Trek
Brasilis - A série original de Jornada nas Estrelas chega agora ao Brasil
em DVD. Ela deve ser encarada meramente como um produto dos anos 1960, ou há
mais que saudosismo para a audiência de hoje?
George Takei - Faz 40 anos desde a época em que filmamos o segundo
piloto que vendeu Jornada nas Estrelas, e ainda assim a série
me parece muito atual. Nos anos 1960, as questões que confrontavam a sociedade
eram guerra e paz, corrupção e integridade, preconceito e idealismo,
e força vindo da diversidade. Essas questões parecem saídas
das manchetes de hoje, não acha? Jornada é tão
relevante quanto os eventos nas primeiras páginas dos jornais hoje.
TB - O sr. vê então o programa como algo
visionário?
Takei - Gene Roddenberry, o criador de Jornada, era um verdadeiro
visionário. Tanto do que era apresentado como ficção científica
e tecnologia especulativa acabou se tornou realidade em 40 anos. Aquele incrível
aparelho de ficção científica que chamávamos de "console",
reconhecemos hoje como o nosso computador do dia-a-dia. Aquele aparelho "oh
uau!" que usávamos na cintura e abríamos para falar com alguém
em qualquer lugar era a mesma coisa que hoje chamamos de telefone celular. Hoje,
temos robôs perambulando pela superfície de Marte. Hoje, temos uma
nave espacial com uma tripulação composta por pessoas de todos os
continentes deste planeta. Até russos e americanos trabalhando lado a lado,
como em Jornada nas Estrelas. Nós a chamamos de Estação
Espacial Internacional.
TB - Como o pessoal de Jornada nas Estrelas encarava a
"concorrência" da ficção científica na TV,
como a série "Perdidos no Espaço", da mesma época?
Takei - Jornada nas Estrelas era ficção científica
de verdade. "Perdidos no Espaço" era um conto de fadas no espaço.
Não havia absolutamente nenhuma comparação.
TB - O sr. esteve com Jornada nas Estrelas desde o segundo
piloto, que vendeu a série à NBC. Excetuando Leonard Nimoy e William
Shatner, o sr. é o "oficial sênior" no elenco. Lembrando
dos tempos em que tudo começou, desde aquela época já havia
laços se formando entre os membros do elenco?
Takei - Nós todos reconhecíamos Jornada nas Estrelas
como televisão muito audaciosa. Sabíamos que era pioneira. Também
sentíamos que era inteligente, bem escrita. E isso significava que era
muito arriscada. Sabíamos que o primeiro piloto havia sido rejeitado. Então
cruzamos os dedos e torcemos. Depois de filmar o segundo piloto, nenhum de nós
manteve contato com ninguém. O começo das filmagens dos episódios
nos reuniu novamente. No entanto, antes que isso acontecesse, calhou de eu ser
escalado para um programa de TV junto com Bill Shatner. Eu acho que o título
do programa era "Alcoa Television Theater". Nós discutimos nossas
esperanças sobre Jornada nas Estrelas e previmos que iríamos
trabalhar juntos nela. Como acabou acontecendo. TB
- A primeira temporada da série é a que mais mostra o seu personagem,
o tenente Hikaru Sulu. Vê-se que ele gosta de esgrima, tem interesse em
botânica, aprecia armas e tem formação em física. O
que o sr. acha do desenvolvimento do seu personagem, ele teve a atenção
que merecia?
Takei - Quando há sete membros regulares no elenco, é muito
difícil que todos nós consigamos nosso lugar ao sol, particularmente
quando há uma estrela tão dominante quanto Bill Shatner. Todos nós
fizemos campanha para ter mais espaço para os nossos personagens. Ninguém
achou que nossos personagens receberam a atenção adequada, mas é
assim que funciona numa série de televisão. Eu gostaria de ter visto
algo da vida privada de Sulu e de suas relações familiares. Claro,
eu queria ver Sulu promovido. Como acabou acontecendo no filme Jornada nas
Estrelas VI, eu ganhei um posto de capitão. Eu acho que aquele é
o melhor dos filmes.
TB - E quanto há de George Takei em Hikaru Sulu?
Takei - Sulu é diferente de mim e muito parecido comigo. Eu gosto
de esgrima. Sulu também. Eu não gosto de armas. Sulu gosta. Eu sou
fascinado pela exploração espacial. Sulu também. E, o mais
relevante, somos um a cara do outro.
TB
- O sr. tem um episódio favorito? E quanto a Sulu?
Takei - Meu episódio favorito é "The
Naked Time", da primeira temporada. E meu filme favorito, como eu
disse, é Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida. Sulu concorda
comigo. TB
- Como o sr. encarou o cancelamento de Enterprise, a última série
de Jornada nas Estrelas? É o fim da franquia?
Takei - Ao saber da notícia, pensei em como os atores deviam estar
se sentindo. Eu conheço a tristeza e o desapontamento, tendo eu mesmo passado
pelas mesmas emoções tanto tempo atrás. Então pensei
nos fãs e em como eles nos acompanharam por gerações. Alguns
estiveram conosco desde setembro de 1966. Eu sei como eles devem estar machucados.
Mas eu também conheço a história de Jornada nas Estrelas.
Em 1969, achávamos que era o fim. A série, a jornada, havia acabado.
Imagine só. Acho que aprendi algo com a história desde então.
Como Spock costumava dizer, "sempre há possibilidades".
TB - E o que o sr. anda fazendo agora?
Takei - Você pode acompanhar por onde ando em meu site,
www.georgetakei.com. Neste mês, falo da publicação
da minha autobiografia, "To the Stars", em japonês, e da minha
escalação para a peça "Equus", que farei neste
outono (no hemisfério Norte). Convido todos os meus fãs brasileiros
a visitar Los Angeles e me ver no palco. "Equus" estréia em 26
de outubro e vai até novembro. E fui ao Japão para o lançamento
do livro. Entrevista
realizada em 17 de maio de 2005. |