MANCHETE
DO EPISÓDIO
Os Borgs finalmente acham a Voyager
e dão as caras no quadrante Delta
Episódio
anterior | Próximo
episódio
Sinopse:
Data Estelar: 50614.2.
Retornando
de uma missão na Expansão Nekrit em uma nave auxiliar, Chakotay e
a alferes Kaplan detectam um pedido de socorro com sinal da
Federação vindo de um planeta. Eles lançam uma bóia para
informar a sua posição à Voyager e aterrissam, sendo atacados por
um grupo de humanóides hostis assim que chegam à superfície.
Kaplan morre e Chakotay, ferido, é salvo por outro grupo, liderado
por uma mulher chamada Riley. Ela explica que faz parte de uma
cooperativa de diferentes espécies que foram abduzidas por
alienígenas e deixadas lá à própria sorte. Nem todos eles, no
entanto, são amigáveis.
Na Voyager, a tripulação detecta um cubo
Borg à deriva no espaço. Quando o infiltram, encontram 1.100
drones mortos. Uma investigação posterior revela que a nave deixou
de operar há cerca de cinco anos.
No
planeta, Chakotay fica chocado ao descobrir que Riley e os outros
são todos Borgs -- ou, pelos menos, foram. Não se tratou de
abdução; eles tinham sido assimilados pela Coletividade. Mas,
cinco anos atrás, o cubo em que estavam foi avariado por uma
tempestade eletrocinética que rompeu o elo dos drones com os Borgs.
Os que sobreviveram se instalaram no planeta, porém começaram logo
a lutar por comida e suprimentos.
Riley pede que Chakotay a ajude. Mas, por ora,
é o comandante que precisa de auxílio. Sua única opção é ligar
temporariamente sua consciência às daqueles que formam uma pequena
coletividade, com o intuito de curar. Mais tarde, quase recuperado
dos ferimentos, Chakotay sente-se mais próximo daquelas pessoas, em
especial Riley.
Rastreando
a bóia lançada por seu primeiro-oficial, a Voyager consegue
localizá-lo. Ele é transportado com Riley, que pede à capitã
ajuda para reativar o gerador no cubo, a fim de restabelecer o elo
neural entre os antigos drones. Riley crê que isso terminaria as
lutas e permitiria que todos trabalhassem em uma verdadeira
comunidade. Janeway não concede o pedido, levando em conta o risco
que tal ação representaria. Riley retorna ao planeta, onde usa da
consciência compartilhada para forçar a cooperação de Chakotay.
Ele pega uma nave auxiliar e faz tudo o que lhe é pedido. Assim que
a ligação é restabelecida, a nova coletividade destrói o cubo e
libera Chakotay, agradecendo-lhe e ao resto da tripulação pela
ajuda forçada.
Comentários:
Os Borgs fazem uma impressionante
primeira aparição em Voyager. Embora o episódio costume
ser subestimado por muitos fãs -- que esperavam mais ação na
história --, a direção e roteiro são impecáveis. "Unity"
vem para calar aqueles que não acreditam na capacidade de a série
render tramas boas e originais.
A
expectativa do público não passou desapercebida. Todos os
envolvidos na produção sabiam da responsabilidade que estavam
assumindo, pois assim que foram introduzidos na segunda temporada de
A Nova Geração, os Borgs se tornaram os vilões mais
populares de Jornada. Seu aparecimento em Voyager era
apenas questão de tempo. Afinal, já havia sido estabelecido que
eles eram nativos do quadrante Delta.
O diferencial do episódio é que a
Coletividade é vista por um outro ângulo. Normalmente, não é
possível lidar com os Borgs usando a boa e velha diplomacia. Não
dá para coexistir ou discutir com eles. O negócio é traçar um
curso na direção oposta, e em dobra máxima. Aqui, podemos não
apenas entender por que agem do jeito que agem, mas até concordar
com a sua filosofia -- o que torna a história tão perturbadora.
Riley é muito persuasiva. Mas ela convence por sua perspicácia,
inteligência e lucidez. Ela tem boa fé e oferece argumentos fortes
para querer restabelecer a ligação neural entre os habitantes do
planeta.
"Uma
família harmoniosa". É como Riley descreve a Coletividade.
Isto não deixa de ser verdade. Como em uma colméia, em que há a
cooperação mútua entre indivíduos, entre os Borgs não há
diferenças, disputas, preconceitos, ódio, discordância. Todos
vivem e trabalham por um propósito comum. Só há um porém nessa
história. Conforme Janeway comenta, essa família nasceu da
assimilação violenta de povos inocentes. O papel do indivíduo
desaparece e não há opiniões pessoais ou escolhas.
