por Lucsly e Dulmer (Agentes Temporais da Frota Estelar)
O
impensável aconteceu! Você tem um plano? Com
certeza, Deus existe e tem senso de humor, principalmente se o leitor acha que
o roteirista e produtor Brannon Braga é de fato o anti-cristo de Jornada nas
Estrelas. No dia 28 de agosto de 2006, às 20h, estréia no canal a cabo AXN
“Threshold”, a ironicamente intitulada série de TV, projeto
solo de Braga, que mostra enfim, de forma inequívoca, tudo o que homem pensa sobre
como deve ser uma série televisiva de ficção científica. Sua coerência histórica
em tal sentido é, aliás, deveras marcante, confirmando o que poucos hoje em dia
ousam discutir: sua exata “contribuição” para Jornada. Saiba mais nas linhas abaixo
sem precisar ter seu DNA alterado no processo. A
Jornada de Braga... Em
1990, o jovem Brannon Braga, então com 25 anos, desembarcava como estagiário na
equipe criativa da série A Nova Geração. Seu primeiro trabalho ali (creditado)
foi uma rescrita no roteiro do episodio “Reunion”,
da quarta temporada, no qual trabalharam também Ronald D. Moore, Thomas Perry e Jo Perry.
Ainda na quarta temporada, Braga faria seu primeiro trabalho solo ao escrever
o roteiro de "Identity Crisis"
baseado na historia do “fã escritor” Timothy de Haas. A
partir daí, Braga foi conseguindo mais e mais espaço dentro da franquia, (tornando-se
contratado a partir da quinta temporada da série de Picard e cia. E sendo figura
importante nas séries Voyager e Enterprise
durante todo o tempo que duraram as suas produções) e quem quiser saber mais sobre
esta escalada e da já mais do que infame simbiose de Braga com Rick
Berman (por tantos anos todo-poderoso de Jornada) pode
encontrar mais neste artigo
de Salvador Nogueira, que trata um pouco da “instituição” B&B, como a dupla
(Braga & Berman) passou a ser conhecida pelos fãs
da franquia Jornada na Estrelas.
O
nome Braga está fortemente ligado a algumas das piores coisas que já foram realizadas
em nome de Jornada nas Estrelas em sua era moderna (daí a sua péssima reputação
junto aos fãs). Alguns exemplos em A Nova Geração são “The
Game”, “Realm of Fear”,
“Schisms”, “Aquiel”, "Sub
Rosa”, “Force of Nature”
e “Genesis”, entre outros. Voyager
tem nada menos do que 170 episódios que tiveram alguma influência de Braga, seja
como autor da premissa, do roteiro, como editor de histórias, co-produtor ou qualquer
outra coisa na intricada rede que forma a produção de um episodio de Jornada.
Novamente, quem quiser conhecer esta engrenagem em detalhes, deve recorrer a mais
este outro
artigo do Trek Brasilis, mas se levarmos apenas
em consideração os episódios escritos por ele, encontraremos 51 obras desta verdadeira
máquina de fabricar histórias. E
o que falar de Enterprise, o projeto que sedimentou a parceria B&B
de forma cristalina, mas andou desgovernada durante seus três primeiros anos e
que só “curiosamente” conseguiu algum relativo sucesso quando os dois deram as
costas para a série, e largaram a proverbial “rabiola”
na mão de Manny Coto? Enfim,
um sem número de mazelas. Mas se o nome do “homem” estava ligado a coisas ruins,
por justiça devemos lembrar que existem (poucos é verdade) bons episódios das
três séries que tiveram Braga como referencia. “All Good Things...”,
“First Contact”, entre
outros, são exemplos disto. Sendo
assim, quem era o verdadeiro Braga, roteirista e produtor de ficção científica
televisiva? Poderia a sua carreira em Jornada ser totalmente significativa
do que ele realmente é em termos de visão e capacidade trabalho? Faltava “a” resposta
final a esta pergunta fundamental, e o reconhecimento publico e inequívoco da
capacidade da mente criativa deste ícone cultural da milenar arte de fazer bobagens.
