MANCHETE
DO EPISÓDIO
Teoria do Desenvolvimento Paralelo transporta a Roma
Antiga ao espaço
Episódio
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Data Estelar:
4040.7.
Numa patrulha de rotina, a
Enterprise encontra os destroços da S.S. Beagle, uma nave de reconhecimento que
desaparecerecida seis anos antes. A Beagle era uma nave comandada pelo Capitão
R.M. Merrik e possuía tripulação de 47 pessoas. Merrik era um velho conhecido
de Kirk, da academia. Quando Spock projeta o caminho dos destroços durante o
tempo, descobre uma civilização Romana moderna no planeta IV do sistema 892. A
Enterprise então intercepta uma transmissão de televisão mostrando uma luta,
um gladiador matando “o último dos bárbaros” segundo a narração, que na
verdade era um dos tripulantes da Beagle, William B. Harrison.
Depois de se tele-transportarem ao planeta, Kirk, Spock e McCoy são
confrontados por um grupo de escravos fugitivos. O grupo de descida é capturado
e levado até o líder dos escravos, Septimus, um ex-Senador que agora é um
fiel adorador do “Sol”. Apesar do escravo Flavius querer matar o trio da
Enterprise, Septimus os aceita como amigos e oferece a eles uma agradável
hospitalidade. A extrema semelhança da civilização do sistema 892 com a dos
Romanos da Terra aparentemente é uma coincidência, segundo Kirk, demonstrando
a validade da Lei de Hodgekin de Desenvolvimento Planetário Paralelo.
Quando Kirk questiona os escravos sobre um homem chamado Merrik, ele descobre
que o líder e primeiro cidadão do império é chamado de Merricus. Quando Kirk
e seus amigos expressam o interesse de capturar Merricus, Flavius Maximus o
escravo que foi gladiador, se oferece para acompanhá-los. Mas, o grupo é
capturado por forças legionárias e colocados na prisão. Kirk questiona
Flavius sobre a instituição da escravidão no planeta e descobre que os
levantes contra o sistema praticamente cessaram após os escravos receberem
alguns direitos como assistência médica e pensão do estado. Kirk, Spock e
McCoy tentam fugir quando os guardas estão escoltando-os para falar com
Merricus, mas este antecipa a intenção do trio, desarmando-os e levando-os até
seus aposentos para uma conversa.
Merricus de fato é Merrik, e este diz a Kirk que foi até àquele planeta para
obter Iridium para fazer reparos na Beagle, que havia se danificado por causa de
um meteoro. No planeta, Merrik conheceu o Primeiro Cônsul Claudius Marcus. Ele
também decidiu que não poderia informar sobre a cultura do planeta para a
Federação sem contaminá-la. Merrik concordou em ficar, mas acabou por
condenar à morte seus tripulantes que não se adaptaram, enviando-os para a
Arena para lutar. O Cônsul ordena a Kirk que transporte a tripulação da
Enterprise para o planeta, poucos de cada vez. Em vez disso, Kirk alerta Scotty
dando “condição verde” como código de que havia e que estava com
problemas. Por causa da falta de cooperação de Kirk, Merrik envia McCoy e
Spock para lutar na Arena contra os gladiadores Achilles e o recapturado Flavius.
Durante a luta, Spock incapacita seus oponentes, salvando a vida de McCoy. Ambos
são reenviados para a prisão, enquanto Kirk é entretido por Drusilla, a
escrava pessoal do Proconsul, antes de sua execução.
Na Enterprise, Scotty se prepara para cortar a força do planeta inteiro
enquanto Kirk está para ser executado ao vivo pela televisão Romana. Antes que
a execução possa se concretizar, Flavius intervem e salva Kirk, mas é morto
por tiros de metralhadora antes que Scotty consiga cortar a força. Kirk então
vai tentar libertar Spock e McCoy da prisão, mas eles são cercados por
guardas, Merrik e o Proconsul.
Merrik, que havia roubado um comunicador sinaliza para que a Enterprise os
tele-transporte; infelizmente, durante a transmissão da mensagem, Merrik é
apunhalado pelo Proconsul, mas à tempo dele jogar o comunicador para Kirk, que
juntamente com Spock e McCoy são transportados segundos antes da cela em que se
localizavam ser cravejada por balas das metralhadoras dos guardas. A bordo da
Enterprise, Uhura descobre que os escravos fugitivos na realidade não eram fies
adoradores do “Sol”, mas adoradores do céu, céu de Deus.
