Deep Space Nine
Temporada 6

Análise do episódio por
Luiz Castanheira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
"Crime de Sisko" traz parte sombria do capitão em episódio sensacional

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Sinopse:

Data Estelar: 51721.3

Sisko está ditando o seu diário pessoal (sozinho em seus aposentos) na esperança de ficar em paz consigo mesmo em relação a eventos das duas últimas semanas. Algo terrível aconteceu, isto é certo.

Tudo começou em uma sexta-feira em que ele acabara de postar mais uma lista de baixas. A guerra vai muito mal para a Federação. Ao final de uma discussão sobre a cômoda posição dos Romulanos no confronto (eles possuem um pacto de não-agressão com o Dominion desde o começo do conflito e parecem satisfeitos em permitir que as forças leais aos Fundadores violem o seu espaço, desde que para prejuízo imediato da aliança formada por Klingons e Federados), Sisko decide trazê-los para o lado da Federação, custe o que custar.

Uma primeira conversa com Dax deu certeza a Sisko de que o único motivo pelo qual os Romulanos entrariam em combate aberto contra o Dominion seria a existência de um plano detalhando um iminente ataque Dominion contra Romulus. Se tal plano de fato existisse ele só poderia estar guardado em um lugar: na capital Cardassiana. Sisko procura Garak, esperando que ele possa ser de alguma ajuda para obter provas de que tal plano existe.

Garak promete utilizar os seus remanescentes contatos em Cardassia para tentar conseguir tal coisa. Três dias mais tarde Sisko retorna e pergunta sobre o progresso do alfaiate. Garak diz que todas as pessoas que falaram com ele morreram no dia seguinte. Garak então sugere que os dois manufaturem tal evidência eles mesmos. Os instintos de Sisko parecem alertá-lo para sair dali e esquecer tudo, mas com a recente queda de Betazed frente às forças do Dominion, ele acaba concordando.

Garak apresenta a sua estratégia, em que eles devem convencer um certo senador Vreenak (a voz mais Pró-Dominion de todo o Senado Romulano) de que tal plano de expansão Dominion sobre o território Romulano de fato existe. Ele passará brevemente em uma rota próxima a DS9, voltando de um encontro com o próprio Weyoun em Cardassia. Sisko deve convencer o senador a fazer um pequeno desvio e passar por DS9, quando então o capitão apresentaria uma gravação holográfica de uma reunião (envolvendo Weyoun, Damar e um segundo cardassiano) do alto comando Dominion em Cardassia, em que é discutida a invasão ao Império Romulano. Ou seja, Sisko terá que atrai-lo até a estação e convencê-lo de que uma mentira descarada e manufaturada é uma verdade.

De forma a produzir tal gravação, Sisko deve conseguir a libertação de um criminoso (um mestre em holografia de nome Tolar), que está a ponto de ser executado em uma prisão Klingon. Sisko o leva para a estação e imediatamente Tolar se embriaga e se envolve em uma briga com Quark, acabando por esfaquear o Ferengi. O ferimento de Quark é leve, mas Sisko tem que suborná-lo para que não dê queixa sobre o ocorrido. Sisko orienta Odo para que nada relativo ao incidente tenha registro.

Sisko também tem de obter uma grande quantidade de gel biomimético (uma substância controlada que pode ser usada em experimentos genéticos e na construção de armas biogênicas) para trocar por uma "barra de dados optolítica cardassiana" no mercado negro, onde o holograma final deve ser gravado para garantir a autenticidade. Sisko fornece o gel sob os protestos formais de Bashir. Tolar aperfeiçoa a simulação para a satisfação de Sisko e Garak e o resultado é gravado na "barra de dados". Sisko não libera Tolar, que vai para os seus aposentos esperar o resultado da inspeção de Vreenak.

