MANCHETE
DO EPISÓDIO
Segmento
aposta em velho conhecido e humor pouco convencional
Episódio
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Data Estelar:
4513.3.
Um tripulante chamado
Norman, que está a bordo da Enterprise há apenas três dias, intriga o Dr.
McCoy por causa de seu comportamento incomum e distante. As suspeitas do médico
são confirmadas quando Norman desabilita o operador do controle auxiliar da
Enterprise e redireciona a nave. Depois, Norman assalta a Engenharia da nave e
aumenta a velocidade para dobra sete, colocando uma armadilha nos controles para
impedir que suas modificações sejam desfeitas. Norman revela ser um andróide,
seqüestra a Enterprise e leva a nave e toda a tripulação para uma viagem de
quatro dias até um planeta não mapeado e desconhecido, habitado por andróides
que existem apenas para servir humanos.
Lá, Kirk encontra um
antigo conhecido: Harcourt Fenton Mudd, (do episódio da primeira temporada,
“Mudd’s women”). Mudd fugiu da prisão, onde estava preso e condenado à
morte por fraude e acabou indo parar naquele planeta, onde estava vivendo como
um rei e criou um exército de 500 mulheres andróides para satisfazer seus
desejos. Ele também criou uma versão de sua rabugenta esposa, Stella, mas
diferente da verdadeira, a andróide segue as instruções de se calar quando
Mudd ordena.
Mudd está sendo estudado
pelos andróides, que são hospitaleiros e fazem todas as vontades do meliante,
mas se recusam a deixá-lo partir. Os andróides dizem a Kirk que foram construídos
por alienígenas nativos da galaxia de Andromeda, mas a civilização que os
construiu foi destruída por uma supernova, deixando-os sem supervisão de
humanos. Agora, os andróides acharam um novo propósito de existência com Mudd,
por serem máquinas criadas para servir humanos. Spock faz diversas perguntas e
descobre que existem 207.809 andróides e que eles parecem ser controlados por
uma força coordenadora central.
Mudd teletransporta andróides
para a Enterprise para que estes evacuam toda a tripulação da nave. Chekov
fica fascinado quando descobre que as andróides fêmeas foram programadas para
desenvolver todas as atividades que as fêmeas humanas são capazes. Uhura também
não acha o cárcere tão desagradável quando lhe é prometida a imortalidade.
A idéia de Mudd de seqüestrar a Enterprise era a de trocar Kirk e a tripulação
por sua liberdade, para que ele pudesse deixar o planeta. Mas, os andróides não
permitem que Harry finalize seu plano, pois eles acham os humanos muito
destrutivos e planejam ludibriar, “servir” (de acordo com sua programação)
todos os humanos da galáxia para assim poderem controlá-los, utilizando a
Enterprise como veículo e instrumento.
Spock percebe que existem
muitos robôs dos modelos Alice, Oscar e outros, mas somente um Norman. Ele
especula que este deve ser o coordenador central e sugere para que a tripulação
coordene suas tentativas de fuga e seus esforços em tentar desabilitar Norman.
A tripulação então começa a bolar uma maneira de escapar: eles sedam Mudd
com tranqüilizantes e dizem aos andróides que precisam ir até a Enterprise
para curá-lo. Os robôs estão para permitir isso, quando Uhura revela aos
captores que àquilo era apenas um plano da tripulação para voltar à bordo da
Enterprise, e ela diz que sua motivação de trair seus colegas era por que
queria se tornar imortal. Na verdade, Uhura estava seguindo um plano da tripulação,
assim, eles começam uma série de ações ilógicas, teatrais e infantis para
confundir os andróides, para tentar desabilitá-los, em especial Norman, que é
o coordenador central. O objetivo é atingido quando Harry diz a Norman: “Tudo
que eu digo é mentira” e o robô não consegue processar este paradoxo.
Os robôs também são
reprogramados para sua tarefa original de tornar o planeta habitável para vida
humana. Kirk deixa Harry no planeta para servir de exemplo dos defeitos e falhas
humanas para os andróides. Como uma lição final para Harry Mudd, Kirk deixa
no planeta várias cópias de Stella, esposa de Mudd, mas estas cópias não
acatam as ordens de Harry, como a anterior, para desespero do trapaceiro.
