MANCHETE
DO EPISÓDIO
Obra Clássica inspira Jornada
Literária
Episódio
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Data Estelar:
3619.2.
Kirk e Spock junto com uma
equipe de segurança da Enterprise, estão conduzindo uma pesquisa no planeta
Argus X, quando o capitão percebe um cheiro familiar. Imediatamente ele ordena
uma busca pele perímetro e coloca os tripulantes em alerta, com instruções de
procurar pela substância conhecida como dikironium na atmosfera, e para atirar
em qualquer nuvem de gasosa que eles possam encontrar.
Kirk informa a Scott que pretende ficar no planeta e concluir a investigação
que iniciou, apesar do engenheiro chefe lembrá-lo de que a Enterprise tem um
importante encontro com a USS Yorktown em cerca de oito horas.
A equipe de segurança encontra a nuvem e a abre fogo, mas a ação é inútil
contra a criatura. Eles tentam avisam a Kirk, mas quando este e Spock chegam ao
local, descobrem dois tripulantes mortos, e um terceiro, o alferes Rizzo, em
estado grave que é levado de volta a nave para tratamento.
A bordo da nave, Chappel informa a Kirk e McCoy que Rizzo permanece
inconsciente. Todos os glóbulos vermelhos do sangue do tripulante foram de
alguma forma, sugados, e o mesmo permanece vivo a graças a uma massiva transfusão
de sangue, procedimento que não é suficiente para salvar a vida de Rizzo.
A autopsia dos tripulantes mortos revela que todas as células vermelhas do seu
sangue foram removidas sem que qualquer marca em seu corpo pudesse ser
encontrada. Kirk mantem a Enterprise em órbita para investigar o mistério,
apesar dos protestos de Spock, Scott e McCoy. A Yorktown aguarda a chegada da
Enterprise com um carregamento de vacinas para debelar uma epidemia no planeta
Theta VII. Mesmo assim, Kirk matem a sua decisão.
McCoy parece não ter pistas sobre o que aconteceu aos tripulantes, mas o capitão
sugere medico procure nos registros da U.S.S. Farragut, por mortes com as mesmas
características há onze anos atrás, quando Kirk servia a bordo ainda como um
jovem tenente.
A pedido de Kirk, McCoy reanima Rizzo. Embora este ainda esteja semi-consciente,
Kirk questiona o alferes sobre o que aconteceu ao grupo na superfície. Ele
pergunta se o homem teria sentido um cheiro adocicado, fato confirmado pelo
tripulante. Kirk que saber se Rizzo teria percebido alguma inteligência na
suposta criatura, mas o tripulante adormece novamente.
Kirk retorna a ponte, onde ignora o informe de Uhura sobre uma mensagem urgente
do comando da Frota Estelar. Ao receber de Spock a informação de que a busca
através dos sensores é negativa, ele começa a fazer conjecturas sobre os
motivos da não detecção da suposta criatura. O capitão parece acreditar que
este ser é composto de um material raro, que é capaz de se camuflar e é
inteligente, ao ponto de evitar a detecção pelos sensores da nave. Spock
teoriza que para isto, a criatura deveria ser capaz de mudar sua estrutura
molecular. Em seguida, seguindo a sugestão de Kirk, Spock segue para a
enfermaria a fim de examinar os registros da Farragut junto com McCoy.
Ao mesmo que tempo que recebe a noticia da morte do alferes Rizzo, Kirk recebe o
novo oficial de segurança, o alferes Garrovick, que era amigo do falecido
oficial. Kirk ordena que o alferes forme uma equipe armada para descer com ele
ao planeta e caçar a criatura.
Uma vez na superfície, eles localizam a criatura, e Kirk ordena que o grupo se
divida em dois, com Kirk no comando de um deles e Garrovick no outro, na
tentativa de tentar cercar e atacá-la. O grupo liderado pelo alferes encontra a
criatura primeiro e é atacado. O alferes atira, mas perde um segundo para tomar
a decisão, dando tempo de o seu grupo ser envolvido pela massa gasosa. Kirk
ouve os disparos e corre para ajudar, mas quando chega, encontra apenas
Garrovick, de pé observando os dois tripulantes caídos ao chão.