Vreenak chega à estação em uma nave camuflada. Um destacamento de segurança da Frota comandado por Worf (sem saber maiores detalhes sobre a o operação) isola completamente a área por onde ele vai passar. Sisko apresenta os seus argumentos e finalmente o holograma. O senador leva a "barra de dados" para checar a sua autenticidade. Quando Sisko retorna algum tempo depois, o Senador diz que a gravação é uma fraude.

Sisko passa os próximos dias na maior aflição, Vreenak pode contar o ocorrido para o quadrante Alfa inteiro e com isso os Romulanos podem começar a ajudar ativamente o Dominion na guerra.

Dias mais tarde chega à estação a notícia de que a nave de um certo senador romulano de nome Vreenak explodiu no caminho de volta de um encontro diplomático com Weyoun. Investigações preliminares dos Romulanos apontam para um envolvimento do Dominion e a tripulação da estação está alvoroçada com a clara esperança de que o ocorrido possa levar os Romulanos para o lado da Federação na guerra contra o Dominion. Sisko vai à alfaiataria de Garak.

Sisko confronta Garak, que admite que como "plano-B" (em caso da falsificação de Tolar não funcionar) ele armou uma bomba na nave do senador e também se encarregou de matar Tolar. Garak diz que quando os investigadores Romulanos obtiverem a "barra de dados" dos destroços, eles irão concluir que Vreenak a obteve de alguma forma durante o seu encontro diplomático com Weyoun e que a nave foi sabotada de forma a impedir que ele pudesse trazer a evidência a Romulus (qualquer imperfeição na "barra" seria então atribuída ao acidente). Garak não tem dúvidas de que os Romulanos vão entrar na guerra contra o Dominion.

De fato, Garak estava certo e, em seguida, os Romulanos se aliaram à Federação e fizeram a sua primeira ofensiva sobre a fronteira Cardassiana. Sisko diz em seu diário que uma consciência culpada é um pequeno preço a ser pago pela segurança de todo o quadrante Alfa, e ele vai aprender a viver com isto, porque ele tem que aprender viver com isto.

Ao final ele deleta todo o seu diário pessoal.

Comentários:

Utilizando um efetivo dispositivo narrativo para inspecionar a alma do seu torturado personagem central, "In The Pale Moonlight" examina profundamente a questão se de fato os "fins justificam os meios" no contexto das extremas circunstâncias a que Sisko está submetido no comando de DS9 em meio à guerra com o Dominion. Em seu maior triunfo, o segmento ressona em níveis outros, com situações que podem se apresentar na vida de qualquer um, o que o torna especialmente inquietante. Este episódio é a obra-prima da série Deep Space Nine, seu mais bem executado e emblemático segmento. Mais detalhes, sem precisar mentir, trapacear e subornar no processo, nas linhas abaixo.

Sendo o episódio de natureza tão polêmica, faz sentido um breve comentário sobre a origem de tal reação. "Breve" pois não será tratado aqui do recorrente debate a respeito de como DS9, enquanto série de Jornada, e "In The Pale Moonlight", enquanto episódio de Jornada, se encaixam ou não na utópica "visão de Gene Roddenberry".

A menos disto, grande parte da discussão dos fãs que se apresenta a respeito deste episódio costuma se concentrar em termos do que "Sisko fez" e da aprovação ou desaprovação a respeito do que "Sisko fez", o que obviamente não contempla todo o real significado de "Moonlight". Então examinemos a natureza do "crime de Sisko".

Cabe lembrar em primeiro lugar que o plano original de Sisko foi aprovado pela Frota Estelar (o que mostra ou o quanto a Frota estava desesperada para tentar mudar o rumo do combate ou que Sisko falou com um representante da Seção 31 em primeiro lugar, duas opções não tão distantes assim e cujos registros, se existentes, seriam infinitamente confidenciais), o que o coloca completamente fora de qualquer problema legal até o momento que Garak confessa a ele o que fez.

