Série Clássica
Temporada 2

Análise do episódio por
Carlos Santos



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO

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Sinopse:

Data Estelar: Desconhecida.

Ao retornar de uma negociação para explorar as reservas de cristais de dilithium com o povo conhecido como Halkans, Kirk, McCoy, Scotty e Uhura, uma tempestade iônica causa uma falha na aparelho de tele-transporte envia o grupo para universo alternativo onde a Federação é um império construído pela força e opressão.

O grupo descobre que se materializou em uma nave idêntica a sua, mas observa diferenças sutis a principio, como os uniformes da tripulação e uma barba antes inexistente em Spock. Após tomar conhecimento da forma como seus duplos agem neste universo, Kirk descobre que tem ordens de atacar os Halkans e subjugá-los pela força.

Eles precisam encontrar um meio de retornar para seu universo, enquanto tentam impedir o ataque ao pacifico planeta. Kirk manda Scotty e McCoy buscarem uma forma de retornar enquanto ele e Uhura vão para a ponte.  Uma vez lá, Kirk assume o papel de capitão da I.S.S Enterprise, e amplia o prazo dos Halkans para doze horas, causando surpresa em toda população, especialmente de Spock, que chama a atenção do capitão para o não cumprimento das ordens do Império.

Enquanto isto, a bordo da U.S.S Enterprise, os duplos de Kirk, Scott, McCoy e Uhura são presos após a tripulação da nave constatar que o comportamento irracional destes.

Na I.S.S Enterprise, Kirk é atacado por Chekov, que tenta matá-lo para subir na escala de comando da Enterprise, ocorrência comum neste universo. O plano fracassa graças a um dos comparsas de Chekov, que muda de lado e livra Kirk da enrascada, e o russo é punido com tortura.

Spock encontra-se com Kirk, a ambos conversam brevemente. O primeiro oficial continua achando estranho o comportamento de seu capitão, tanto quanto aos Halkans quanto em relação a Chekov, que segundo o vulcano, deveria ser punido com a morte. Spock declara que não deseja se opor a Kirk, mas que não permitirá que sua posição seja ameaçada por causa das ações do capitão. Kirk entende a mensagem, mas ao mesmo tempo devolve na mesma moeda. Ambos se ameaçam e seguem em com seus afazeres.

Kirk vai até o seu alojamento, onde encontra uma mulher, a tenente Marlena Moreau, que no universo espelho parece ser a companheira de Kirk, que mantêm a farsa. Spock cumpre o prometido e informa aos seus superiores sobre o comportamento de Kirk, e recebe ordens de matar o capitão e assumir o comando da nave caso ele continue em seu curso de aça, entretanto o Vulcano resolve avisar seu capitão sobre isto, dando a Kirk uma chance de escapar.

Marlena, ainda sem saber que aquele não o Kirk que ela conhece acaba revelando ao capitão o segredo do sucesso da carreira de seu duplo, um aparelho conhecido como “Campo Tantalus”, e pode incinerar a distancia qualquer um dentro da nave. Ela parece disposta a usar tal arma contra Spock, mas Kirk a impede, deixando a confusa, entretanto Marlena se mostra intrigada por este Kirk que ela não entende.

Neste meio tempo Scotty descobre que o portal entre os dois mundos está se fechando, deixando a Kirk e seus oficiais cerca de meia hora para deixarem o universo paralelo. Eles se preparam para executar o plano, mas Spock, que investigava as atividades do computador desconfia da pesquisa executada por Scotty. Tal atividade também é notada por Sulu.

Kirk deixa seu alojamento para dar andamento ao seu plano de fuga, sem saber que Marlena agora acompanha seus movimentos usando o “campo Tantalus”. Uhura distrai Sulu para que Scotty possa fazer as modificações necessárias no transporte, e em seguida deixa a ponte para encontrar o resto do grupo na enfermaria.

Enquanto preparava o aparelho de transporte para levá-los de volta, Kirk é surpreendido por Spock. Ele leva Kirk até a enfermaria, onde todo o grupo é surpreendido. De súbito Kirk ataca Spock, e iniciando-se uma luta. Spock é vencido pelos quatro, ficando entre gravemente ferido após receber uma pancada na cabeça. McCoy se recusa a ir embora e deixar Spock sem tratamento, apesar do seu tempo estar se esgotando.

Enquanto o grupo aguarda McCoy, Sulu chega com uma equipe de segurança. Ele pretende matar a todos e assumir o comando, mas Marlena, que observava pelo campo tantalus, desintegra a equipe de segurança de Sulu, e deixa Sulu no mano a mano com Kirk. O capitão derrota Sulu e o grupo finalmente deixa a enfermaria, ainda sem McCoy, que continua a cuidar do vulcano.

