MANCHETE
DO EPISÓDIO
Segmento
se apóia em Jadzia e segredo
Trill, mas não produz impacto na série
Episódio
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episódio
Sinopse:
Data Estelar:
desconhecida.
Em um amigável encontro da tripulação
de DS9 nos aposentos de Sisko para um jantar preparado pelo próprio
comandante, Jadzia toca uma melodia no teclado de Jake, que ela não
reconhece e nem sabe como conseguiu tocar. Algum tempo depois ela
continua "assombrada" por tal melodia e começa a exibir
estranhos padrões de comportamento agressivos, no jogo de xadrez
com Ben e depois com Kira. Sendo em seguida vítima de uma alucinação,
envolvendo a tal música e uma figura mascarada, Jadzia percebe
que há algo errado com ela e vai consultar Bashir.
O
bom doutor descobre que Jadzia está em um processo (redução dos
níveis de isoboramina) que pode até levar à rejeição do seu
simbionte Dax. Algo tão sério que leva Sisko, Bashir e Dax a
bordo da Defiant para o mundo natal Trill, a fim de consultarem a
doutora Renhol, da Comissão de Simbiose. O tratamento da doutora
parece estar indo bem até que (a bordo da Defiant) Dax
experimenta uma nova alucinação, em que ela é perseguida por
membros da Comissão de Simbiose, usando uniforme de quase cem
anos atrás.
Nosso trio segue para as cavernas de Mak'ala, tentando desvendar o
mistério, onde encontram Timor, um Guardião (tipo de Trill não-unido
que devota a vida para cuidar dos simbiontes em tais cavernas,
onde ficam as piscinas naturais onde eles vivem). Timor diz que as
alucinações são fruto de memórias de algum hospedeiro (não
necessariamente de Jadzia).
Finalmente o computador da Defiant identifica o compositor da tal
música que vem atormentando Dax --é um Trill de nome Joran
Belar, que a compôs há 86 anos atrás. Ao ver a foto do músico,
Jadzia tem uma nova visão, agora do assassinato de um doutor
Trill pela mesma figura mascarada que se revela como o próprio
Joran. Jadzia entra em choque neural.
A doutora Renhol está alarmada com os baixo níveis de
isoboramina de Dax e avisa que se a situação não melhorar em 48
horas ela irá retirar o simbionte (matando Jadzia no processo).
Bashir e Sisko continuam sua busca por informações relativas a
Belar e cada vez fica mais claro que alguém andou apagando
deliberadamente informações sobre o Trill (ainda que eles
consigam descobrir que Joran morreu no mesmo dia em que Torias Dax
morreu e que o simbionte Dax foi colocado em Curzon).
Finalmente eles encontram o registro de um irmão, um bastante
idoso Yolad Belar, e conseguem contatá-lo. Yolad revela que seu
irmão (que também fazia parte do programa de candidatos a
simbiose) matou um doutor da Comissão de Simbiose e morreu
tentando escapar (85 anos atrás). Disse também que seu irmão
lhe disse ter conseguido a união com um simbionte, o que ele não
acreditou muito na época, seis meses antes de morrer.
Confrontando
Renhol com tal informação, Sisko e Bashir a forçam a admitir a
verdade. Anos atrás, eles (da Comissão de Simbiose) erroneamente
implantaram o simbionte Dax num hospedeiro inadequado com tendências
violentas. Tudo que se sabe sobre os Trills diz que, se tal coisa
acontece, tanto o hospedeiro quanto o simbionte deveriam morrer
muito rapidamente (especialmente um hospedeiro instável como
Joran).
Entretanto, Joran viveu seis meses como Joran Dax. O que quer
dizer que uma proporção muito maior de candidatos potenciais
para simbiose existe dentre a população Trill (não um para mil,
mas 500 para mil). Tal segredo precisava ser preservado, pois ele
poderia transformar os simbiontes em commodities no mercado
comercial. Então as memórias de Joran foram bloqueadas no
simbionte e Dax foi unido a Curzon. Agora o bloqueio estava se
deteriorando e Jadzia estava experimentando todo esse problema por
causa disso.
