MANCHETE
DO EPISÓDIO
Clássico da
temporada traz clonagem
de forma madura para a série
Episódio
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episódio
Sinopse:
Archer faz um discurso em cerimônia de morte de um de seus tripulantes. O corpo, jazindo no interior de um torpedo fotônico, parece ser o de Trip Tucker.
Duas semanas antes, Trip estava executando um experimento com os motores de dobra na esperança de que eles pudessem operar por mais tempo em alta velocidade. Isso iria aumentar as chances de encontrar a arma Xindi mais rapidamente.
Após alguns poucos segundos de sucesso, a Enterprise começa a trepidar, e Trip precisa desligar os motores. Ele sobe no topo do reator de dobra para desligá-lo manualmente, quando ocorre uma explosão num injetor, atirando-o contra a parede oposta, deixando-o no chão, inconsciente.
Algum tempo depois, T'Pol diz a Archer que quando a Enterprise entrou no campo em que agora estão, partículas nucleônicas contaminaram os relés, causando a chama do injetor. Se Trip não tivesse desligado o reator, teria ocorrido um vazamento. Os reparos levarão várias semanas para reparar. Archer diz a T'Pol que Trip está em coma, em razão de severos danos nervosos, e pode não sobreviver.
Archer vai à enfermaria, e é informado de que a condição de Trip não mudou. Phlox diz que tem uma larva do deserto Lyseriana que pode ser injetada com DNA de qualquer espécie. Com o procedimento, ela se desenvolve como uma réplica exata da espécie, em um ciclo de vida acelerado, de 15 dias. Os Lyserianos os chamam de "simbiontes miméticos", um segredo guardado a sete chaves.
Phlox diz que poderia fazer isso com o DNA de Trip, para desenvolver um simbionte e coletar o tecido neural para implantar no engenheiro e salvar sua vida. Phlox precisa esperar até que o simbionte atinja a idade atual de Trip para o tecido ser compatível. Essa pode ser sua única esperança.
Mais tarde, T'Pol vai até Archer para contá-lo que as partículas nucleônicas estão se acumulando e precisam ser removidas o mais rápido possível. Ela e Archer discutem brevemente as ramificações éticas de sua decisão de aprovar o procedimento sugerido por Phlox. Ele diz a T'Pol que está fazendo isso por causa da missão da Enterprise de salvar a Terra; a Enterprise precisa de Trip.
Phlox procede com a operação e, três dias depois, há um bebê saudável na enfermaria que é uma duplicata exata de Trip. A criança, a que Phlox deu o nome de Sim, cresce rapidamente e logo fica claro que ela adquire as memórias de Trip, conforme envelhece. Quatro dias depois, com a idade aproximada de dez anos, ele começa a perguntar sobre seus pais e sobre por que ele está lá.
Archer assume a responsabilidade de contar-lhe a verdade. Ele o leva para ver Trip, e Sim descobre que suas memórias não são realmente dele, mas de Trip. Ele também percebe que é uma cópia de Trip. Archer conta que precisarão operá-lo para salvar Trip. Aparentemente, a criança compreende.
Sete dias depois, a Enterprise ainda está incapacitada. Nesse ponto de seu desenvolvimento, Sim é um adolescente, a tripulação se acostumou com ele e Archer o designou para trabalhar na engenharia, onde ele ajuda T'Pol com os reparos dos motores. Ele acaba se interessando pela Vulcana, que recusa seus convites para ir com ele ver um filme e jantar.
A cópia de Trip também está totalmente ciente de que apenas uns dias atrás era um bebê, e que em alguns dias nem estará mais lá, concluindo seu ciclo de vida. Archer chama T'Pol a seus aposentos e diz a ela que em quatro dias o acúmulo de partículas será tão grande que todos os sistemas da nave acabarão falhando. Eles precisam estar fora do campo até lá, ou perecerão.
Sim, que a essa altura já se parece, age e fala exatamente como Trip, conta a Malcolm Reed seu plano de libertar a nave do campo usando os shuttlepods como rebocadores. Mais tarde, ele vai falar com T'Pol, e depois de receber a confirmação de que seu plano pode funcionar e ser informado de que Archer já o está considerando, ele fiz que não é apenas uma atração que ele sente por ela, mas um sentimento mais forte. A Vulcana parece surpresa pela confissão.
Sim vai até Archer para dizer que quer pilotar um dos shuttlepods. Archer se recusa, dizendo que Malcolm Reed e Travis Mayweather farão o serviço. Restam apenas seis horas para deixar o campo.
Na ponte, os canhões de fase são usados para destruir o acúmulo de partículas nas portas da baía de lançamento. Uma vez livres, os shuttlepods deixam a Enterprise e usam ganchos para se prender à nave. Após várias tentativas que chegam perigosamente perto de destruir os pequenos veículos, a NX-01 começa a se mover. Os pods são então trazidos de volta à nave, que continua a se mover por inércia para fora do campo.
