A
Voyager que não decolou, Parte II
Depois
de mais algum tempo de trabalho, a primeira versão clara da
Voyager curva saiu no dia 16 de junho de 1994. Sternbach continuou
experimentando diferentes variações nas naceles e pilares de
sustentação. Surgiram novas oportunidades de mexer com a leveza
do casco e com as peças de hardware que seriam colocadas nele.
Isso foi ao mesmo tempo bom e ruim
para o departamento de efeitos visuais. Daria à nave um maior
senso de realidade e escala, mas também aumentaria o trabalho com
as texturas e sombras. Nesse ponto, a Voyager mantinha quase todos
os elementos da versão angular, mas agora as peças da superfície
preenchiam mais o casco. Todos os dias, refinava-se diferentes
itens.
Com
o casco mais leve, ficou decidido de uma vez por todas que a
Voyager seria uma nave de uma peça só, sem o sistema de separação.
Se fosse haver alguma aterrissagem em um planeta, a nave teria que
descer inteira sobre o solo. Ela deveria ter o tamanho aproximado
do porta-aviões USS Nimitz CVN-68.
Os
motores de impulso, que nas naves de Jornada costumavam
ficar atrás do pescoço que ligava as seções disco e
engenharia, foram colocados nas asas horizontais que seguravam as
naceles de dobra.
O módulo do deck 1 recebeu túneis conectores do turboelevador e
seus próprios motores com sistema de controle de reação (RCS).
Essa característica, que nunca apareceu na série, permitiria, em
caso de emergência, que todo o deck 1 se soltasse do restante da
nave
O hangar de naves auxiliares voltou para a popa do casco, mantendo
o deck de aterrissagem da Enterprise original.
No mês de julho, a questão do
formato das naceles e do movimento das asas finalmente foi
resolvida. Sternbach criou um modelo simples do formato da Voyager
no computador, no qual variava o ângulo das asas (para cima,
horizontal, para baixo ) e a posição da nacele em uma série de
projeções "fly-by". Os produtores aprovaram o ângulo
de 45°para cima.
Antes mesmo de as plantas finais
serem concluídas, o departamento de efeitos visuais optou por uma
miniatura de 1,80m de comprimento, e todos os desenhos foram
feitos em tamanho real. Isso significa que Sternbach teve que se
deitar sobre a mesa de rascunhos, medindo as partes sob três ângulos
diferentes.
A Brazil Fabrication, empresa de
Tony Meininger, foi escolhida para construir o modelo da Voyager.
Eles receberam todos os desenhos e rabiscos em perspectiva.
Sternbach detalhou a maior parte dos elementos estruturais, e os
sistemas da nave foram organizados em um outro grupo de rascunhos.
Nestes, todos os aspectos principais foram nomeados, com sua função,
cores (especificadas usando o sistema Pantone), ou se a iluminação
era necessária.
Meininger e sua equipe conseguiram
construir as formas em 3D das folhas de Sternbach, e produzir as
partes esculturais mais importantes, de última geração. Delas,
cascos de plástico foram extraídos, equilibrados, detalhados e
prensados em moldes de borracha para fazer os componentes finais
em resina dura. O produtor de efeitos Dan Curry pediu que minúsculos
quadros dos cenários, iluminados por trás, fossem posicionados
nas janelas, para dar a idéia de salas vistas através do vidro
-- ou melhor, alumínio transparente.
Nos
casos em que um contorno externo não podia ser mostrado com
precisão nos desenhos, Meininger produziu soluções esculturais
com as próprias mãos e as partes foram moldadas. Os resultados
saíam sempre muito parecidos com o que os desenhos pretendiam.
As cores foram especificadas e
checadas com o departamento de efeitos visuais para confirmar aos
construtores de que, num todo, a Voyager seria uma nave da Frota
com uma cor azul-acinzentada identificável, adicionada a
outras cores estabelecidas. O sistema Pantone, no qual Jornada
às vezes se baseia, é um conjunto de cores de tintas usado por
construtores de miniaturas para retratar com fidelidade os tons
usados em aeronaves, navios e veículos militares.
Havia especificações para as
faixas de feisers, RCS, escotilhas dos botes salva-vidas e
todos os equipamentos visíveis, geralmente em cores quentes para
contraste. As estruturas de sensores foram pintadas em azul metálico
e prata.
Como em todas as naves anteriores,
as luzes de formação eram vermelhas, verdes e brancas.
Michael Okuda trabalhou nas dezenas
de inscrições do casco, incluindo o nome da nave e registro.
A
Voyager chegava aos seus dias finais de filmagens na Image-G,
quando os produtores pediram duas últimas alterações na superfície.
Eles pediram que fossem adicionadas uma variação no tom do
revestimento do casco e linhas para quebrar as curvas lisas (estas
se tornaram os reforços do campo de integridade estrutural).
Meininger recebeu um mapa dessas linhas e a pintura final foi
completada.
A nave foi para o trabalho. Ela foi
medida e escaneada para digitalização em 3D, para a criação de
um modelo CGI. Com o tempo,a própria miniatura original foi
substituída por aquela recriada em computador
Em
maio de 1995 começou o trabalho no episódio "The
37's", no qual a Voyager era mostrada aterrissando
pela primeira vez em um planeta. Assim, o sistema de pouso
finalmente teve de ser projetado. Embora a nave tivesse sido
projetada para pousar, apenas as escotilhas do sistema foram
desenhadas, sem planos de como ela ficaria na superfície.
Guardar e articular um conjunto de
pernas e pés em um espaço de 3,90m foi um desafio: tudo tinha
que se dobrar, ficar bonito, e agüentar uma fração das 750.000
toneladas métricas da Voyager. Os rascunhos iniciais de Sternbach
mostravam pernas com um só pé, mas eventualmente
"dedos" foram adicionados para distribuir a pressão. Um
acesso dos tubos Jefferies ao solo também foi colocado, com
degraus e corrimões.
Não foi possível construir a
estrutura em tamanho real para filmar, então pés em miniatura
foram fabricados para cenas estáticas, enquanto a seqüência de
pouso foi capturada em animação computadorizada.
O
trabalho nunca parou. Com o passar dos episódios e temporadas,
novos elementos apareceram. A Voyager foi assimilada pelos Borgs,
atacada por naves que se prendiam a seu casco, foi seriamente
avariada, destruída, enfim, passou por muita coisa. No final, o
trabalho artesanal e meticuloso dos maqueteiros ficou armazenado
nos armários do estúdio, já que as filmagens ficaram mais fáceis
-- e mais baratas -- com o avanço nas animações CGI.
Esta
coluna foi baseada nos artigos “DESIGNING THE USS VOYAGER”
(STAR TREK: THE MAGAZINE – edições 19 e 20, NOV e DEZ 2000)
e "DESIGNING
STAR TREK: VOYAGER" (STAR TREK: THE MAGAZINE – edição 28,
JUL 2001). O material foi cedido pelo Federation
Starship Datalink
Daniel
Sasaki é co-editor do Trek
Brasilis
|