Bem... Agora não falta mais. O
limiar entre a incompetência e arrogância ingênua foi definitivamente ultrapassado... “Threshold”
é o primeiro projeto solo (e por um bom tempo, o último) de Brannon Braga (que
herdou a série do seu criador Bragi F. Schut), mas embora ele fosse de fato a cabeça pensante (?)
por trás do show, existem é claro, outros envolvidos. Os principais sendo: André
Bormanis e Mike Susman (ambos
vindo de Enterprise) que co-assinam a produção,
e David S. Goyer (“Blade”
e “Batman Begins”) e David
Heyman (“Harry Potter”) que atuam como produtores executivos da série ao
lado de Braga. A
série gira em torno da Consultora para Gerenciamento de Crises do Governo Americano,
Doutora Molly Caffrey (Carla Gugino de “Sin City"(foto)).
Seu trabalho é formular planos para tratar emergências impensáveis, na hipótese
delas virem a acontecer. Estas eventuais emergências podem ser desde desastres
naturais até guerras nucleares, passando por epidemias ou invasões alienígenas.
“Threshold” é um destes planos, que foi concebido para
lidar com um hipotético primeiro contato com alienígenas. Sendo tanto o conceito
desta função, como a existência de uma pessoa capaz de exercê-la, por si só uma
questão controversa, para dizer o mínimo. Fazendo a série já partir capenga, sem
o verniz de “honesto realismo” que por vezes ela acha possuir. A
premissa desenvolve-se então na formação de uma equipe de “especialistas” formada
por Caffrey para lidar com uma situação de primeiro contato alienígena,
o “Red Team”. Quando um O.V.N.I.
é detectado caindo no oceano, e a Marinha perde contato com um de seus navios
que se encontrava perto do local da queda, um dos protocolos criado por Caffrey,
o Threshold, é imediatamente acionado para lidar com
a situação. A
equipe descobre que uma raça alienígena desconhecida está tentando reescrever
o DNA dos seres humanos usando um sinal de áudio que consegue alterar a estrutura
genética de algumas pessoas, conferindo aos infectados habilidades como resistência,
força e um fator de cura sobre-humanos, porém matando algumas vítimas no processo,
e concluem que se trata do prelúdio de uma invasão. Aliado
a isto existe também um misterioso padrão fractal que passa a aparecer em todo
lugar, pois mais estranhos e sem nexo que possam parecer. Tal padrão é interpretado
pelo baixinho Ransen com sendo uma representação de
um padrão de DNA em forma hélice tripla, supostamente um padrão de DNA alienígena. A partir daí a equipe passa a procurar por qualquer
pista sobre o suposto plano de invasão. Inicialmente tentando rastrear os sobreviventes
infectados do navio “Big Horn”.
Fazem
parte do Red Team: Dr. Nigel Fenway (Brent Spiner), um temperamental
médico e microbiologista da NASA, Lucas Pegg (Robert
Patrick Benedict), engenheiro aeroespacial com problemas de (falta de) autoconfiança,
Arthur Ramsey (Peter Dinklage), matemático e lingüista com problemas de vícios
de toda sorte e altura (o homem é um anão) e Sean Cavennaugh (Brian Van Holt), uma espécie de agente
especial, que trabalha para o Governo como autônomo, e que tem um passado misterioso
do qual nada se sabe. Temos
ainda J.T. Baylock (Charles S. Dutton), Conselheiro de Segurança Nacional, a quem Caffrey responde diretamente. Antes de seu cancelamento, a
série receberia ainda o reforço regular de Catherine Bell, como Daphne Larson (que chegou a participar
de um episódio antes do cancelamento). Bell é mais conhecida pelo publico como
Major Sarah MacKenzie, da Serie JAG. Sendo difícil apontar o farto busto de Bell
como razão para o cancelamento, devemos voltar à raiz (sem dentes humanos, bem
entendido) dos nossos problemas. Como tudo começou criativamente falando para
a série. O
episodio que deu origem à série ( A.K.A. Estudo da Mente Criativa do Mestre) Brannon
Braga é considerado (com justiça) o rei dos chamados “High
Concepts” (histórias que você pode definir em uma frase) em
Jornada nas Estrelas, e o ambiente de A Nova Geração, onde (normalmente)
cada episódio contava uma história sem nenhuma conexão com a próxima ou a anterior,
permitiu que este conceito fosse levado a sua máxima potência. Desta forma, iremos
encontrar um sem número de defeitos de Holodeck, anomalias
temporais, falhas de teletransporte, e mutações genéticas
(entre outras tramas menos cotadas) em sua obra. Olhando
para o legado de Braga, uma mente mais aguçada e observadora perceberá que existe
