A Nova Geração
Temporada 6

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Data e Worf procuram o pai, mas o
Klingon entra num 'mato sem cachorro'

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Sinopse:

Data Estelar: 46578.4.

A Enterprise está atracada à estação espacial Deep Space Nine, acompanhando os reparos de instalações Bajorianas danificadas durante a ocupação Cardassiana. Worf, durante uma refeição com Geordi na estação, é observado discretamente por um misterioso alienígena. Depois que Geordi parte, o alienígena, um Iridiano chamado Jaglom Shrek, se aproxima de Worf. Ele afirma que o pai do Klingon, Mogh, não morreu em Khitomer há 25 anos, como todos imaginavam. Shrek diz ao descrente Worf que Mogh foi levado pelos Romulanos para um campo de prisioneiros distante após o massacre. Por um preço, diz Shrek, ele irá revelar o local. Furioso, Worf ainda se recusa a acreditar nele, dizendo que um Klingon preferiria morrer com honra a viver como um prisioneiro.

Enquanto isso, na engenharia da Enterprise, o doutor Julian Bashir, de DS9, Data e Geordi examinam um cilindro eletricamente carregado recentemente recuperado no quadrante Gama. Conforme estão trabalhando, Bashir expressa uma fascinação incontida pelas operações do corpo andróide de Data. As conexões de energia finais são feitas à câmara de dilítio, e Geordi tenta ligar o aparelho. Subitamente, o cilindro libera um tentáculo de energia que atira Data ao chão. Ele então se levanta, vendo-se em uma estranha e surreal versão de um dos corredores da Enterprise. Seguindo um som de batidas metálicas, Data entra em outro corredor para ver um ferreiro. A face é de um jovem dr. Noonien Soong, o criador de Data --o mais perto que ele chega de ter um pai.

Data busca o aconselhamento de Picard sobre sua visão, explicando algumas das interpretações que ele pôde derivar, baseadas em outras culturas. Picard encoraja Data a explorar o que a imagem representa para ele pessoalmente. Data então retorna a seus aposentos e faz uma pintura do que ele viu durante a experiência. 

Enquanto isso, Worf chega ao setor Carraya. Aterrissando no planeta, onde o suposto campo de prisioneiros Romulanos estaria localizado, ele faz a longa jornada pela floresta a fim de encontrar seu pai. Durante o percurso, ele encontra Ba'el, uma bela mulher Klingon, tomando banho em um lago próximo. Ela fica chocada ao descobri-lo espiando entre os arbustos. Worf diz que está lá para resgatá-los, o que a confunde, porque ela se sente em casa. Antes que ele possa responder, eles ouvem alguém se aproximando. Worf volta para a mata cerrada, pedindo a Ba'el que não conte a ninguém sobre ele. Então um guarda Romulano chega e a escolta para longe do lago. 

Após pintar dezenas de quadros em uma tentativa fracassada de despertar sua visão, Data decide recriar o incidente que causou seu desligamento inicial. Geordi e Bashir relutantemente concordam em ajudá-lo, e dessa vez Data volta a ver o dr. Soong em sua roupa de ferreiro, forjando uma asa de pássaro, que se transforme em um pássaro vivo após ser afundado em um balde de água. Desta vez, Soong fala com Data, dizendo estar orgulhoso do andróide. Segundo ele, Data estava se tornando mais que uma máquina e uma jornada maravilhosa estava se abrindo para ele. Após esse "sonho" ainda mais incomum, Data resolve se desligar periodicamente por um breve período de tempo, numa tentativa de "sonhar" mais. 

Worf segue a mulher Klingon e o guarda até o complexo Romulano, onde ele vê um grupo de Klingons, composto por jovens e idosos. Ele silenciosamente puxa um deles de lado, um senhor chamado L'Kor. O Klingon diz a Worf que seu pai, Mogh, não estava lá, tendo morrido em Khitomer. Furioso por ver seus camaradas presos, Worf se oferece para ajudar a libertar os 73 Klingons que estão lá. L'Kor lamentavelmente diz a Worf que ele não deveria ter vindo. Subitamente, três outros Klingons vêem Worf. Conforme dois deles o agarram e o derrubam, L'Kor revela que ninguém vai deixar o campo, nem mesmo Worf.

Continua...

 

Comentários:

A primeira parte de "Birthright" é interessante, ainda que fundamentalmente desencontrada. Os efeitos maléficos desses problemas de concepção do episódio são mais pronunciados na segunda parte, mas a raiz estrutural já se observa de cara.

