MANCHETE
DO EPISÓDIO Borgs
mostram as caras e fazem Janeway jogar o livro de regras pela janela
Episódio
anterior | Próximo episódio Sinopse:
Data Estelar: 50984.3.
Janeway
relaxa no holodeck com um programa simulando a Itália renascentista. Com ela,
ninguém menos do que Leonardo Da Vinci, com quem ela espera poder trabalhar em
projetos de escultura e pintura. Assim que as coisas começam a ficar interessantes,
ela é interrompida por um chamado de Chakotay. O comandante pede que ela venha
o mais rápido possível para a Engenharia. Quando a capitã chega, depara-se com
a notícia mais aterradora desde que sua nave se perdeu do outro lado da galáxia:
tudo indica que a Voyager está se aproximando do temido espaço Borg. Convocando
uma reunião de emergência para discutir as decisões a ser tomadas, Janeway e Chakotay
informam os oficiais superiores de que não há como contornar o território Borg,
dada a sua extensão, mas que talvez haja um modo de atravessá-lo. Sensores de
longo alcance detectaram uma estreita passagem livre de atividade da coletividade,
apelidada de "passagem Noroeste" e a capitã decidiu abraçar a oportunidade.
Ela alerta que os Borgs sabem da presença da Voyager no quadrante Delta, pois
encontraram e estudaram uma sonda lançada semanas antes. Neelix
começa a planejar um modo de aumentar a capacidade dos replicadores e economizar
os suprimentos, já que a nave não poderá parar para se reabastecer tão cedo. Harry
tenta aumentar a resolução dos sensores para detectar naves Borgs com antecedência,
no evento de um confronto. O Doutor estuda a fundo o processo de assimilação.
Enfim, toda a tripulação se engaja na melhoria dos sistemas e pode-se quase sentir
o cheiro de medo no ar. Mais tarde, na Enfermaria, Kes e o Doutor analisam
os restos Borgs encontrados em "Blood Fever".
A Ocampa experimenta visões perturbadoras de milhares de cadáveres Borgs despedaçados
e empilhados, e da destruição da Voyager. À medida que Tuvok reporta as premonições
à capitã, o alerta vermelho é soado e o campo de dobra da nave cai por causa de
uma turbulência subespacial. Harry Kim então detecta quinze cubos Borgs seguindo
na direção da nave. Quando todos acham que é o fim, os cubos passam reto sem parar,
com exceção de um, que reduz a velocidade apenas para fazer uma varredura preliminar
da Voyager. Intrigada
pela ação inesperada dos Borgs, Janeway ordena que Harry fique de olho na armada
para descobrir o que chamou a atenção deles e, em seguida, a capitã segue para
o seu gabinete. Lá, ela estuda todos os registros de encontros de capitães da
Frota com os Borgs. Pouco tempo mais tarde, as naves Borgs desaparecem dos sensores.
Ainda mais curiosa, ela diz a Paris para alterar curso da nave, seguindo as últimas
coordenadas dos cubos. Quando a Voyager chega ao local, a tripulação descobre
que aqueles quinze gigantescos cubos foram reduzidos a toneladas de destroços.
Tuvok detecta uma assinatura de arma alienígena e todos se dão conta de que existe
uma raça ainda mais poderosa do que a coletividade no quadrante Delta. A
descoberta provoca sentimentos mistos na capitã. Pode significar o ticket de passagem
pelo território Borg, um aliado em potencial, ou o total aniquilamento. Os sensores
detectam uma nave impenetrável de origem desconhecida, presa a um dos cubos. Chakotay
convoca um grupo avançado, que se transporta para investigar. Depois, um ser não-humanóide
aparece e ataca os oficiais, que voltam à Voyager não muito antes de ela ser atacada.
Quando a nave escapa, Kes diz à capitã que não é com os Borgs que eles deveriam
se preocupar, mas com a raça alienígena, designada pelos Borgs como "Espécie
8472". Horas
se passam e a tripulação finalmente chega à passagem Noroeste. Mas eles nem têm
tempo de se alegrar, pois descobrem da pior forma por que não há Borgs naquela
região: a passagem é na verdade um corredor com centenas de naves da Espécie 8472
emergindo de uma fenda inter-dimensional. Kes consegue captar o pensamento dos
alienígenas, sentindo um ódio frio vindo deles e a vontade de destruir tudo o
que encontrarem pela frente. Neste
momento, a capitã chama o comandante em particular para eles discutirem juntos
as alternativas. Na verdade, Janeway se sente perdida e desamparada, pois agora
sabe que não pode colocar a Voyager na rota dos 8472 ou enfrentar os Borgs em
seu espaço. Mas, ao mesmo tempo, ela também não está preparada para informar a
tripulação de que eles vão desistir de encontrar um caminho para casa. Percebendo
o quanto ela está cansada, Chakotay sugere que ela durma para clarear a mente.
