Dia seguinte, e
Archer participa do debriefing da missão, com Forrest e o Embaixador
Vulcano Soval, entre outros. Soval questiona algumas decisões de
comando de Archer durante os eventos em que encontraram uma nave vulcana
na Expansão Délfica, e Archer se mantém por sua decisão, afirmando
que não havia como salvar os vulcanos já em estágio avançado de
contaminação, segundo Phlox. Soval pressiona mais Archer, que não se
contém em dar uma ríspida resposta ao Embaixador vulcano. Forrest
ordena uma suspensão nos processos de debriefing para dar tempo a
Archer esfriar a cabeça, mas o Capitão da Enterprise não considera
isto necessário tanto quanto não considera necessário ter que se
explicar ao Embaixador Vulcano, que segundo Archer, só fez foi
atrapalhar a missão. Tempos depois, Archer encontra a involuntária
companhia de Erika em um parque nacional, pois segundo a Capitão da Columbia,
ele sabe bem que não se deve ir escalar sem uma companhia.
Enquanto ajuda
Phlox com alguma bagagem para as férias do médico na Terra, Reed
comenta a respeito de alguns incidentes xenofóbicos na Terra, pois
segundo parece, toda a crise Xindi deixou partes da população do
planeta mais sensível a aliens. Apesar de tudo, Phlox não se mostra
particularmente preocupado. Em Vulcan, T'pol e Trip chegam na casa da mãe
da vulcana, T'Les, e embora a mulher pareça se mostrar mais fria do que
Trip poderia esperar ate mesmo de uma vulcana, ela também é polida e
atenciosa. T'pol, contudo estranha ela estar naquela hora do dia na
casa, mas ela explica que não está mais trabalhando na Academia de Ciências.
T'Les também entrega a ela um comunicado do noivo da moça, mas o qual
ela considera ex-noivo, posicionamento que sua mãe coloca em xeque.
Entre uma subida de
rocha e outra, Erika e Archer conversam a respeito dos acontecimentos
recentes. Archer ainda está meio "on the edge", mas Erika
procura manter um clima mais descontraído na medida do possível. Em um
bar, Maywheater, Phlox e Reed distribuem alguns autógrafos ocasionais,
até que um cidadão se dirige a Phlox de maneira ríspida. Phlox sugere
deixar o bar, mas Reed e Maywheater insistem em ficar. O sujeito
desdenha do fato de eles serem da Frota Estelar, e antes que se possa
imaginar, uma briga se inicia, com Reed e Maywheater se defendendo do
cidadão inoportuno e outro que se juntara a ele. A briga interrompe
quando Phlox reage instintivamente (o rosto muda de forma e incha) a
situação.
T'Pol arranca da
cama Trip as quatro da manhã, para também ajudar a preparar o café-da-manhã,
rotina costumeira de convidados em uma casa vulcana. Durante a refeição,
a conversa gravita sobre as opções de T'pol dali para frente, se volta
para Vulcan, ou aceita um comissionamento na Frota Estelar Terráquea.
Uma breve discussão se inicia, mas T'pol não pressiona o assunto para
não fazer Trip sentir-se desconfortável.
Mais tarde,
enquanto ajuda a dar um tapa em um dispositivo de cozinha da casa, Trip
procura ter uma conversa informal com T'Les. A mulher aproveita a deixa
para comentar a respeito do envolvimento romântico dele com sua filha,
o que pega o humano de surpresa, mas ela assegura que não era coisa do
tipo que escaparia do conhecimento de uma mãe. O assunto meio morre no
ar enquanto Trip ativava o dispositivo que consertara, e Koss, o
ex-noivo de T'pol, bate à porta. A sós, T'pol pergunta o que faz ali,
uma vez que deixara claro para ele na correspondência que não quer
mais nada com ele. Koss considera que esta decisão não é apenas
deles, e que devem manter as tradições. T'pol começa a procurar
tangentes por onde seguir, como dizer que esteve recentemente doente e
sabe-se lá se ainda esta, e também lembra que ela pode apelar para um
Knut Kalifee. Koss acha curioso que ela realmente considere esta opção,
e especula se Trip seria um adversário a altura de tal coisa. Antes de
ir, contudo, Koss diz que pode ajudar a mãe dela a voltar ao trabalho,
pois segundo ele sabe, ela foi forçada a se retirar.