O grupo de descida retorna a nave. Um dos tripulantes atacado está morto e o
segundo em estado grave, e Kirk convencido de que esta criatura é a mesma que
atacou a Farragut onze anos atrás. McCoy, Spock e Garrovick encontram se com o
capitão para discutir o relatório do alferes, que conta os detalhes de sua
experiência, inclusive sua hesitação em atirar. Como punição pelo que
considerou uma falha em sua ações, Kirk retira o alferes de serviço e ordena
que ele permaneça confinado em seus alojamentos, apesar de Spock e McCoy
demonstrarem não concordar com esta decisão.
De volta a ponte, Kirk recebe a informação de que a nave estará pronta para
partir em meia hora, mas Kirk diz que ainda não pretende deixar a órbita do
planeta. Scott mais uma vez lembra ao capitão a necessidade dos remédios
transportados pela Enterprise em Theta 7, irritando Kirk, que perde
momentaneamente o controle da situação, dizendo estar cansado de ter seus
oficiais superiores conspirando contra ele. Apesar de perceber seu erro e
declarar isto imediatamente a Scott, ele chama a atenção de Chekov severamente
quando o alferes informa não estar conseguindo localizar a criatura na superfície
do planeta.
.
Enquanto isto, Spock procura McCoy a respeito da fixação do capitão da
Enterprise pela busca da criatura. Spock informa a McCoy que 11 anos antes, Kirk,
sob o comando do capitão Garrovick, então oficial comandante da Farragut,
esteve diante de uma situação similar a que estão enfrentando agora. O capitão
da Farragut era pai do alferes Garrovick.
Pouco tempo depois, McCoy vai até o alojamento de Kirk para discutir sua
recentes ações. O medico demonstra estar a par dos eventos de onde anos atrás,
quando Kirk era um jovem alferes servindo a bordo da Farragut. McCoy sugere que
Kirk considera-se culpado pelos eventos ocorridos naquela época, incluindo a
morte de seu capitão e mais duzentos homens da tripulação. Como o alferes
Garrovick, Kirk hesitou em atirar na criatura.
McCoy alega que Kirk era muito jovem, que não pode cuploar-se por isto, e
apresenta como prova o registro do próprio capitão Garrovick sobre suas ações
anos atrás, mas Kirk insiste que poderia ter destruído a criatura, e com isto
evitado as mortes da tripulação. Ele acredita que a criatura e má,
inteligente, e que deve ser destruída, o que McCoy classifica como obsessão.
Kirk reage mal a critica de McCoy, e este então informa que pretende fazer um
relatório medico sobre a condição psicológica do capitão tendo como base
sua conduta a respeito deste assunto. Para isto conta com o apoio de Spock, como
testemunha necessária ao processo, e que se encontrava esperando do lado de
fora do alojamento de Kirk.
Os dois então passam a questionar Kirk sobre suas recentes decisões de
comando, e o capitão inicialmente tem sucesso em defender sua posição junto
as seus dois oficiais. Ele argumenta que se sua suposição estiver correta, e
esta for a mesma criatura que atacou a Farragut anos atrás, tal suposição
indica que a criatura seria capaz de viajar pelo espaço, o que a torna um
perigo para a navegação inter estelar. McCoy e Spock são sensibilizados pela
argumentação de Kirk, e decidem apoiá-lo, por enquanto. Kirk por sua vez
aceita as ponderações de seus oficias, entendendo que o que fizeram foi para o
bem maior da nave e sua tripulação.
Neste momento Chekov comunica que detectou a nuvem, deixando o planeta. Kirk
ordena que curso de perseguição, mas a nuvem consegue imprimir uma velocidade
superior a dobra 8, velocidade que a Enterprise não poder sustentar por muito
tempo, sem danificar os motores. Após alguma hesitação, Kirk abandona a
perseguição da nuvem.
Neste meio tempo a enfermeira Chapel vai até o alojamento de Garrovick, levar
comida ao alferes, ainda se culpa por não ter destruído a criatura na superfície.