Mas, em vez disso, ela vai até o holodeck procurando inspiração com Leonardo Da
Vinci. O artista a aconselha a apelar a Deus, contudo ela tem uma outra idéia:
apelar ao demônio. Convocando
outra reunião, Janeway avisa os oficiais superiores de que a Voyager fará um acordo
temporário com os Borgs, no qual a tripulação oferecerá um meio de derrotar os
alienígenas em troca de passagem segura pelo espaço da coletividade. Em meio ao
ceticismo dos oficiais e, depois, forte protesto de Chakotay, ela ordena que Paris
trace curso para a nave Borg mais próxima. Ao se aproximar de um cubo, a Voyager
é presa por um raio trator e Janeway é transportada a bordo da nave inimiga. Ela
propõe o acordo, mas, antes de conseguir ouvir uma resposta, dez naves da Espécie
8472 aparecem e destroem um planeta inteiro naquele sistema solar, junto com alguns
cubos. Comentários: A
terceira temporada foi fechada com chave de ouro. "Scorpion"
não é um episódio perfeito, nem o mais original de Voyager. Mas pode-se
dizer com toda a certeza que está entre os melhores da série. É uma hora de entretenimento
garantido, basicamente por três motivos: mostra os maiores vilões do universo
de Jornada, apresenta dramaticidade e conflito humano convincentes e honra
a premissa original do seriado como nenhum outro episódio o fez até agora. Há
quem diga que o episódio foi produzido, pois
estava fadado a acontecer desde que se estabeleceu que a Voyager estaria perdida
no quadrante Delta, a terra natal da coletividade. Mas de previsível ele não tem
nada. Ninguém imaginaria ver, na época de A Nova Geração, adversários ainda
mais poderosos do que os Borgs, ou ainda tantos cubos juntos de uma única vez.
Só em termos de efeitos visuais, "Scorpion" foi um espetáculo
digno de prêmio. A música de Jay Chattaway não poderia ter sido melhor executada. Mas,
como não é (apenas) de apelos estéticos que sobrevive uma série de televisão,
o destaque do segmento vai para o roteiro e pelo dilema a que submete os personagens.
A notícia de proximidade com o território Borg desestruturaria qualquer oficial
da Frota, por mais treinado que fosse. Ainda
bem que Brannon Braga percebeu que uma nave sozinha não sobreviveria a bilhões
de drones. Sendo a Voyager uma nave tão pequena
e com recursos limitados esse sentimento de iminência da morte se faz ainda mais
presente. A sensação de urgência foi muito
bem retratada pelos atores. Pela primeira vez, a tripulação funciona como uma
equipe de verdade, em que a participação de cada um é indispensável. Mas,
no contexto da história, talvez nem mesmo o melhor de cada um pode ser suficiente
para aliviar a tensão ou preparar a nave eficazmente para o pior. Fica claro que
os tripulantes não têm como evitar as ferroadas, a não ser dando a meia-volta
e se distanciando ainda mais do quadrante Alfa. Mas Janeway não está pronta para
dar tal ordem. Como
se todas essas adversidades não fossem suficientes, surge um conflito sério entre
a capitã e seu primeiro-oficial durante as discussões sobre o que fazer para assegurar
a sobrevivência da Voyager. Chakotay é extremamente cauteloso e racional, enquanto
Janeway procura uma solução mais arriscada e de resultado imediato. Ela não aceita
a hipótese de ter que reverter o curso e viajar no sentido contrário, e para justificar
seu plano de contatar os Borgs, usa de uma argumentação claramente incoerente
com as suas crenças enquanto ser humano e oficial da Frota Estelar. A verdade
é que é difícil manter a razão em uma situação como esta. O manual de regulamentos
não se aplica com a mesma lógica aqui fora e ela já está cansada disso. Na Federação,
capitães têm o apoio de almirantes e de uma poderosa frota de naves que garantem
a soberania do espaço dos planetas unidos. Mas no quadrante Delta a capitã conta
apenas com o apoio da sua tripulação. Vale
fazer um parênteses sobre o nível da conversa entre Janeway e Chakotay. O relacionamento
dos dois é incomum, mas não apenas por se tratar de uma oficial da Frota e um
Maquis. Eles estão praticamente em nível de igualdade, até porque a tripulação
é mista. Ainda assim, a palavra final é sempre dela, o que não impede que o comandante
expresse o seu descontentamento de forma, digamos, enérgica. Esta é uma das qualidades
de Voyager que a diferenciam das demais séries de Jornada; em nenhuma
outra nave da Frota alguém seria capaz de contradizer o oficial superior. É uma
pena que Chakotay permaneça em estado de coma na maioria dos episódios. A cena
da discussão foi a melhor entre os dois. Ótimos
também são os cenários e o novo visual dos Borgs, introduzidos no filme "Primeiro
Contato". Esses seres cibernéticos com certeza estão muito mais sinistros
e assustadores do que em A Nova Geração. O time de produção cenográfica
de Voyager foi composto por verdadeiros mágicos. Também merece elogios
David Livingston,considerado por muita gente o melhor diretor em Jornada.