Comentários:
Pode uma
reciclagem ser original ? Por mais que tal indagação seja em principio
contraditória, eventualmente sim, como faz esta edição da Série Clássica,
que traz de volta um conhecido personagem e se aproveita de alguns elementos já
vistos na temporada anterior. Apesar de muitas vezes incompreendido, este
segmento traz certo frescor por sua abordagem bem humorada. Mas não se deixe
enganar, pois ainda assim ele consegue trazer embutido a mensagem humanista que
sempre permeou a existência de Jornada, e principalmente a existência
da Série Clássica.
“I, Mudd” é uma parábola bem humorada que reafirma o conceito Gene
Roddenbbery sobre a importância do homem além de qualquer avanço tecnológico.
Os andróides deste episodio são perfeitos, e o mundo em que eles vivem é um
sonho onde, segundo o próprio Kirk, todas as necessidades de um ser humano
podem ser satisfeitas. Podemos resistir a esta tentação, e mais, que mal pode
haver nisto ?
Mais uma vez a “moral da historia” tenta nos remeter ao perigo que
representa a possibilidade de deixarmos as maquinas controlar nossos destinos,
quando se percebe que os andróides, movidos pela maior boa intenção (!?),
podem vir a transformar a galáxia em um local “anti-séptico” demais para a
humanidade. Dificilmente Mudd seria feliz no século 24..
Mas há outra mensagem (subliminar) presente na explicação de Norman para o
desaparecimento dos seus criadores, que mostra o preço que tal civilização
pagou por esta escolha. Quando veio à catástrofe que os extinguiu, os únicos
seres que restaram eram as maquinas criadas por este misterioso povo. Usando
como ponto de comparação o modelo de existência que Norman e seus
companheiros queriam oferecer a tripulação da Enterprise, e extrapolando que
seria este o estilo de vida dos criadores dos andróides, conclui-se que os
“criadores” chegaram ao ponto de delegar todas as suas tarefas às maquinas,
enquanto de dedicavam a “criar uma ordem social perfeita”. Parece claro que
estes “criadores” chegaram a um ponto onde não tinham mais o tal “senso
de propósito” do qual fala McCoy.
Quando confrontamos tal opção com a missão da Enterprise, “Indo onde nenhum
homem jamais esteve” e eventualmente ficando sua bandeira por lá, a metáfora
contida nesta pequena porção do texto fica clara.
Passando ao obvio, o segmento traz de volta ao cenário de Jornada nas
Estrelas Harcourt Fenton Mudd (Roger C. Carmel), a quem fomos apresentados
na primeira temporada da série, em “Mudd's Women”. Quem se lembra
bem da primeira aparição de Mudd vai notar a transformação no perfil do
convidado especial da semana, antes um pilantra vil sórdido e totalmente
desprovido de caráter . Já o personagem deste seguimento é mais o tipo “bom
malandro”, com aquele jeitão preguiçoso e “Bon Vivant”, e mais
sintonizado com esta nova proposta, bem menos dramática que a anterior
envolvendo o personagem.
É inegável que Carmel conseguiu criar um personagem de muito carisma, o único
com direito a bis nas temporadas da Série Clássica. Harcourt Fenton Mudd é um
personagem que desperta a sensação “ame-o ou deixe-o”, um misto de Dr
Smith (Lost in Space) com Quark (DS9). De fato, este bem que poderia ser
considerado o primeiro Ferengi da historia de Jornada. Muitos fãs não
gostam de Mudd, mas existe uma outra forte corrente que nutre admiração por
ele. De fato, o autor já passou pelas duas experiências, e no momento, integra
o segundo time.
Porém, para quem não se lembra ou não notou, o criador na historia deste novo
segmento, Stephen Kandel, (intencionalmente ou não) re-trabalha um outro enredo
já conhecido em Jornada, "What are Little Girls Made Of?".
Temos em ambos os casos, uma grupo de andróides, criados por seres muito
antigos e extintos encontrados por acaso e que podem eventualmente vir a
substituir até mesmo seres humanos.
Diferente do dramático "What,,, , o segmento em questão tem foco no
humor, que está presente todo o tempo, palmo a palmo linha a linha, não de
forma pontual, mas preenchendo praticamente todos os diálogos dos personagens.
O humor visto aqui mistura o tratamento usual dado a esta questão em Jornada
com uma outra proposta mais singular. Existem diálogos rápidos e mordazes,
como na abertura do episodio, onde McCoy tenta explicar a Spock os motivos de
suas preocupações quanto a Norman, sem sucesso, ou quando Kirk e Mudd debatem
sobre a forma como o mascate chegou naquele lugar. Alias, o segmento abre e
fecha com a clássica disputa filosófica entre Spock e McCoy.