Comentários:
"Mais uma vez, a Série
Clássica opta pela falta de acurácia científica (quais são as chances de
haver um planeta exatamente igual à Terra, mesmo levando em conta a vastidão
do Universo?) para transmitir com maior força uma metáfora que relacione o
episódio com a humanidade. Sem dúvida, é uma das marcas do criador Gene
Roddenberry, que foi perpetuada ao longo de toda a série original. É também
uma escolha totalmente desnecessária e não-recomendada.
O fato de termos uma cópia da Terra é ruim não só por tornar a tal
"mensagem da semana" óbvia demais, mas por ser apenas uma forma fácil
de se produzir um teaser interessante para o episódio ("Outra
Terra?", Fade Out) e de elevar à enésima potência a falta de
verossimilhança da já forçada "teoria do desenvolvimento paralelo dos
mundos", criada por Roddenberry para baratear a série usando sempre essa
desculpa para apresentar alienígenas com aparência e cultura humanas (essa
bobagem seria parcialmente redimida e legitimada com o excelente episódio "The
Chase", da sexta temporada de A Nova Geração).”
Salvador
Nogueira
Embora não seja a
maneira mais original, citar as palavras de Salvador Nogueira sobre
“Miri” é sem duvida a mais eficiente ao se começar a tecer algum
comentário sobre este segmento de Jornada nas Estrelas, uma vez que as
afirmações são totalmente validas mais uma vez. Embora entendamos a
necessidade de se caminhar dentro do orçamento, deve existir um limite definido
pelo bom senso para o uso de subterfúgios duvidosos. A tal teoria do
desenvolvimento paralelo está muito além deste limite.
“Bread and Circuses” tem alguns pontos positivos que acabam sendo
ofuscados por uma série de situações que não tem nenhuma credibilidade, como
a já citada impossibilidade cientifica de encontrar (mais) um planeta tão
semelhante a Terra. Se um já era difícil, que dirá dois, e o pior é que
outros viriam.
Mas neste segmento tal opção é extrapolada muito além do limite, ao propor não
uma “outra” Terra ambientalmente falando, mas apresentar uma civilização
similar em tudo aos Romanos de nossa Terra. Toda a cultura deste povo, sua
filosofia Marcial, seu amor pelos jogos, a onipotência e onipresença do estado
Romano, as roupas, os títulos, até mesmo os seus Deuses (Júpiter, Marte, e
Netuno) são os mesmos que os elemenotos Romanos de mais de 2000 anos atrás.
Existe apenas uma diferença aqui, pois nesta Roma, os Romanos falam Inglês.
Mas não é só neste ponto que o segmento peca. Outras concessões são feitas
para que a trama apresentada funcione, a começar pela SS. Beagle. Logo no
inicio ficamos sabendo que o seu capitão, R.M. Merik, não completou a Academia
da Frota Estelar e seguiu para o que Kirk chama de “Serviço Mercante” , o
que assumimos que seja um serviço civil. Sendo Merik um civil, devemos concluir
que comandava uma nave civil, e tal afirmação inspira algumas questões, como:
Por que uma nave civil estaria tão longe, em uma missão de pesquisa em um
setor não conhecido, numa função que parece ser atribuição da Frota
Estelar?
Sendo uma nave Civil, a Primeira Diretriz também se aplica ? Apesar de ser um
dos postulados mas controvertidos de Jornada nas Estrelas, por duvidar-se
de sua eficácia e aplicabilidade, não é de todo inesperado que qualquer
membro da Federação e não só da Frota Estelar, que se aventure a viajar pelo
espaço, esteja sujeito a ela, mas ainda assim não deixa de ser um fato pouco
explicado.
Sendo uma nave civil, por que eles usariam uniformes como os da Tripulação da
Enterprise, como sugere Spock ao perguntar a Septimus se ela havia visto homens
da tripulação da Beagle ?
O autor tem total compreensão de que todos estes elementos apresentados são
subjetivos e podem ser eventualmente justificados, de uma maneira ou de outra,
principalmente na Série Clássica, onde Federação e Frota Estelar eram
termos pouco definidos no universo de Jornada. A própria Primeira Diretriz
nunca pareceu ter a rigidez a qual só conhecemos em A Nova Geração.
Sabemos que é necessária uma dose de compreensão destas e outras questões ao
se analisar praticamente todos os episodio da serie, mas para tudo há limites,
como já foi dito antes, e quando a exceção vira regra, e passamos a maior
parte do episodio justificando este ou aquele acontecimento, ou mesmo ignorando
alguns, é sinal de que este limite foi ultrapassado. A partir de tudo isto fica
difícil creditar alguma simpatia ao segmento, que tem que lutar a todo o
momento contra a os efeitos nocivos gerados por tal escolha a sua verossimilhança.