O crime de Sisko se deu quando ele não relatou a confissão de Garak ao seu superior imediato, falar com qualquer outra pessoa seria traição. Agora supondo que ele não tivesse cometido tal crime. Se Sisko tivesse relatado a confissão do cardassiano teria feito tanta diferença? Não. A Frota teria divulgado a real versão dos fatos? Não. Teria substituído Sisko e o prendido? Não. Teria prendido Garak? Não. Não teria feito diferença pelo simples motivo de que a Frota não poderia arriscar a derrota da Federação (a aliança dos Romulanos é crucial no momento para qualquer um dos lados, da Federação ou do Dominion), nem tampouco levantar suspeitas a respeito da verdade e nem perder duas peças tão cruciais como Sisko e Garak na virada da guerra. Ou seja, o "crime" de Sisko não traz nenhum prejuízo prático para o capitão e esta não é questão central do episódio, apesar de causar tanto alvoroço.

(Em uma nota especulativa e percebendo que o episódio carrega a idéia de um pacto "pseudo-faustiano" entre Sisko e Garak: Teria o superior de Sisko "dançado com o diabo" antes dele para aprovar tão controverso plano para começo de conversa?)

Talvez não sejam as excruciantes circunstâncias que assombram Sisko (não existe melhor personagem para tal função em toda a franquia, aliás) e nem a analogia literária do papel de Garak (em sua melhor utilização em toda a série) que façam do segmento algo tão perturbador, talvez exista uma essência muito mais próxima ao homem comum do que parece em uma superficial observação.

Nas vidas de todas as pessoas sempre existem certos indivíduos que permanecem próximos como uma reserva (consciente ou inconsciente) para "eventualidades", espécie de "figuras cinzentas", cujas "particulares habilidades" podem se tornar úteis em determinadas "situações extremas" (exatamente como Sisko sempre manteve Garak -- um exemplo óbvio vem de "Second Skin" da terceira temporada, em que Sisko faz chantagem com o cardassiano para que este ajude no resgate de Kira).

Considerem o seguinte, uma pessoa tem um objetivo (ao menos a princípio) "nobre", totalmente inatingível usando os métodos consistentes com a sua particular ética pessoal, de forma que para alcançá-lo vai ter que recorrer (consciente ou inconscientemente) a alguém "perigoso", alguém prático, que não pensa duas vezes em tomar qualquer medida para conseguir tal objetivo, capaz de fazer coisas que tal pessoa sequer poderia conceber e no processo o individuo em questão também vai fazer coisas que nem ao menos sonharia, vai conseguir eventualmente o que queria, mas vai ter que lidar com o fato de como conseguiu o que queria. No fundo todo o episódio parece ser uma lembrança desta simples verdade, de que: "você não vai para cama com o demônio sem ter sexo com ele".

Este foi exatamente o caminho trilhado por Sisko. Garak obviamente tinha razão na cena com Sisko na alfaiataria; o capitão sabia bem do que Garak era capaz, basta lembrar em "Broken Link" da quarta temporada em que Garak não se mostra muito preocupado em promover um "pequeno genocídio" e exterminar o Grande Elo todo de uma vez, para mostrar que Sisko sabia muito bem o que esperar do Cardassiano (o que torna o encontro de Garak e Worf durante o episódio em uma inspirada ponta de humor negro). Quando Sisko esmurrava Garak, ele esmurrava uma parte de si mesmo. "Qual parte?" Talvez seja a pergunta mais perturbadora proposta pelo episódio.

"Moonlight" não é um colossal vencedor por nos fazer discutir sobre se o que Sisko fez foi errado ou certo, mas por nos fazer refletir sobre os elementos da condição humana que nos colocam em tais posições em primeiro lugar e como reagimos enquanto nestas situações. Ele é tão inquietante por que sabemos que nossos motivos nunca serão tão nobres e altruísticos quanto os de Sisko, os contextos de nossos problemas nunca serão tão épicos quanto os de Sisko e os nossos "Garaks" nunca serão brilhantes e enigmáticos ex-agentes da Ordem Obsidiana como o verdadeiro.

