Deep Space Nine
Temporada 2

Análise do episódio por
Luiz Castanheira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Discussão do tema imigração faz
da obviedade o centro da história

Episódio anterior   |   Próximo episódio

Sinopse:

Data Estelar: 47391.2.

Um pequeno grupo de alienígenas, oriundos do quadrante Gama, é resgatado pela estação. Problemas com o tradutor universal impedem inicialmente a comunicação.

Quando o tradutor consegue "decifrar" a língua dos alienígenas, a mulher do grupo, Haneek, explica que eles são chamados de "Skrreeans" e existem mais de 3 milhões deles do outro lado da Fenda Espacial (chamada por eles de "O olho do universo"). O grupo é composto somente por refugiados, com enorme necessidade de auxílio.

Ela explica que as lendas do seu povo dizem que existe uma "terra prometida" (chamada Kentanna) do outro lado da Fenda Espacial (digo, do "olho do universo").

Sisko se oferece para avisar os demais "Skrreeans", ainda no quadrante Gama, e procurar um planeta para os refugiados. Sisko também designa Kira para trabalhar junto com Haneek durante toda a operação. Mais tarde, quando os demais refugiados chegam a Deep Space Nine, Haneek é apontada como nova líder, por ter descoberto a Fenda Espacial. Seu povo dá a ela o encargo de encontrar Kentanna.

Quando Sisko chega com a novidade de que o planeta Draylon II pode ser um novo lar para os refugiados, Haneek diz que a sua pesquisa indicou que Bajor é Kentanna.

Haneek faz um pedido formal de santuário ao governo provisório Bajoriano, que o nega. O governo alega que se a colheita dos "Skrreeans" falhar, algo bem possível devido às condições do solo na região que seria designada a eles, Bajor teria mais 3 milhões de pessoas para alimentar e vestir, algo que o planeta não tem condição alguma de enfrentar. Haneek pede auxílio a Kira, que acaba ficando do lado do governo. Haneek sente que Kira a traiu.

Mais tarde, Tumak (o filho de Haneek) leva uma nave, na tentativa de pousar em Bajor. Ele acaba confrontado uma patrulha Bajoriana e sua nave explode antes de entrar na atmosfera, selando de fato o destino dos "Skrreeans".

Sem outra escolha, os "Skrreeans" estão de partida para Draylon II. Kira vai se despedir de Haneek e a líder diz que o governo provisório tomou uma decisão baseada em medo e suspeita e diz que de fato Kira tinha razão, "Bajor não é Kentanna".

 

Comentários:


Mais um belo tombo --mais um e fazemos uma trilogia. Peguem as suas enxadas e vamos conferir esta alegoria de DS9 sobre imigração.

No prólogo do episódio temos a impressão de que vamos ter um episódio calmo sobre a situação interna de Bajor, através de uma perspectiva diferente, a do músico Varani (um personagem REALMENTE interessante e, sinto informar, que não voltará durante a série). De repente surgem aqueles alienígenas esquisitos e, devido a um mau funcionamento do tradutor universal (possivelmente a peça de tecnologia --com razão-- mais sacaneada da história de Jornada), o episódio parece literalmente "PARAR" até os seus quinze minutos. Obviamente a idéia do mau funcionamento do tradutor foi para retardar as "grandes revelações" do episódio para mis tarde, ou seja: EMBROMAÇÃO COM CARA-DE-PAU!

Após a grotesca cena em que a "barreira de linguagem é quebrada", uma alegoria sobre imigração começa a se formar. Ainda que ache o tema e correlatos de real (e atual) relevância, a execução aqui foi feita (repitam comigo) com "a sutileza de um estouro de rinocerontes mutantes grávidos".

De forma a passar a mensagem, os "Skrreeans" são humanos feios (eles não são alienígenas, são humanos feios) que soltam a pele por onde passam e possuem horríveis traços de comportamento (exemplificados pelos seus machos "emocionalmente instáveis"). Ou seja, seres fadados a
sofrer discriminação.

Existe também um ângulo que estabelece os "Skrreeans" como um matriarcado poligâmico à procura de uma "terra prometida", elementos que me fazem ficar preocupado com a possível contrapartida destes (ou daqueles) na vida real.

Até que a reação dos personagens com relaão aos "Skrreeans" é interessante, mas, a partir do momento em que Bajor é reconhecida como a "terra prometida" dos refugiados, a obviedade da história e da mensagem chegam a incomodar. A seqüência (quase no final) em que Tumak acaba sendo morto é tão forçada e manipulativa que chega a ser engraçada, o exato oposto do efeito intencionado.

A trama do episódio até que foi decente, mesmo que muito lenta em várias partes e forçada ao extremo em outras, para satisfazer a "mensagem Trekker da semana" do episódio.