Spock acorda,  e ao se deparar com McCoy fica intrigado com o fato de Kirk tê-lo deixado vivo. Ele realiza um ele mental com o doutor e descobre a verdade. Na enfermaria Kirk encontra Marlena, que quer ir junto com o grupo, mas Kirk nega. Marlena ameaça matá-los, mas Uhura a surpreende e a desarma. Surge então um novo problema: a força é desligada, obrigando que alguém fique para operar o transporte manualmente. Scotty se oferece para ficar, mas Kirk manda Uhura e Scotty para o transporte, com a intenção de ficar ele mesmo. Nesta hora Spock chega trazendo McCoy com ele, e decido mandar todo o grupo de volta.

Num ultimo ato, Kirk tenta convencer Spock a liderar uma revolução contra o Império, e Spock promete pensar no assunto. Finalmente o grupo volta ao seu universo, assim como seus duplos são devolvidos ao universo espelho.

 

Comentários:

O que aconteceria se os oficiais da USS Enterprise  fossem jogados em um universo onde a Federação é uma organização rígida, impiedosa e Cruel?

Mirror, Mirror” é puro “high concept”. Sua trama origina-se do conceito apresentado acima, e junta o “clássico” clichê do mau funcionamento do tele-transporte ™  com o tema das  dimensões paralelas (que durante muito tempo foi um dos temas favoritos da ficção cientifica) para viabilizá-la. Melhor impossível.

A prova de que tal método de construção não é necessariamente ruim é que este é considerado um dos melhores episódios da Serie Clássica, e melhor da segunda temporada. O sucesso da empreitada é fruto do arranjo correto destes elementos, e da existência de personagens com características bem definidas.

Começando pelo que o episodio não faz : Tão rápido quanto possível estabelece-se que será relativamente simples para Kirk e sua equipe voltar a seu universo, o que evita a corrida pelo “dispositivo de trama” que os levará de volta, uma vez que é obvio que eles voltarão. Logo, se esta questão está resolvida resta apenas ao segmento explorar este universo e a forma como nossos conhecidos personagens se relacionarão com este ambiente.

Um ambiente onde o espelho da Federação democrática e pacifica que conhecemos é um império brutal, desumano e cruel.. Os sinais de que este Império foi baseado no regime nazista são claros e óbvios,  desde a simples saudação característica, até a ânsia conquistadora desta instituição, passando pela presença do representante da policia política da Alemanha Nazista, a Gestapo.

O que não é tão claro e tão obvio é que o Universo Espelho é na verdade mais uma referencia velada ao então regime comunista soviético, mais uma vez sutilmente criticado através de um enredo de televisão camuflado de ficção cientifica.

Neste sentido o segmento deixa o “high-concept” inicial e parte para uma viagem no ambiente histórico da época em que foi construído, trazendo ai a verdadeira marca registrada de Jornada nas Estrelas, no que ela tem de mais relevante.

Se analisarmos bem os “paralelos”, Hitler não foi vencido por um “visionário”, mas por uma aliança que convergia pensamentos radicalmente diferentes de grupos que não tiveram opção naquele momento senão unir suas forças contra um “mal maior”. Já a queda do regime soviético teve seu eixo canalizado através da figura de um “libertador”, o então primeiro ministro Gorbachev. Ao final do episodio Kirk sugere ao Spock do universo espelho que assuma este papel, e anos mais tarde saberíamos através de DS9 (Crossover) que ele efetivamente o fez.

De forma intencional ou não, o segmento é não só “panfletário/’ em sua critica ao regime comunista, que se expandiu pela força e que se manteve o quanto pode pelo medo, quanto profético ao prever a necessidade de um visionário, que fomenta mudanças a partir do próprio regime, para finalmente derrubá-lo,  como Kirk sugeriu a Spock.

Deixando a filosofia de lado, o segmento também alcança êxito total no quesito diversão. É interessante assistir como os personagens vão se virando neste novo ambiente,  tentando se esquivar enquanto dão um jeito de voltar ao seu universo, enquanto tentam manter os Halkans vivos. Notem que mesmo fora de seu ambiente Kirk e seus oficiais se vêem moralmente obrigados a tentar proteger estes seres, outra marca registrada de Jornada nas Estrelas.  Tal postura se repete quando McCoy se vê moralmente ( e emocionalmente, é claro) obrigado a sacrificar a si próprio pára salvar a vida de Spock.

A necessidade de salvar os Halkans serve também para garantir o necessário censo de urgência ao episodio, justificando que os personagens tomem atitudes que poderiam denunciá-los, além é claro, da posterior descoberta por parte de Scotty de que do fechamento gradual do portal entre os dois mundos, alegado por Scotty.