A grande (macro) conseqüência do episódio é que a partir dele os Romulanos se enfileirariam ao lado de Klingons e Federados em combate até a derrota final do Dominion. Ninguém além de Garak e Sisko tomaria ciência do ocorrido durante a série. Seqüências a este episódio em que um dos lados (Federados ou Romulanos) descobrissem toda a verdade sobre o incidente foram sugeridas ao longo do tempo pelos fãs, mas o seu retorno dramático sempre pareceu duvidoso, na melhor das hipóteses.

O segmento foi de fato sobre Sisko aceitar o que fez e de uma forma ou de outra viver com isto e esta aceitação teve conseqüências. Sem esta experiência Sisko provavelmente nunca teria ordenado que Worf resolvesse a todo custo a "Questão de Gowron" em "Tacking Into The Wind" (Worf matou Gowron em duelo, colocando o leal general Martok no poder do Império) e nem teria permitido que Bashir e O'Brien usassem uma sonda mental em um comatoso Sloan (da Seção 31) em "Extreme Measures", para obter a cura da doença dos Fundadores (obra da própria Seção 31).

Com Odo curado e com Sisko garantindo que o comissário não tomasse a justiça em suas próprias mãos (pois afinal a Seção 31), reconhecida ou não, é parte da Federação), foi possível chegar a uma rendição do Dominion na batalha final em Cardassia em que o oficial de segurança de DS9 se oferece para curar os Fundadores e liderar o seu povo, de forma a impedir futuros conflitos. A falta de reservas morais de Sisko é clara em todas estas situações, sempre apontando para a necessidade de acabar com a guerra a todo custo. Um legado silencioso de "In The Pale Moonlight". Um legado que não é "certo" ou "errado", simplesmente "é".

- A direção de Victor Lobl foi absolutamente fenomenal. O episódio não perde a pegada um segundo sequer (ele absorve de tal maneira o espectador que se torna um segmento de referência neste quesito). O fato de Sisko falar diretamente para a câmera além de ser uma inovação em Jornada foi um sucesso de execução. Os cortes, entre Sisko falando com a câmera e o material em flashback, foram notáveis, de certa forma emulando o estado de espírito do próprio Sisko. A narrativa em "voiceover" serve como uma perfeita pontuação na estrada para o inferno de Sisko. A trilha sonora extremamente sombria e inesquecível de David Bell contribui para tornar a atmosfera ainda mais densa.

- Avery Brooks foi fenomenal, talvez apenas a sua atuação em "Rapture", da quinta temporada, seja superior a esta aqui. Brooks parece ser o ator ideal para lidar com emoções torturantes (obsessão, ódio, culpa,...) além de sempre aparentar "algo perigoso" (com seu sorriso, na forma em que usa os limites das órbitas dos olhos,...), perfeito para o episódio em questão. A cena final em que ele repete várias vezes que pode viver com o que aconteceu e ao final cruza as pernas e manda o computador deletar todo o diário pessoal é simplesmente arrepiante! O restante do elenco regular pouco apareceu (obviamente), mas todas as atuações foram na mosca.

- Elogios nunca são o bastante para expressar o ator que Andrew J. Robinson é. Definitivamente a sua atuação aqui está no patamar das de "The Wire" da segunda temporada e do duplo "Improbable Cause/The Die Is Cast" da terceira. Reparem na cena final da alfaiataria em que Sisko (um Avery Brooks simplesmente matador) esmurra Garak por duas vezes e o Cardassiano explica a Sisko, já sangrando, com o cabelo desarrumado e com um semblante quase que demoníaco, o que vai acontecer a partir do que eles fizeram. Simplesmente sobrenatural!