A própria cooperativa mostra como
pensar em coletividade pode ser uma faca de dois gumes. Os membros,
com seus nobres ideais, não hesitaram em usar Chakotay como um
marionete quando lhes parecia importante. Nesse ponto, eles não
são melhores do que os Borgs. Certo, manipular um indivíduo para o
"bem maior" nem se compara à destruição em massa de
toda uma espécie. Mas houve uma série de enganações,
meias-verdades e idéias pretenciosas.
Quem
é Riley para determinar o destino dos outros 80 mil habitantes
daquele planeta? Na verdade, o episódio quer que gostemos daqueles
ex-Borgs. Eles salvam a vida de Chakotay e destroem o cubo depois
que conseguem o que queriam. Mas em que a ação deles difere da dos
Borgs? Ao final da história, eles são a própria Coletividade.
Até quando seus ideais durarão, isso nunca saberemos.
A direção de McNeill enfoca muito o
lado humano dos personagens, e talvez por isso seja tão notável. A
história não é de Chakotay, embora ele esteja presente o tempo
todo. Mas temos novas amostras do relacionamento entre
primeiro-oficial e capitã. Janeway quase parece mostrar um olhar de
ciúmes na sala de reuniões. Ela procura esclarecer o que ele está
sentindo. Ela sabe que Chakotay e Riley estão próximos, mas quer
entender qual a natureza dessa proximidade.
Os
outros personagens são sub-utilizados, mas, reunidos em algumas
cenas, enriquecem bastante o episódio. Dois momentos em especial
devem ser lembrados. O primeiro é a tensão quando B'Elanna comenta
que pode haver um inimigo ainda mais poderoso do que os Borgs.
Talvez seja a falta desse medo nos outros episódios que tire o
realismo da série. O que poderia ser mais forte que os Borgs? Para
a tripulação, uma pergunta que nem merece resposta; para a capitã,
talvez alguém poderoso o suficiente para mandá-los para casa, ou
ao menos poupá-los de possíveis confrontos com a Coletividade.
A outra cena é a autópsia do cadáver
na enfermaria, com o humor do Doutor, o susto no olhar de B'Elanna e
a perplexidade de Kes. São momentos dramáticos.
Alguns
outros interessantes sobre a história... Como Riley foi assimilada
em Wolf 359 se aquele cubo -- o único no quadrante Alfa -- nunca
retornou para casa? Mesmo que tivesse voltado, como havia Klingons,
Cardassianos e Romulanos a bordo? Foi meio forçado. Outra coisa
estranha é o número de habitantes no planeta. Teoricamente eles
todos vieram do cubo... mas 80 mil indivíduos? E por que não
passou pela cabeça de ninguém na Voyager recuperar alguma
tecnologia na nave à deriva? Outra crítica é a morte totalmente
desnecessária da alferes Kaplan, e a perda de mais uma nave
auxiliar.
Em
todo caso, foi interessante rever as cenas da batalha de Wolf 359,
assim como acompanhar a evolução na qualidade dos efeitos visuais
da série. A Voyager (versão CGI, gerada por computador) está
muito mais manobrável e esguia do que antes. Daqui para frente, ela
vai fazer coisas que nunca fez, e se parecerá mais com um caça do
que com uma nave estelar. À medida que caminhamos para o final da
terceira temporada e entramos na quarta, fica muito claro que Voyager
quer cada vez mais se tornar uma série de ação.
Citações:
Chakotay - "You're saying we
are lost, Ensign?"
("Você está dizendo que estamos perdidos, alferes?")
Kaplan - "That depends what you mean by 'lost', sir."
("Depende do que quer dizer com 'perdidos', senhor.")
Riley - "It's not exactly a
United Federation around here, if you know what I mean."
("Não somos uma Federação Unida por aqui, se entende o
que quero dizer.")
Paris - "You know, they
oughta rename this place the 'Negative Expanse'. We haven't run
across anything interesting for days."
("Sabe, eles deveriam renomear este lugar a 'Expansão
Negativa'. Não vemos nada interessante há dias.")
Janeway - "If you're bored, Mr. Paris, I'm sure I can find
something else for you to do. The warp plasma filters are due for a
thorough cleaning."
("Se está entediado, sr. Paris, com certeza posso encontrar
alguma coisa para você fazer. Os filtros do plasma de dobra
precisam de uma limpeza completa.")
Paris - "Now that you mentioned it, Captain, I find this
region of space a real navigational challenge."
("Agora que mencionou isso, capitã, eu acho esta região
do espaço um verdadeiro desafio de navegação.")
