MANCHETE
DO EPISÓDIO
Q
acompanha Picard em uma jornada
que fala muito sobre cada um de nós
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episódio
Sinopse:
Data Estelar:
desconhecida.
Gravemente ferido em um ataque Lenariano, Picard vai parar no que
parece ser um limbo claro e vazio, enquanto Beverly luta para salvar
sua vida. Lá, ele encontra Q, que informa o capitão de que ele está
morto e de que essa é a vida após a morte --e que Q é Deus.
Picard se recusa a acreditar que ele está morto, ou que Q possa ser
alguma forma de ser supremo. Mas Q está determinado a provar o
contrário. Ele mostra a Picard o que o matou: seu coração
artificial, que falhou. O capitão imediatamente sente um
arrependimento por seu passado impetuoso, em que entrou numa briga e
perdeu seu coração natural. Ele admite que, dada a oportunidade de
viver tudo de novo, ele faria as coisas de modo diferente.
Q aproveita a deixa
para dar uma nova chance a Picard. O capitão subitamente volta a
ser um jovem alferes em 2327 e Q dá a ele a oportunidade de reviver
seu passado e evitar a briga que fez com que ele perdesse seu coração.
Se ele for bem-sucedido, ele voltará ao presente com seu coração
real intacto, e a história da galáxia permanecerá a mesma. Se não,
ele morrerá naquele presente e passará a eternidade com Q.
Inicialmente, Picard foi esfaqueado quando ele alterou uma mesa de
jogo para ajudar seu amigo da Frota Estelar Corey a se vingar de um
Nausicaan que trapaceou no mesmo jogo um dia antes. Como ele quer
evitar esse conflito, Picard tenta convencer Corey a não enfrentar
o Nausicaan. Corey joga do mesmo jeito, o Nausicaan trapaceia e
vence, e Corey naturalmente pede a Picard que o ajude a se vingar.
Mas Picard se recusa, apoiado por outra amiga chamada Marta,
provocando revolta em Corey.
Picard também muda seu comportamento com relação a Marta. Antes só
amigos, agora ele passa a noite com ela. Mas, pela manhã, ela teme
que tenham arruinado sua amizade. Quando Picard, Marta e Corey se
encontram naquela noite, a tensão entre os três está no máximo.
Então as coisas pioram, quando três Nausicaans aparecem e provocam
o grupo, na esperança de iniciar uma briga. Picard vê os
Nausicaans se preparando para sacar suas armas e rapidamente derruba
Corey no chão para evitar que a briga ocorra. Mas, como Corey e
Marta não entendem as ações de Picard, eles vêem a ação como
traição e se afastam desgostosos, dizendo a Jean-Luc que eles não
são mais amigos. Q parabeniza Picard por ter mudado seu destino, e
o capitão é devolvido ao presente. Entretanto, ele retorna à
Enterprise como um tenente júnior.
Segundo
Q, tudo continua como deveria ser --as mudanças no presente de
Picard refletem as mudanças que ele fez na juventude. Mas Picard é
incapaz de trabalhar como um oficial de astrofísica de baixa
patente. Desorientado pela falta de respeito que ele precisa
enfrentar nas mãos de seus ex-subordinados, ele fala com Troi e
Riker sobre suas chances de avanço, e fica chocado ao ouvir que,
embora ele seja um oficial bom e confiável, ele não se destaca.
Desesperado, Picard chama Q e implora para que possa restaurar tudo
ao que era antes e morrrer, em vez de viver como um homem sem importância.
Q concorda e permite que a briga de 2327 ocorra. Entretanto, no
momento em que Picard é esfaqueado no coração, ele acorda na
enfermaria, cercado por Beverly, Worf e Riker. Apesar do trauma,
Picard sente gratidão por Q, que deu a ele uma chance de entender
por que ele é a pessoa que é hoje.
Comentários:
"Tapestry"
não é só um roteiro extremamente inspirado; é uma lição de
vida. Diferentemente de muitos episódios de Jornada, ele não
é meramente alimento para uma discussão filosófica. Mais que
isso, ele transmite uma mensagem que é aplicável a todos nós,
independentemente do que fazemos ou em qual século estamos. Picard
pode estar no século 24, mas é tão humano quanto qualquer um na
audiência, e sofre as mesmas angústias que qualquer um.
Se arrepender de
coisas que se fez no passado é algo que todos os humanos
compartilham. "Tapestry" nos ensina, de forma muito
mais contundente e inteligente do que o faz o filme "Jornada
nas Estrelas V: A Última Fronteira" (que chega a tocar no
tema, mas tropeça no enredo perdido demais para se concentrar no
que realmente importa), que nossos erros do passado constroem nossos
acertos do futuro.
Picard se esqueceu de que a pessoa consciente e responsável que ele
é no presente só veio a existir porque ele foi audaz e
inconsequente no passado --foram os erros que o ensinaram a ser
audacioso, mas cuidadoso. Quando ele tenta converter seu passado em
sua concepção de ideal do presente, se vê em uma vida
absolutamente medíocre, não passando de um tenente júnior
especializado em astrofísica. Como ele mesmo coloca, ao puxar um
fio solto de sua vida, toda a tapeçaria se desmanchou diante de
seus olhos.
