Avaliação
geral
A primeira temporada de Deep
Space Nine é surpreendentemente boa. É claro que
existem problemas, mas parece existir um senso de direcionamento
para a série e, principalmente, de construção de uma
identidade própria, tanto em forma quanto em conteúdo.
Em termos de forma, DS9 desde o seu início se
notabilizou por ser uma série muito mais "orientada a
elenco" (incluindo aí não somente o elenco regular, mas o
recorrente também) e "orientada a personagens" do que
suas antecessoras (Série Clássica e A
Nova Geração).
Já
em termos de conteúdo, a longa ocupação de Bajor (um povo de
antiquíssima cultura e profunda espiritualidade) por Cardássia,
a retirada de Cardássia de Bajor (e a posterior relação política
entre Bajor-Cardássia-Federação) e a chegada da Federação
para ajudar na reconstrução do planeta recém-desocupado
oferecem uma verdadeira infinidade de temas com deliciosos
"tons de cinza".
Deste contexto e de temas baseados nos dilemas pessoais dos
personagens saíram os melhores momentos do primeiro ano da série.
Existiram dois grandes problemas nesta temporada. O primeiro é a
quase total falta de um conteúdo de "Sci-Fi" original e
realmente interessante. À exceção do inesquecível encontro de
Ben Sisko com os "Profetas" em "Emissary",
estivemos muito mal servidos neste departamento, algo entre o
"totalmente não inspirado" e o "totalmente
imbecil".
Outro
grande defeito "detectado" por boa parte dos fãs de
Jornada foi a falta de preocupação em transformar o personagem
de Ben Sisko em uma figura "maior que a vida". Ainda além,
muitos igualaram o estilo "professional & cool" que
Brooks imprimiu ao personagem a "total falta de paixão".
Acredito que muitos dos sentimentos negativos que as pessoas têm
para com essa temporada advém destes dois fatores: um quociente
insuficiente de "Sci-Fi" de qualidade e a falta da
figura de um protagonista "apaixonante e apaixonado" e
"maior que a vida".
Altos
Entre os melhores momentos desta
temporada temos a arrepiante alegoria do holocausto em "Duet",
a jornada de auto-entendimento de Ben Sisko em "Emissary",
relevantes discussões religiosas e filosóficas em "In
The Hands Of The Prophets", Kira lidando com um
difícil conflito pessoal em "Progress",
um vislumbre do lado mais sombrio do ser humano em "Battle
Lines" e o essencial episódio
de Dax, que leva o nome da personagem.
Um
pouco mais atrás temos uma divertida paródia do crime organizado
(utilizando os Ferengis) em "The
Nagus", um primeiro mergulho nas motivações
pessoais de Odo (apesar de uma sub-trama de ação meio esquecível)
em "Vortex"
e Kira tendo sua lealdade testada em "Past
Prologue".
Dentre as premissas de "Sci-Fi" que, apesar da pouca
originalidade, funcionaram devido a boa execução temos "Captive
Pursuit" e "Babel".
Baixos
Dentre
os piores momentos temos essencialmente exemplares de
"Sci-Fi" de má qualidade e um bocado de
"tecnobaboseira": a "matriz telepática que revive
uma antiga disputa de poder usando os personagens como
marionetes" em "Dramatis
Personae", a "tentativa de incriminar um
antigo desafeto utilizando o assassinato do próprio clone"
em "A
Man Alone", a "arraia alienígena
rebocadora de estações espaciais" em "Q-Less",
a "imaginação da tripulação ganhando vida própria"
em "If
Wishes Were Horses", o "programa de
computador alienígena que toma o controle do computador da estação
e que ao final do episódio é compreendido como uma diferente
'solitária forma de vida'" em "The
Forsaken" , o "contador de histórias que
afasta os maus espíritos" em "The
Storyteller", a "entidade maligna capaz de
possuir corpos" em "The
Passenger" e "um jogo em que as peças
representam (e de fato são) os personagens" no abominável
"Move
Along Home".