Chapel diz ao alferes que a nave esta caçando a criatura pelo espaço, e que o
capitão perdeu o seu senso de perspectiva. Ela tenta animar Garrovick, mas não
tem muito sucesso. Quando ela sai, o alferes joga atira para longe a bandeja,
que danifica o controle de ventilação sem que ele perceba.
Na ponte, a criatura que seguia em fuga reduz a velocidade, e Kirk aproveita
para atacá-la. A nave entra em alerta vermelho, o que faz Garrovick deixar o
alojamento e ir até a ponte, onde solicita permissão para voltar ao seu posto.
A Enterprise atira tudo o que tem contra a criatura, mas a ação não tem
nenhum efeito, além de fazer a nuvem se voltar contra a nave. Os escudos
defletores não são capazes de deter a nuvem, que entra na nave através de uma
abertura de ventilação dos motores de impulso, ataca dois tripulantes e se
instala no sistema de ventilação. Kirk ordena a reversão da ventilação, mas
isto deixa apenas duas horas de ar para a tripulação.
Os oficias superiores estão agora discutindo a situação, a qual McCoy
atribuiu a obsessão de Kirk pela caçada a criatura. Spock conclui que a
criatura resolveu inverter os papeis, e se tornar caçador ao invés de caça,
também que as ações da criatura indicam inteligência. Scott deixa a sala com
ordens de inundar o sistema de ventilação com lixo radioativo, numa tentativa
de eliminar ou ao menos expulsar a criatura, seguido por McCoy, que antes de
sair pede desculpas a Kirk pelo seu julgamento, segundo o próprio doutor,
equivocado, das ações do capitão.
Spock, agora sozinho com Kirk, tenta fazê-lo aceitar que as armas se mostraram
ineficazes contra a criatura devido as suas habilidades únicas, logo Kirk não
teria tido sucesso em eliminar a criatura onze anos atrás, tanto quanto agora.
Kirk não demonstra nenhum tipo de alivio por conta disto.
Mais tarde, Spock vai até o alojamento de Garrovick tentar convencê-lo que sua
hesitação no planeta teria sido fruto de biologia humana, portanto natural e
esperada para a sua espécie, mas ele é subitamente interrompido ao perceber um
odor no ambiente que indica a presença da criatura. Eles percebem que a nuvem
está saindo pela ventilação. Spock empurra o alferes para fora do alojamento
enquanto tenta deter a criatura, usando as próprias mãos, após perceber que
os controles de ventilação estão quebrados.
Garrovick avisa ao comando. Kirk manda que a pressão seja revertida e depois
segue em direção ao alojamento. Apesar da preocupação de todos, Spock sai do
alojamento sem sinal de ter sido afetado pela criatura. A avaliação é de que
como o sangue vulcano é baseado em cobre, sua hemoglobina não atendia as
necessidades da “dieta” da criatura. O capitão entra na cabine, e nota que
o cheiro deixado desta vez é diferente, e que de alguma forma parece agora
entender a criatura. Eles são avisados por Scott que a nuvem deixou a nave de
volta pelo mesmo lugar por onde entrou.
O grupo volta a ponte, mas antes, Kirk conversa com Garrovick a respeito da
ineficiência dos fasers da Enterprise, da mesma forma, como os fasers de mão
seriam, não havendo por isto motivo para que Garrovick se recriminasse pelas
suas ações quando comandava o grupo em terra. O capitão libera Garrovick para
o retorno ao serviço, e se dirige ao comando.
Na ponte, Chekov que a nuvem se move em alta velocidade para longe do alcance
dos sensores da Enterprise. Apesar de não ser capaz de acompanhá-la, Kirk
acredita saber para onde a nuvem se dirige. De alguma forma, ela acredita que o
cheiro que sentiu na cabine de Garrovick indicava “casa”, e que “casa”
seria o planeta Tycho IV, onde a Farragut havia sido atacada onze anos antes.