Mais a noite, Erika
estranha que Archer questione se eles realmente deveriam ter começado a
explorar o espaço da maneira que começaram, e se uma mudança de
atitude não seria preferível, para algo mais defensivo e mais contido
em casa. Mais tarde, Archer acordar com barulhos nos rochedos em que
passam a noite, e com Erika ainda dormindo, sai para investigar, pistola
de fase em punho, e não demora a ele se encontrar lutando e sendo
derrotado por dois Xindi. Mas não passava de um pesadelo – Archer
acorda sobressaltado, com Erika verificando se ele está sentindo-se
bem.
Erika procura
acalmar seu colega Capitão, mas ele desabafa com ela sobre o que
precisou fazer durante a crise Xindi, se os fins justificam os meios e
por estas linhas de raciocínio. Ele afirma que olha para Erika e se vê
três anos antes, um entusiasta explorador, e especula que seja porque
tenha sido, se perdeu ao longo do caminho. Não muito mais a acrescentar
Erika tem além de um tranqüilizador beijo na boca de Archer.
Confrontada por
T'pol sobre a real natureza de sua "aposentadoria", sua mãe
afirma que caiu sob investigação por supostamente ter copiado informação
sensível dos arquivos da Academia. T'les não fez isto, e especula que
tenha sido uma vendetta incentivada pelo fato de sua filha ter tantas
atividades com os humanos, especificamente a respeito do incidente que
ocasionou na destruição do monastério de P'jem. T'pol se revolta com
tal atitude, o que incita sua mãe a comentar como as emoções da moça
estão facilmente florescendo, o que ela associa ao relacionamento de
T'pol com Trip.
Enquanto visitam o
Monte Seleya, T'pol comenta com Trip que decidiu se casar com Koss, para
isto poder restaurar a posição de sua mãe perante a Academia. T'pol
afirma que a decisão é sua e faz isto conscientemente, mas Trip pode
ler claramente que é algo que ela escolhe por não ver muitas outras opções.
T'pol procura racionalizar sua decisão com Trip, mas o engenheiro não
compra muito a idéia.
Na manhã seguinte,
Archer parece estar bem mais disposto e animado do que até então, com
eles animadamente comentando sobre eles reatando seu supostamente
anterior relacionamento... Erika pergunta porque é que teriam parado de
saírem juntos, e Archer a lembra que ele era seu oficial superior, o
que seria algo inapropriado. Mas, agora ele não é mais o superior
dela, Erika também lembra, além da ironia de serem os dois Capitães
das primeiras duas naves de capacidade dobra 5 da Frota.
Enquanto faz um
exame de rotina em Hoshi a bordo da Enterprise, a moça o lembra
que eles tem marcado uma ida para jantar em um restaurante muito
comentado por Phlox. O médico contudo não se mostra muito animado para
ir, o que Hoshi rapidamente associa com os eventos que Maywheater
comentou com ela. Hoshi diz que se esconder na nave não é maneira de
lidar com preconceito, mas Phlox assegura a humana que ela não precisa
se preocupar.
Dias depois, o
debriefing parece terminar em um tom muito mais adequado. Archer se
desculpa com Soval pela sua reação anterior, e o Embaixador admite
que, embora possa ter tido reservas a indicação de Archer para
comandar aquela missão, esta decisão se mostrou bastante correta, e o
congratula e agradece pelos serviços prestado a ambos os seus mundos, e
ambos trocam um aperto de mãos.
Preparando-se para
a cerimônia de casamento de T'pol, Trip conversa com T'les. A mulher
especula a respeito da decisão de sua filha estar sendo baseada nos
costumes de seu povo, e pergunta para Trip se ele já
"informara" a ela sobre o amor dele para com T'pol –
vulcanos não expressam emoções, mas não são cegos a ela, argumenta
T'les. Trip diz que naquele momento está realmente sentido que perde a
vulcana, mas que acabou não podendo realmente expressar tudo o que
sente por ela. Para a surpresa de Trip, T'les diz que ainda há tempo
– sua filha precisa tomar suas decisões dispondo de toda a informação
e fatos disponíveis, uma maneira bastante vulcana de encarar o que está
prestes a propor para o humano, mas Trip diz que não quer complicar a
vida da vulcana ainda mais do que já está. Na cerimônia, T'pol
agradece a presença de Trip (vestido como vulcano com roupas do marido
de T'les), e a cerimônia prossegue, mas não antes de T'pol passar pelo
humano lhe dando um beijo no rosto.