Ele criou o ambiente de suspense com sucesso dentro do cubo Borg. Num geral, a
estética e qualidade da produção de "Scorpion" equiparam-se às
de um filme de cinema. Sobre os novos
alienígenas, cujo nome não se sabe, mas que são designados pelos Borgs como "Espécie
8472"; eles não são apenas bonitos e bem feitos. São diferentes, e isso é
uma coisa pela qual os fãs pediam há muito tempo. As raças da Série Clássica
eram muito parecidas com os humanos. Compreensível, dada a falta de recursos financeiros
da produção. Mas em A Nova Geração e Deep Space Nine essa tendência
permaneceu. O trekker mais fanático pode usar como desculpa o fato de o quadrante
Alfa ser habitado por espécies semelhantes. Mas essa lógica não pode ser válida
para o quadrante Delta. Até agora, a Voyager não parecia estar nos confins do
universo. Os 8472 não são os "humanóides da semana". São muito mais
que isso. São sinal do avanço da tecnologia de CGI e uma mudança drástica - e
positiva - na aproximação da franquia às raças alienígenas. A
Espécie 8472 é mortal e tecnologicamente muito avançada. Quem pode dizer isso
em primeira mão é Harry Kim, o "alferes camisa... amarela" oficial da
série. Seu encontro com a raça o deixa com uma ferida superficial, mas que se
espalha como um câncer à medida que as células alienígenas invadem seu organismo
e infectam cada sistema, literalmente consumindo-o de dentro para fora. A idéia
dos roteiristas só pode ter sido usar isso como um meio de dizer que esses seres
são maus. Na verdade, os 8472 são muito parecidos
com o que os Borgs eram quando foram introduzidos na segunda temporada de A
Nova Geração: simples, pouco profundos, vagos, embora intimidantes. Até a
frase "os fracos perecerão" equivale ao velho "resistir é inútil",
porém menos assustador. Enfim,
o ponto mais inteligente do episódio é quando o Doutor propõe usar as nanossondas
Borgs no tratamento de Harry. É daí que parte toda a lógica do restante da história.