- Jeffrey Combs (como Weyoun) e Casey Biggs (como Damar) estiveram ótimos apesar do minúsculo tempo de tela, por terem somente aparecido através do holograma forjado. Howard Shangraw (como Grathon Tolar) nos deu a instantânea sensação de encrenca a vista, belo trabalho. Stephen McHattie (como senador Vreenak) foi um romulano perfeito, como poucos no papel.

- Será que Garak mentiu sobre a morte de seus contatos, ou mesmo sobre o fato de ter tentado se comunicar com eles em primeiro lugar? Garak também não tocou nas mortes dos tripulantes da nave de Vreenak e tampouco como eliminou o corpo de Tolar.

- O segmento traz elementos de rara sutileza e inteligência, reparem, por exemplo, na cena em que Vreenak discute a qualidade da bebida Romulana replicada comparada à bebida original, o que serve de vislumbre para o que Sisko vai tentar fazer logo em seguida. Na mesma cena, o "quase pensei que fosse o artigo genuíno" do romulano, quando Sisko apontou um plausível quadro político futuro no quadrante Alfa desfavorável a Romulus, indica dentro da caracterização do Romulano que Sisko apresentou um bom ponto.

- No episódio "Yesterday's Enterprise" (da terceira temporada de A Nova Geração - e um dos episódios favoritos dos fãs de Jornada em geral), em um universo alternativo, onde a Federação está perdendo uma guerra brutal com os Klingons, conhecemos uma inquietante versão alternativa do capitão Picard, uma muito mais sombria do que aquela que conhecemos. Em "In The Pale Moonlight" encontramos não de fato uma versão alternativa de Sisko, mas entramos em contato com uma parte mais sombria do capitão, algo muito mais perturbador.

- O fascinante é que mesmo sendo um "episódio sobre a guerra", não tivemos uma única tradicional cena de ação estilizada em todo o episódio. A única real guerra mostrada se travou dentro da cabeça de Sisko. O episódio é mais um caso de estudo neste sentido, ao se eliminar a "falsa encrenca" e enfocar os efeitos que a guerra tem sobre os personagens (e não a guerra em si) a intensidade da experiência cresce naturalmente.

- Diversos fãs já especularam sobre o que os outros capitães da franquia fariam se colocados na mesma posição de Sisko (esta questão, aliás, não é para ser levada muito a sério, ela é apenas uma maneira indireta de perguntar aos fãs como eles vêm a personalidade de cada capitão e feita assim ela tende a produzir um maior número de respostas, em um fórum de discussão por exemplo, do que quando feita de maneira direta). Picard provavelmente nunca faria o que Sisko fez, ele procuraria outra maneira de mudar a maré da guerra e se a sua opção de fato envolvesse a criação de uma aliança com os Romulanos, ele seguiria uma saída política e de persuasão, em outras palavras o episódio teria que dar algum tipo de "saída ética" para ele (e para a Federação) senão nada feito. Janeway sempre foi escrita de uma maneira um tanto errática, em uma semana "boa" ela provavelmente mandaria "Garak" para prisão só por ele sugerir o plano a ela e em uma semana "má" ela provavelmente tomaria um papel até mais ativo do que Sisko de fato tomou. Kirk provavelmente faria, com ou sem um "Garak" e talvez tivesse menos problemas com isto do que Sisko racionalizando de forma diferente toda a questão. Já a opção de Archer parece ser ainda mais nebulosa que a de Janeway.

"In The Pale Moonlight" é todo substância, sem nenhum tapa-buraco e sem quebrar a tensão em momento algum. As atuações dos atores, a música e a direção se combinam para criar uma densa e única atmosfera que completamente toma o espectador pelo pescoço e não o larga de forma alguma, deixando uma sensação de inquietação e desconforto ao final do episódio. Uma das mais intensas horas de drama televisivo em geral já produzidas, que dirá em Jornada.


