MANCHETE
DO EPISÓDIO
Episódio
tenta falar de hipocondria,
mas
se perde em high-concepts
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episódio
Sinopse:
Data Estelar: 46041.1.
A Enterprise é enviada para investigar o paradeiro da USS Yosemite,
uma nave de pesquisa da Frota Estelar enviada para estudar o fluxo
de plasma em uma estrela binária. Chegando nas imediações do
local, Picard e cia. descobrem a nave perdida imersa no fluxo de
plasma. Tentativas de comunicação fracassam, e os sensores não
conseguem vencer a interferência e determinar se há formas de vida
a bordo.
Procurando uma alternativa, Picard decide enviar um grupo avançado
até a nave via teletransporte, uma vez que uma nave auxiliar não
suportaria a pressão exercida pelo plasma estelar que envolvia a
Yosemite. Riker convoca Worf, Crusher e Geordi, para a missão. O
engenheiro, por sua vez, chama Reginald Barclay, por requisitar sua
especialidade naquela tarefa específica. Mesmo hesitante, o tenente
é obrigado a ir.
O chefe de transporte O'Brien informa que o sistema só irá
funcionar se os equipamentos de teletransporte da Enterprise e da
Yosemite trabalharem juntos. Ele estabelece a conexão e o
sincronismo sem dificuldade, mas alerta que ao grupo avançado que o
processo de teleporte só será possível com um de cada vez e levará
o dobro do tempo normal. Todos concordam e são, um a um,
transportados. Quando chega a vez de Barclay, ele não resiste à
pressão e simplesmente abandona a sala de transporte. O grupo avançado
segue com os trabalhos sem a ajuda do engenheiro.
A
bordo da Yosemite, eles encontram apenas um corpo, totalmente
queimado. Os outros tripulantes estão desaparecidos. E o sistema de
teletransporte, embora funcional, apresenta diversas avarias
consistentes com uma explosão. A hipótese é corroborada por
restos de um recipiente espalhados por sobre a plataforma,
provavelmente danificado pela mesma explosão. Crusher não está
certa sobre a causa da morte do tripulante encontrado e pede a Riker
autorização para levar o corpo à Enterprise para autópsia. O
primeiro-oficial concorda.
Enquanto isso, a bordo da Enterprise, Jean-Luc Picard é contatado
pelo almirantado da Frota, que relata sobre um possível ataque
Cardassiano a outra nave da Federação naquele setor. Picard revela
que existe a possibilidade de a Yosemite também ter sido atacada
--dada a explosão que lá ocorreu--, mas que seu grupo ainda não pôde
determinar o fato. Ele se compromete a avisar imediatamente, caso se
confirme a hipótese de um ataque.
Paralelamente, Barclay vai procurar a conselheira Troi para tentar
resolver seu medo do teleporte. Depois de uma conversa, Deanna o
convence de que seu temor é absolutamente normal e ensina ao
engenheiro uma técnica de relaxamento Betazóide. Revigorado pela
confiança, Barclay decide se juntar ao grupo avançado. Ele se
teleporta para a Yosemite e é bem recebido por seus colegas.
Entretanto, o trabalho não se demora muito por lá e logo todos estão
retornando.
Quando Barclay está se teletransportando de volta à Enterprise,
ele passa por uma estranha experiência. No momento em que ele está
se desfazendo, ele observa, no feixe de transporte, uma criatura
estranha. Parecida com um verme gigante, ela torna-se cada vez mais
ameaçadora e chega até a morder o braço esquerdo do engenheiro
antes que ele se rematerialize na plataforma da Enterprise.
Barclay relata o ocorrido, e Geordi ordena que O'Brien faça uma
revisão completa do sistema de teletransporte, na tentativa de
explicar o fenômeno. Entretanto, todas as análises dão o mesmo
resultado: o transporte estava totalmente operacional. Diante disso,
todos começam a acreditar que tudo não passou de um produto da
imaginação de Barclay. Inclusive ele passa a acreditar nisso, cada
vez mais convencido de que possui uma doença chamada psicose do
transporte, diagnosticada pela primeira vez em 2209 e sem tratamento
conhecido.
