A Nova Geração
Temporada 6

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Segmento arranca o melhor de Deanna
Troi e dá nova face aos Romulanos

Episódio anterior   |   Próximo episódio

Sinopse:

Data Estelar: 46519.1.

Troi subitamente desperta e descobre que foi alterada cirurgicamente para parecer com uma oficial Romulana e que foi levada para uma de suas aves-de-guerra. Ela é informada por N'Vek, o subcomandante da nave Romulana, que, se ela tem esperanças de voltar à Enterprise viva, ela precisa fingir ser a major Rakal, do Tal Shiar, o serviço de inteligência imperial. Suas instruções: ordenar a comandante da ave-de-guerra a colocar a nave em curso para o setor Kaleb, com uma misteriosa carga. N'Vek apresenta Troi à comandante Toreth, que tenta, sem sucesso, intimidá-la. Destemida, Troi ordena um curso para o setor Kaleb.

Enquanto isso, na Enterprise, Stefan DeSeve, um alferes da Frota Estelar que desertou e se juntou aos Romulanos anos atrás, é trazido a bordo depois de arriscar sua vida para voltar ao espaço da Federação. O comandante Riker imediatamente o prende por traição. DeSeve diz que é urgente que ele fale com o capitão Picard. Riker transmite a mensagem e o capitão se encontra com o desertor. DeSeve então transmite um recado vindo do embaixador Spock --ele quer que a Enterprise encontre um cargueiro Corvallen e leve sua carga até o território da Federação. Sem que Picard saiba, o ponto de encontro é no mesmo setor para o qual Troi enviou a ave-de-guerra Romulana.

Enquanto isso, N'Vek revela a Troi o conteúdo da carga secreta. Dentro dos contêineres estão um membro importante do Senado Imperial e seus assistentes, mantidos em estase. Eles estão desertando para a Federação, e B'Vek é parte do movimento. A verdadeira major Rakal foi morta para que Troi, uma oficial da Frota Estelar, pudesse substituí-la. Troi continua fingindo ser Rakal, ciente de que participa de uma missão importante.

Como planejado, a ave-de-guerra encontra o cargueiro Corvalle. Troi sente que o capitão mercenário do cargueiro pretende enganá-los, e N'Vek subitamente o destrói, dizendo que foi a major Rakal quem ordenou para fazê-lo. A comandante Toreth fica furiosa e diz a Troi que ela é a responsável pelas mortes. Troi exige que a ave-de-guerra mantenha posição, ative seu dispositivo de camuflagem e espere.

Ao mesmo tempo, Picard está intrigado com o fato de que a Enterprise não encontrou o cargueiro Corvallen. Picard então descobre de DeSeve que a mensagem com as instruções não veio diretamente de Spock, mas de um outro membro do movimento de unificação Romulano. Picard ordena a Data que inicie uma busca padrão pelo cargueiro desaparecido.

Na ave-de-guerra, Troi critica N'Vek por destruir o cargueiro tão insensivelmente. N'Vek, sem remorso, diz que Troi deve ordenar curso para uma base da Frota Estelar em Draken IV. Troi segue suas ordens e ordena Toreth a estabelecer o curso. Repentinamente, os sensores da ave-de-guerra detectam a presença de outra nave --a Enterprise. Ansiosa para retornar à sua nave, Troi ameaça acusar N'Vek de traição se ele não permitir que a Enterprise descubra a posição da ave-de-guerra, mesmo sob camuflagem.

N'Vek consegue que um de seus colegas na engenharia cause um desbalanceamento leve dos motores, suficiente para a Enterprise detectar a presença da nave. Toreth percebe que a nave da Federação está reagindo como se estivesse detectando-os e resolve testar essa suposição marcando um curso de colisão com a Enterprise.

Naturalmente, Picard ordena que sua nave troque de curso para evitar o impacto, e Toreth decide que irá atacar. Troi ordena Toreth para não fazê-lo. Quando a comandante se recusa a obedecer, Troi a tira do comando, com a ajuda de N'Vek, e assume ela mesma o posto. Ela abre um canal com Picard, pedindo para ser levada à bordo da Enterprise para uma suposta negociação diplomática para contornar o incidente. Os escudos da Enterprise são baixados, e Troi ordena que N'Vek dispare os disruptores sobre a nave da Federação. Quando os oficiais de Picard reagem ao ataque, três desertores Romulanos, ainda em stasis, se materializam na ponte. 

Percebendo que o tiro de disruptor era apenas um embuste para esconder o raio do transporte, Toreth só assiste enquanto um piloto vaporiza o traidor N'Vek. Toreth tenta acabar com Troi, mas Worf trava em seu sinal de transporte e a traz para a Enterprise. Ela está aliviada, por voltar para casa, e ao mesmo tempo chateada, pela perda de N'Vek. Picard a consola, dizendo que seu esforço não foi em vão.

 

Comentários:

"Face of the Enemy" é um episódio brilhante de tantas formas que é difícil escolher qual dos aspectos interessantes do segmento devemos destacar primeiro. Optando pelo mais raro deles na série, ficaríamos com o uso espetacularmente bem-executado de Deanna Troi. É a primeira vez em que a conselheira é usada de uma maneira que imponha um real desafio (e, por consequência, uma real evolução) para a personagem.

Aqui finalmente Troi é tirada de seu ambiente seguro, de sua confortável poltrona na ponte da Enterprise, e exposta a uma missão legitimamente importante e perigosa. Nada de estupros mentais, metáforas de perigo ou coisas semelhantes. Aqui é a mais dura realidade: um passo em falso, você morre. De quebra, há um também desafio interior para a personagem: que diabos estou eu fazendo aqui nesta nave com essas orelhas e essas sombrancelhas?!?

O resultado disso é a melhor atuação de Deanna e de Marina Sirtis na série. A transição que é feita da conselheira para a major do Tal Shiar, ao longo dos 45 minutos, é impressionante. No começo, ela estava totalmente intimidada, muito mais a velha Troi que conhecemos. No final, ela poderia muito bem ser revelada como uma Romulana de verdade que ninguém ia achar muito absurdo. Nesse caso, o roteiro e a atriz andaram de mãos dadas para fornecer essa transição tão realista e bem colocada.

Aliás, é impressionante como um bom roteiro é capaz de usar até as características de um personagem que antes pareciam absolutamente inconveniente. Nas primeiras temporadas da série, Troi era sumariamente cortada das histórias porque seus poderes empáticos acabariam com qualquer mistério assim que os alienígenas vilões da semana aparecem na tela da Enterprise para bater um papo com Picard. Aqui, a empatia da personagem cai como uma luva em toda a situação (quando ela denuncia as más intenções do cargueiro mercenário), favorecendo o andamento da história e soando absolutamente real.

Só esse feito já bastaria para aplaudirmos Naren Shankar e Rene Echevarria (roteirizador e criador do episódio, respectivamente). Mas a coisa está longe de parar por aí. Além de permitir o bom uso de Troi, o episódio representa uma espécie de ressuscitação para os Romulanos clássicos. Uma mudança que sem dúvida alguma só vem para melhorar a caracterização dessa espécie.

Durante a Série Clássica, os Romulanos foram mostrados como uma espécie honrada e preocupada com o que é certo, embora seu nacionalismo os conduzisse para os conflitos com a Federação. Em A Nova Geração, de um modo geral, o aspecto positivo dos Romulanos foi transferido aos Klingons, e os orelhudos ficaram apenas com a superficial caracterização de "bad guys". Aqui temos a chance de acompanhar a vida de uma tripulação Romulana, e especialmente de sua comandante, Toreth. E o que vemos é um grupo de militares extremamente conscientes de seu dever para com o Império, mas ainda assim críticos com relação a seu governo. Uma caracterização não só mais realista, como também mais saborosa, em termos dramáticos.

Graças a isso, temos insights valorosos na própria organização de governo Romulana. Embora não saibamos muito de como o Império é estruturado, sabemos que duas de suas principais forças estão em conflito. De um lado os militares, que, paradoxalmente, parecem defender uma visão mais liberal do Império, e de outro o Tal Shiar, um serviço de inteligência que, sob o pretexto de garantir a "lealdade" dos cidadãos, usurpa toda e qualquer liberdade individual. O choque dos dois conceitos, propiciado pelo conflito entre Toreth e Troi (como Rakal), é dos mais interessantes e estabelece novos padrões para entendermos as relações no Império (ainda que Troi nada soubesse sobre isso).

Para completar, o episódio faz uma bela ponte de continuidade com os eventos mostrados em "Unification, Part II" e com a participação de Spock em um movimento secreto que luta pela reunificação de Romulus e Vulcano. Os elementos desse contexto, somados a uma história intrigante, cheia de deserções, conflitos, reviravoltas, perigos e riscos a serem tomados, propiciam a Troi e à audiência um dos melhores episódios da série.

A execução é particularmente feliz do ponto de vista técnico, com efeitos especiais bastante convicentes no que diz respeito às movimentações das naves pela Zona Neutra e com belas tomadas do ambiente interior da nave Romulana (trata-se do episódio em que melhor vemos uma nave dessas por dentro). Um destaque especial fica para a abertura do episódio, onde Troi se revela uma Romulana, que é simplesmente perfeita.

É o melhor episódio da Nova Geração com os Romulanos? É o melhor episódio de Troi na série? A resposta é sim, nos dois casos. Um clássico absoluto.

 

Citações:

Picard - "Why didn't you mention this earlier?"
("Por que não mencionou isso antes?")
DeSeve - "It didn't seem necessary. And on Romulus you learn not to volunteer information. It's a hard habit to break."
("Não parecia necessário. E em Romulus você aprende a não voluntariar informação. É um hábito duro de quebrar.")

Troi - "Are you getting squirmish now, just because things are getting a little more dangerous?"
("Está ficando molenga agora, só porque as coisas estão ficando um pouco mais perigosas?")

Troi (como Rakal) - "Now commander, watch and learn. In order to defeat your enemy, you must first understand them. The Federation wishes to avoid war at all costs, so, I will offer them a diplomatic solution. Get them to lower their shields, and then, destroy them."
("Agora comandante, veja e aprenda. Para derrotar seu inimigo, você precisa primeiro entendê-lo. A Federação quer evitar guerra a todo custo, então, vou oferecer a eles uma solução diplomática. Fazer com que eles abaixem os escudos, e então, destruí-los.")

Trivia:

Carolyn Seymour, que aqui interpreta a comandante Toreth, já havia trabalhada na Nova Geração como outra Romulana, no episódio "Contagion", do segundo ano.

A alferes McKight, interpretada por Pamela Wislow, já foi vista na série nos episódios "Clues" e "In Theory", ambos do quarto ano.

O roteiro original deste episódio previa Q alterando toda a tripulação da Enterprise-D para a de uma ave-de-guerra Romulana. Claro que todos os personagens seriam transformados em Romulanos. A premissa foi descartada pois, segundo Rick Berman, o roteiro tinha muito a cara da série "Quantum Leap".

 


Ficha técnica:

História de René Echevarria
Roteiro de Naren Shankar
Direção de Gabrielle Beaumont

Exibido em 08/02/1993
Produção: 140

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi

Elenco convidado:

Carolyn Seymour como Toreth
Barry Lynch como DeSeve
Dennis Cockrun como capitão alienígena
Robertson Dean como o piloto
Pamela Winslow como a alferes McKnight
Scott McDonald como N'Vek
Majel Barrett-Roddenberry como a voz do computador

Episódio anterior   |   Próximo episódio