Phlox chama então Archer à enfermaria, para dar uma má notícia. Ele diz que Sim não irá sobreviver à operação. Embora ele inicialmente tenha dito que Sim não seria ferido, isso foi baseado em estudos de como simbiontes cresciam com DNA Lyseriano. Os testes de Phlox em Sim mostram que os simbiontes humanos não são tão resistentes. A quantidade de tecido que ele precisa extirpar para salvar Trip irá matar Sim.
Archer e Phlox contam isso a Sim, mas o simbionte surpreende e menciona o "Círculo Valandrano", um grupo de cientistas Lyserianos que disse ter desenvolvido uma enzima que poderia prolongar a vida de um simbionte. Phlox diz que não há evidência empírica suficiente para apoiar essa afirmação. Mas Sim quer que a enzima seja injetada nele, para que ele possa continuar vivendo, mesmo que isso signifique a morte de Trip. Mais tarde, nos aposentos de Trip, Archer e Sim discutem sobre o que irá acontecer se Phlox decidir sintetizar a enzima.
Sim decide deixar a Enterprise usando o shuttlepod. Archer vai atrás dele até a baía de lançamento, apenas para encontrá-lo sentado ao lado do veículo. Sim diz a Archer que decidiu prosseguir com a operação. A razão, ele diz a Archer, é porque ele não queria que o que aconteceu com sua irmã --a irmã de Trip-- aconteça com mais ninguém. Ele vai à enfermaria, e Phlox dá a ele uma injeção para iniciar a operação.
Então chegamos à cerimônia de morte, em que Archer diz que Sim mexeu com todos os que o conheceram e que seu sacrifício não foi apenas para a tripulação da Enterprise, mas por todos na Terra.
Comentários:
"Similitude" mais uma vez aposta na tradicional fórmula de
Jornada nas Estrelas, com uma discussão atual e relevante transposta para a ficção científica. É correto criar um ser meramente para salvar outro? A discussão já é polêmica quando diz respeito a embriões com um punhado de células, mas pode ficar ainda mais complicado se o ser produzido é um clone consciente, destinado a viver apenas 15 dias.
Temos aqui uma das raras ocasiões em que o episódio não oferece uma saída fácil --ou mesmo ética-- para os personagens. O mais bem-sucedido uso desse recurso foi no clássico segmento de
Deep Space Nine "In the Pale Moonlight". Em termos de qualidade de roteiro, é um sacrilégio compará-lo a
"Similitude"; a sofisticação está muito além de tudo que já foi visto em
Enterprise até agora.
Entretanto, isso não tira o mérito do presente episódio; trata-se de uma peça muito bem roteirizada, produzida e interpretada. Em primeiro lugar, Archer precisa dar a ordem para criar uma cópia de Trip que possa fornecer tecido neurológico compatível para a cirurgia que irá salvá-lo. A primeira impressão é a de que se trata de uma "falsa encrenca", apenas para ter a oportunidade de criar uma história típica de clones.
Ao longo da história, felizmente, percebemos que Sim, o clone, é muito mais que mero elemento de diversão a bordo; sua presença consiste num lembrete cada vez mais gritante do erro em que Archer incorreu. Ao mesmo tempo, era sua única opção para salvar o engenheiro-chefe da nave, que além de grande amigo pessoal, é um elemento fundamental no sucesso da missão da Enterprise. Ou seja, não havia na verdade uma coisa certa a fazer. O capitão fez o que julgou correto, e suas ações levaram a situações que ele não gostaria de ter de enfrentar.
E tudo fica ainda melhor quando Phlox revela, consternado, ter cometido ele um erro --na verdade, para extrair as células necessárias, Sim terá de morrer. É fato que ele morreria em mais alguns dias, no máximo, dado seu acelerado ritmo de desenvolvimento. Por outro lado, "mais alguns dias" representavam praticamente metade de sua vida. O que fazer?
Desde o segundo ou terceiro dia de vida, Sim soube que havia sido artificialmente criado para salvar Trip. Isso não impediu, entretanto, que ele tentasse tomar as rédeas da sua própria vida, propondo um tratamento que poderia, em vez de salvar Trip, salvar a si mesmo, desacelerando seu ritmo de envelhecimento. Um outro dilema para Archer: deveria ele autorizar um esforço para salvar Sim, o que inevitavelmente mataria Trip, ou vice-versa?
Mais: que diferença faria, na verdade, entre ter Sim ou Trip, para efeito da missão, uma vez que o clone tinha todas as memórias e habilidades do engenheiro? O drama era só proteger a missão, ou Archer estava ultrapassando todas as barreiras para salvar seu amigo?
A princípio, podemos dizer que o capitão ainda estava pensando na missão: o tratamento que poderia salvar Sim tinha uma chance ínfima de sucesso --muito menor que o que seria aplicado para salvar Trip. Apostando no engenheiro-chefe, ele teria mais chances de terminar com pelo menos uma das "cópias".
Por outro lado, o roteiro é muito inteligente na hora de enfatizar a real motivação de Archer, ajudado por uma bela interpretação de Scott Bakula. Num dado momento, nervoso e gritando, o capitão brada: "Eu preciso de Trip! TRIP!" Só isso já deixa claro o que está em jogo para ele ali. É seu grande amigo em coma na enfermaria, e ele pretende salvá-lo, não importando o custo.
