Por Luiz
Felipe do Vale Tavares
O
Filme
Após
o desastre que foi "Jornada nas Estrelas V", a
vida da tripulação da Série Clássica no cinema parecia
ter sido enterrada de vez.
Para salvar a tripulação, nada melhor do que utilizar um tema
atual adaptado no contexto de Jornada nas Estrelas (na
época, o fim da URSS e da Guerra Fria), trazer um diretor de
confiança (Nicholas Meyer, que também dirigiu o fantástico
segundo filme, "A Ira de Khan") e um roteiro de
qualidade escrito pelo próprio diretor e por Leonard Nimoy.
Após um acidente que resultou na destruição de uma lua onde
ocorria a exploração de recursos necessários à subsistência
do povo Klingon, estatísticas mostram que o Império deles está
com dos dias contados. Diante desse acontecimento, a Federação
conclui que chegou a hora de terminar anos de conflitos com os
Klingons e propor um plano de mútua cooperação.
A Enterprise é enviada para uma missão diplomática para
escoltar o Chanceler Klingon para a Terra, onde será assinado um
tratado visando o fim da guerra. Entretanto, durante a viagem, o
Chanceler é assassinado e Kirk e McCoy são acusados e condenados
à prisão perpétua.
Desde o segundo filme não víamos interpretações tão afiadas
do elenco. Todo mundo está perfeito e tem participações
memoráveis.
Finalmente temos também um vilão que presta. Chang é um
personagem interessante; um guerreiro Klingon a procura de mais
alguns anos de glória, consciente de que o tratado de paz pode
descaracterizar a cultura de seu povo e, além de tudo, amante de
Shakespeare. Parece estranho essa última característica, mas
funciona perfeitamente no filme.
A propósito, por falar em coisas estranhas, temos nesse filme
alguns dos diálogos mais esquisitos de toda a série. Por
exemplo, vindo de Spock : "Há um velho provérbio Vulcano,
somente Nixon pode ir à China" (?). Outro, dessa vez vindo
de um dos Klingons: "Só se pode apreciar Shakespeare após
lê-lo no original, em Klingon". Quem será que escreveu
essas pérolas?
Quanto aos efeitos especiais, nesse setor o filme não brilha e
nem desaponta. O melhor fica por conta das ondas de choque
provenientes da explosão de Praxis. Os demais efeitos são
convincentes e funcionam perfeitamente.
Pelo menos dessa vez eu não tive que esconder meu rosto de
vergonha, como acontecia nos efeitos, ou melhor, defeitos
especiais de "Jornada nas Estrelas V".
Após longos meses de inércia da parte da Paramount, finalmente
temos o prosseguimento do lançamento dos filmes de Jornada
em DVD aqui no Brasil.
Imagem
Tem
prós e contras. Mas vamos começar pelos prós para evitar
desânimos antecipados. A imagem é substancialmente melhor do que
a do "Generations". A
imagem é mais estável, tem melhor nitidez e melhor definição
de cores.
Agora os contras.
Assim como no DVD do "Generations",
a Paramount decidiu não gastar muito dinheiro e usou de novo uma
master antigo utilizado no LaserDisc. Como resultado temos uma
imagem muito melhor do que a da fita VHS, porém aquém dos
padrões de qualidade que se pode esperar de um DVD.
Em muitas cenas, principalmente em lugares escuros, a imagem fica
muito granulada e perde a definição. O filme é apresentado no
formato widescreen na proporção aproximada de 2.35:1.
Tendo sido utilizado o master para LaserDisc, a imagem é
widescreen, porém não anamórfica. Por isso, mesmo quem já tem
uma televisão widescreen 16:9 vai ter que assistir com as faixas
pretas em cima e abaixo da imagem.
Um fato curioso e prejudicial na imagem desse DVD é que a imagem
se encontra erguida do centro da tela, ou seja, a faixa preta
embaixo da imagem é maior do que a localizada em cima. O motivo
é simples. Quando esse filme foi lançado em LaserDisc, a
Paramount quis usar legendas bem grandes nas cenas de diálogo
Klingon. Mas, sendo grandes, elas invadiam o campo de imagem do
filme. Para contornar esse problema a imagem foi levantada um
pouco em relação ao centro da tela. Como esse DVD foi feito a
partir do master do LaserDisc, a "brilhante" solução
da Paramount aqui se encontra presente e inutilmente ainda por
cima.
No caso do LaserDisc a legenda é gravada junto com imagem, não
podendo ser desligada. Nos DVDs, as legendas se encontram em
arquivos gráficos e o aparelho as sobrepõe sobre a imagem do
filme. Como a Paramount usou legendas com fontes menores no DVD, a
imagem não precisava ter sido erguida. Vejam abaixo uma cena do
filme. Notem que as barras pretas de cima são menores que as de
baixo, e as legendas são de tamanho normal. Mesmo que a imagem
fosse centralizada, que é o correto, as legendas não invadiriam
o campo de imagem.
Outro fato curioso é
que quem assistiu esse filme inúmeras vezes em VHS, no formato
tela-cheia, vai perceber que a imagem do DVD, mesmo sendo
widescreen, tem menos informações embaixo e em cima da imagem e
mais informações nas laterais. O motivo é simples também. "Jornada
nas Estrelas VI" foi filmado no formato Super-35, onde a
imagem é capturada em uma película de quadros bem grandes. A
vantagem é que esse formato viabiliza inúmeras possibilidades de
enquadramento sem perda considerável de informações. O filme
depois pode ser formatado para tela-cheia ou widescreen de modo
que ambos os formatos propiciem um bom enquadramento sem grandes
perdas.
Para ilustrar vejamos abaixo alguns breves exemplos com imagens.