Pena, pois existem alguns bons momentos na historia a começar pela escolha de
Gene Roddenberry de tratar o tema da fé e da crença religiosa. Menos por ser
uma série de ficção e mais por ser Roddenberry ateu, a escolha pela abordagem
cientifica de praticamente toda e qualquer situação é esperada, porem
criticada muitas vezes por certo exagero por parte do criador de Jornada.
Não que o autor (que é religioso) ache que o tema é necessário a Jornada
nas Estrelas como um fim em si mesmo, mas sendo a religião parte da cultura
da humanidade, que sempre foi o tema central de Jornada nas Estrelas,
extirpa-la totalmente do contexto da série sempre pareceu um exagero. Por isto “Bread
and Circuses” tem ao o mérito de mostrar o criador da serie ao menos
tentando lidar com um assunto sobre o qual não tinha muita conexão, o que em
si é louvável.
Sobre o tema, um cético poderia dizer que a abordagem de Roddenberry aponta
para o fato de que se há um filho de Deus (Son of God) em um longínquo planeta
do espaço, refazendo toda a historia messiânica 2000 anos depois, pode-se
concluir que não existe um só “Filho de Deus”. Já um crédulo pode usar o
mesmo argumento para dizer que o “Filho de Deus” está em todas as partes.
Embora o segmento tenha o cuidado de tratar da religião antes em seu período
de clandestinidade, o que rejeita as instituições religiosas (que nem sempre
cumprem o seu papel) de uma forma velada, o foco na filosofia do amor universal
como mensagem principal parece, ao menos para o autor, uma aposta acertada em
uma mensagem positiva a todos, o que acima de tudo, é o que realmente importa.
Existe ainda um outro ponto eventualmente relegado à religião em sua forma
mais pessoal, e tratado por Jornada nas Estrelas em seu sentido mais
amplo, que é a Redenção da Humanidade. Normalmente concluímos que a busca
pelo conhecimento irá fornecer a chave para esta questão, mas nas entrelinhas
podemos ver uma outra abordagem.
Flavius, o gladiador, vencedor de vários duelos na arena, que abraça a
filosofia de paz e irmandade e passa a devotar a vida a propagação desta
palavra, ainda que a sua forma, endurecido pelos anos na arena onde matar era
apenas um esporte. Flavius volta a Arena, onde morre, mas o faz defendendo o que
acredita. Ele dá a sua vida pela sua fé e por Kirk, que teria encontrado a
morte certa se não fosse pela ação de Flavius.
Outro que faz o mesmo caminho é Merik. O capitão da Beagle falhou em sua missão,
esqueceu seu juramento e entregou seus homens um a um. Com certeza é tipo que
consideraríamos desprezível, principalmente quando comparamos com Kirk, o
nosso protótipo do herói. Entretanto Merik não é simplesmente um vilão ou
um homem sem princípios, ele apenas teve medo, algo que normalmente acontece
como qualquer ser humano. Merik não tem inveja de Kirk, pelo contrario, ele
admira o capitão da Enterprise. No final, Merik faz o sacrifício supremo e
entrega a vida para salvar os homens da Enterprise.
Tanto Flavius quanto Merik alcançam à redenção em suas mortes, uma vez que dão
a vida pelos seus irmãos, e fazendo isto, completam o sentido da parábola de “Bread
and Circuses”.
A participação de Shatner aqui é boa, mas não é necessariamente destacada,
ao contrario de Nimoy e Kelley, que produzem situações bem tensas ao longo do
segmento e são responsáveis por uma das cenas mais fortes de Jornada nas
Estrelas, quando McCoy diz a Spock que o Vulcano não tem medo de morrer por
que tem medo de viver e falhar. Se Spock tem medo de viver é uma outra questão,
porém o diagnóstico de McCoy a respeito da obsessão do vulcano pela perfeição
é singular e exato.
Mas embora os dois passem todo o episodio as turras, a relação de amizade
entre eles e mais Jim kirk fica evidenciada em suas ações e preocupações.
Kirk sabe que precisa sacrificar seus amigos, mas tal situação claramente o
angustia, principalmente pela impotência a qual está sujeito a esta situação.
Na Arena Spock sabe que McCoy não sobreviverá sem sua ajuda e passa todo o
tempo mais preocupado com o medico do que com ele próprio, e na cela, McCoy
consegue ver além da atmosfera de calma aparente de Spock, pois conhece melhor
do que ninguém a alma do vulcano. No fim de tudo, o circulo se fecha entre os
três de uma forma natural tão natural que não deixa duvidas sobre a química
perfeita destes três personagens.