Sisko ameaça revelar toda a verdade à população Trill se
Jadzia for sacrificada. A doutora recua e diz que a única maneira
de tratar a situação é deixar que as memórias de Joran sejam
desbloqueadas e se integrem naturalmente às demais memórias do
simbionte (o que é arriscado, pois a personalidade de Joran pode
tomar o controle). Jadzia decide arriscar e entra em uma das
piscinas dos simbiontes e faz contato com um deles. O procedimento
desfaz o bloqueio e permite que as memórias de Joran sejam
reintegradas. De volta a DS9, Jadzia tem muito que ponderar sobre
o que aconteceu e como lidar com essas novas memórias e volta a
aquela melodia do início, no teclado.
Comentários:
Um aparentemente previsível episódio de "personagem à
beira da morte por razões desconhecidas" (TM) acaba por
trazer à tona um trágico segredo guardado a sete chaves pela
sociedade Trill, que desvenda um lado sombrio até então
desconhecido de Jadzia Dax (bem mais sombrio que o seu lado
Klingon, devo dizer). O episódio funciona em seus termos porque a
resolução da história reside única e exclusivamente na
personagem. Saibam mais detalhes, sem ter a necessidade de entrar
na piscina dos simbiontes no processo, nas linhas abaixo.
A
Comissão tinha um bom plano: bloquear as memórias de Dax (mas não
matá-lo, independentemente das conseqüências) e apagar os
registros (mas não matar Yolad). O plano caiu junto com o
bloqueio das memórias de Dax (com a pista inicial da música) e
da posterior boa investigação de Sisko (que insistiu no registro
das Academias de música). As alucinações foram interessantes e
funcionam bem para audiência, também em uma segunda assistida.
O que não funciona muito bem é descobrirmos que metade da população
é capaz de se unir e que foi justo o incidente com Joran que
trouxe isto à tona, o que parece excessivo e não faz muito
sentido, a não ser que os cientistas Trills sejam muito idiotas
(o que não parece ser o caso). A investigação também tomou
muito tempo do episódio, que poderia ter sido usado melhor para
tratar das reações de Dax a tudo isso (acabamos ficando com uma
infeliz cena em off).
René Echevarria (o mestre da caracterização) fez um bom dever
de casa para escrever o seu primeiro roteiro para DS9. Os
personagens se beneficiam em diversos momentos, tais como o
tradicional jogo de xadrez entre Dax e Sisko, Dax dizendo para
Kira tirar as mãos dela (à beira de um confronto que poderia com
certeza levar à destruição do Replimat --uma referência
indireta a "Blood
Oath"?), uma outrora impensável "cena séria
com Dax acabando por passar a noite nos aposentos de Bashir, com
ele" (lembram de Bashir como um "cachorro no cio"
atrás da Trill no começo da série?), uma cena entre Bashir e
Sisko falando sobre Dax (lembrados de um "absurdo e improvável
triângulo amoroso" entre os três em "A
Man Alone"?) e outros elementos citados corretamente
e desenvolvidos da história de Dax.
Apesar da imagem final de Dax na piscina ser simbolicamente
atraente, a última cena teria que indicar que Dax iria continuar
com a sua vida e lidar com a descoberta da existência de Joran
Dax, o que é feito com ela tocando a mesma melodia do início,
agora em seus aposentos.
Talvez a maior crítica ao segmento não deva ser dirigida a ele,
mas à própria série. Tal revelação poderia servir de combustível
para inúmeras histórias à frente, se fosse tratada de verdade
pela produção da série, trazendo uma reviravolta para a
personagem. Reviravolta similar a aquela pela qual passou Bashir,
após o episódio "Dr. Bashir, I Presume" (da
quinta temporada). Mas este definitivamente não foi o caso.
Outro ponto é que da mesma forma que o (ver "The
Wire") "Garak sem implante" não parece ser
tão diferente assim do "Garak com implante", a
"Jadzia com as memórias de Joran" não parece ser tão
diferente assim da "Jadzia sem as memórias de Joran".
Mais uma para a conta da série como um todo.
A caracterização de Timor é brilhante e abre toda sorte de
especulação sobre a relação entre os guardiões e os
simbiontes (é interessante que seja lançada uma espécie de aura
mística sobre tal relação, que dá um caráter "maior que
a vida" aos simbiontes, condição que tem o seu
"payoff" no final do episódio). Telepatia obviamente
faz parte da equação aqui.
Renhol
não foi de forma nenhuma à típica "vilã da semana" e
Yolad trouxe a necessária e bem-vinda faceta mais humana de
Joran. Tudo parece indicar que Joran só enlouqueceu devido ao
erro da comissão em uni-lo ao simbionte Dax em primeiro lugar e
pode se especular que ele matou o tal doutor após ele descobrir
que eles iriam remover o simbionte, matando-o no processo (o que
eles acabaram fazendo de qualquer jeito). Joran emerge de uma
forma bem comportada ao final do episódio (o predador que
espreita?), o que não aconteceria nas suas duas posteriores
"participações" na série.
