Série Clássica
Temporada 2

Análise do episódio por
Carlos Santos



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO

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Sinopse:

Data Estelar: 3451.9.

Enquanto atende um pedido de socorro e tenta descobrir o motivo do desaparecimento de 4 milhões de pessoas, a Enterprise é repentinamente atacada por uma força poderosa. Após sofrer um único disparo. Após o segundo disparo, Spock consegue localizar a fonte de disparo e a Enterprise contra-ataca, sem efeito.

Ao perceber que não conseguira derrotar o inimigo, Kirk tenta se comunicar com ele, e surpreendentemente, o ataque cessa, e um sinal de comunicação é enviado. Uhura identifica o sinal como um código interplanetário obsoleto. Uma tentativa de tradução pelo computador da nave causa a sobrecarga, mas mesmo assim entidade consegue informações suficientes para estabelecer comunicação.

Após o contato, a ser é levado a bordo e a tripulação da nave descobre que se trata de uma maquina, um tipo de sonda espacial que chama a si mesmo de  Nomad. Spock descobre através dos bancos de dados da Enterprise que Nomad havia inicialmente sido construída por um cientista chamado, Jackson Roykirk e lançado da Terra no fim do século XX com intenção de pesquisar formas de vida alienígena, mas dada como destruída.

Spock conclui que a sonda foi alterada de algum modo, tanto em forma quanto em programação. Agora a sonda dotada de um poder imenso tem a missão de eliminar formas de vida biológicas não perfeitas, segundo seu próprio julgamento.

Enquanto Kirk, Spock e McCoy tentam descobrir o que fazer, Nomad, atraído pelo som da voz de Uhura, que cantava através do Intercom, segue pela nave até chegar a ponte. Kirk é informado por Scotty da presença do mecanismo na ponte. Nomad se aproxima da tenente e começa a questioná-la sobre o significado da musica que cantava. De repente o mecanismo inicia algum tipo de sondagem em uhura. Scotty ao perceber isto, tenta impedi-lo, mas é repelido por uma descarga de energia e cai morto na ponte. Uhura, embora viva, está em estado catatônico.

Nomad percebe o desgosto de Kirk, a quem julga ser o criador devido a semelhança entre os nomes do cientista e do capitão da Enterprise, e se oferece para “reparar”  a unidade. Com algumas informações sobre anatomia do banco de dados da Enterprise, a sonda consegue trazer Scotty de volta a vida. Uhura, porém se mostra além da capacidade de “reparo” de Nomad, pois embora fisicamente bem, todo o seu conhecimento foi apagado da sua memória.

Embora Spock se mostre interessado em estudar Nomad, Kirk está decidido a incapacitá-lo assim que possível., e manda Spock trabalhar em uma pesquisa sobre possíveis pontos fracos do mecanismo. Quando Nomad se recusa a baixar suas defesas, Kirk consegue fazê-lo mudar de opinião, deixando claro que Nomad o reconhece como “criador”. Enquanto isto, Chappel trabalha na reeducação de Uhura, que tem a constituição mental de uma criança.

Sem sucesso em sua pesquisa, Spock tenta usar o “elo mental Vulcano” com Nomad. apesar da quase matar o vulcano, o procedimento tem sucesso. Spock descobre que a sonda Nomad original (projetada para procurar novas formas de vida) após sofrer um acidente, encontrou uma sonda alienígena que tinha como missão descobrir e esterilizar amostras de solo em outro planeta, com a qual se fundiu. Após este processo, Nomad criou uma nova diretriz baseada na fusão das diretrizes de ambos os equipamentos.

Sem que Kirk e  Spock saibam, Nomad deixa a sala de detenção, matando os dois guardas de segurança e se dirige até a engenharia, onde começa a fazer “reparos” na nave, levando a Enterprise a uma velocidade que quase a desmonta. Kirk chega na hora e manda Nomad para com os “reparos”.

Kirk finalmente revela a Nomad que ele não é Jackson Roykirk, e manda que ele retorne a segurança, mas a sonda dificuldade em compreender o que para ela é uma inconsistência. Ele retorna a cela, mas dá a entender que pretende voltar ao “ponto de lançamento”, provavelmente, a Terra, um lugar cheio de unidades biológicas imperfeitas.