Infelizmente não usarei nenhuma imagem comparativa com "Jornada
nas Estrelas VI" porque não tenho no momento o filme em
tela-cheia para capturar algumas cenas. Usarei em substituição
uma imagem do filme "O Exterminador do Futuro 2",
também filmado em Super-35; portanto, tudo o que se aplica à
imagem desse filme também se aplica ao "Jornada nas
Estrelas VI".
No lado esquerdo vemos
a imagem da película em Super-35. Note-se como enquadramento é
muito grande, capturando todos os detalhes da imagem focalizada.
Sendo essa imagem muito grande, um melhor enquadramento é
necessário para evitar vazios que não se prestam ao filme. No
lado direito superior temos o enquadramento widescreen e no lado
direito inferior temos o enquadramento Pan&Scan (tela cheia).
Percebemos que a imagem widescreen captura mais informações nas
laterais. Podemos ver o bebedouro à direita, imagem essa que
está ausente na edição em tela-cheia. Já na imagem em
tela-cheia temos mais informações encima e embaixo, tanto que
podemos ver o lâmpada no teto e o reflexo da cadeira no chão; na
edição em widescreen elas não aparecem.
Ressalte-se que esses enquadramentos só são possíveis se o
filme for filmado em Super-35; e são poucos os filmados nesse
padrão. A maioria é filmado em 35mm padrão e, nesse caso, a
imagem em tela-cheia só apresenta perdas com relação à imagem
widescreen.
Alguns diretores, como James Cameron, só usavam o formato
Super-35, pois sabiam que após a exibição nos cinemas o filme
seria visto para sempre apenas na televisão. Para evitar que a
imagem ficasse prejudicada na conversão para o formato da TV,
eles usavam o formato Super-35 para criar a imagem em tela-cheia
sem perda de informações. Hoje em dia o formato Super-35 não é
mais usado pelo motivo de que os filmes assistidos em casa em
widescreen se tornaram a regra (ao menos para DVD), enquanto que
os em tela-cheia/Pan&San se tornaram a exceção. Daqui a
alguns anos, quando as TVs widescreen dominarem os mercados, o
formato Pan&Scan cessará de existir.
Vejamos abaixo uma amostra de "Jornada
nas Estrelas: Primeiro Contato", filmado em simples
35mm, onde vemos claramente a perda de informações na conversão
para tela-cheia e os benefícios do formato widescreen.
Cinema:
Essa é a imagem original filmada em 35mm para exibição no
cinema.
Tela-Cheia (Pan&Scan):
Para
que a imagem seja acomodada na TV, as laterais têm de ser
cortadas. A imagem preenche a totalidade da tela da TV, mas
perde-se muito da imagem original. Normalmente a cena é
centralizada no ponto mais importante; nesse caso a imagem
centraliza-se em Picard, pois é ele quem está falando. A Dra.
Crusher e Troi, que já aparecem pouco no filme, aparecem ainda
menos na edição em tela cheia.
Widescreen em uma televisão convencional:
A
imagem original projetada para o cinema é integralmente
preservada, porém a imagem não ocupará a totalidade da tela da
TV convencional. Faixas pretas ocuparão a tela em cima e abaixo
da imagem, tão somente porque não há imagem alguma a ser
mostrada. A imagem que vemos aqui é a 100% completa, igual a que
foi filmada e igual à que foi exibida nos cinemas.
Widescreen em uma televisão widescreen (16x9):
Utilizando uma
televisão widescreen 16x9 e o filme em DVD no formato widescreen
anamórfico, a imagem ocupará quase a totalidade da tela, apenas
com pequenas faixas pretas em cima e abaixo da imagem. É o
padrão das HDTV (TV de alta definição) que chegarão ao mercado
mundial em 2003/2004.
Som
Poucas pessoas sabem, mas "Jornada nas Estrelas VI"
foi o primeiro filme a utilizar o sistema de som Dolby Digital,
onde o áudio é composto por cinco canais independentes criando
um ambiente sonoro tridimensional.
Na época da estréia, esse filme foi exibido com o novo sistema
de som em 3 ou 4 cinemas americanos que já tinham protótipos do
equipamento necessário. Foi, portanto, um experimento na época.
O sistema de som Dolby Digital só foi utilizado em grande
circuito um ano depois, no filme "Batman: O Retorno".
Muitos entusiastas em home theater alegam que "Jurassic
Park" foi o primeiro filme exibido com som digital nos
cinemas. Essa afirmação é errônea, pois "Jurassic
Park" foi o primeiro filme a ser exibido com som DTS, que é
também um sistema de som tridimensional, porém de qualidade um
pouco superior ao Dolby Digital. O pioneiro em som digital foi
mesmo "Jornada nas Estrelas VI".
O áudio desse DVD é o mesmo utilizado no experimento de 1991 e
é absolutamente fantástico. É incrível como um excelente
sistema de áudio dá nova vida a um filme ao qual já assistimos
inúmeras vezes em VHS. Já no início temos a trilha sonora
bombátisca fazendo a sala tremer e logo em seguida, com a
explosão de Praxis, a casa quase cai. O efeito sonoro das ondas
de choque atravessando a sala é de arrepiar.
As legendas estão disponíveis em inglês, português e espanhol.
Extras
Apenas temos dois trailers como extras. O primeiro, um mero
"teaser", é maravilhoso. Mostra várias cenas da Série
Clássica e dos filmes anteriores sendo projetadas no casco
externo da Enterprise.
Ficha
Técnica
Extras:
Menu interativo, Seleção de Cena, dois trailers de cinema
Vídeo:
Widescreen (2,35:1)
Áudio:
Inglês (Dolby Digital 5.1 Surround)
Legendas:
Inglês, Português e Espanhol
Ano de produção:
1991
Duração:
113 minutos
Data de Lançamento no Brasil (Região 4)
22/05/2002
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