Citações:

"The road to hell is paved with good intentions."
"A estrada para o inferno é pavimentada com boas intenções" [Sisko]

"I can see where it all went wrong. Where I went wrong."
"Eu posso ver onde tudo deu errado. Onde EU dei errado." [Sisko]

"So they're crossing my backyard to give the Federation a bloody nose. I can't say that makes me feel very sad."
"Então o Dominion está cruzando o meu quintal para dar uma porrada na Federação. Eu não posso dizer que isto me deixa muito triste." [Dax]

"Very good, Old Man. You would've made a decent Romulan." "I prefer the spots to the pointed ears."
"Muito bem, meu velho. Você daria um decente Romulano." "Eu prefiro as pintas às orelhas pontudas." [Sisko e Dax]

"And it may be a very messy, very bloody business. Are you prepared for that?"
"Isto pode se tornar em um negócio muito sujo e muito sangrento. Você está preparado pra isto?" [Garak]

"My intentions were good. In the beginning, that seemed like enough."
"Minhas intenções eram boas. No começo, isto parecia suficiente." [Sisko]

"If you want to guarantee that we obtain evidence of a Dominion plot to attack the Romulans, I suggest that we manufacture that evidence ourselves."
"Se você quer garantir que nós obtenhamos evidência de um plano do Dominion de atacar os Romulanos, eu sugiro que nós manufaturemos tal evidência nós mesmos." [Garak]

"Captain, I've always liked you. I've suspected that somewhere deep down in your heart of hearts there was a tiny bit of Ferengi just waiting to get out."
"Capitão eu sempre gostei de você. Sempre suspeitei que bem lá no fundo do teu coração havia uma pontinha Ferengi doida para dar o ar da graça." [Quark]

"People are dying out there every day. Entire worlds are struggling for their freedom--and here I am, still worrying about the finer points of morality!"
"Pessoas estão morrendo lá fora todos os dias. Mundos inteiros estão lutando por sua liberdade --- e aqui estou, ainda me preocupando com os mais finos pontos da moralidade." [Sisko]

"Who's watching Tolar?" "I've locked him in his quarters. I've also left him with the distinct impression that if he attempts to force the door open, it may explode." "I hope that's just an impression." "It's best not to dwell on such minutiae."
"Garak, quem está guardando Tolar?" "Eu o tranquei em seus aposentos. Eu também o deixei com a nítida impressão de que se ele tentar fugir, a porta pode explodir." "Eu espero que esta seja apenas uma impressão." "É melhor não entrar demais em tais detalhes, capitão." [Sisko e Garak]

"Always a pleasure to see you, Mr. Worf."
"Sempre um prazer em vê-lo, senhor Worf." [Garak]

"Mr. Garak, after having spent a week with you, I have developed a very, very thick skin."
"Senhor Garak, depois de passar uma semana contigo, eu desenvolvi uma pele muito, muito grossa." [Sisko]

"So, you're the commander of Deep Space Nine, and the Emissary of the Prophets, decorated combat officer, widower, father, mentor... and, oh, yes, the man who started the war with the Dominion. Somehow, I thought you'd be taller."

"Então, você é o comandante de Deep Space Nine, e o Emissário dos Profetas, combatente condecorado, viúvo, pai, mentor, e ... o homem que iniciou a guerra com o Dominion. De alguma forma eu pensei que você fosse mais alto." [Senador Vreenak]

"Maybe you're right. Maybe the Dominion will win in the end. Then the Founders will control what we now call Cardassia, the Klingon Empire, and the Federation. So, instead of facing three separate opponents, with three separate agendas, you'll find yourselves facing the same opponent on every side. There's a word for that: surrounded."

"Senador, talvez o senhor esteja certo. Talvez o Dominion vença no final. Então os Fundadores irão controlar o que nós agora chamamos de Cardassia, o Império Klingon e a Federação. Então, ao invés de encarar três oponentes separados, com três diferentes agendas, vocês se verão enfrentando o mesmo oponente por todos os lados. Existe uma palavra para isto: cercado." [Sisko]

"I'm not an impatient man."