um padrão na escolha de temas que servirão como impulso para suas historias. Parece
que Braga vem tentando, anos após ano, refinar o gênero que ele adotou nos anos
em que esteve à frente de vários projetos de Jornada. Para efeito deste
artigo, chamam a nossa atenção as mutações genéticas. Começando
por A Nova Geração, temos a primeira “referência” do trabalho anterior
de Braga, em "Identity Crisis". Geordi La Forge
é contatado por uma ex-colega que o acompanhou em um grupo avançado numa missão
cinco anos antes. Esta conta que o resto da equipe desapareceu, após ter retornado
ao planeta. A Dra. Crusher descobre que o DNA da amiga do engenheiro-chefe está
sendo rescrito por um parasita, transformando-a em uma espécie diferente. Pouco
tempo depois, o engenheiro também passa a sofrer do mesmo mal que a atingiu. Em
Aquiel, a Enterprise de depara com uma criatura capaz de reproduzir
qualquer espécie com a qual tenha contato físico. A chave para tal poder é o seu
DNA. Em Gênesis, tentando curar uma gripe no hipocondríaco Barclay, a Doutora Cruhser libera
uma célula sintética na Enterprise, que adquire as características
de um vírus e se espalha pelo ar, contaminando cada membro da tripulação, causando
a “involução” de cada um deles. Como resultado, Deanna Troi se transforma em uma
anfíbia, extinta a milhões de anos, Worf em uma besta
Klingon, Riker em um Australopithecus,
Barclay em uma espécie de aranha (!) e Spot (o gato
de Data) em um Iguana
(!?). Em
Voyager, o gênio criativo de Braga é testado em todos os limites, e para
não estender demais o presente artigo, vamos nos ater a sua “mais fundamental”
contribuição para Jornada nas Estrelas, ou mesmo para a ficção-cientifica,
e por que não, para a própria Ciência universal. É certo afirmar que, quem acompanha
Jornada nas Estrelas com um mínimo de atenção lembra imediatamente do episodio
homônimo de Voyager quando ouve pela primeira vez o nome desta nova série.
O
roteiro daquele segmento de Voyager também chamado "Threshold"
(daí a referida ironia do parágrafo inicial) conta como Tom Paris, Harry Kim e B'Elanna Torres modificam uma nave auxiliar a fim de tentarem
alcançar dobra 10, e assim, levar a USS Voyager de volta para casa. Mas
o que importa para este atual artigo é o fator de convergência. Lá, como resultado
do vôo em transdobra, Tom Paris tem a bioquímica de seu corpo alterada,
e seu DNA começa a se transformar, causando diversas mudanças radicais em seu
organismo. Conclui-se que Paris está evoluindo para o próximo estágio da humanidade.
No futuro imaginado por Braga, seremos todos Salamandras (e não Iguanas, bem entendido).
No fim tudo se resolve, mas impossível não notar a semelhança óbvia deste, que
é considerado o pior episódio de Voyager (e um dos piores de Jornada
nas Estrelas) com certos aspectos do novo projeto de Braga. Alem
do segmento citado da série Voyager, existem também óbvias semelhanças
com o clássico da ficção-cientifica “The Andromeda Strain”
(O Enigma de Andrômeda) de 1971. Filme baseado em um livro de Michael Crichton (“Jurassic Park”) e dirigido pelo Robert Wise
(Jornada nas Estrelas – O Filme). Apos
a queda de um satélite de pesquisa do governo (parte de uma experiência cujo propósito
era coletar quaisquer organismos, como bactérias, que pudessem existir no “espaço
próximo”) em um remoto vilarejo do Novo México, uma elite de cientistas é enviada
para investigar o acidente. Quando os pesquisadores
chegam ao local, encontram a população totalmente dizimada por um organismo de
contaminação aérea que mata instantaneamente. Apenas um bebê e um velho bêbado
sobrevivem. O
satélite e os sobreviventes são levados a um complexo cientifico subterrâneo conhecido
como Wildfire, onde passam o estudar os dados do incidente causado
pela sua queda. As pesquisas do grupo indicam que as mortes teriam sido causadas
por uma bactéria de origem extraterrestre. Tal bactéria é uma espécie de forma
de vida baseada em cristal que embora contenha os mesmos átomos da vida terrestre,
não contem DNA, proteínas e aminoácidos o que lhe confere a habilidade de transformar
energia em massa. Quando uma falha na segurança do complexo
acontece, um mecanismo automatizado ativa uma seqüência de detonação de uma bomba
nuclear sob o complexo, que deverá erradicar qualquer sinal da doença. Entretanto,
devido à facilidade da bactéria de transformar energia em massa, o resultado da
explosão seria a mutação da doença e sua imediata disseminação na atmosfera terrestre.