Já que os Borgs aprendem de acordo com o que assimilam (enquanto a tripulação
da Voyager aprende investigando), a coletividade não consegue compreender a natureza
da resistência da Espécie 8472; e a capitã tem agora em suas mãos a chave para
subjugar os alienígenas. Assim,
um novo dilema surge para Janeway. A Voyager certamente seria destruída caso fosse
pega no meio da guerra. Mas reverter o curso significa abandonar toda a esperança
de voltar para casa. Além disso, como a tripulação
da Voyager pode esperar que os Borgs mantenham a sua parte do acordo, indo contra
a sua natureza? Como ajudar os Borgs - uma raça culpada pelo assassinato e assimilação
de bilhões - a destruir mais uma espécie só pela chance de voltar à Terra? Por
outro lado, e se a nave traçar um curso no sentido oposto, o que fariam se dessem
de frente com a Espécie 8472? A
incoerência aparece quando fica claro o problema de Janeway em tomar a sua decisão,
quando ela decide fazer o que for necessário para tirar a Voyager do sufoco -
inclusive cogitar a possibilidade de entregar a sensível informação sobre a Espécie
8472 para os Borgs em um tipo de barganha. É impossível não perceber a ironia
da situação: no piloto da série ela põe a segurança de alguns milhares de Ocampas
acima da de sua própria tripulação e acaba aprisionando sua nave no outro lado
da galáxia, enquanto aqui está pronta para assinar a sentença de morte uma raça
inteira, ao lado dos Borgs. A questão da incapacidade de a capitã se segurar na
hora de agir, levantada por Chakotay, é bastante oportuna e deve-se perguntar
o que isso significa, considerando que as ações de Janeway podem influenciar o
destino do quadrante inteiro. O
episódio apresenta uma cena final totalmente sem precedentes, que deixa todos
sentados na ponta da cadeira: um planeta inteiro explode e cubos Borgs desaparecem
como se fossem feitos de papel. É um "cliffhanger" no melhor sentido
da palavra, e o saldo da história é muito positivo, salvo falhas menores. "Scorpion"
transformou o quadrante Delta em um lugar desconhecido e interessante de novo,
uma sensação que havia desaparecido há anos, tendo sido substituída por um vazio
entediante. Também lidou de forma inteligente com a premissa da nave Voyager,
sozinha e perdida e, ao contrário de "Basics, Part
I", deixa o fã ansioso pela conclusão. Citações:
Leonardo da Vinci - "You'll get your
hands covered in goose grease." ("Você vai sujar as mãos com
graxa de ganso.") Janeway - "It's good for the skin."
("É bom para a pele.") Chakotay
- "This could be it, Captain. Borg space." ("Pode ser isso,
capitã. Espaço borg.") Janeway
- "Think good thoughts." ("Pensem em coisas boas.")
Janeway - "Three years ago I didn't even
know your name. Today I can't imagine a day without you." ("Hás
três anos eu nem sabia o seu nome. Hoje não conseguiria viver um dia sem você.")
Paris - "Who could do this to
the Borg?" ("Quem conseguiria fazer isso com os Borgs"?) Kes
- "Captain, it's not the Borg that we should be worried about, it's them."
("Capitã, não é com os Borgs que deveríamos nos preocupar, é com eles.")
Janeway - "What did it say to you?" ("O que ele lhe
disse?") Kes - "It said: 'The weak will perish'."
("Ele disse: 'O fraco perecerá'.") Janeway
- "What if I made an appeal... to the devil?" ("E seu apelasse...
ao diabo?") Neelix - "But
the Borg aren't exactly known for their diplomacy." ("Mas os
Borgs não são exatamente conhecidos por sua diplomacia.") Janeway
- "You are awfully quiet." ("Você está muito calado.")
Trivia:
Este é o último episódio de Jennifer Lien (Kes) no elenco fixo da série.
John Rhys-Davies
aparece de novo em Voyager como Leonardo Da Vinci no episódio "Concerning
Flight", da quarta temporada.
O mais curto teaser (sequência antes dos créditos de abertura) de Voyager
ocorre neste episódio. São apenas 21 segundos. O mais comprido é o de "Deadlock"
com quase 7 minutos.
Este episódio apresenta uma nave Borg cúbica pela sexta vez dentro da história
de Jornada. As duas primeiras foram em "Q Who" e "The
Best of Both Worlds", ambos de A Nova Geração. Depois "Emissary",
episódio-piloto de Deep Space Nine, trouxe um Cubo Borg, seguido anos depois
pelo filme para cinema "Primeiro Contato". Em Voyager,
"Unity" e "Scorpion"
completam a lista, pelo menos até agora.
"Fazer Borgs e a Espécie 8472 em CGI nos deixou muito felizes. Estamos bem
contentes com o tipo de coisa que podemos fazer com o computador, e mais felizes
ainda pois isso apresenta um preço que podemos pagar", disse Jeri Taylor,
produtora da série, sobre os efeitos especiais de "Scorpion".
Ficha
técnica: Roteiro de
Brannon Braga e Joe Menosky Direção de David Livingston
Exibido em 21/05/1997 Produção: 068 Elenco: Kate
Mulgrew como Kathryn Janeway Robert Beltran como
Chakotay Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres Robert
Duncan McNeill como Tom Paris Jennifer Lien como
Kes Ethan Phillips como Neelix Robert Picardo
como Doutor Tim Russ como Tuvok Garrett Wang
como Harry Kim Elenco
convidado: John Rhys-Davies como Leonardo Da Vinci
Episódio
anterior | Próximo episódio
|