É uma mensagem e tanto, e uma que não agride o telespectador com o
típico moralismo trekker que costuma incomodar de vez em quando. O
trabalho é contundente, mas não óbvio. Ninguém realmente espera
o que está por vir --todos são enganados, junto com Picard,
acreditando que o melhor seria realmente evitar o esfaqueamento que
levaria o então alferes a usar um coração artificial. A conclusão
da mudança naquele evento é, por consequência, tão arrebatadora
para Picard quanto para o resto da audiência.
O uso de
Q nesse episódio é provavelmente o melhor em toda a série. O
personagem sempre mostra o seu melhor quando se torna um vilão ambíguo,
que na verdade quer transmitir uma lição à humanidade ou a seu
"amigo" Jean-Luc. Foi assim em "Q Who?"
(da segunda temporada) e é agora em "Tapestry".
Essa faceta de Q certamente o faz muito mais interessante do que a
caracterização de "malvadão onipotente" que marcou "Encounter
at Farpoint", "Hide and
Q" e "True-Q",
por exemplo.
Esse episódio inspirou muitos fãs ao longo dos anos a defender uma
versão de Jornada nas Estrelas ambientada na Academia da
Frota Estelar. Vale lembrar que essa defesa é altamente falaciosa.
O episódio só funcionou porque tínhamos um Picard velho tendo que
atuar no lugar de seu contraparte novo. Fossem todos realmente os
alferes daquela época, o enredo não passaria de um "Barrados
no Baile" espacial, com aventuras e desventuras de jovens que
brigam com Nausicaans e paqueram mil garotas. Curto e grosso, seria
intragável.
Somente a adição de um componente extra (a maturidade de Picard)
foi capaz de colocar as coisas fora dos eixos e tornar o episódio
dramaticamente interessante (além, é claro, de tudo se passar em
um ambiente "post-mortem" e de todas as consequências
para o futuro do capitão).
Patrick Stewart tem
uma atuação excepcional como Picard, e John de Lancie também é mágico
como Q. Os dois juntos têm uma química que é difícil de quebrar.
E numa situação dessas, tudo funciona maravilhosamente. Não há o
que criticar. O episódio é todo só dos dois, mas é tudo de que
realmente precisamos.
A execução é perfeita, lembrando obras cinematográficas. Além
da qualidade extraordinária da maquiagem dos Nausicaans (que depois
seriam "amaciados" em Enterprise), a cena do
esfaqueamento de Picard é espetacular. Quando da primeira vez vemos
que o capitão gargalha ao ser esfaqueado, ficamos de sobreaviso
quanto ao possível "payoff" da situação. E ele vem,
quando Picard tem uma segunda chance e restabelece sua briga com os
Nausicaans, restaurando o futuro que ele conhece. O conceito e a
execução lembram muito o clássico do cinema "A Última Tentação
de Cristo", só adicionando à qualidade do episódio.
"Tapestry" é para ser visto e revisto --certamente
disputa o prêmio de melhor episódio da Nova Geração. É
um drama humano com o qual qualquer um pode se identificar, em um
contexto totalmente além da capacidade dos programas não-sci-fi.
Para parafrasear outro grande episódio da série, "Tapestry"
agrega "o melhor dos dois mundos". Espetáculo.
Citações:
Q - "Welcome to the afterlife,
Jean-Luc. You're dead!"
("Bem-vindo à vida após a morte, Jean-Luc. Você está
morto!")
Picard - "Q, what is going on?"
("Q, o que está acontecendo?")
Q - "I told you. You're dead, this is the afterlife, and I'm
God."
("Eu já lhe disse. Você está morto, essa é a vida após a
morte, e eu sou Deus.")
Picard - "You are not God!"
("Você não é Deus!")
Q - "Blasphemy! You're lucky I don't cast you out or smite
you or something."
("Blasfêmia! Tem sorte por eu não expulsá-lo ou castigá-lo
ou algo assim.")
Picard - "No. I am not dead. Because I refuse to believe
that the afterlife is run by you. The Universe is not so badly
designed."
("Não, eu não estou morto. Porque me recuso a acreditar que a
vida após a morte seja controlada por você. O Universo não é tão
mal projetado.")
Trivia:
"Tapestry" foi baseado em uma fala de Picard do
episódio do segundo ano, "Samaritan Snare", em que
ele diz a Wesley Crusher que tem um coração artificial.
A
briga de Picard com o Nausicaan era parte de um outro roteiro,
chamado "A Q Carol", um episódio baseado em "A
Christmas Carol", de Charles Dickens. Nesse roteiro Q dava a
chance a Picard de consertar alguns "erros" que cometera
na vida, entre eles a briga com o Nausicaan, a chance de criar uma
família, evitar que Jack Crusher fosse morto na USS Stargazer e
fazer as pazes com seu irmão, Robert Picard.
Desde o episódio-piloto, "Encounter at
Fairpoint", este é o primeiro episódio com Q que não
contém no título um trocadilho com o nome da entidade onipotente,
como "Hide and Q", "Q
Who?", "Deja Q", "QPid"
ou "True-Q".
Ficha
técnica:
Escrito por Ronald D. Moore
Direção de Les Landau
Exibido em 15/02/1993
Produção: 141
Elenco:
Patrick Stewart como
Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Elenco convidado:
John de Lancie
como Q
Ned Vaughn como alferes Cortan "Corey" Zweller
J.C. Brandy como alferes Marta "Marty" Batanides
Marcus Nash como o jovem alferes Jean-Luc Picard
Clint Carmichael como um Nausicaan
Rae Norman como Penny Muroc
Clive Church como Maurice Picard
Majel Barrett-Roddenberry como a voz do computador
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