Comentários:
Depois da montanha-russa de "Storm
Front", "Home" é um episódio mais
que bem-vindo. É quase um terceiro piloto para a série (sintomático
da perda de audiência a cada temporada). Está contando? O
primeiro foi "Broken Bow",
a estréia de Enterprise. O segundo, "The
Expanse", último episódio do segundo ano, que deu
início ao arco Xindi, que perdurou por toda a terceira temporada.
"Home" é o terceiro.
Dos três, ele é disparado o mais voltado para os personagens. É
verdade que "Broken Bow" fala bastante da evolução
de Archer, do filho de Henry ao capitão da NX-01, mas há muito
mais no pacote e o desenvolvimento dos personagens é esparso. Em "Home",
não só voltamos a ver a antiga rebeldia de Archer, tão bem
expressa no piloto (o verdadeiro) de Enterprise, como também
ganhamos insights importantes sobre como a cabeça do capitão
mudou depois desse ano na Extensão Délfica.
Archer é um homem torturado. Aclamado por todos os humanos como o
"salvador da pátria", ele se vê sob um ângulo muito
menos favorável. Um indivíduo que colocou seus princípios de
lado para cumprir sua missão. Ele está totalmente descrente no
conceito de exploração pacífica do espaço, depois de três
anos trocando farpas com alienígenas lá fora.
Por isso, "Home" é tão interessante do ponto de
vista dele. Ao colocar Archer em contato com Hernandez, uma
ex-namorada e agora promovida a capitã da Columbia (NX-02),
segunda nave construída com o motor de dobra cinco, podemos ver o
contraste entre o explorador pacífico e esperançoso e o homem cínico
e prático, calejado por encontros com Sulibans, Klingons,
Andorianos, Vulcanos, Xindis...
Nesse processo de desenovelamento do personagem, algumas cenas se
destacam como clássicas. A que mais marca é o "debriefing"
do capitão, em que Archer é pressionado por Soval e perde
totalmente o controle, lembrando o quanto ele pode se ressentir
dos Vulcanos, a despeito de sua convivência com T'Pol.
E a cena final, em que Soval cumprimenta o capitão, ajuda a reforçar
essa sensação de trauma/incompreensão, muito mais do que legítima
animosidade, entre humanos e Vulcanos.
De outro lado, temos bom trabalho de desenvolvimento para T'Pol e
Trip. O engenheiro acompanha a oficial de ciência a uma visita à
família em Vulcanos. Há um esforço interessante de detalhar a
relação entre os dois, enfatizando o porquê de ela estar no pé
em que está, muitas vezes criticada como "morna" e
"alusiva" demais. Na verdade, a barreira cultural é tão
grande que justifica esse "pé atrás", tanto dela
quanto dele. Trip protagoniza algumas cenas interessantes,
especialmente com a mãe de T'Pol. E deve-se louvar a coragem dos
produtores, em produzir uma mudança substancial num personagem:
ao contrário do que parece a princípio, T'Pol acaba mesmo se
casando com Kos. A não ser que o evento seja simplesmente
esquecido, promete trazer novos desdobramentos interessantes no
futuro.
Para fechar a conta, os personagens secundários fazem um papel do
mesmo tipo: secundário. Sua função meramente consiste em
mostrar o clima de xenofobia que ficou na Terra após o ataque
Xindi. Além de oferecer comentário social relevante aos tempos
atuais, a série apresenta elementos que também devem ser mais
bem explorados no futuro.
Como destaque da produção fica o sensacional efeito especial da
cara inflada de Phlox. Pode não ter sido particularmente
importante para a história, mas não se pode negar a qualidade técnica
da tomada.
No fim, "Home" é o que promete ser: uma volta
para casa. Quem sabe agora, embalada com um sentido de prólogo da
Série Clássica mais intenso, Enterprise não
engata uma quinta e entrega tudo o que prometeu aos fãs em sua
premissa original?
Citações: