Há
muito tempo, depois que saímos da reunião trekker no Rio, vamos para a casa de
Ana Beatriz fazer um lanche. Então, eu tenho o hábito de ficar olhando para a
sua estante, procurando um livro qualquer de Jornada nas Estrelas que me
interesse de ler. Arranjei um pouco mais de espaço para isso e peguei com ela
um livro emprestado: "Federation", de Judith & Garfield Reeves-Stevens.
Era momento razoavelmente propício por causa da criação da malfadada série Enterprise
que, de tão problemática, não sei se poderíamos chamar de canônica, em relação
às obras literárias que gozam desta classificação no mundo trekker. De todo modo,
o livro é bem escrito e visa conciliar as atividades da famosa dupla de capitães
da USS Enterprise, agindo, cada qual no seu tempo, para desvendar uma determinada
trama que envolve: o guardião da Eternidade, o obelisco alienígena do planeta
de Kirok, os romulanos , os ferengis, os klingons e, nada mais nada menos do que
Zefram Cochrane e a comissária Nancy Redford.
Zefram está sendo perseguido
pelo criador de um tal "movimento optimum", liderado por Adrik Thorsen. O casal
de "Metamorphosis" (episódio
do 2º ano da Clássica) é o fio condutor entre Kirk e Picard,
como personagens de uma série de eventos após a criação da tecnologia da dobra
espacial e a viagem para Alfa Centauro, feita na ocasião por Cochrane. Na confusão
está presente no século 21 a eclosão da 3ª Guerra Mundial/Guerras Eugênicas.
Cochrane
(foto) realiza o seu feito maravilhoso, mas, algumas décadas à frente, desaparece
no espaço até ser encontrado por Kirk no planetóide J27 da região de Gama Canaris,
conforme vimos na Série Clássica (de novo, "Metamorphosis").
Os autores do livro tentaram explicar porque o herói esteve sumido: na verdade
Cochrane estava fugindo da perseguição obsessiva do vilão e líder do movimento
optimum, que tenta se aproveitar da tecnologia de dobra para construir uma bomba
de enorme potência para ter poder sobre os inimigos e conquistar a civilização
humana, além de outras possivelmente existentes por aí. Cochrane e seus amigos
se tornaram grandes opositores de Thorsen, e por isso teve que fugir para não
ser morto, como alguns. Thorsen vai perseguindo Cochrane e seus amigos até que
este se finge de morto por muito tempo.
A obsessão do vilão é tanta que
ele vai atrás de Cochrane. Kirk o reencontra e tenta escondê-lo numa singularidade
temporal. Anos mais tarde, Picard encontra Cochrane neste lugar, mas Thorsen se
esconde numa inteligência artificial e persegue Cochrane e à sua mulher.
Até o tenente-comandante Data é possuído pelo "espírito" de Thorsen para tentar
matar nosso herói. O livro não se refere aos eventos descritos no filme para cinema
"Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato", onde Picard conhece
Cochrane no início de sua fabulosa tentativa de inovação tecnológica, afinal,
foi escrito em 1995, um ano antes do lançamento de "Primeiro Contato"
nos cinemas. Porém, isso não compromete o desenvolvimento da história contada
na obra. Ao contrário
que possa parecer pelo título, não é uma história sobre a origem da Federação,
mas a narrativa alternativa da vida de uma grande figura, que possibilitou a sua
construção no futuro, com seus artefatos tecnológicos e seus nobres princípios.
Adicione-se a isso a participação de dois dos seus mais famosos capitães, representando
a manutenção de uma certa tradição, ao mesmo tempo em que existe a evolução técnica
e a vivência de novas experiências e aventuras entre o século 23 e 24. A
preocupação dos autores nem é tanto a de traçar os detalhes que possibilitaram
a organização dessa entidade. Isso está um pouco melhor explicado na série Enterprise,
se bem que os roteiristas da Paramount ainda nos devem uma série ou filme que
trate melhor do tema. Assim mesmo, quem se aventurar pelas 437 páginas do livro
não irá se decepcionar com o roteiro criativo, a ponto de envolver acontecimentos
importantes e aparentemente desconexos da saga de Jornada nas Estrelas.
Eles dão uma "solução final" ao casamento de Cochrane com a companheira alienígena
que vive no corpo de Redford. Se bem que isso lembra o desfecho de Ilia e Decker
no primeiro filme de Jornada para o cinema. Talvez,
a criatividade dos autores pudesse ser melhor trabalhada evitando desfechos já
conhecidos, embora haja coerência com a saga em geral e o romance descrito na
trama que eles inventaram. É interessante ver também que, para os autores, aquela
boa e velha insígnia da Enterprise, que se tornou geral para toda a Frota Estelar,
simboliza o movimento de dobra, em formato de uma gota, contendo uma nave estelar. Santa
Criatividade, Batman! Se você estiver sem fazer nada neste verão, arranjem um
exemplar de "Federation"
e leia. Seu tempo não será perdido. |