Notas
finais
A equipe de roteiristas foi formada
por Michael Piller, Ira Steven Behr, Peter Allan Fields e Robert
Hewitt Wolfe (a partir de "Q-Less").
Sugestões de histórias e roteiros foram escritas também por
velhos conhecidos, tais como Rick Berman, David Livingston, Naren
Shankar, Morgan Gendel, Joe Menoski, D.C. Fontana e por
"free-lancers".
Personagens como Q (da forma com usado em "Q-Less"),
Vash e Lwaxana Troi (que, para meu desespero, acabou aparecendo
mais duas vezes durante a série, uma pior do que a outra)
mostraram que não têm lugar em DS9.
Joe Menoski também está muito fora do seu elemento em DS9
(ele também infelizmente escreveu mais para a série
posteriormente, novamente não conseguindo quebrar a barreira da
mediocridade). Porém as irmãs de Duras foram postas para bom uso
em "Past
Prologue" e a utilização dos Borgs em "Emissary"
foi simplesmente brilhante.
Personagens
Regulares
Benjamin Lafayette Sisko (Avery
Brooks)
Patente: Comandante
Posto: Comandante de Deep Space Nine
Entre sua jornada de
auto-entendimento em "Emissary"
e sua bela presença em "In
The Hands Of The Prophets", descobrimos,
surpreendentemente, muito pouco sobre o comandante de DS9.
Seu
imbatível relacionamento com Jake esteve presente (bem como um
verdadeiro sentimento mútuo entre ele e Jadzia, para que a sua
amizade sobreviva à mudança de hospedeiros), mas no geral o
personagem foi pouco desenvolvido.
Odo (René Auberjonois)
Posto: Chefe de Segurança
Observamos
nesta temporada seu senso de decência, seu senso de justiça, sua
extrema capacidade profissional, suas afiadas observações sobre
a condição humana, seu orgulho e também seu lado mais frágil,
sua solidão e sua intimidade.
Seu relacionamento com Kira promete se tornar um dos mais
fascinantes da série e as suas "brigas" com Quark
tornaram-se ao longo do caminho uma das marcas registradas da série.
Julian Subatoi Bashir (Siddig El
Fadil)
Patente: Tenente de Segunda Classe
Posto: Oficial Médico Chefe
Ele
é jovem, inexperiente, idealista e incrivelmente brilhante, o que
se traduz em uma caracterização frenética em termos de falatório
e ingenuidade, com picos de absurda e divertida arrogância.
O personagem também demonstrou poder ser bem usado em situações
mais dramáticas como em "Battle
Lines" e "Duet".
Claros pontos negativos foram seus excessivos flertes com Dax.
Sua "química" com Garak se mostrou vencedora desde a
estréia em "Past
Prologue", porém sua primeira experiência com
O'Brien não foi tão feliz, em "The
Storyteller".
Jadzia Dax (Terry Farrell)
Patente: Tenente de Primeira Classe
Posto: Oficial de Ciências
Uma caracterização de paz e
harmonia (como sugerida em "Emissary")
e apresentada ao longo da temporada me parece inadequada frente à
drástica mudança que a união com o simbionte deve ter trazido
para sua vida.
Este tipo de atitude teve como extremo Jadzia "bancando o
Yoda" para Bashir em "A
Man Alone". Mesmo aceitando esta caracterização,
eu ainda teria problemas com a sua execução, tão semelhante a
da caracterização vulcana (reparem na posição dos braços
sempre às costas).
Um
outro motivo de frustração é que eu sou extremamente fascinado
pelos Trills enquanto raça (especialmente sobre a sua perspectiva
da sexualidade) e o seu uso nesta temporada também não foi
suficientemente interessante.
Embora o episódio "Dax"
tenha nos oferecido vários detalhes do passado de Curzon Dax,
falhou em nos falar algo mais sobre Jadzia Dax, de fato o
personagem mais problemático desta temporada de estréia.