A caminho da detenção, Nomad mata mais dois guardas e segue para a enfermaria, onde segundo McCoy teria examinado o histórico medico de Kirk, o que lhe daria elementos para concluir que ele não é o “criador”. Nomad volta a engenharia e desabilita os sistemas de suporte de vida, com objetivo de matar a tripulação sem danificar a nave. A sonda sabe agora que Kirk não é seu criador, e não aceita mais as suas ordens.

Kirk começa então um duelo de lógica com Nomad, e o convence de que a própria sonda é imperfeita, convencendo-a de que deve se auto-esterilizar. Eles aproveitam este momento para transportar o aparelho para o espaço, onde Nomad finalmente cumpre sua programação e implementa sua autodestruição.

De volta a ponte, Kirk é informado que Uhura está  recuperação e deve voltar ao trabalho em uma semana, e então a Enterprise retoma seu curso.

 

Comentários:

Déjà vu. Desde que Jornada nas Estrelas – O Filme, foi ao ar, a primeira sensação que se tem é de que já vimos isto antes, não obstante o fato de “The Changeling” ter ido ao ar muitos anos antes da primeira versão cinematográfica de Jornada. Mas é só por isto que temos esta sensação. O dilema Homem x Maquina ™ , mais uma vez é o tema do episodio, o que ajuda a sensação de repetição.

O que diferencia esta versão do tema é o mistério da origem de “Nomad”. Inicialmente confundido com algum equipamento ou mesmo ser alienígena, a descoberta de que o mecanismo é na verdade uma sonda de origem terrestre alterada suscita outras questões: Como Nomad e a sonda alienígena conseguem se reparar ? Como se fundiram e evoluíram? Pode um mecanismo evoluir ?

Porém, tais questões jamais são aprofundadas durante o segmento, que opta por seguir a linha “Como vamos nos livrar de Nomad, antes que ele nos destrua”, e deixa para o espectador conjecturar (ou não) a respeito destas questões. Embora tal opção exija por parte de quem assiste o episodio uma forte dose de suspensão de descrença, talvez esta tenha sido uma escolha acertada, uma vez que seria complicado tratar os temas anteriormente citados com correção no pouco tempo de duração do episodio.

Outro tema recorrente é o do poder absoluto. Nomad é um mecanismo de certa forma avançado, capaz de tirar e dar a vida as “unidades biológicas”, claramente excedendo sua programação e indo além do planejado pelo “criador”, mas por outro lado é uma criança mentalmente falando. Sua lógica simples é fácil de ser entendida, mas ele por outro lado não consegue ir além da compreensão desta simples diretriz.

Nos já ouvimos o clichê “Com grande poder vem grande responsabilidade” varias vezes, e Jornada nas Estrelas varias vezes viria tratar este tema. De fato, todo mundo lembra do episodio de estréia da serie, “Where No Man Has Gone Before”, onde Gary Mitchel passa a controlar imensos poderes e acaba sendo corrompido por eles. Ou em “Charlie X”, onde um ser humano, criado por alienígenas e também imensamente poderoso não consegue se adaptar a vida entre seres humanos normais, ou em “The Squire of Gothos” , etc, etc.

A mitologia de Jornada das Estrelas esta cheia destes exemplos, e não importa se homem, maquina ou alienigena, a conclusão é sempre a mesma. Em The Changeling” Nomad não pode se corromper, e tem uma pureza de propósito genuinamente ingênua: Ele quer fazer o que acredita o que é certo, a diretriz do criador, mas ele não consegue julgar as conseqüências de suas ações. Sua capacidade de compreensão não evoluiu tanto quanto o seu poder, e o resultado é tão perigoso quanto o que vimos em “Where No Man Has Gone Before”, ou em qualquer um dos exemplos citados.