Apesar da objeção de McCoy, ainda em função da urgência em encontrar a
Yorktown, o capitão decide levar a nave até Tycho IV, pois existem evidências
de que a criatura pretende se reproduzir.
É montado um plano envolvendo o uso de anti-matéria para destruir a criatura,
e sangue dos estoques da enfermaria da Enterprise para atraí-la a armadilha.
Kirk e Garrovick descem ao planeta para executar a tarefa. Entretanto, um
imprevisto acontece: na superfície, enquanto os dois posicionam a “bomba”
de anti-matéria, a criatura consome o hemoplasma, deixando os dois sem a isca.
Kirk então decide colocar a si mesmo no papel de isca.
Ele ordena que Garrovick retorne a nave, mas o alferes tenta nocautear Kirk,
para mandá-lo de volta a nave, e ficar como isca. Ele falha na ação, a ambos
acabam como isca da criatura, que agora se move na direção dos dois. Eles
aguardam até o ultimo instante possível e então detonam a bomba, ao mesmo
tempo em que a Enterprise tenta tele transportar os dois de volta.
Apesar das dificuldades extras causadas pela reação da explosão, Spock tem
sucesso em trazer os dois de volta, e a criatura é destruída com sucesso. Com
a questão solucionada, Kirk convida Garrovick para contar ao rapaz algumas
historias sobre o pai dele, e a Enterprise finalmente segue para encontrar a
Yorktown.
Comentários:
Segundo episodio da Série
Clássica inspirado no clássico de Hermann Melville, “Moby Dick”, (o
primeiro foi o clássico "The Doomsday Machine"),
e que não por acaso seria fonte de inspiração de outras aventuras adiante na
franquia. É fácil reconhecer a sombra da baleia branca em outros segmentos
importantes de Jornada, como Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan
(1982) e Primeiro Contato (1996), dois dos filmes mais festejados da
Historia de Jornada no cinema.
"Obsession" também tem o seu valor, embora o seu potencial
dramático se esvaia um pouco, à medida que o episodio caminha para o seu final
e a fixação de Kirk pela perseguição da criatura gasosa revela-se correta,
afinal Kirk é o herói, e justamente por isto o segmento perde muito da força
que sugere no inicio. Em “Moby Dick”, os protagonistas se revezam, e pouco a
pouco, à medida que o Pequod navega para o próprio fim, percebemos que o
verdadeiro herói é na verdade a Baleia, e não Ahab, e neste sentido, "The
Doomsday Machine" tem muito mais a ver com a obra de Melville do
que o atual segmento.
Sobre o episodio em si, mais uma vez precisamos fazer uso da suspensão de
descrença, pois alguns fatos necessários ao seu andamento precisam de boa dose
de boa intenção por parte do espectador. O primeiro deles é o fato da
Enterprise estar se dando ao luxo de conduzir pesquisas de minério em um
planeta afastado, enquanto precisa se encontrar com a USS Yorktown e transferir
vacinas vitais para debelar uma epidemia.
Mesmo aceitando que a Enterprise tenha um tempo de folga antes do tal encontro,
(o que foi desmentido logo depois), mandaria o bom senso que ela prosseguisse
rumo ao seu compromisso de muito maior importância, e que depois outra nave,
como acabou acontecendo, conduzisse tal pesquisa. Este bom senso é contrariado
apenas para que Kirk pudesse encontrar a criatura, que alias, numa clara
reverencia a “Moby Dick”, ele reconhece pelo cheiro, como detalharemos mais
tarde.
A emergência no planeta Theta VII é outro elemento introduzido de forma forçada,
para criar um senso de urgência quanto à partida da Enterprise. Não houvesse
motivo para seguir viagem logo, todo o comportamento de Kirk seria factível com
o seu modus operandi normal e não haveria, portanto nenhum motivo para qualificá-lo
de obsessivo, tornando este mais um exemplo de caça a criatura malvada da
semana. O autor aceita neste caso o axioma “Os fins justificam os meios”.