Existem ainda similaridades com “U.F.O.”, série britânica criada por Gerry
Anderson (“Thunderbirds”, “Space:1999”)
em 1970. Voltando
a "Threshold", é fácil notar as coincidências entre
os exemplos citados anteriormente e a nova série de Braga. Quem quiser e puder
assistir ao filme então, e depois assistir aos dois primeiros episódios da série
vai encontrar ainda mais coincidências. Mas não se trata aqui de afirmar que Braga
copiou esta ou aquela idéia (e nem de negar. Isto é com o próprio), mas de mostrar
como Braga não consegue ir além dos (mesmos) high concepts em seus trabalhos, sejam estes quais forem. Parecendo
sempre recriar algo que já teve sucesso antes, sem maiores interesses pessoais
ou uma visão autoral no sentido clássico do termo. Aqui temos personagens que
são absolutamente negligenciados, sendo cada um deles introduzido no piloto em
uma montagem basicamente como: alguém que sabe fazer algo para a missão, uma nota
de rodapé de personalidade e uma frase de efeito sobre seu lugar na equipe. É
difícil escrever algo pior. É simplesmente impossível escrever algo sobre estes
personagens a partir desta introdução, restando avaliar a premissa da série e
as tramas para legitimar um erro no cancelamento da série. A premissa lança e
perpétua mais “má ciência” e bizarrices do que o recomendado em uma série de TV
contemporânea, atingindo níveis vergonhosos com freqüência, em particular com
o mencionado sinal que parece aparecer em basicamente “todo lugar”. As tramas
são pobres e (visivelmente prejudicadas pela grosseira premissa) falham em fornecer
grande escopo para tão ambicioso projeto, sepultando a série sem maiores dúvidas.
Três
negativas do público norte-americano as invasões alienígenas A
série estreou na CBS em 16 setembro de 2005, ocupando inicialmente o horário das
21h, às sextas feiras. No mesmo mês, estreavam duas séries muito similares a "Threshold".
Uma delas era “Surface” história centrada na aparição de uma misteriosa criatura
marítima nas profundezas do oceano, cancelada após 15 episódios, e “Invasion”, também cancelada após o 22° episodio. Esta não
parecia ser a hora promissora para invasões alienígenas (uma para cada grande
rede americana e as três para a rápida degola por falta de audiência). "Threshold" foi quem teve merecidamente
a vida mais curta das três, e dos 13 episódios filmados, apenas nove foram transmitidos
pela CBS, sendo os restantes exibidos pela rede Britânica Sky One. Após sucessivos problemas
de audiência, a CBS fez uma tentativa jogando a série para terça-feira à noite,
e no dia 22 de novembro de 2005 o episodio "Progeny"
foi transmitido no novo horário, mas o que já era ruim ficou pior,
e a audiência despencou tanto que, no dia seguinte, a rede anunciaria seu cancelamento,
para tristeza de alguns, alegria de outros e indiferença de muitos. O
telespectador brasileiro agora terá a chance de ver e emitir sua opinião (talvez
definitiva) a respeito do trabalho de Braga.
Você
sabia? No
planejado episódio final da primeira temporada (que nunca foi produzido) seria
revelado que o plano alienígena era na verdade salvar a humanidade de uma ameaça
vinda do Espaço. A Terra estaria para ser atingida por um feixe
de Raios Gama, radiação que aniquilaria toda vida no planeta. A revelação vinda de um “hibrido” é tratada
com ceticismo por Caffrey. |