Entre as proezas de que Nomad é capaz está a capacidade de trazer Scotty de volta a vida, fato pouco explorada no episodio. Se a morte é algo incomum, o que dirá a ressurreição, mas fora uma demonstração parca de espanto por parte dos oficiais, muito pouco se pode colher da morte de Scotty, além demonstrar as habilidades de Nomad, mas tal situação poderia ter sido melhor explorada. Scotty volta como se nada tivesse acontecido, e eu me pergunto de McCoy realmente explicou ao engenheiro o que aconteceu, na verdade.

Outra coisa tão interessante quanto pouco explicada é o”elo-mental” de Spock com Nomad. Eventualmente certas linhas do segmento fazem questão de não atribuir a Nomad o status de forma de vida, então, como pode se estabelecer um elo mental com uma maquina ?

O segmento passa batido por esta questão, ignorando que Nomad embora seja poderoso, não tem nada mais do que uma inteligência mecânica, e parece muito quem da capacidade de ter uma “mente”, como o próprio episodio procura estabelecer, de forma sutil quando Spock diz a McCoy que sua reação imprevisível as emoções “Quase o qualifica como forma de vida”. “Quase” pode ser tão perto quanto se queira ou tão longe quanto se precise, mas não deixa de ser “quase”.

Tal situação nada acrescenta a Spock ou ao episodio, e classificar a sua inteligência mecânica rudimentar como “pensamento” passa um pouco dos limites. Seria muito mais simples extrair as informações através do computador, o que teria um nível de credibilidade maior do que o que foi proposto.

Porém, o que mais chama a atenção no quesito “coisas estranhas” é a forma encontrada para re-educar Uhura.  A visão de Chappel “ensinando” a tenente como faria como uma criança do maternal é ridícula. Algo que poderia ser facilmente evitado.

Chegamos ao final do episodio e mais uma vez Kirk salva o dia usando a sua esperteza e derrotando o computador em seu próprio terreno, num duelo de lógica, usando a própria programação de Nomad contra ele. Uma solução simplista, porém neste caso até eficiente. Tendo Nomad demonstrado nenhuma capacidade de ir além de sua programação (falamos da programação alterada após seu acidente, que fique claro) é tendo ele se equivocado quanto a identidade do “criador”, podemos aceitar tal situação sem muitos danos as nossas sinapses. Como disse Spock, um excelente uso da lógica.

No fim de tudo, “The Changeling” passa bem por um primeiro contato, mas não suporta muito bem ser re-visitado, uma vez que sua formula depende muito do mistério de sua origem. Uma vez desfeito este mistério, sobra muito pouco que se possa extrair dele, deixando-o um pouco aborrecido.

 

Citações:

Spock: “Esta unidade é uma Mulher.”

Nomad: “Uma massa de impulsos em conflito.”

Spock: “Inteligência não requer necessariamente massa, senhor Scotty.”

 

Trivia:

A voz de Vic Perrin, que da vida a Nomad, esteve também presente em “The Corbomite Maneuver” (Balok), “Arena” (Metron e Gorn) e “Mirror, Mirror” (Tharn). Figura carimbada na TV nas décadas de 60, 70 e 80, Perrin emprestou sua voz varias vezes a diversos personagem, porem um de seus trabalhos mais marcantes foi com a introdução da serie “The Outer Limits” original. Ele faleceu em 1989.

A musica que Uhura canta neste episodio foi escrita por Wilbur Hatch e se chama “Beyond Antares”.

Em “Dead Stop” (Enterprise) encontramos um modelo da sonda Nomad no alojamento de Travis Mayweather.

John Meredyth Lucas, autor da historia, esteve envolvido em diversos projetos relacionados a ficção cientifica. Alguns exemplos são  Logan's Run , The Six Million Dollar Man e  The Starlost como escritor, Planet of the Apes (1974), The Six Million Dollar Man e The Invaders como Diretor. Em Jornada, Lucas esteve envolvido como escritor, diretor e produtor.

 

Ficha técnica:

Escrito por John Meredyth Lucas
Direção de Marc Daniels
Musica de Fred Steiner
Exibido em 29/09/1967

Produção: 37

Elenco:

William Shatner
como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy
como Spock
DeForest Kelley
como Leonard H. McCoy
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu



Elenco convidado:

Blaisdell Makee como Mr. Singh
Vic Perrin como voz de Nomad

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