De volta aos acontecimentos iniciais do planeta, após a serie de mortes
mostrarem os elementos básicos que permitissem ao capitão começar a
identificar a nuvem encontrada na superfície como a mesma criatura que atacou a
USS Farragut, onze anos antes, o segmento começa a ficar interessante, pois
começa a lidar com fatos que estavam a adormecidos na mente de Kirk. Ele se
considera de alguma maneira culpado pela morte de vários tripulantes da nave
onde servia, assim como do capitão Garrovick, então seu oficial comandante.
Os fatos vão sendo revelados paulatinamente, de forma que é proposta a audiência
a idéia que Kirk nutre um sentimento de vingança, e mais do que isto, busca
algum tipo de redenção contra a criatura. As constantes interpelações de
seus oficias superiores a respeito da insistência do capitão em manter a
Enterprise em órbita, comprometendo o seu posterior encontro reforçam tal
associação.
Outra coincidência por demais forçada é a presença do alferes Garrovick,
filho do falecido capitão Garrovick a bordo da Enterprise (sem que Kirk tivesse
conhecimento até então ), sendo ele o próximo oficial na linha de comando da
segurança, o que o levaria a condição de liderar o grupo que procurou e
combateu a criatura, em terra posteriormente.
A presença de Garrovick é pouco ou mal explorada no segmento. Ele funciona
quase como um reflexo, onze anos mais jovem, trazendo ao espectador a
possibilidade de conhecer um pouco do então tenente Kirk. Tivesse um pouco mais
de espaço, e fosse o segmento conduzido através deste personagem, talvez o
mesmo ganhasse muito em qualidade dramática, mas como isto não acontece,
Garrovick, bem como toda a informação sugerida a respeito do passado de Kirk
servem apenas para engrossar os compêndios da Série Clássica.
De toda forma, a questão sobre a eficiência dos fasers contra a tal criatura
também é superficial demais. Onze anos antes Kirk poderia até achar que os
fasers fariam algum efeito contra ela, mas após ouvir a opinião de Spock a
respeito, já dava para perceber que um ser com as características sugeridas
pelo roteiro não sofreria efeito dos fasers.
Um ponto da trama que também merece atenção é a necessidade de estabelecer
que tal criatura é inteligente. Kirk persegue tal possibilidade, tentando de
toda forma determinar que a criatura não age por instinto, mas que planeja sua
ações, e que tais ações são essencialmente más. Um comportamento oposto,
por exemplo, ao notado em “Devil in The Dark”, quando a constatação
de que a “Horta” era um ser inteligente serviu para que o eixo da trama
daquele segmento mudasse radicalmente, permitindo a sua sobrevivência, e mais,
cooperação mutua.
Neste ponto é onde Kirk mais se assemelha a Ahab. Ele deixa claramente os
acontecimentos de seu passado determinar suas ações e seu julgamento. Não há
na mente de Kirk nenhuma chance de tentar compreender, e quem sabe, encontrar
uma saída pacifica. Para ele, a criatura é má, e deve ser destruída, tal
como Ahab acredita ser sua Moby Dick, muito mais que uma Baleia, mas a encarnação
do mal, quase invencível.
Da mesma forma somos levados a crer que a criatura de Kirk é um ser indestrutível,
capaz de esconder, imune as suas armas, e capaz de atacar de forma traiçoeira e
mortal.
Ele pune Garrovick, mas na verdade está punindo a si mesmo, pelo seu suposto
erro anterior. Kirk também demonstra sinais de paranóia ao criticar o
comportamento de sua tripulação, que a todo o momento o relembram da
necessidade de seguir viagem.
Porem, justamente quanto o roteiro caminha para atribuir a Kirk elementos que
depõem contra sua sanidade mental, a trama muda de eixo. Kirk começa a
questionar a correção de suas atitudes, o que é o primeiro indicativo de que
ele está no controle emocional de suas ações. Quando interpelado por Spock e
McCoy, ele reconhece a legitimidade da ação de seus dois oficiais, o que reforça
tal sentimento.
