A Nova Geração
Temporada 1

Análise do episódio por
Salvador Nogueira



 









 

MANCHETE DO EPISÓDIO
Episódio "morno" traz de volta velhos
inimigos da Federação: os Romulanos

Episódio anterior   |   Próximo episódio

Sinopse:

Data Estelar: 41986.0.

Enquanto aguarda o retorno do capitão Picard de uma conferência da Federação, a tripulação da Enterprise descobre um satélite da Terra do século 20 à deriva no espaço. Ele contém três corpos preservados criogenicamente, que Data decide trazer a bordo. 

Quando Picard volta à nave, ele ordena que La Forge marque um curso para a Zona Neutra Romulana, onde dois postos avançados da Federação foram destruídos. A Enterprise tem como missão determinar os responsáveis pelo incidente, que pode ser um prelúdio de uma nova guerra com os Romulanos, que se mantiveram isolados por décadas. 

Após Data trazer os corpos de volta, a dra. Crusher é capaz de ressuscitá-los. Descobre-se que são uma dona de casa, um homem de negócios e um cantor do fim do século 20. Os novos visitantes sofrem para se adaptar à nova realidade do século 24, principalmente depois que Picard pede que Riker mantenha-os longe dele, em razão da situação de tensão vivida pela Enterprise na Zona Neutra. 

Chegando na borda da fronteira, a tripulação descobre que os postos da Federação simplesmente desapareceram. Nesse momento, uma nave Romulana desativa sua camuflagem e abre frequências de comunicação com a Enterprise. 

Em um diálogo tenso, os oficiais da Enterprise são avisados de que as hostilidades entre Romulus e a Federação continuam à beira da guerra. Entretanto, os Romulanos revelam que nada tiveram a ver com a destruição dos postos. Segundo eles, suas próprias bases na Zona Neutra haviam sido destruídas. 

Picard consegue estabelecer um frágil pacto com os inimigos, resultando de um intercâmbio de informações a respeito de qualquer descoberta sobre os responsáveis pela destruição dos postos. Com a ameaça de guerra temporariamente evitada, a Enterprise vai de encontro à USS Charleston, que levará os sobreviventes do século 20 de volta à Terra.

 

Comentários:

"The Neutral Zone" oferece duas histórias simultâneas, nenhuma delas capaz de gerar real entusiasmo. A única sustentação desse episódio junto aos fãs é história: os Romulanos estão de volta!

Esse único fator pode parecer pouca coisa, mas levando em conta o impacto que traria para série, ressuscitando os Romulanos do limbo em que se encontravam, não é nada trivial. Desde sua primeira aparição, no episódio da Série Clássica "Balance of Terror", essa espécie aparentada dos Vulcanos tem despertado o interesse e a fascinação dos fãs. A garantia de que os Romulanos estavam de volta para A Nova Geração foi um grande presente para a audiência.

Infelizmente, se o motivo do episódio foi justo, trazendo os Romulanos de volta e aludindo a um inimigo ainda mais poderoso, não se pode dizer o mesmo de sua execução. Desde o primeiro bloco, quando Picard ordena a ida à Zona Neutra, o episódio promete.

Promete no primeiro ato, mas não entrega. Promete no ato seguinte e o telespectador pensa: "agora vai". Mas não vai. Promete no terceiro ato, a audiência na expectativa, e quando parece que vai, vai... para mais um intervalo. Ou seja, é um episódio que nunca acontece. A confrontação tão esperada só acontece no fim, fazendo com que o episódio se resuma somente em um batepapo de Picard com o comandante Romulano pela tela da Enterprise. Muito pouco, mesmo em se tratando dos adoráveis alienígenas de orelhas pontudas.

A história que ocorre paralelamente, a "visita" dos três humanos do século 20 à Enterprise, é até interessante, mas também não consegue sustentar o episódio por si. O humor dessa vez é bem executado, com boas tiradas que vão desde à conclusão de Data de que "dona de casa" deve ser "algum tipo de trabalho imobiliário" até a reação do homem de negócios ao reclamar dos "serviços" da Enterprise.

Especialmente interessante é a relação que se estabelece entre Sonny, o músico, e Data. Além de ser o mais divertido dos três visitantes, com seu jeito despachado e suas críticas diretas ao século 24, Sonny oferece cenas engraçadas, como a em que ele e Data planejam uma festa a bordo ou a que ele vai até a enfermaria pedir um comprimido para dormir e passa uma cantada na dra. Crusher.

A idéia de colocar os três a bordo --ícones do nosso mundo capitalista-- foi confrontar de forma direta as filosofias do passado e do futuro utópico de Gene Roddenberry. O homem de negócios, Ralph, descobre que seus valores de obtenção de fortuna já não têm importância na nova realidade. Sonny confronta problemas sociais atuais (como o abuso de drogas, o alcoolismo e, novamente, a visão egoísta das celebridades) com um mundo em que a televisão não existe mais como forma de entretenimento e a utilização de medicamentos, além de ser rara, visa apenas o tratamento de doenças, e não interferências com a fisiologia do organismo visando apenas conveniências, como o uso de pílulas para dormir ou estimulantes. Tudo isso para não mencionar o Synthehol, um substituto do álcool etílico incapaz de embriagar.