Scotty e Uhura tem atuação importante aqui. O primeiro ao mostrar o seu já
reconhecido talento como oficial comandante. Não é a primeira vez que nosso
bravo engenheiro tira nossos amigos de uma enrascada, apesar do “timimg” da
ação ter sido muito bem sincronizado com os eventos em Terra. Bom quando dá
certo.
Já Uhura é responsável por desfazer todo o mal entendido a cerca dos
Adoradores do Sol, intervenção absolutamente necessária a compreensão da
trama. Sendo a mensagem dos Adoradores do Sol a mensagem de uma minoria
perseguida pela disseminação da idéia de que todos os homens (e mulheres) são
iguais e da filosofia do amor universal, a encarregar Uhura de tal mensagem
parece a escolha lógica e justa.
O episódio flerta ainda com uma critica a voraz competição por audiência
entre as TVs e e seu vale tudo pela liderança entre os canais. Tal critica
muito pertinente naquela época, tendo em vista que foi tal conceito que acabou
por tirar a Série Clássica do ar, ainda é muito mais pertinente nos
dias atuais. Temos ainda outros clichês de Jornada, como o fato de mais
uma vez nosso trio principal passar algumas horas enjaulados, o affair de Kirk
em sua ultima noite com a bela Drusilla.
Logan Ramsey, como Claudius Marcus, da vida a um antagonista muito interessante,
e as participações de William Smithers (Merik) e Rhodes Reason (Flavius) também
são muito boas, pena que o episodio tenha se perdido muito mais um função do
background inadequado do que por suas qualidades intrínsecas. Um desperdício
de boas idéias e boas atuações estragados por um conceito absurdo.
Citações:
McCoy:
"Once, just once, I'd like to be able to land someplace and say, “Behold,
I am the Archangel Gabriel.”
("Uma vez que, apenas uma vez, eu gostaria de poder descer em algum
lugar e dizer, "Observem, eu sou o Arcanjo Gabriel".)
Spock: "I fail to see the humor in that situation, Doctor."
("Eu falho em ver o humor desta situação".)
Flavius: "What do you call those?"
("Como você chama isto?")
Spock: "I call them ears."
("Eu chamo de orelhas.")
Flavius: "Are you trying to be funny?"
("Está tentando ser engraçado?")
Spock: "Never."
("Nunca.")
McCoy: "I'm trying to thank you, you pointed-ear hobgoblin!"
("Eu estou tentando agradecer-lhe, seu duende de orelhas
pontudas.")
Spock: "Oh, yes, you humans have that emotional need to express
gratitude. You're welcome, I believe, is the correct response."
("Oh, sim, vocês humanos têm a necessidade emocional de expressar
gratidão. Não tem de quê, acredito, é a resposta correta.")
McCoy: "Do you know why you're not afraid to die, Spock? You're more
afraid of living. Each day you stay alive is just one more day you might slip
and let your human half peek out."
("Sabe por que você não tem medo de morrer, Spock ? Por que você tem
mais medo de viver. Cada dia que você permanece vivo é apenas mais um dia em
que você pode escorregar e deixar sua metade humana aparecer.")
Kirk: "It is one of our most important laws that none of us may
interfere with the affairs of others."
("Uma de nossas leis mais importantes é que nenhum de nos pode
interferir com os assuntos de outros.") Trivia:
A Paramount produziu épicos históricos, como Cleópatra. Parte deste figurino
foi usado no episódio.
A palavra sol em inglês (sun) tem semelhança com a palavra filho (son), o que
causa a falta de entendimento sobre a origem da religião dos “rebeldes”.
Tal situação é esclarecida apenas quando Uhura explica esta questão de lingüística..
Spock declara que a numero de mortos na segunda Guerra Mundial teria sido de 21
milhoes, quando na verdade, os mortos chegaram a 60 milhoes. Quanto a ficticia 3
Guerra mundial, Spock diz ter havido 37 milhoes de mortos. Em Jornada nas
Estrelas: Primeiro Contato Riker diz que 600 milhoes teriam morrido no
conflito.
Bartell LaRue, que anuncia os jogos na TV, é dono da voz do Guardião da
Eternidade em “The City on the Edge of Forever”.
Ficha
técnica:
Escrito por Gene Roddenberry e Gene L. Coon
Historia de John Kneubuhl
Direção de Ralph Senensky
Exibido em 15 de março de 1968
Produção: 43
Elenco:
William Shatner como James Tiberius
Kirk Leonard Nimoy como Spock DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy Nichelle Nichols como Uhura George
Takei como Hikaru Sulu
Elenco convidado:
William Smithers como Capt. R.M.
Merik
Logan Ramsey como Claudius Marcus
Lois Jewell como Drusilla
Rhodes Reason como Flavius
Sinopse por Alexandre
Bortuluci
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