Com
essa idéia cada vez mais incutida em sua mente, ele começa a se
comportar de forma mais nervosa e estranha a cada momento. Quando
ele se recusa a conversar com a conselheira Troi a respeito, ela usa
de seus poderes médicos a bordo e o dispensa do serviço. Mais
insatisfeito ainda, Barclay se isola em seus aposentos, onde começa
a amargurar os sintomas da suposta doença. O mais impressionante
deles é a sensação de que seu braço esquerdo, que teria sido
tocado pela criatura, fica azulado e brilhante em alguns momentos.
Enquanto isso, Data e Geordi continuam analisando os fragmentos de
vidro encontrados na Yosemite e concluem que o que aconteceu por lá
foi uma explosão de plasma que teria sido transportado a bordo para
análise. Eles pretendem reproduzir o experimento na Enterprise,
desta vez com todo o cuidado para que o incidente catastrófico não
se repita, envolvendo o invólucro de vidro em um potente campo de
força.
Na enfermaria, a dra. Crusher segue com a autópsia do corpo
recolhido. Ela conclui que as queimaduras externas não foram a
causa da morte do oficial, mas sim uma estranha radiação que emana
do interior do corpo. A médica não consegue, entretanto,
determinar o porquê dessa leitura exótica.
Em seus aposentos, Barclay decide que precisa saber se realmente está
imaginando coisas ou se a experiência que ele vivenciou é real.
Ele decide reproduzir seu teletransporte, pedindo ajuda ao chefe O'Brien.
Depois de ordenar, Barclay é teleportado para a Yosemite e de volta
à Enterprise, onde ele novamente tem um encontro com o verme
gigante. Convencido de que não imaginou nada, ele convoca toda a
tripulação sênior, no meio da madrugada.
Em uma reunião, ele relata suas experiência e a sensação que tem
periodicamente em seu braço esquerdo. Picard em princípio tende a
desacreditar o engenheiro, mas depois que Barclay dá a certeza de
dizer que o que viu é real --e de que há algo vivo no feixe de
transporte--, o capitão decide investigar a fundo, ordenando mais
análises do sistema. Crusher examina rapidamente o braço de
Barclay e não vê nada de anormal, mas decide fazer exames mais
detalhados na enfermaria.
Lá ela descobre que o braço de Barclay está apresentando as
mesmas leituras que o corpo recolhido da Yosemite. Na engenharia,
Data e Geordi transportam a bordo uma nova amostra do plasma, que
explode assim que eles aplicam uma varredura de rotina. Felizmente a
explosão é contida pelo campo de força. Observando o plasma,
Geordi observa um estranho e complexo padrão biológico no plasma
--há algo vivo lá, segundo ele.
Reundindo os esforços de Crusher e Geordi, os oficiais determinam
que de fato há uma forma de vida envolvida, uma espécie de bactéria
capaz de se comportar como matéria e energia ao mesmo tempo. Nativa
do plasma estelar, ela foi transportada à bordo da Yosemite quando
eles coletaram uma amostra do material e infectou o sistema de
transporte da nave. Quando ligaram o teletransporte da Enterprise ao
da Yosemite, eles levaram a contaminação a bordo, causando os
efeitos observados por Barclay. O engenheiro, entretanto, não sabe
explicar o que ele viu no feixe de transporte --as bactérias a que
Crusher e Geordi se referem certamente são bem menores que os
vermes gigantes que ele observou.
Geordi e O'Brien determinam que a bactéria acabou passando pelos
biofiltros do teletransporte por sua natureza elusiva de matéria/energia,
mas acreditam que podem "sintonizar" o equipamento e
detectar as formas de vida se colocarem Barclay em suspensão no
teletransporte por cerca de 40 segundos. Assim que o sistema fosse
capaz de identificar as bactérias, poderia "limpá-las"
do corpo do engenheiro e curá-lo.