E nunca um capitão em Jornada nas Estrelas foi tão direto ou autoritário para fazer isso (é bom lembrar que Sisko, em
"In the Pale Moonlight", foi mais uma vítima das circunstâncias que escaparam ao seu controle do que um assassino frio e calculista). Archer diz que, se preciso fosse, ele mataria Sim. A discussão acaba convencendo Sim a se sacrificar por Trip. Mas está longe de ser um sacrifício nobre --a coisa fica meio com cara de execução.
E aí está a beleza do episódio --ele não foge das questões difíceis. Coloca Archer numa posição em que raras vezes são colocados os heróis --é quando se cobra deles o preço de sua moralidade. Trata-se de um movimento audacioso.
De resto, a presença de Sim a bordo ajuda a realçar o relacionamento de Trip com T'Pol. Por conta de suas ações, descobrimos que o engenheiro em coma tem sim um interesse romântico pela Vulcana, e isso soa muito mais real do que a suposta atração mútua entre Archer e T'Pol primeiro apresentada em
"A Night em Sickbay" e convenientemente reforçada em "Twilight".
Embora seja meio não-Vulcano o ato descontrolado de T'Pol, ao beijar Sim, acho que a audiência pode viver com isso, dada a qualidade do dilema vivido pelo personagem, que não sabe se sua paixão por T'Pol é dele mesmo ou algo que ele herdou de Trip.
E o final do episódio é exatamente igual ao começo, com o ritual funerário de Sim (que, no prólogo, temos a impressão de ser Trip). Sim, mais uma vez os roteiristas apelam para um enredo em flashback, para valorizar a abertura do segmento. Talvez seja o único erro narrativo do episódio, não por seu uso aqui, mas pelo vício crescente dos escritores da série em não abandonar o recurso.
Do ponto de vista científico, "Similitude" exige, sim, um bocado de suspensão da descrença. É a polêmica atual das células-tronco embrionárias humanas elevada ao quadrado ou ao cubo, com criaturas que herdam memórias geneticamente (um absurdo já visto antes em
Jornada nas Estrelas) e têm metabolismo extremamente acelerado (outro absurdo típico de Jornada), mas ainda assim oferecem tecido sadio para um transplante.
Apesar disso, é um verdadeiro prazer deixar esses detalhes de lado, quando o drama humano é tão bem-executado. São picuinhas que caem bem nos episódios de ação, mas não nos grandes roteiros da franquia, como é o caso deste aqui.
Citações:
Sim - "I have his memories, I have his feelings, I have his body. How am I not Trip?"
("Eu tenho suas memórias, seus sentimentos, seu corpo. Como eu não sou Trip?")
Archer - "Commander Tucker is lying in Sickbay."
("O comandante Tucker está deitado na enfermaria.")
Sim - "Then what am I? Just something you grew in a lab? Does that make it easier for you to condemn me to death?"
("Então o que eu sou? Somente algo que você cultivou num laboratório? Isso torna mais fácil me condenar à morte?")
Archer - "I’ll take whatever step’s necessary to save him."
("Eu tomarei todas as ações necessárias para salvá-lo.")
Sim - "Even if it means killing me."
("Mesmo que signifique me matar.")
Archer - "Even if it means killing you."
("Mesmo que signifique te matar.")
Sim - "You’re not a murderer."
("Você não é um assassino.")
Archer - "Don’t make me one."
("Não me transforme num.")
Trivia:
Scott Bakula comentou o episódio. "Ele envolve uma explosão na nave que fere gravemente Trip, e um esforço para clonar Trip a fim de substituir a parte de seu cérebro que foi danificada. Não quero entregar muito mais, porque é realmente interessante e lida um bocado com as questões essenciais ligadas a clonagem."
Esse foi o primeiro episódio da série escrito por Manny Coto. O roteirista foi criador e produtor-executivo da série "Odyssey 5" e antes escreveu roteiros para "Tales From the Crypt". A partir da quarta temporada, ele assumiria a função de chefe da equipe de escritores de
Enterprise.
As filmagens foram concluídas em 9 de setembro de 2003, após sete dias.
A música deste episódio, composta por Velton Ray Bunch, ganhou um Emmy para a série.
Ficha
técnica:
Escrito por Manny Coto
Direção de LeVar Burton
Exibido em 19/11/2003
Produção:
062
Elenco:
Scott
Bakula como Jonathan Archer
Jolene Blalock como
T'Pol
John Billingsley
como Phlox
Anthony Montgomery
como Travis Mayweather
Connor Trinneer como
Charlie 'Trip' Tucker III
Dominic Keating como
Malcolm Reed
Linda Park como Hoshi Sato
Elenco convidado:
Shane Sweet como Sim-Trip (17 anos)
Adam Taylor Gordon como Sim-Trip (8 anos)
Maximillian Kesmodel como Sim-Trip (4 anos)
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