Mas temos também uma outra faceta humorística, fortemente representada pela
cena onde Kirk e seus homens (e mulheres) colocam em pratica o seu plano de
fuga, que gera cenas de humor “nonsense” tão surreais que seriam dignas de
uma peça do Monty Python. Toda a ação que começa quando se descobre o plano
dos andróides e culmina com a derrota destes, está impregnada do estilo que
viria a ser a marca registrada do grupo inglês e é sem duvida alguma o maior
beneficio do segmento, que consegue caminhar muito bem no limiar entre ser um
episodio bem humorado e agradável ou uma bobagem completa com muita elegância.
De volta aos personagens, a mudança de perfil do personagem Mudd é muito
similar a mudança de estilo do já citado velho “bad guy”, velho conhecido
dos fãs da ficção da década de sessenta, o ardiloso Doutor Zachary Smith,
que sofreu o mesmo processo da primeira para a segunda temporada da serie Lost
in Space. Se lembrarmos que a serie Batman, de Adam West, era sucesso de audiência
neste mesmo período, não seria errado concluir que havia uma tendência de
levar mais humor a TV da época, mesmo em produções que não tinham este tema
com principal, como Jornada.
Mas tal mudança não atinge somente Mudd. Toda a tripulação tem um
comportamento mais leve. Um exemplo disto é a passividade incomum com que Kirk
aceita o seqüestro da Enterprise pelo andróide Norman, coisa rara na serie.
Isto só pode ser explicado pela proposta deste segmento, radicalmente
diferente. Enquanto “Mudd's Women” lidava com temas pesados, como
prostituição, trafico de escravas brancas e principalmente o uso de drogas, o
presente segmento parece ser a observação do ser humano, no que ele tem de
melhor e pior, tema que viria a ser recorrente em Jornada, sem duvida,
mas que aqui é tratado de forma singular.
Mais uma vez Spock é um componente fundamental da trama, ao agir como elemento
de ligação entre a tripulação da Enterprise e os Andróides de Mudd, e ao
fazer isto nos dá uma oportunidade interessante de observar este personagem de
um ângulo diferente. Comumente Spock é comparado com um computador ou uma
maquina em função de sua lógica às vezes quase fundamentalista, mas aqui
percebemos que a lógica não precisa ser necessariamente mecânica e o roteiro
ilustra esta diferença. É necessária uma inteligência criativa para poder
equilibrar a lógica e a sabedoria, como nosso vulcano favorito viria a declarar
um dia.
Não é só Spock que se destaca. Este é um dos raros episódios da Série Clássica
em que todos os personagens que viriam a ser eternizados pela comunidade trekker
(com exceção de Sulu) têm boas participações ao longo da trama, que mantêm
o foco em Kirk e Spock, mas equilibra bem as ações entre os outros membros da
equipe. Embora McCoy perca um pouco de espaço, a distribuição deste espaço
entre os outros membros do grupo é bem vinda e eficiente.
Apesar deste equilíbrio, o vôo solo de Spock merece comentário. O vulcano
tradicionalmente sereno começa o episodio “esculachando” McCoy, apóia com
maestria quase todos os momentos importantes do segmento, fornecendo uma contra
ponto irônico e preciso e todas as suas intervenções. Mérito para o mais uma
vez excelente trabalho de Nimoy.
Diz-se que é mais difícil fazer rir que chorar, ou que a comedia é muito mais
difícil que o drama, sendo assim, destaque também para Willian Shatner, que
mais uma vez cala os críticos, com uma atuação soberba e muito competente. É
fato que nem sempre Shatner atingiu este nível, e esta longe da regularidade
positiva de Nimoy, mas é inegável que quando o ator acerta, a Série Clássica
cresce muito. Parece obvio dizer isto, sendo Shatner responsável pelo
personagem principal da série, mas é importante reafirmar este fato, para a
justiça ao ator que sempre é questionado por muitos.
O convidado especial Richard Tatro também consegue fazer um bom papel como o
Andróide Norman, tarefa que deve ter sido ainda mais complicada neste caso.
Tatro deve ter tido muitas dificuldades para se manter sério durante as gravações.