"Eu não sou um homem impaciente." [Sisko]

"It's a faaaaake!"
"É uma fraaaaaaude!" [Vreenak]

"That's why you came to see me--isn't it, Captain? Because you knew I could do those things you weren't capable of doing. Well, it worked! And you'll get what you want--a war between the Romulans and the Dominion. And if your conscience is bothering you, you should soothe it with the knowledge that you may have just saved the entire Alpha Quadrant, and all it cost was the life of one Romulan senator, one criminal, and the self-respect of one Starfleet officer. I don't know about you, but I'd call that a bargain."

"É por isto que você me procurou -- não é, capitão? Por que você sabia que eu poderia fazer as coisas que você não seria capaz de fazer. Bem, funcionou! E você vai ter o que queria -- uma guerra entre os Romulanos e o Dominion. E se a sua consciência está te incomodando, você deveria acalmá-la com o conhecimento de que você pode ter acabado de salvar todo o quadrante Alfa, e tudo que isto custou foi a vida de um senador Romulano, um criminoso e o respeito próprio de um certo oficial da Frota Estelar. Eu não sei sobre você, mas eu chamaria isto de uma barganha." [Garak]

"So: I lied... I cheated... I bribed men to cover the crimes of other men. I am an accessory to murder. But the most damning thing of all: I think I can live with it, and if I had to do it all over again, I would."

"Então: Eu menti ... Eu trapaceei ... Eu subornei homens para encobrir crimes de outros homens. Eu sou cúmplice de um assassinato. Mas o mais assustador de tudo, é que: Eu acho que eu posso viver com isto e se eu tivesse que fazer tudo novamente, eu faria." [Sisko]

"Computer delete the ENTIRE personal log."
"Computador delete TODO o presente diário pessoal." [Sisko]

Trivias:

int.jpg (476 bytes) Este episódio é provavelmente o mais polêmico (sem falar no mais sombrio) da história de Jornada, mas apesar de toda a discussão em torno dele, o segmento é extremamente popular entre os fãs. Desde a sua primeira exibição, "In The Pale Moonlight" assumiu o primeiro lugar dentre os episódios de DS9 no referencial site de votação SOS, com números que rivalizam com as cifras dos absolutos destaques das demais séries da franquia.

int.jpg (476 bytes) Andrew Robinson (o Garak) o considera o seu terceiro episódio favorito. Seu segundo favorito é o antológico duplo "Improbable Cause" & "The Die Is Cast" da terceira temporada e o seu preferido é o também clássico "The Wire" da segunda temporada.

int.jpg (476 bytes) O roteiro escrito por Michael Taylor a partir de uma história de Peter Allan Fields nunca foi filmado. O roteiro como filmado foi escrito por Ronald D. Moore. A feitura do roteiro de "In The Pale Moonlight" é um clássico exemplo do que está envolvido na motivação, depuração e (muitas vezes) re-imaginação dos conceitos que levam a um roteiro de um episódio. No caso uma obra-prima.

int.jpg (476 bytes) A história roteirizada originalmente (com título "Patriot") brotou de uma ampla discussão entre os roteiristas que envolveram no debate desde os eventos que levaram ao começo da guerra do Vietnã até os detalhes do famoso "Caso Watergate". O resultado de tal "Brain Storm" foi passado a Peter Allan Fields que trouxe a idéia de uma história em que Jake Sisko (como repórter) tomava ciência de um análogo do "Caso Watergate", só que agora atingindo ao Primeiro Ministro Bajoriano Shakaar. Jake descobre um segredo político que se divulgado pode derrubar o governo Bajoriano inteiro e Ben Sisko não pode permitir que ele publique tal história. Moore lembra que a equipe brincou um pouco com este conceito até que foi decidido que seria melhor ter Jake "fazendo um Watergate" com o seu próprio pai, este foi o caminho tomado no roteiro escrito por Taylor.