E é justamente ai que entra mais vez o personagem Spock, que conseguiu ao longo da primeira temporada estabelecer um padrão de comportamento que torna perfeitamente lógico (na falta de palavra mais original) que o vulcano seja o elemento catalisador do segmento. Será ele que permitirá enfim o retorno de Kirk ao seu universo e conseqüentemente a volta de seu capitão “correto” ao universo espelho.

O mais interessante é que mesmo no caos absoluto, Spock consegue através do seu raciocínio analítico, se equalizar entre os dois universos de forma equilibrada, sem divergir muito do seu “jeito vulcano de ser”, e ainda assim,  o seu “espelho” parece tão bem acomodado quanto o Spock que conhecemos. Tornando este é o grande charme do episodio.

Alias a trama usa muito bem todos os elementos que aprendemos a reconhecer na Serie Clássica, desde a composição política e social de seu ambiente, até o comportamento de alguns de seus principais personagens, passando pelos conceitos morais que a série afirmou até chegar a execução do universo espelho, onde ela literalmente inverte este conceito e explora o resultado,  e é justamente esta exploração, na sua forma, que faz o sucesso do episodio.

No mais, Kirk permanece matador no quesito mulheres, Scott e McCoy vão bem, com destaque um pouco maior para o segundo. Embora nosso engenheiro chefe apareça pouco, é sobre ele que paira toda a responsabilidade de fazer o grupo retornar, o que torna sua participação decisiva e deixa Kirk livre para fazer o segmento funcionar, junto com o Spock “espelho”.

Uhura merece menção especial, em uma das raras vezes onde ela não está sentada naquele console de comunicações sem fazer nada. Ela toma ações importantes na trama, e além de ficar muito bem de naquele uniforme estilizado, conseguiu ser convincente quando precisou agir como “femme-fatale”. Méritos para Nichelle Nichols. O personagem de Walter Koenig não compromete, mas também não faria falta alguma, já o mesmo não acontece com George takei, que se mostra um canastrão de primeira.

Algumas concessões são necessárias, para o bem do episodio, como o fato dos uniformes serem inexplicavelmente trocados no transporte, a manutenção de forma arbitraria do mesmo comportamento por parte dos Halkans nos dois universos, algo um pouco estranho de se aceitar, e um exagero entre as correspondências dos dois universos, que permitem a cada um deles andar lado, em detalhes, que permitem acontecimentos como transporte simultâneo dos grupos avançados com a mesma composição nos dois lados, algo virtualmente impossível, mas é para isto que existe a suspensão de descrença, logo deixemos de lado estas pequenas questões.

Um episodio divertido, bem executado, com varias reviravoltas e surpresas ao longo de sua execução. Por fim deve-se comentar que a tirada de Spock no tradicional alivio cômico que conclui o segmento daria um bom tratado de antropologia, e finalizar dizendo que “Mirror, Mirror” tem bala na agulha suficiente para manter o posto de um dos mais aclamados episódios da Série Clássica.

 

Citações:

Kirk: "Conquest is easy. Control is not."
("Conquistar é fácil, controlar não é.")

Kirk: "If change is inevitable, predictable, beneficial... doesn't logic demand that you be a part of it?"
("Se a mudança é inevitavel, previsivel, benefica, não a lógica não exige que você tome parte disto?")

Spock: "One man cannot summon the future."
("Um homem não pode convocar o futuro..")

Kirk: "But one man can change the present."
("Mas um homem pode mudar o presente.")

Kirk: "In every revolution, there's one man with a vision."
("
Em toda a revolução a um homem de visão.")

McCoy: "You're a man of integrity in both universes, Mister Spock."
("Você é um homem de integridade em ambos os universos, senhor Spock")

 

Trivia:

O episódio foi indicado ao premio Hugo.

DS9 atravessou o espelho em: Crossover, Through the Looking Glass, Shattered Mirror , Resurrection e The Emperor's New Cloak.

O universo espelho seria varias vezes re-visitado por DS9. Alem de Sisko e seus comandados, Enterprise também teve sua aventura neste universo alternativo, In A Mirror, Darkly (Enterprise), com previsão de exibição para 22 de Abril de 2005.

Barbara Luna é outra atriz com muitas participações em diversas séries de TV, como Dallas, Missão Impossível, Ilha da Fantasia e Buck Rogers, Hawaii 5.0 ou Chips, por exemplo.

 

Ficha técnica:

Escrito por Jerome Bixby
Direção de Marc Daniels
Música de Fred Steiner
Exibido em 06 de Outubro de 1967
Produção: 39

Elenco:

William Shatner
como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy
como Spock
DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu



Elenco convidado:

John Winston como Kyle
Barbara Luna as como Marlena Moreau
Vic Perrin como Tharn
John Winston como Voz do computador da ISS Enterprise

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