O episódio abre com uma premissa comum: dois personagens principais, Data e Worf, partem, independentemente, em busca de seu "pai", mas acabam fracassando na busca. Em vez disso, descobrem algo sobre si mesmos que é totalmente novo e surpreendente. O arco de Data já é fechado na primeira parte; o de Worf só se resolve na continuação.

Não fosse mais nada, só isso já apresenta um problema sério na estrutura dramática do episódio. Dois enredos paralelos andando em ritmos diferentes e destruindo a eventual simetria entre os personagens que os roteiristas inicialmente pareciam querer introduzir.

O resultado final é que a busca de Data pelo significado de suas "visões", por mais concluída que estivesse ao final de "Birthright, Part I", ainda apresenta uma sensação de inacabada (isso pelo fato de, mesmo inconscientemente, a audiência estar conduzindo as histórias de Worf e de Data ao mesmo tempo em suas cabeças). Esse efeito mina totalmente o aspecto mais interessante do episódio --a capacidade do andróide de "sonhar".

Não que seja o caso de jogar toda a sequência no lixo: muito ao contrário, se há algo que sustenta a primeira parte do episódio, isso é o arco de Data. Tanto do ponto de vista conceitual (pode um andróide sonhar?), como do ponto de vista dramático (a jornada de um personagem rumo ao auto-conhecimento), trata-se do ponto alto do segmento. Isso sem falar no melhor: a execução.

Os sonhos de Data são soberbamente retratados com o uso de um ângulo de câmera mais baixo e uma condução fugidia --uma grande jogada do diretor veterano Winrich Kolbe. Além disso, as imagens difundidas no sonho (o ferreiro, a asa que vira um pássaro e que voa para todos os lados, sem limitações) são bastante representativas do potencial que se abre para o andróide: com o desenvolvimento de sua "imaginação", Data agora está livre, assim como o pássaro, para voar para onde quiser. Seu criador, o dr. Noonien Soong, tal como um ferreiro, partiu de um material inerte e inorgânico e produziu uma forma de vida singular e capaz de alcançar vôos cada vez maiores. As imagens ecoam de forma intensa toda a evolução de Data e servem muito bem à idéia geral do episódio, no que diz respeito ao andróide.

Ainda se nada disso fosse interessante, só aquele vôo de câmera panorâmico para fora da Enterprise e de volta, como se Data fosse um pássaro, já valeria o episódio. Talvez a tomada de efeitos visuais mais bonita já feita da Enterprise-D. E a música, de Jay Chattaway, também é de tirar o fôlego. Se eu tivesse uma visão daquelas toda noite, também estaria ansioso para repetir o fenômeno (como nosso amigo positrônico).

A presença de Julian Bashir nos experimentos de Data (e dos cenários de Deep Space Nine no episódio como um todo) trazem um toque especial à situação. O crossover feito entre as séries fica meio perdido pela falta de um enredo que o justifique, mas ainda assim é um interessante elemento que une mais fortemente o universo de Jornada como um todo.

Agora, às más notícias: o trabalho de Worf no episódio. A premissa até que começa interessante --um alienígena diz que o pai de Worf não morreu, mas foi capturado pelos Romulanos e está atualmente em um campo de prisioneiros. O Klingon parte imediatamente à procura de seu pai.

Antes de mais nada, uma nota interessante: Worf roubou aquela nave auxiliar? Porque pedir autorização para o capitão Picard (ao menos em tela) ele não pediu.

O grande problema com a "saga" de Worf é que ela é arrastada até dizer chega. Enquanto Data segue em sua busca dinâmica pela explicação de seus sonhos, com a estratégia das pinturas e a recriação do experimento original, Worf só amargura o dilema de acreditar ou não no alienígena e partir em busca de seu pai. Em tese, os personagens deveriam se ajudar na hora de resolver seus respectivos dilemas (como sugere o diálogo existente entre Worf e Data durante o episódio), mas nada disso acaba transparecendo de forma efetiva (mais um problema no suposto paralelismo dos enredos).

Para completar a catástrofe, o episódio termina numa espécie de anticlímax. O pai de Worf está de fato morto, como sempre pensamos. A jornada dele até aquele lugar foi inútil e em vão. Por mais que os roteiristas tentassem salvar a tensão do episódio estabelecendo que Worf será mantido cativo por seus colegas Klingons, é inegável que uma história está terminando (a busca de Worf por seu pai) e outra está começando (a busca de Worf por um meio de sair dali). Até por isso o episódio é estranho, e sua conclusão já fica, desde já, prejudicada.

