado:
Brad Dourif como Suder
Angela Dohrmann como Ricky
Simon Billig como Hogan
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