No mais, as participações das atrizes que fizeram o papel dos andróides fêmeas
cumpriram seu papel, embora sem destaque. A musica composta por Samuel Matlovsky
para este segmento também funciona muito bem, e merece destaque positivo.
A cena final, na qual conhecemos o castigo imposto pelo maquiavélico Kirk a
Mudd, com direito a um adeusinho debochado da tripulação da Enterprise é a
cereja do bolo, e encerra o segmento com a muita propriedade. No fim das contas
este é um episodio dos mais interessantes produzidos pela Série Clássica,
único e que vale a pena ser revisitado, mas para aproveitá-lo em sua plenitude
é preciso manter a mente aberta às infinitas diversidades em suas infinitas
combinações.
Citações:
McCoy:
"There's something wrong about a man who never smiles, whose conversation
never varies from the routine of the job, and who won't talk about his
background."
("Existe algo errado a cerca de um homem que nunca sorri, cuja conversa
nunca varia além de sua rotina de trabalho, e que nunca fala sobre sua família.")
Mudd: "Know the penalty for fraud on Deneb 5?"
("Conhece a pena por fraude em Deneb 5?")
Spock: "The guilty party has his choice. Death by electrocution, death
by gas, death by phaser, death by hanging..."
("O acusado tem sua escolha. Morte por eletrocussão, morte por gás, morte
por fazer, morte por estrangulamento...")
Mudd: "The key word in your entire peroration, Mr. Spock, was death."
("A palavra chave em toda sua dissertação, Sr Spock, é morte.")
Mudd: "Knowledge, sir, should be free to all."
("Conhecimento, Sr, devia ser livre para todos.")
Alice: "It is necessary to have purpose."
("É necessario ter um propósito".) Normam:
"Your species is self-destructive. You need our help."
("Sua espécie é auto-destrutiva. Vocês precisam de nossa ajuda.")
Spock: "Logic is a little tweeting bird chirping in a meadow. Logic is a
wreath of pretty flowers which smell bad."
("Lógica é um pássaro pequeno que chilra em um prado. A lógica é uma
grinalda das flores bonitas que cheiram mal".) Trivia:
Harcourt Fenton Mudd retornaria na Série Animada em novembro de 1973,
no episódio “Mudd's Passion”.
A produção da série usou gêmeos para retratar as “séries” de Andróides,
conseguindo um resultado final muito eficiente. Tal recurso, aliado a
criatividade permitiu que os andróides fossem “multiplicados” atendendo as
necessidades do roteiro.
O
primeiro roteiro de “I, Mudd” dava mais atenção ao seqüestro da
Enterprise por Norman. Nesta versão Spock chega a sugerir que o andróide seja
desmontado.
Stephen
Kandel: Além de “I, Mudd” , Stephen Kandel também escreveu "Mudd's
Women" (com Gene Roddenberry) para a Série Clássica. Para a Série
Animada ele foi responsável pelas historias de “Mudd's Passion” e
“Jihad”.
Kandel foi responsável por roteiros de varias series de sucesso dos anos
sessenta a oitenta. Entre as mais conhecidas do publico brasileiro estão "Charlie's
Angels" (As Panteras) "The Wild Wild West" (James West) "Batman"
(Adam West) "Hawaii Five-O", "The Six Million Dollar Man"
"Wonder Woman" "CHiPs" "The Dukes of Hazzard" (Os
Gatões) "Hart to Hart"(Casal 20) "MacGyver"e "Mission:
Impossible" (1966 e 1988).
Este foi o único trabalho do músico Samuel Matlovsky para Jornada nas
Estrelas.
Roger C. Carmel cometeu suicídio em 11 de Novembro 1986.
Ficha
técnica:
Escrito por Stephen Kandel
Direção de Marc Daniels
musica de Samuel Matlovsky
Exibido 11 de março de 1967
Produção: 41
Elenco:
William Shatner como James Tiberius
Kirk Leonard Nimoy como Spock DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy Nichelle Nichols como Uhura George
Takei como Hikaru Sulu
Elenco convidado:
Roger C. Carmel como Harcourt Fenton Mudd
Kay Elliott como Stella Mudd
Richard Tatro como Norman
Rhae e Alyce Andrece como Série Alice
Tom e Ted Legarde como Série Herman
Tamara e Starr Wilson como Série Maisie
Maureen e Colleen Thornton como Série Barbara
Sinopse por Alexandre
Bortuluci
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