No fim das contas, "Birthright" é um episódio que não justifica de nenhum modo o fato de ser duplo. Por mais que a segunda parte possa ser interessante (mas não fique muito entusiasmado, porque ela não é), ainda assim não há sentido em criar uma história em dois episódios que rompe tanto com o senso de continuação entre eles. O único motivo pelo qual o episódio da semana que vem é um "Part II" é porque os produtores precisavam de um "Da última vez, em Jornada nas Estrelas: A Nova Geração..." para explicar o que Worf estava fazendo naquele mundo alienígena com um monte de Klingons e Romulanos...

 

Citações:

Bashir - "Does your hair grow?"
("O seu cabelo cresce?")
Data - "I can control the rate of my filament replenishment. However, I have not yet had a reason to modify the length of my hair. Why do you ask?"
("Eu posso controlar a taxa de reposição de meus filamentos. Entretanto, ainda não tive razão para modificar o comprimento do meu cabelo. Por que pergunta?")
Bashir - "Oh, just curious."
("Oh, só estou curioso.")

Data - "Is something wrong, doctor?"
("Há algo errado, doutor?")
Bashir - "Well, you're breathing!"
("Bem, você está respirando!")
Data - "Yes. I do have a functional respiratory system. However, its purpose is to maintain thermal control of my internal systems. I am in fact capable of functioning for extended periods in a vacuum."
("Sim. EU tenho um sistema respiratório funcional. Entretanto, seu próposito é manter controle térmico de meus sistemas internos. Eu sou de fato capaz de funcionar por extensos períodos no vácuo.")
Bashir - "And you have a pulse!"
("E você tem pulso!")
Data - "My circulatory system not only produces bio-mechanical lubricants, it regulates micro-hydraulic power. ... Most people are interested in my extraordinary abilities; how fast I can compute, my memory capacity, how long I will live. No one has ever asked me if my hair will grow, or noticed that I can breathe."
("Meu sistema circulatório não só produz lubrificantes biomecânicos, ele regular energia microhidráulica. ... A maioria está interessada em minhas habilidades extraordinárias; quão rápido posso computar, minha capacidade de memória, o quanto vou viver. Ninguém nunca perguntou se meu cabelo cresce, ou notou que posso respirar.")
Bashir - "Well, your creator went to a lot of trouble to make you seem human. I find that fascinating."
("Bem, seu criador teve muito trabalho para fazer você parecer humano. Eu acho isso fascinante.")

Bashir - "Data, perhaps we are going about this the wrong way."
("Data, talvez estejamos olhando isso do jeito errado.")
Data - "How so?"
("Como?")
Bashir - "Well, maybe you had a dream or hallucination."
("Bem, talvez você tenha tido um sonho ou alucinação.")
Data - "I am not capable of either of those functions."
("Não sou capaz de nenhuma dessas funções.")

Data - "I plan to shut down my cognitive functions for a brief period each day. I hope to generate new internal visions."
("Pretendo desligar minhas funções cognitivas por um breve período a cada dia. Espero gerar novas visões internas.")
Bashir - "It sounds to me like you are talking about dreaming."
("Parece que você está falando de sonhar.")
Data - "An accurate analogy."
("Uma analogia acurada.")

Trivia:

Este é o primeiro e único episódio da Nova Geração em que há um crossover com a (na época) recém-lançada Deep Space Nine, e foi feito de uma forma extremamente econômica. A única cena em que a Enterprise-D aparece atracada na estação é a mesma do episódio-piloto "Emissary", e é repetida diversas vezes durante o episódio.

O único personagem de DS9 a dar as caras e até visitar a Enterprise neste episódio é o dr. Julian Bashir. O'Brien é citado por La Forge. Sisko, Kira, Dax, Odo e Jake não são lembrados, porém os fãs de Morn podem se preparar, pois ele faz uma aparição no Promenade e, claro, não fala uma palavra sequer!

James Cromwell interpreta aqui o Yridiano Jaglom Shrek. Cromwell é mais conhecido como o Zefram Cochrane do oitavo filme de Jornada para cinema, "Primeiro Contato", e já havia participado da Nova Geração como Nayrok, no episódio "The Hunted", da terceira temporada. Durante as filmagens de "Birthright" James Cromwell quebrou a perna, e diversas cenas em que seu personagem apareceria não chegaram a ser filmadas.


Ficha técnica:

Escrito por Brannon Braga
Direção de Winrich Kolbe

Exibido em 22/02/1993
Produção: 142

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

James Cromwell como Jaglom Shrek
Jennifer Gatti como Ba'el
Cristine Rose como Gi'ral
Siddig El Fadil como Dr. Julian Bashir
Richard Herd como L'kor

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