Seguindo um conselho do produtor de Jornada nas Estrelas: Fase II Robert Goodwin, de tentar escrever um roteiro para o episódio-piloto com um tema nunca explorado nas três temporadas de Série Clássica, Alan Dean Foster apresentou para Gene Roddenberry um roteiro que, se tinha semelhanças com o episódio "The Changeling", contava com um tema quase inédito em Jornada nas Estrelas até então: ameaça ao planeta Terra. 

Enquanto o roteiro ia passando de mão em mão entre os produtores da nova série, outra idéia foi surgindo: já que a Terra estava em perigo, isso seria um belo pretexto para trazer a Enterprise para o planeta desde o início do episódio. O motivo? Ela estaria em reformas!

Diversos roteiros também estavam na mesa de Roddenberry, mas "In Thy Image" de Alan Dean Foster acabou escolhido em uma reunião ocorrida em 3 de agosto de 1977 entre Gene e o pessoal da produção. Porém o roteiro original de Foster ainda sofreria muitas revisões.

A primeira versão de "In Thy Image" foi concluída em 31 de julho de 1977, e mostra claramente como a Fase II de Jornada estava totalmente indefinida. Como ainda ninguém sabia se Leonard Nimoy aceitaria retornar ao papel de Spock ou se um novo personagem Vulcano chamado Xon o substituiria, as falas do possível personagem Vulcano eram atribuídas simplesmente ao "tenente Vulcano". A mesma coisa com o personagem Decker que, ainda em desenvolvimento, era chamado apenas de "comandante". Não havia referências ao nome de Ilia no roteiro original. A Enterprise ainda não se encontrava na doca espacial em órbita da Terra, concluindo sua reforma. E James Kirk ainda continuava como capitão --isso se sua presença fosse confirmada a bordo do novo projeto.

Nos próximos meses, o roteiro seria insistentemente reescrito por outros, a mando de Roddenberry, a ponto de Alan Dean Foster resolver abandonar sua nova carreira como roteirista, deixar Los Angeles e se estabelecer como escritor de romances. Foster era professor de redação para roteiros na USC, e queria expandir seus créditos como autor de romances de Jornada para autor de roteiros de TV.

Em 12 de setembro, uma ótima notícia: William Shatner finalmente acertava seu contrato com a Paramount para voltar a viver o capitão James T. Kirk. Enquanto isso a equipe de construção do novo set trabalhava sem parar. Quatro dias antes do anúncio da volta de Shatner, no dia em que Jornada completava 11 anos, 8 de setembro de 1977, cerca de 40% da ponte de comando estava pronta. Enquanto as construções continuavam, a equipe de som trabalhava para reduzir um efeito de eco que estava ocorrendo em alguns dos novos cenários. 



Na nova engenharia grande parte do serviço já estava concluído. O piso e as paredes estavam no lugar, assim como alguns arranjos internos. As plantas da sala de reuniões do comando da Enterprise estavam prontas, e a construção iria começar em breve. O novo design da sala de transportes, criado por Mike Minor, estava apenas aguardando a aprovação de Roddenberry para começar a ser construído.



Como o roteiro de Alan Dean Foster modificado por Gene e demais produtores pedia a presença da Enterprise em reforma na órbita da Terra, os designers Mike Minor e Joe Jennings trataram de criar uma doca seca orbital, que contaria com um escritório acoplado nela. Mais tarde o tal escritório foi retirado, e um casulo de transporte que traria Kirk para a nave foi criado.



Em 26 de setembro o David Gautreaux foi contratado para interpretar Xon, o substituto de Spock. Um mês depois, em 28 de outubro, foi a vez de Persis Khambatta, ex-Miss Índia, ser contratada para viver Ilia. Com Shatner a bordo, ficavam dúvidas se o personagem Willard Decker continuaria existindo. Ninguém ainda havia sido contratado para o papel. Em compensação, a contratação da dupla acabou com os rumores de que a Fase II seria engavetada.

E como esses rumores surgiram?

Bem, a Paramount era, e ainda é, um dos maiores estúdios de Hollywood. Todos por lá sabiam a importância de cumprir prazos, compromissos e datas de lançamento de filmes e agora, séries de televisão. Mas a Fase II havia estourado todas as datas, prazos e compromissos até então, e o mais interessante é que ninguém da produção estava sendo pressionado quanto a isso.

Era uma situação paradoxal. Embora os roteiristas tenham levado alguns meses para desenvolver o roteiro original de Alan Dean Foster, quando geralmente esse trabalho era feito no máximo em duas semanas, ninguém os pressionava. Os sets de filmagem estavam pela metade, o modelo da Enterprise e da doca espacial também estavam inacabados e, ao final de mês de outubro, com 28 de novembro já marcado para ser o primeiro dia das filmagens, o personagem Decker ainda não tinha intérprete. Qual a explicação para tudo isso?

Simples. Os executivos da Paramount não iriam pressionar a produção da Fase II para agilizar o serviço, pois havia a possibilidade de que a série nem fosse realizada, afinal ela seria o carro-chefe da nova emissora de televisão que a Paramount lançaria, e talvez nem isso acontecesse tão cedo. Hoje em dia sabemos que de fato a UPN (United Paramount Network), programada para estrear em 1978, só viria a ser lançada em 16 de janeiro de 1995, tendo Voyager como seu carro-chefe. Gene sabia que uma nova série do universo de Jornada estrearia a nova emissora do estúdio, mas não poderia jamais imaginar que demoraria pelo menos 17 anos e ele não estaria vivo para ver.

Os cenários estavam sendo construídos, figurinos sendo costurados, atores sendo contratados, roteiros sendo escritos (e reescritos), Bill Shatner havia acertado para voltar ao seu papel de Kirk, Nimoy estava fora mas David Gautreaux e seu Xon iriam tentar suprir a ausência do Vulcano, uma ex-Miss estaria na série como uma nova personagem e o tal Decker era uma incógnita. Treze roteiros para a primeira temporada estavam sendo desenvolvidos.



Em janeiro de 1978, o que era esperado aconteceu. A Paramount não lançaria sua emissora, e isso queria dizer que a Fase II estava morta. Mas para não jogar no lixo meses de trabalho e muito dinheiro gasto na pré-produção da nova encarnação de Jornada, o estúdio anunciou que estava em negociações com Leonard Nimoy e com o diretor Robert Wise para o lançamento de "Jornada nas Estrelas: O Filme".

A missão de Gene agora era transformar o episódio-piloto "In Thy Image" em um filme de duas horas para o cinema...

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