A direção de Cliff Bole foi bastante segura e suave a maior
parte do tempo. Algumas bobeadas do diretor: o final do
"teaser", que foi perdendo força até simplesmente se
apagar, a ligação entre as cenas sucessivas de Dax & Sisko e
Dax & Kira, que pareceu simples demais, e um corte mal feito
na cena em que Dax volta às cavernas para contatar os outros
simbiontes e libertar as memórias de Joran. Seus pontos altos
foram todas as transições (de atmosfera e mesmo de
"realidades") desde o "teaser", em que o
ambiente festivo fica subitamente carregado com a angústia de
Dax, passando pelo "vai e volta" das alucinações até
a bela imagem de Jadzia "reencontrando" Belar no final.
A música (de Jay Chattaway) foi efetiva durante todo o episódio
e a produção fez um bom trabalho com o sóbrio orçamento para
as cenas das alucinações. Entretanto, a clara economia para
produzir o episódio prejudicou flagrantemente a primeira visita
ao planeta Trill, resumindo a sua superfície a uma pintura de um
único prédio, e as cavernas Mak'ala a algo completamente simplório
(só faltando um imenso cartaz ao fundo escrito: "Este é o
'Planet Hell' arrumado para parecer a caverna dos simbiontes
--favor não reparar muito!"). As tomadas da Defiant foram
ok, mas isso não quer dizer muito.
Brooks foi extremamente jovial e carismático no começo e contido
e forte no restante do episódio. Sentado na cadeira de comando da
Defiant, conversando com Bashir, se observa uma presença
excelente. El Fadil fez o que pôde, mas o material dado não foi
nada de especial. Farrell teve que segurar a (normalmente) difícil
barra para um ator de sofrer grandes mudanças de temperamento,
ter alucinações e mesmo o inevitável colapso nervoso. A atriz
se portou de forma adequada, particularmente ao final da primeira
alucinação a bordo da Defiant, em que ela olha em volta tentando
recuperar o seu senso de orientação (fazer o câmera circular em
volta da atriz casou perfeitamente na cena também). Os demais
regulares honraram o pagamento da semana (e Meaney nem apareceu).
Jeff
Magnus McBride enquanto ator foi um ótimo mágico. As cenas em
que ele parece como Joran "ao natural" mostraram pouca
expressão, mas o seu "número mascarado" foi muito
interessante, dando um ar diferenciado ao episódio (o devaneio
original de Piller frutificou neste sentido). Banes mostrou que a
sua personagem realmente acreditava no que estava fazendo e fugiu
bravamente do perfil de "antagonista clichê" (e a sua
diferente pronúncia para "Jadzia" foi muito bem vinda
sem dúvida). Cascone e Vermon foram perfeitos em seus papéis.
O "teaser" do episódio ganha fácil na categoria do
mais "fofinho" de todos os tempos. A química existente
entre todos é flagrante e Brooks se mostra infinitamente à
vontade como anfitrião. Auberjonois batendo o suflê é
absurdamente hilário (mais do que tem qualquer direito de ser) e
a "coisa das beterrabas" é uma das marcas registradas
da série. Faltaram Quark e O'Brien no "teaser", o
bartender Ferengi ganhou uma (micro) cena residual mais à frente
e o chefe não apareceu mesmo no episódio.
Algumas pitadas finais:
Aprendemos sobre a habilidade culinária de Sisko --vem do berço.
Seu pai é um respeitado "chef" em Nova Orleans, dono de
um restaurante chamado (obviamente) de "Sisko's".
Na primeira alucinação de Dax a bordo da Defiant, ficamos sem
saber quem é o segundo tripulante que ela agride. Teria sido ele
Sisko?
A doutora Renhol certamente não estava só especulando sobre os
simbiontes se tornarem prêmios a serem comprados, roubados,
comercializados etc. se o segredo viesse à tona. Basta que nos
lembremos de Verad de "Invasive
Procedures", da temporada passada.
O fato de ser necessário um outro simbionte para liberar as memórias
de Dax parece indicar que um segundo simbionte foi necessário
para fazer o bloqueio. Como os simbiontes se reproduzem? Como se
desenvolvem? Eles formam algum tipo de comunidade? Um simbionte
"virgem" é um simples receptáculo de memórias ou já
traz alguma coisa para a primeira união? Se trouxer, traz o quê?
(Entre tantas outras perguntas que não foram respondidas durante
a série.)
"Equilibrium" é mais uma das "pequenas histórias
de personagens de DS9" (TM). Especificamente uma
daquelas que sugere novos caminhos a serem trilhados, muito mais
um "setup" para possíveis futuras histórias do que uma
história em si. Um rico filão envolvendo a interessante dinâmica
entre guardiões, simbiontes e os demais Trills, bem como Jadzia
tendo que lidar com fato de ter agora as memórias de um
psicopata. Ainda que se lamente que tal filão nunca tenha sido
aproveitado completamente ao longo da série até o seu final,
fica a felicidade de que ele ao menos tenha sido apresentado aqui,
um bom esforço dos envolvidos.
Citações
Sisko - "Beets are a
very misunderstood vegetable."
("Beterrabas são vegetais muito injustiçados.")
Jadzia - "I don't need therapy, Julian; I need
answers."
("Eu não preciso de terapia, Julian; eu preciso de
respostas.")
Bashir - "Can I ask what you're doing?"
("Posso perguntar o que está fazendo?")
Timor - "Yes."
("Sim.")
Jadzia - "If you want to know who you are, it's important
to know who you've been."
("Se você quer saber quem você é, é importante saber quem
você foi.")
Trivia:
O roteiro do episódio (primeiro de René Echevarria para DS9)
teve como ponto de partida um show de mágica assistido pelo então
produtor-executivo Michael Piller. O show tinha a participação
do mágico Jeff Magnus McBride, que acabaria aparecendo no episódio
tanto como o próprio Joran Belar, como a sua "versão
mascarada das alucinações de Jadzia Dax". O personagem
Joran belar seria mais tarde interpretado por Avery Brooks em "Facets"
(também da terceira temporada) e por Leigh J. McCloskey em "Field
of Fire" (da sétima temporada).
Entretanto, transformar o lampejo de Piller e mesmo uma história
comprada de Christopher Teague, um amigo em comum de Piller e
McBride, em uma premissa funcional não foi nada fácil. Ira Behr
disse na época que eles tinham simplesmente o ator (o citado mágico),
as suas máscaras e nada mais. Ron Moore lembra que a história
original de Teague tinha a ver com um "circo que vinha a
bordo de DS9" com um mágico vivido por McBride como parte da
trupe. O roteirista disse que definitivamente este NÃO era o
caminho a ser seguido!
Foi o próprio Moore que "sacou" que a tal "figura
mascarada" seria uma boa metáfora para um Trill e daí o
episódio se tornou um veículo para Dax. Echevarria lembra que o
episódio passou de um episódio do tipo "o que está
acontecendo com Dax?" Para um envolvendo um grande e sombrio
mistério. O roteirista também lembra que o que o seu roteiro
pedia inicialmente era uma pequena cidade onde Dax avistava alguma
coisa no topo de uma montanha e subia, indo investigar e ficando
intrigada por uma sucessão de imagens e lugares sem saber por quê.
Como sempre tais "desejos de roteirista" tiveram que ser
tratados de uma maneira muito mais simples (e econômica), com os
cenários de DS9, da Defiant e do famoso "Planet
Hell" (o palco 18 do estúdio, utilizado para paisagens alienígenas
como cavernas, por exemplo). Os efeitos visuais também foram
mantidos ao mínimo.
Como a música era muito importante para o episódio, Jay
Chattaway foi procurado com antecedência para compor um tema que
Dax pudesse cantarolar no curso do episódio. Um outro desafio
para a produção foi em uma transição em que Jadzia deixa o
Promenade e mergulha em uma de suas alucinações --tal transição
tinha que ser suave e ainda indicar claramente que tal mudança de
cenário acabara de acontecer.
Nicholas Cascone também apareceu como Davies no episódio "Pen
Pals" (da segunda temporada de A Nova Geração).
Ficha
técnica:
História de Christopher Teague
Roteiro de René Echevarria
Direção de Cliff Bole
Exibido em 17/10/1994
Produção: 050
Elenco:
Avery Brooks como
Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko
Elenco convidado:
Lisa Banes como
dr. Renhol
Jeff Magnus McBride como Joran Belar
Nicholas Cascone como Timor
Harvey Vernon como Yolad Belar