A
estratégia dá certo, mas por longos segundos Barclay precisa
enfrentar a angústia de estar face a face com os estranhos vermes
do feixe de teletransporte. Incerto da natureza daquelas criaturas,
o engenheiro, num ato de coragem, decide agarrar uma delas. Quando
se materializa de volta, ele está abraçado a um dos tripulantes
desaparecidos da Yosemite. Ele logo comunica que há mais a serem
resgatados no feixe. Logo Worf e um grupo de segurança se
transportam e resgatam os "vermes" faltantes, trazendo os
tripulantes perdidos de volta, sãos e salvos.
Ao que parece, aqueles tripulantes tentaram se salvar da mesma forma
que Geordi e O'Brien pretendiam salvar Barclay, colocando-o no feixe
de transporte e rastreando a contaminação. Só que no caso do
pessoal da Yosemite, a estratégia não deu certo, e eles ficaram
presos no feixe, onde pareciam se manifestar como os vermes
observados por Barclay. Somente quando o engenheiro os agarrou eles
puderam retornar.
Comentários:
"Realm of
Fear" é um bom exemplo da verdade que há no ditado que
diz que de boas intenções o inferno está cheio.
Aparentemente, o episódio se pauta pelas diretrizes básicas de bom
drama trazidas para Jornada pelo roteirista Michael Piller:
ele procura se concentrar em um drama humano, algo com que a audiência
possa se identificar, ele busca tornar aquele drama algo pertencente
a um dos personagens da série e tenta imprimir a esse personagem,
ao superar seu problema, um caráter de crescimento e
desenvolvimento.
Já vimos a mesma receita antes em verdadeiros clássicos de A
Nova Geração, como "Sins of the Father" (para
Worf), "The Offspring" (para Data) ou "The
Inner Light" (para Picard). Aqui a idéia é fazer algo
pelo bom e velho recorrente Reginald Barclay.
É natural que ele tenha sido escolhido para algo assim. O problema
que ele apresenta, o medo do teletransporte, é algo que não
funcionaria com nenhum dos outros personagens, que já foram vistos
se transportando inúmeras vezes. Além disso, a verdadeira análise
psicológica do episódio --a que mais fala ao telespectador-- é
sobre a hipocondria do engenheiro. E esse é um traço de
personalidade que não cairia bem com os quase perfeitos oficiais
seniores da Enterprise. É, portanto, uma excelente pedida trazer um
simpático (e problemático) recorrente como Barclay para dar uma mãozinha.
Até aí vão as boas intenções do episódio: fazer um episódio
sobre um tema do cotidiano das pessoas e sobre um personagem (mais
ou menos) querido do público. Parecia perfeito, em princípio. O
que se viu, entretanto, foi uma verdadeira aberração.
Em
primeiro lugar, a história não só é recheada por tecnobaboseira,
como é sustentada por ela! É sempre interessante vermos
roteiristas criativos, inventando formas de vida que desafiam a
compreensão humana, mas é preciso manter alguma coerência e algum
contato com a realidade, para que a história seja divertida. Aqui o
roteirista Brannon Braga infelizmente demonstrou que quem estava com
psicose do transporte não era Barclay; era ele.
O maior problema de todo o episódio (e não é o único, pode estar
certo) é o fato de o enredo tratar o feixe do transporte como uma
outra dimensão, do qual coisas, pessoas e bactérias podem entrar e
sair. O feixe do transporte é meramente o efeito especial luminoso
que representa a desmaterialização de alguma coisa e sua
rematerialização em outro lugar. Não podem, de fato, existir
pessoas ou vermes gigantes "guardados" no feixe.
Mas é como diz outro ditado, quem sai na chuva, é pra se molhar. Décadas
de produção de Jornada nas Estrelas já mostraram que usar
o transporte para qualquer outra coisa que não o mero ato de
transportar é pedir encrenca. Brannon pediu, Brannon recebeu. O uso
do sistema para "curar" Barclay só não é pior que o
engenheiro agarrando um verme que se transforma em tripulante depois
de materializado. Alguém poderia me dizer qual o sentido que isso
faz?