B'Elanna - "It's like a ghost
ship."
("Parece uma nave fantasma.")
Harry - "But what caused the
shutdown in the first place?"
("Mas o que causou a desativação em primeiro
lugar?")
B'Elanna - "It could have been some kind of natural disaster,
or..."
("Poderia ter sido algum tipo de desastre natural,
ou...")
Harry - "Or what?"
("Ou o quê?")
B'Elanna - "Maybe the Borg were defeated by an enemy even more
powerful than they were."
("Talvez os Borgs tenham sido derrotados por um inimigo
ainda mais poderoso.")
Doutor - "I must say, there's
nothing like the vacuum of space for preserving a handsome corpse."
("Tenho que dizer que não há nada como o vácuo do
espaço para preservar um belo cadáver.")
Trivia:
Quando Ken Biller percebeu que ia escrever o primeiro roteiro Borg
para Voyager, tentou encontrar um jeito novo e interessante
de olhar para a Coletividade. “Como personagens, eles não são
tão interessantes, porque só fazem uma coisa”, disse. “Eles
perseguem e consomem seus inimigos incansavelmente.” Biller leu o
roteiro de "Primeiro Contato", que ainda não tinha
sido filmado, e ocorreu-lhe que os Borgs poderiam de alguma forma
perder essa característica. “De repente me veio a imagem da Torre
de Babel”, comentou, “essa comunidade incrivelmente complexa
tinha sido criada e se sua estrutura fosse abalada você teria todas
essas pessoas falando em idiomas diferentes, incapazes de se
comunicar. Me ocorreu que um grupo de ex-Borgs seria uma comunidade
interessante a explorar”.
Biller também traçou um paralelo com a quebra do bloco soviético,
e o novo período de nostalgia com relação ao comunismo, pela
visão de Riley, a ex-Borg. ”Por que temos que pensar que ser um
Borg é uma experiência tão horrível?”, brincou Biller.
“Talvez quando você se torna um Borg, a experiência é tão
extraordinária quanto Riley diz”.
O episódio foi dirigido por Robert Duncan McNeill (Tom Paris), que
teve vários problemas técnicos para solucionar. O cenário Borg
não veio do filme. “O set Borg, acredite ou não, era um corredor
com cerca de 1,20m de comprimento, curvado nas pontas”, disse.
“Era o menor set que eu já tinha visto na minha vida. Não
tínhamos espaço na plataforma para construir uma nave Borg grande,
porque os outros sets tinham ocupavam muito espaço. Todo espaço
que eles tiveram era de basicamente 1,20m em um semicírculo. Eu
disse ‘Vocês não podem fazer isso. Os Borgs deveriam ter cubos
enormes’. Acho que conseguimos esconder esse fato, e fazer parecer
como se eles estivessem num labirinto de túneis de verdade”.
McNeill também comentou sobre outras dificuldades de se filmar um
episódio com os Borgs. “O que assusta sobre os Borgs, como
diretor, é que eles gastam muito tempo na maquiagem. Você pode se
prejudicar com problemas na maquiagem. Tínhamos um Borg com um
braço mecânico. Ele tinha um braço que tinha de se parecer com
tesouras, mas os cabos não estavam funcionando. De repente você
olha no relógio e percebe que uma hora ou duas se passaram e você
não fez nada porque estava brincando com os cabos. O braço veio do
filme. O figurino e maquiagem vieram do filme. Era o novo Borg, mais
assustador”.
Aqui fica estabelecido que Chakotay é vegetariano, algo desmentido
no episódio "Timeless", do quinto ano, em que ele
e Harry comentam sobre o almoço: sanduíches de salame...
Segundo Chakotay, a Voyager está a 67 anos de distância de casa.
Mais uma nave auxiliar é perdida em “Unity”.
A Expansão Nekrit, cenário de “Fair
Trade”, é novamente mencionada.
O ator Ivar Brogger (Orum) volta a aparecer em Voyager como
Barus, no episódio “Natural Law”, do último ano.
A alferes Kaplan já havia aparecido em “Future’s
End”. Ela morre em “Unity”, mas é citada em “Imperfection”,
da última temporada da série.
Ficha
técnica:
Dirigido
por: Robert Duncan McNeill
História de: Kenneth Biller
Exibido em 12/02/1997
Produção: 059
Elenco:
Kate Mulgrew como
Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B'Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garrett Wang como Harry Kim
Elenco convidado:
Lori Hallier como Riley Frazier
Ivar Brogger como Orum
Susan Patterson como alferes Kaplan
Episódio
anterior | Próximo
episódio
|