Jake Sisko (Cirroc Lofton)
O meu único real problema com Jake
nesta temporada foi que Cirroc Lofton ainda estava um pouco
pequeno e novo demais para o papel, nada além disto.
O relacionamento entre Ben Sisko e Jake Sisko é uma das marcas da
série e as cenas entre os dois sempre funcionam
em termos de qualidade dramática, química e realismo (para todos
os fins práticos, Jake é realmente filho de
Ben).
O outro parceiro de Jake nesta temporada e ao longo da série é
Nog, geralmente com bons resultados, sendo o melhor momento dos
dois nesta temporada a trama secundária de "Progress",
com um tipo de humor que posteriormente seria utilizado em outros
episódios ao longo da série.
Miles Edward O'Brien (Colm Meaney)
Posto: Oficial de Operações
Como um personagem já conhecido de A
Nova Geração (assim como Keiko e Molly), O'Brien leva
uma vantagem sobre os demais.
Além
da melhor caracterização do seu desgosto pelos Cardassianos
(estabelecido já na série anterior), o qual data de sua
participação nas guerras de fronteira entre Cardássia e a
Federação, pouco se descobriu a mais sobre o personagem.
O'Brien notabilizou-se nesta temporada (e no decorrer da série)
como um "Homen-Comun" (ou um "Homen-Família")
com o qual qualquer um poderia se identificar.
Desta temporada datam as qualidades de O'Brien como um fazedor de
milagres, capaz de compatibilizar tecnologias totalmente
diferentes e desenhar (e batizar), em sua mente, equipamentos
inexistentes para tarefas de campo sob grande pressão. Seu maior
veículo na temporada foi "Captive
Pursuit".
Sua mulher Keiko foi posta para bom uso como professora e a escola
teve papel importante em alguns episódios, especialmente em "In
The Hands Of The Prophets" e sobre sua filha
Molly só posso falar que ela é "bonitinha".
Quark (Armin Shimerman)
Barman da estação
Quark entrou para a história como o
primeiro Ferengi de Jornada nas Estrelas com uma
real personalidade (um pouco rasa, devo admitir). Geralmente posta
para bom uso, sua caracterização oscila entre o "alívio cômico"
e o "trambiqueiro atrapalhado".
Ao lado de Odo e Kira, foi um dos três personagens com a
caracterização inicial mais consistente.
Seu irmão Rom (Max Grodénchick) é essencialmente um idiota (o
que não mudou ao longo da série), com a estabilidade psicológica
e emocional de uma criança de cinco anos, mas com um incrível
talento para consertar (e mesmo conceber e projetar) coisas.
Seu sobrinho Nog (Aron Eisenberg) nesta temporada se resume bem ao
"parceiro de Jake". Zek (Wallace Shawn) teve uma boa
estréia em "The
Nagus" com o seu "cabide particular"
Maihar'du (Tiny Ron).
Kira Nerys (Nana Visitor)
Patente: Major da Milícia Bajoriana
Posto: Primeiro-oficial de Deep Space Nine
Os
temas mais relevantes desta temporada vieram do planeta Bajor (de
sua política e filosofia). Como personagem principal
representante (via microcosmo) do povo Bajoriano, Kira Nerys foi o
personagem melhor desenvolvido desta temporada.
Com a apaixonada presença de Nana Visitor (para registro:
provavelmente a melhor atriz da história de Jornada nas
Estrelas), o personagem brilhou em um arco crível e
muito bem escrito, composto principalmente (mas não somente) por:
"Emissary",
"Past
Prologue", "Battle
Lines", "Progress",
"Duet"
e "In
The Hands Of The Prophets".
Recorrentes
É fascinante ver como a caracterização
de personagens recorrentes (muitos dos quais continuaram
aparecendo até o ultimo episódio da série) foi consistente
desde o primeiro dia.