É o tipo da coisa que irrita o telespectador: ver que o escritor só
o manipulou, colocando os vermes lá para pensarmos que o engenheiro
estivesse sob ataque de algum monstro, quando na verdade não era
nada disso. Se houvesse uma boa explicação para o fato de
tripulantes perdidos se manifestarem como vermes gigantes em feixes
de teletransporte, até daria para engolir, com o nariz tapado e
tomando água por cima. Mas do jeito que ficou, só dá para chorar
mesmo.
Perdido na tecnobaboseira e nos high-concepts absurdos, está
Barclay, que só sobrevive graças à interpretação sempre
convincente de Dwight Schultz. Pelo menos o aspecto do drama humano
está bem guardado com ele. Nesse sentido, o roteiro equilibra bem o
humor com a terrível doença que é a hipocondria. E é a única
coisa que realmente se salva daqui.
O resto está todo fora de lugar. O'Brien, com seu papo de aranhas,
parecia um boboca. Quando ele apresenta seu "bichinho" a
Barclay ao fim do episódio, dá vontade de chutar o televisor. Troi,
que costuma ir razoavelmente bem quando o assunto é Barclay, dessa
vez abusa de seu poder e dispensa o engenheiro de seu serviço, numa
atitude no mínimo precipitada. E a ameaça Cardassiana é jogada
ali só para, mais uma vez, despistar a audiência da verdadeira (e
horrível) natureza da história.
Do ponto de vista técnico, o diretor Cliff Bole tem a honra de
dirigir algumas tomadas inovadoras, como a sensação de
teletransporte em primeira pessoa, mas não há muito mais a se
destacar. Nos efeitos especiais, aquele sistema binário não passa
de uma reciclagem (ou, no máximo, de uma retocada) de material
visto em "Evolution", do terceiro ano. E os vermes
que Barclay vê no feixe parecem saídos de um filme "B"
de ficção. Terrível.
Depois da traumática experiência, só deu mesmo para aprender uma
coisa: Jornada nas Estrelas e "O Ataque dos Vermes
Malditos" são coisas que deviam ficar bem separadas uma da
outra. Infelizmente, Brannon Braga não teve o mesmo insight, como
comprovariam as salamandras de "Threshold",
do segundo ano de Voyager...
Citações:
Barclay - "You
know, maybe ignorance really is bliss. If I didn't know so much
about these things, maybe they wouldn't scare me so much."
("Sabe, talvez ignorância seja mesmo uma bênção. Se eu não
soubesse tanto sobre essas coisas, talvez elas não me assustassem
tanto.")
Trivia:
Após quatro temporadas, o tenente O'Brien subitamente perdeu seus
dois pinos originais de marcação de patente, substituídos por um
pino vazio. Durante o episódio também vemos os pinos vazio e cheio
de Barclay trocando de lugar, assim como vemos o tenente usar dois
pinos cheios no escritório de Troi.
Dwight Schultz faz sua terceira aparição como Barclay em A Nova
Geração. A primeira foi em "Hollow Pursuits"
(terceiro ano) e a segunda em "The Nth
Degree" (quarto ano). Ele ainda voltaria em "Ship
in a Bottle" (também do sexto ano) e em "Genesis"
(sétimo ano). O personagem ainda seria um recorrente nas duas últimas
temporadas de Voyager.
O diretor deste episódio, Cliff Bole, é o que mais episódios da
Nova Geração comandou. "Realm of Fear" é o 19º
de uma lista com 26 episódios. Em segundo lugar vem Les Landau, que
dirigiu 21.
Ficha
técnica:
Escrito por Brannon Braga
Direção de Cliff Bole
Exibido em 28/09/1992
Produção: 128
Elenco:
Patrick Stewart como
Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Elenco convidado:
Colm Meaney como Miles Edward O'Brien
Patti Yasutake como enfermeira Alyssa Ogawa
Dwight Schultz como tenente Reginald Barclay
Renata Scott como almirante Hayes
Thomas Beigrey como tripulante
Majel Barrett-Roddenberry como a voz do computador
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