Daí em diante, Kirk assume de novo o comando, e volta a ser o “herói” que
conhecemos. Ele consegue argumentar de forma razoável com os dois a respeito de
suas motivações, e então, por mais um coincidência de roteiro, a criatura
surge, deixando o planeta em velocidade de obra, comprovando uma das teorias do
capitão, de que tal ser é capaz de se mover pelo espaço.
A Enterprise começa então a sua caçada, e mais uma vez Kirk precisa tomar uma
decisão critica: continuar a perseguir a nuvem pelo espaço, e comprometer a
segurança da nave, ou recuar. Ele recua, mostrando mais uma vez que está no
controle da situação e começando a reconquistar o apoio de seus oficiais.
Desta vez é a criatura que muda de ação. Após deixar claro que pode superar
a Enterprise em velocidade, ela se volta para atacar a nave, assim como Moby
Dick ataca o Pequod, sem aviso, dando a Kirk a desculpa que precisa para combatê-la.
Após de voltar contra a nave e se instalar em seu interior através de uma
abertura que fica conveniente aberta, voltamos ao debate sobre a caça da
criatura. McCoy ainda não se convenceu totalmente, mas Spock agora já não tem
duvidas de que é preciso combatê-la, em outro impressionante paralelo com
“Moby Dick”.
Lá, apesar dos diversos sinais que surgem ao longo da narrativa apontar para
uma tragédia, os homens do Pequod, vão cedendo à mesma obsessão e Ahab,
inclusive Starbuck, seu leal primeiro oficial, um homem gentil e prudente, mas
que acaba por ceder a fixação de seu capitão. Da mesma forma Spock, por meio
da lógica que guia suas ações, acaba se unindo filosoficamente a Kirk em sua
caçada.
Spock também tem uma participação singular aqui, primeiro ao tentar confortar
da maneira que pode tanto Kirk quanto Garrovick, depois, por tentar deter a
entrada da nuvem no alojamento (através da entrada de ventilação
convenientemente quebrada pelo alferes, pouco tempo antes) de Garrovick com as mãos
em uma atitude totalmente ilógica, visto que era obvio que tal ação era
impossível.
A presença da criatura no quarto de Spock permite mais um momento inspirado
literalmente nas paginas do romance de Melville. A bordo do Pequod, em certo
momento, no capitulo que precede a caçada final a grande baleia branca, Ahab
parece perceber a sua insanidade, e esta prestes ordenar o retorno do navio, mas
então ele sente o “cheiro” da baleia, e a caçada recomeça. A bordo da
Enterprise, Kirk sabe, pelo cheiro, que a criatura vai para casa, e por extensão
sabe o que significa “casa” para ela.
Segue-se então a conclusão da ultima pendência. Kirk finalmente percebe a
inutilidade de suas ações. Ele libera Garrovick de sua culpa, e ai fazer isto,
libera si mesmo de sua própria culpa.
Deste ponto em diante, este segmento assume os contornos de um típico episodio
semanal da Série Clássica. Kirk ira liderar a Enterprise e sua tripulação em
mais uma missão que irá salvar a galáxia de uma perigosa criatura espacial,
usando para isto um dispositivo High tech (a bomba matéria – anti-matéria)
criado a ultima hora, com direito a uma dose de heroísmo de Garrovick e Kirk.
Este é um episodio do grande trio, e o resto da tripulação literalmente faz
ponta. Mesmo Stephen Brooks, cujo personagem (Garrovick) é um componente
essencial da trama, não tem tanto espaço para trabalhar, e conta com um
material muito limitado. Shatner, Nimoy e Kelley apresentam a costumeira química,
e trabalham de forma satisfatória e competente ao longo do episodio, mas não há
destaques.
A percepção da criatura como uma entidade má simplesmente, e totalmente
unidimensional, vai de encontro às necessidades de roteiro, mas reduz muito a
qualidade dramática do segmento, e peca um pouco contra a mensagem de
entendimento geralmente proposta pelos melhores episódios de Jornada,
mas nada que agrida a integridade da série como um todo, e apenas torna a
conclusão um pouco previsível.