int.jpg (476 bytes) O roteiro escrito por Taylor tinha inicialmente Jake procurando fazer uma entrevista com Garak, que não lhe dava nenhuma oportunidade disto acontecer. Em um certo momento Sisko interfere e diz que Jake deve deixar o Cardassiano em paz. Algo parece errado na atitude de seu pai e Jake continua investigando até descobrir que o capitão e o "alfaiate" estão envolvidos em um plano para enganar os Romulanos e faze-los entrar na guerra contra o Dominion. Jake está decido a publicar tal história e o clímax do episódio se dá com o confronto entre os dois a respeito de tal ato. Moore lembra que isto simplesmente não funcionava, pois não havia como acreditar em um conflito entre Ben e Jake. Este roteiro foi para a lata do lixo (apesar dos créditos de escrita dele terem ido para o episódio em tela).

int.jpg (476 bytes) Jake foi retirado do contexto e o foco passou ao próprio capitão Sisko, mas ainda assim a história não funcionava. Três dias depois, Ron Moore (enquanto sentado em sua sala de estar, sozinho; bebendo e pensando a respeito do problema) teve a idéia de Sisko bebendo e contando a história em flashback. No dia seguinte, toda a equipe aprovou esta idéia e a versão (como filmada) do roteiro foi escrita pelo próprio Moore.

int.jpg (476 bytes) O "ponto sem retorno" para Sisko ocorre quando o personagem ouve as notícias de que o Dominion invadiu Betazed. Moore se lembra que ele ficou temeroso de usar Vulcano, pois é um planeta que carrega muito peso dentro da franquia, dai surgiu à idéia de Betazed.

int.jpg (476 bytes) Deep Space Nine foi a primeira série de Jornada a introduzir um dispositivo de narrativa não somente em flashback, mas um dispositivo em que um personagem fala diretamente para a câmera, ou seja, para a própria audiência, estilhaçando a "terceira parede" que separa o universo dos espectadores do universo ficcional onde se passa a história.

int.jpg (476 bytes) Ao contrário de outros episódios, as cenas do diário pessoal de Sisko foram filmadas todas em seqüência, e foram coreografadas com extrema rigidez pelo diretor Victor Lobl. As transições necessárias para conectar tal material com as cenas em flash-back foram consideradas tão extremas que este se mostrou o único caminho que poderia ser de fato seguido. O diretor comentou na época sobre o extremo profissionalismo de Avery Brooks que seguiu cada complicada instrução sua a risca.

int.jpg (476 bytes) Uma grande questão em cenas em que temos um ator apenas em um cenário é: "O que ele vai ficar fazendo com as suas mãos o tempo todo?". Sisko bebeu bastante durante a narrativa de sua história (algo que Lobl pensou que fosse ser cortado por algum produtor, mas não foi), que serviu também a este propósito, além de obviamente relaxar o personagem. Outra idéia foi ter Sisko tirando peças do seu uniforme à medida que literalmente "se expunha" para os espectadores. Uma atitude que casou muito bem com o fato das cenas terem sido filmadas em seqüência.

int.jpg (476 bytes) A cena final é propositalmente feita com Sisko se sentando no sofá e cruzando as pernas, de forma a simbolizar a sua resolução quanto à questão apresentada pelo segmento.

int.jpg (476 bytes) Uma das últimas falas do episódio ("Eu posso viver com isto") foi uma homenagem de Ira Behr ao clássico filme de John Ford, "The Man Who Shot Liberty Valance" (1962). A fala em questão é uma das últimas falas do personagem de John Wayne no filme.

Ficha técnica:

História de Peter Allan Fields
Roteiro de Michael Taylor
Direção de Victor Lobl
Exibido em 13/04/1998
Produção: 143

Elenco:

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado:

Andrew J. Robinson
como Garak
Jeffrey Combs como Weyoun
Casey Biggs como Gul Damar
Howard Shangraw como Tolar
Stephen McHattie como Senador Vreenak

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