Felizmente os personagens regulares não tiveram a caracterização alterada para salientar a "mensagem" do episódio, o que é uma coisa boa. Os personagens responderam dentro da sua caracterização em relação a situação em que foram imersos (ainda que a situação pareça essencialmente não-natural, manufaturada para um fim). Um destaque especial pra Kira, que continua a brigar com o governo provisório Bajoriano pela melhoria das condições no seu planeta, mas na situação apresentada aqui concordou com seu governo quanto à decisão de não aceitar os "Skrreeans" em Bajor, ainda que obviamente ela sentisse total simpatia pelos refugiados. Compare a Kira deste episódio com a Kira de "Progress", da temporada passada, e vocês perceberão um natural e consistente desenvolvimento da personagem.

Haneek até que foi uma boa personagem, mal servida em partes como quando ela descreve os "porquês" da sociedade matriarcal dos "Skrreeans" ou quando dispara a pérola: "Nós somos fazendeiros, nos dêem um pedaço de terra".

A sua natureza direta e objetiva e a sua incapacidade de perdoar Kira no fim são bem adequadas à situação desesperadora do seu povo. O que não funciona é a sua "mágica descoberta" de que Bajor é a "terra prometida" do seu povo, novamente artificial e manufaturada (a insistência com Bajor, mesmo frente ao planeta ofertado por Sisko é ainda mais "misteriosa").

Tumak, por outro lado, foi insuportável de se assistir, com um andar e uma atitude que pareciam gritar: "Bad boy Skrreean, watch out!". Não é dada razão alguma para o que ele faz ao final do episódio (além de ele ser um macho "emocionalmente instável", é claro).

A direção de Les Landau foi boa, ele não teve culpa pelo roteiro lento, forçado e manipulativo. O elenco regular esteve sólido, como de costume, em especial Nana Visitor. Eisenberg, May e Schallert estiveram bem. Os demais atores convidados foram de medíocre pra baixo.

Dentre as inúmeras versões do tema de Deep Space Nine, a tocada por Varani neste episódio é a minha favorita.

O momento em que Odo sonda Nog, tentando descobrir o que Quark sabe sobre venda de armas, foi excelente. (Ainda que uma referência inocente neste ponto da série, Quark de fato se envolveria REALMENTE na venda de armas em "Business As Usual", da quinta temporada)

Pela primeira vez é citado o relacionamento de Jake com Mardha, uma garota Dabo, ainda sem conhecimento de seu pai.

Temos aqui mais uma referência feita ao Dominion, estabelecida de uma forma que atrai mais curiosidade que a anterior, em "Rules of Acquisition".

"Sanctuary" é mais um episódio contando uma "mensagem Trekker da semana" e um dos mais extremos nesse particular tipo de episódio. Felizmente ele não fere nenhum personagem em sua fúria para passar a mensagem em questão.




Citações

Kira - "I am way beyond frustrated."
("Estou mais que frustrada.")

Sisko - "It's hard to keep a secret in OPS, especially when you've been shouting at a monitor for two days."
("É difícil guardar um segredo no OPS, especialmente quando você está gritando para um monitor por dois dias.")



Trivia:

int.jpg (476 bytes) Presença de Nog.

int.jpg (476 bytes) Participação de Andrew Koenig (filho de Walter Koenig, o Chekov da série original de Jornada) como Tumak.

int.jpg (476 bytes) Presença de Kitty Swink (esposa de Armin Shimerman, o Quark de DS9) como a Ministra Rozahn. Swink participaria novamente da série em "Tacking Into The Wind", da sétima temporada, como a Vorta Luaran.

int.jpg (476 bytes) Participação de William Schallert, o Nilz Barris do episódio da segunda temporada da série original "The Trouble With Tribbles".

int.jpg (476 bytes) É citado novamente o nome DOMINION como uma importante força político-econômica-militar do quadrante Gama.

int.jpg (476 bytes) A frota de naves dos "Skrreeans" foi construída por Glenn Neufeld e David Takemura, após várias visitas a lojas de modelos, inclusive utilizando miniaturas de carros e tanques de guerra.

int.jpg (476 bytes) O modelo da nave principal dos "Skrreeans" foi construído por Steven Berg ("The Abyss") e por Ron Thorton (Foudation Imaging) e foi utilizado anteriormente em Jornada no episódio da terceira temporada da Nova Geração "The Booby Trap".


Ficha técnica:

História de Gabe Essoe & Kelley Miles
Roteiro de Frederick Rappaport

Direção de
Les Landau
Exibido em 29/11/1993
Produção: 030

Elenco:

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado:

William Schallert como Varani
Andrew Koenig como Tumak
Aron Eisenberg como Nog
Michael Durrell como General Hazar
Betty McGuire como Vayna
Robert Curtis-Brown como Vedek Sorad
Kitty Swink como Minister Rozahn
Deborah May como Haneek
Leland Orser como Gai
Nicholas Shaffer como Cowl

Episódio anterior   |   Próximo episódio