Dukat
(carismático e arrogante adversário), Garak (misterioso e ambíguo),
Winn (condescendente e sedenta por poder), Bareil (uma figura
religiosa nobre e progressista) e mesmo Zek (como líder da
sociedade em que as virtudes são nossos defeitos) e Maihar'du (o
criado particular de Zek) já se encontram extremamente bem
caracterizados nesta temporada de estréia.
O mesmo não pode ser dito de Rom, que iniciou a série com uma
caracterização extremamente adversária, similar à dos Ferengis
de A Nova Geração, o que "respingou"
também na caracterização do seu filho Nog.
Entretanto, esse problema está essencialmente confinado ao
primeiro episódio em que os dois efetivamente aparecem, "A
Man Alone".
Produção
Produtor de Campo:
Robert Della Santina (incorporado durante a temporada)
Co-produtor: Peter Allan Fields
Produtor: Peter Lauritson
Produtores Supervisores: David Livingston e Ira
Steven Behr
Produtores Executivos: Rick Berman e Michael
Piller
Produtor Associado: Steve Oster
Elenco: Junie Lowry-Johnson e Ron Surma
Música: Dennis McCarthy, Jay Chattaway etc.
Tema de Abertura: Dennis McCarthy
Diretor de Fotografia: Marvin Rush
Designer de Produção: Herman Zimmerman
Editor: Terry Kelley e Richard E. Rabjohn
Gerente da Unidade de Produção: Roberto Della
Santina
Primeiro Assistente de Direção: Venita
Ozols-Graham
Segundo Assistente de Direção: Gail Fortmuller
e B.C. Cameron
Designer de Vestuário: Robert Blackman
Diretor de Arte: Randy McIlvain
Efeitos Visuais: Robert Legato
Supervisor de Efeitos Visuais: Bob Bailey e Glenn
Neufeld
Supervisor de Pós-Produção: Terri Martinez
Supervisor-chefe de Arte/Consultor Técnico:
Michael Okuda
Ilustrador-chefe/Consultor Técnico: Rick
Sternbach
Decorador de cenários: Mickey S. Michaels
Maquiador-chefe: Michael Westmore
Designer de Cenários: Joseph Hodges e Tom Betts
Ilustrador: Ricardo F. Delgado
Coordenador de Efeitos Visuais: Sue Jones e Cari
Thomas
Supervisor de guarda-roupa: Caro Kunz
Supervisor de roteiros: Judi Brown
Efeitos Especiais: Gary Monak
Administrador de propriedades: Joe Longo
Coordenador de Construções: Richard J. Bayard
Artistas Cênicos: Denise Okuda e Doug Drexler
Designer de penteados: Candy Neal
Maquiadores: Janna Phillips, Craig Reardon e Jill
Rockow
Cabelereiros: Gerald Solomon e Ronald W. Smith
Mixagem de Som: Bill Gocke
Operador de Câmera: Joe Chess
Iluminador-chefe: William Peets
"First Company Grip": Bob Sordal
"Key Costumers": Maurice Palinski e
Jerry Bono
Editor Musical: Stephen M. Rowe
Supervisor da edição de som: Bill Wistrom
Supervisor da edição de efeitos sonoros: Jim
Wolvington
Editores de Som: Ashley Harvey, Miguel Rivera,
Dan Yale & Sean Callery, Steffan Falesitch
Coordenador da Produção: Heidi Julian
Coordenador da Pós-Produção: Dawn Hernandez
Associado de Efeitos Visuais: Cari Thomas &
Laura Lang
Associado da Produção: Kim Fitzgerald
Consultor Científico: Naren Shankar
Abertura: Dan Curry
Coordenador de Dublês: Dennis Madalone
Pré-Produtora: Lolita Fatjo
Executivo do elenco: Helen Mossler
Lentes & Câmeras: Panavision
Efeitos vídeo-óticos: Digital Magic
Composição especial de vídeo: CIS Hollwood
Fotografia com controle de movimento: Image
"G"
Animação por computador: Vision Art Design
& Animation
Instalações de edição: Unitel Video
Som de Pós-produção: Modern Sound
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