Dos três peixes fora d´água, a mais sem graça é Clare, uma simples dona de casa que permanece frágil e pouco motivada do início ao fim do episódio. Seu modo simples de vida, voltado para a família, perde o sentido quando a família não existe mais, sepultada mais de 300 anos atrás.

Embora o conflito não seja muito claro, a presença de Clare carrega a mensagem de que no novo mundo não existe mais a dedicação exclusiva "ao lar". Homens e mulheres se relacionam em igualdade de condições e compartilhando igualmente suas responsabilidades. A "profissão imobiliária" de Clare não mais é praticada no século 24. Infelizmente, a crítica diluiu-se em meio à dificuldade de criar diálogos que deixassem transparecer essa mensagem, tornando as passagens de Clare, apoiadas pela igualmente frágil e pouco desenvolvida (até aquele momento) Deanna Troi, tornam os momentos da dupla os mais sonolentos do segmento.

Em termos visuais, somos brindados com os novos uniformes e visuais Romulanos (agora com saliências sobre as sombrancelhas, para diferenciar dos Vulcanos) e a nova Ave de Guerra, uma nave cujo design persiste até os dias atuais como o padrão para veículos daquela raça. Além disso, vemos um despedaçado satélite terrestre no melhor estilo do século 20, com painéis solares e portas de abertura manual. O fato de ele conter gravidade artificial é uma tremenda incoerência com nosso atual nível tecnológico, mas entenda-se nas entrelinhas deste incidente um "orçamento de telvisão" para fazer cenas em ambiente de microgravidade em 1988.

No fim das contas, o melhor termo para definir "The Neutral Zone" é "morno" --há um potencial para uma grande história escondido em algum lugar, mas ele não se realiza. Pelo menos o episódio tem o mérito de trazer de volta uma espécie que daria muito o que falar nas próximas temporadas...

 

Citações:

Sonny - "What do you guys do? I mean, you don't drink, and you ain't got no TV. It must be kind of boring, ain't it?"
("O que vocês fazem por aqui? Quer dizer, vocês não bebem, e vocês não têm TV. Deve ser meio chato, não?")

Tebok - "Silence your dog, captain."
("Cale o seu cachorro, capitão.")

Tebok - "Your presence is not wanted. Do you understand my meaning, captain? We... are back."
("Sua presença não é desejada. Você entende o que quero dizer, capitão? Nós... estamos de volta.")

Trivia:

O ator Marc Alaimo, que faz o comandante romulano Tebok, voltaria a Jornada nas Estrelas para alcançar fama definitiva como o cardassiano gul Dukat, em Deep Space Nine.

Maurice Hurley afirma que o roteiro foi escrito em um dia e meio. Era o último episódio da temporada e o prazo estava estourado. Originalmente, ele faria parte de uma seqüência de três episódios, em que a Frota e os Romulanos se uniriam contra a ameaça dos Borgs, raça recentemente descoberta. Os Borgs foram concebidos para substituir os decepcionantes Ferengis. Mas, além da falta de tempo, houve na época uma greve dos roteiristas. Então, os Borgs tiveram que esperar até a segunda temporada para aparecer pela primeira vez, no episódio "Q Who?".

Fãs mais atentos devem ter percebido uma cena estranhamente longa de uma oficial de ciências entrando num turboelevador. Aquela era Susan Sackett, escritora e assistente pessoal de Gene Roddenberry desde 1974. Ela ganhou aquela cena numa aposta que fez com ele de que perderia peso. Ela trabalhou em Jornada até a morte de Gene Roddenberry, em 1991, e contribuiria ainda com dois episódios da Nova Geração: "Ménage à Troi" (terceiro ano) e "The Game" (quinto ano).

Neste episódio é estabelecido que a primeira temporada na Nova Geração se passa no ano 2364 terrestre. Também ficamos sabendo, através de Data, que a televisão deixou de existir após 2040.

Este episódio também marca a estréia da nova nave Romulana, a Ave de Guerra (Warbird).

 

Ficha técnica:

História de Deborah McIntyre & Mona Glee
Roteiro de Maurice Hurley
Direção de James L. Conway

Exibido em 16/05/1988
Produção: 026

Elenco:

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado:

Marc Alaimo como comandante Tebok
Anthony James como sub-comandante Thei
Leon Rippy como L.Q. "Sonny" Clemens
Gracie Harrison como Clare Raymond
Peter Mark Richman como Ralph Offenhouse

Episódio anterior   |   Próximo episódio