No fim de tudo, o excesso de coincidências necessárias à viabilidade do
segmento, a falta de um melhor aproveitamento do personagem Garrovick, bem como
dos fatos do passado de Kirk como oficial da Farragut, e a necessidade de
conduzir a trama para o final heróico, onde o bem vence o mal, tornando Kirk o
claro representante do “bem” e a criatura, o “mal”, compromete a
amplitude do segmento.
É claro que "Obsession" é muito menor do que “Moby Dick”,
o que de forma alguma se traduz em demérito, visto a grandeza e complexidade da
obra de Hermann Melville. Pelo contrario, o segmento consegue capturar um pouco
da essência desta obra única e traz uma abordagem bastante interessante, e
impar. Tal feito já havia sido alcançado com sucesso com outras importantes
obras, como Lost Paradise (“Space Seed”) de Milton, MacBeth ("The
Conscience of the King") de William Shakespeare, e mostrando uma certa
afinidade de Jornada com os clássicos.
Embora filosoficamente, "The Doomsday Machine"
consiga um eco maior com a obra que inspira, justamente por se concentrar na sua
essência, "Obsession" é, sem duvida, uma boa dose de
entretenimento.
Citações:
Kirk:
"Intuition, however illogical, Mister Spock, is recognized as a command
prerogative.”
("Intuição, embora ilógica, senhor Spock, é reconhecida como uma
prerrogativa de comando".) McCoy: "Crazy
way to travel. Spreading a man's molecules all over the universe."
("Jeito maluco de viajar. Espalhar as moléculas de um homem pelo universo".) McCoy: "The
semi-conscious mind is a tricky thing. A man never knows just how much is real
or how much is imagination."
("A mente semi-conciente é uma coisa complicada. Um homem nunca sabe o
quanto é real e o quanto é imaginação.") Spock: "There
are many aspects of human irrationality I do not yet comprehend. Obsession, for
one."
("Exsitem muitos aspectos da irracionalidade humana que eu ainda não
compreendo. A Obessão é uma.") McCoy: "Monsters
come in many forms. And do you know the greatest monster of them all? Guilt."
("Monstros vem de muitas forma. E você sabe qual o maior de todos os
monstros? Culpa.") Spock: "Captain,
thank heaven!"
("Capitão, graças aos céus!") Spock: "Mister
Scott, there was no deity involved. It was my cross-circuiting to B that
recovered them."
("Senhor Scott, não houve nenhuma divindade envolvida. Foi minha
passagem de circuto de A para B que os trouxe de volta.") McCoy: "Well,
then, thank pitchforks and pointed ears."
("Bem, então graças ao tridente e as orelhas pontudas.") Trivia:
Eddie Paskey (Lt. Leslie) é more neste episodio, mas reaparece posteriormente
em várias cenas deste episodio, vivo, por incrível que pareça.
Jerry Ayres, outro red shirt vitima da nuvem, também foi morto em sua primeira
aparição no episodio “Arena”.
Art Wallace escreveu, também para a Série Clássica, o episodio da terceira
temporada “Assignment: Earth”.
Este episodio estabelece que o sangue Vulcano é baseado em cobre.
Muitos navios da marinha americana receberam o nome USS Yorktown. Foi o porta
aviões USS YORKTOWN (CV 10) que recebeu os astronautas da missão Apollo 8, a
primeira a levar homens a Lua. A missão decolou em 21 de dezembro de 1968,
retornando a terra em 27 de dezembro de 1968. A tripulação formada pelos
astronautas Frank Borman, James A. Lovell, Jr. e William A. Anders, foram os
primeiros homens a circum-navegar a Lua, e os primeiros astronautas a abandonar
a órbita da Terra.
Ficha
técnica:
Escrito por Art Wallace
Direção de Ralph Senensky
Música de Gerald Fried
Exibido em 15 de dezembro de 1967
Produção: 47
Elenco:
William Shatner como James Tiberius
Kirk Leonard Nimoy como Spock DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy Nichelle Nichols como Uhura George
Takei como Hikaru Sulu
Elenco convidado:
Stephen Brooks como alferes
Garrovick
Jerry Ayres como alferes Rizzo
Majel Barrett como Christine Chapel
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